Ardem os livros em silêncio
O Osvaldo, o Rui Bebiano, o Apolinário e o Quintais. Os livros já não ardem no Público (quase nada, apesar do Pitta), nem no Actual (pese o esforço do José Mário Silva), não ardem onde nunca arderam, nem ardem mais às segundas no TAGV. Nós também não merecíamos aquilo. Sempre vi aquelas tardes como uma graça, uma efemeridade, um ecosistema frágil, ameaçado pela indiferença dos estudantes e a boçalidade dos professores, a iliteracia da cidade, a desinformação habitual e o mau humor do gajo do som. Eu gostava de tudo às segundas feiras. Da sabedoria e do método do Rui, do classicismo do Apolinário, das escolhas tímidas do Luís Quintais e sobretudo do Osvaldo, do brilho, da profundidade, da gravitas e do modo como falava de cinema ou dos livros do Planeta Tangerina. Havia claro o senhor José Dias, que se sentava na primeira fila e saía invariavelmente às sete em ponto, a minha Musa a chegar das aulas, as miúdas louras com ar de groupies da Teoria da Literatura e que se hão-de chamar Madalena, Sanseverina e Odette de Crécy . E o Miguel Cardina( onde é que agora vou encontrar o Miguel). E a Cláudia (Blue) arrancada ao comboio da Lousã. E a Sandra e o Alentejano. E a rapariga do macacão que um dia levou o filho, o rapaz da testa alta e, às vezes, o Fernando ou o Bonirre.
Li o Antropólogo Inocente do Nigel Barley( Obrigado Luís Quintais), comprei o Diário de 1663 páginas que Bioy Casares escreveu sobre o Borges(obrigado Osvaldo), os livros de John Gray e de J.G. Ballard (obrigado Luís Quintais), a poesia de Bénedicte Houart (Osvaldo) e tantos outros, que me faltam a memória e as agendas. E claro que houve os convidados: O Nuno Júdice( e eu tão injusto), o Pina, A Alexandra Lucas Coelho, o Frederico Lourenço, o Mário de Carvalho, o Fiolhais, o Viegas, o Mexia que ouviu ler um obituário certeiro, a jornalista das mãos na anca, a Irene F. Pimentel, o RAP, o Adolfo Luxúria Canibal...
Agora a primeira segunda-feira de cada mês será igual às outras. Já não tenho de trocar o Serviço. Já não tens de correr para Campanhã. Agora acabou.
Etiquetas: "A renovação natural do tecido produtivo" SEM EFEITOS (para os grandes Portadores accionistas), Escaparate, OLAM
6 Comentários:
o TAGV. o único lugar Moderno ainda vivo nesta decadente cidade.
sem "Os livros ardem mal" ficará mais vazio e nós também.
eu só lá fui uma vez, história de ser mãe, mas sentia-me confortada por aquilo existir, soube sempre em cada primeira segunda-feira quem era o convidado, lamentava não poder ir, e sim, sentia-me confortada por aquilo existir. é pena.
E eu nunca consegui ir, apesar de ter agendado a viagem mais do que uma vez. Fiquei muito triste. Mas, enfim, a interrupção será sempre pior para quem vive em Coimbra.
sim, decadente... e alguns de nós com tantas qualidades...
Qualidades anónimas mas não decadentes
não!
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