06 maio 2008

Ana Lopes, uma mulher do Mal




Ana Lopes, antropóloga, investigadora do CES,doutorada na Universidaded East Anglia, autora do livro Trabalhadoras do sexo, uni-vos!" (2006) foi trabalhadora sexual e esteve presente como convidada na sessão de hoje de Os Livros Ardem Mal.

No blog de uma prostituta o lançamento deste livro, há quase dois anos, propiciou este texto:

Estava lotado, e, apesar de estar cheio de gente, a sensação que eu tinha era de que a maior parte das pessoas ali presentes eram pessoas amigas. Encontrei com alguns amigos também por lá, foi muito divertido.
Fui no bar pegar uma bebida e voltei para o salão. Quando as pessoas estavam sentadas eu pude observar melhor o local, e não é fácil descrever em palavras as emoções que eu senti ali dentro. Eu conseguia observar meninas andando de um lado ao outro, outras sentadas em sofás, clientes chegando e elas indo ter com eles, a abordagem das conversas, as garrafas sendo abertas. Tudo isso, naturalmente, apenas parte da minha imaginação, por reconhecer naquele ambiente características ainda muito vivas de um bar de convívio, como se a alma de um bar de convívio não morresse.


O TAGV, que já não tem bar e cuja alma arde em fogo lento, teve Ana Lopes. Defendeu com convicção a necessidade de legalização da prostituição e as vantagens da organização sindical dos trabalhadores do sexo. O debate que mais me interessava ficou por fazer e, durante a sessão, percebi que não estava preparado para ele. Não era o local e faltava-me quase tudo, desde o ponto de vista das meninas ao dos clientes. Uma referência mais extensa à biografia da convidada poderia ter ajudado a separar a questão da prostituição, no contexto alargado da sexualidade, da questão mais consensual dos direitos humanos e laborais das prostitutas e dos prostitutos. Surpreendentemente, em alguns dos presentes, o tema desencadeou reacções inesperadas, pré linguísticas, do âmbito da filosofia do sexo. Ficou assim por explicar o que é que uma trabalhadora do sexo aprende sobre si própria nas linhas eróticas, na vara do streap tease, nos encontros sexuais de ocasião.

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