10 março 2008

A dificuldade do silêncio





Guardar silêncio,

utilizar o silêncio como instrumento de comunicação, o silêncio absoluto, não uma pausa entre as frases, um espaço entre sons, mas uma ausência que dura,

é uma tarefa difícil.

Como é que sabemos que está lá?
o que se calou. Como é que sabemos
o que quer dizer o seu silêncio?
O mesmo que ontem? O mesmo
que queria dizer quando se calou?
Ou mudou? Ou quer falar
e não pode, não consegue? Quer falar
e não sabe? Quer falar
e secou a garganta? Ou está a falar
e não ouvimos? Está a falar
alto demais
e o seu grito confunde-se
com estes barulhos a que chamamos
o seu silêncio?

David Chalmers, filósofo e neurocientista, faz meditação com um método cuja indução consiste em dizer uma palavra até ela perder qualquer significado. Assim alguns silêncios que começam fortes e percutem as têmporas e parecem insuportáveis se vão esbatendo, até serem um sussurro, o eco de uma palavra, o vento lá fora. O problema de um silêncio que dura, é que só uma voz, uma frase escrita, um som, uma aparição o podem desfazer. Falta a palavra que mereça um silêncio assim. Falta a cor, o cheiro, o gesto, a nota.


(imagem retirada da National Gallery, YBA's)

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