Ashes to ashes
Eva Rubinstein
o medo ao medo ao cão as vísceras do cão
à luz as criaturas da luz e à terra os vermes
nematelmintas
cada coisa no seu lugar como dizia a dona Isménia
-e até os nomes há que vigiar
pois na escrita pública espreita sempre um louco
acreditando
que no fundo de si
no fundo perturbado de si
há uma Isménia e alguém que lhe escreve
Cada coisa no seu lugar
a dona Isménia
que a partir do terceiro ano de magistério acreditou
literalmente
no Juízo Final em todas as praças do Mundo
à mesma hora da noite e na Portagem de Coimbra
com as almas a subir como os foguetes da Rainha Santa
A doença de se julgar Isménia
talvez enlouqueça os leitores de romances
minha avó acreditando que Max du Veuzit
a quem escrevera secretamente
lhe devolvia a carta em livros como La Jeanette
ou La misterieuse inconnue
O que nos perturba são as coisas fora do lugar
O navio dentro da cidade grande título de infância
o feto na trompa o convívio das gerações
o beijo no canto da boca
o cardeal no casino o teratoma no ovário
com ossos dentes e faneros
Etiquetas: Coetzee, Eliot, intertextos, Maria, o santarrão Saraiva
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