Homens
António Franco Alexandre
Não gosto deste homem. Devo dizer que gosto muito de mulheres e sempre apreciei homens. Embora às vezes me engane sobre os homens de quem as mulheres gostam. E sobretudo me engane sempre sobre o tipo de homens apreciado pelas mulheres de quem eu gosto. Aos 15 anos vi uma mulher que muito admirava nos braços de um belga. Ele perguntou-me as horas, sem despegar dos lábios dela, e eu arrumei-lhe com uma citação de um escritor francês da moda. Ela interrompeu um pouco a colação para me dizer, cúmplice e meia chateada: - Não te esforces que este não dá mais do que isto.
Isto eram os teus lábios, Manuela. Os teus lábios que eu não ousava sequer desejar porque estavas a verde no Quadro de Honra.
Este assombro perante as escolhas das mulheres marcou o Verão dos meus 15 anos e a minha vida em geral. Se elogio um homem, as minhas amigas concordam com reserva. Mas excitam-se sempre com aqueles tipos que trazem um letreiro a dizer perigo, pendurado nas patilhas desenhadas.
Desde cedo percebi que o comum das pessoas achava estranho, ou suspeito, que eu apreciasse homens. Para mim sempre foi natural como ter opiniões estéticas ou políticas. No código viril dos meus amigos, como nas normas de cortesia das famílias, gostos não se discutem. Sempre apreciei uma boa discussão.
Gosto de homens como o Nicholas Cage de Wild at Heart, ou do William Hurt do Turista Acidental, ou do Joaquin Phenix de Dois Amores, ou do Brendan Gleeson de In Bruges, ou do António Franco Alexandre quando escreveu Moradas 1 e2 e Oásis, ou do Manfred Eicher quando lançou as ECM New Séries, ou o Amis, o Kingsley em 1962, ou o James Stewart na Janela Indiscreta. Gosto do Jerónimo de Sousa, que tem uma cabeça como deve ser, no carro, a despedir-se do neto:
- Vai para dentro, não apanhes sol
e a dizer um verso de Neruda.
Não gosto deste tipo. Tem as calças justas em baixo e está bem calçado, os fatos são de bom corte. Mas é traído pelo nariz, pelo brilho cúpido dos olhos, pelo modo com junta as mãos e alisa o philtrum com os indicadores. Há uma boa maneira de conhecer uma pessoa. É quando está cansada e perdeu as defesas. Num destes dias ele deixou-se filmar na correnteza do Tejo, com uma Filomena ao largo a fazer-lhe perguntas profundas do tipo: - Já chorou?, quando chorou?, gosta de puésia? Ele estava lento, de meia guarda, absolutamente desinteressado dos presuntos encantos da Filomena. De repente teve um sinal de vida. Era um pescador que puxava um peixe. Mas logo caiu na modorra anterior. Não interessa se de poetas só lhe veio Camões, Pessoa e Cesário e não foi capaz de se lembrar de um filme sequer. Ali estava um homem absolutamente desinteressante.
Etiquetas: Sócrates
17 Comentários:
Céus, quanta razão tem.
Foi deveras lamentável aquela entrevista de triste memória.
Alguém incapaz de desenvolver um pensamento com desenvoltura e coerência.
Hehehe, os estragos que faz o Nick Cave no ego dos homens... E ainda por cima tem uma mulher lindíssima, a Susie Bick.
Quanto ao resto, absolument, mon cher.
Há, ainda, muitas outras razões para não gostar...
Em primeiro lugar, não sei se foi propositado ou não, até pensei que não gostava do homem da foto, Mas depressa desfiz o engano. Depois, porque é que não poderá um homem apreciar outro homem, sem conotações outras que não isso mesmo?
E depois, gostamos mais dumas pessoas que doutras, está certo. Só que neste caso, a personagem é a que lhe convém ser no momento.
Parabéns Luis.
Por este post comovente sobre os homens de que gosta e não gosta.
Quase me vieram as lágrimas aos olhos quando se refere ao avô Jerónimo ( ainda pensei que fosse o chefe índio, mas não afinal era o Sousa )que se despede do neto com poemas de Neruda.
Comovente. Esse avô Jerónimo ( o Sousa ) é o mesmo que apoia o Irão, o Mugabe , A Coreia do Norte , etc ?
Esse Jerónimo ( o Sousa )é o mesmo que se Estaline fosse vivo estaria convencido que era o Sol da Terra.
Etc, Etc...
Pode ser um persongaem ( ou um figurão ) interessante mas gostar do figurão ???
Cumprimentos
Apesar de não concordar, sequer, com uma vírgula, parabéns pelo texto.
Lev Davidovitch, obrigado pelo comentário. Bem precisava que alguém concordasse com as minhas vírgulas.
Manuela Araújo, a escolha das fotos é a parte mais demorada dos meus posts. AFA é um dos meus poetas, se se pode falar assim.
António P. respondi-lhe no seu blog e tenho tentado responder nos posts que escrevi ao longo destes tempos.
Chiquinha, esse tipo é uma má semente. Mas eu habituei-me a ver as mulheres que admirava a gritar na primeira fila dos concertos e a partir no fim como groupies enlouquecidas.
Muito bem. Excelente texto.
Bom texto...carregado de sentires.
Recordou-me um filme.."Nobody's Fool" cujo actor principal era(é) um homem de que gosto.
Este homem (o do texto) também nada de gustativo me traz..muito aparente, sem essência.
Pois eu aprecio, gosto, deste homem. Até do seu philtrum. Mas isso não interessa nada: só as vírgulas contam. Ah! E não gosto de puésia. Não a entendo. Pena.
Pois é Luís; esta mania das pessoas confundirem, que quem gosta do William Hurt do Turista Acidental, pode muito bem ser o William Hurt do Beijo da Mulher Aranha, é uma mania burra, que mesmo que igualdade de género seja um facto, vai demorar o seu tempo a sair-nos do sótão. Quanto ao homem que não gosta, eu tenho dias, umas vezes sim outras não e com a mesma veemência, ainda assim não me considero um caso perdido.
Caro Luis,
Fiz como disse. Fui à minha tasca ler o seu comentário. Que agardeço, até porque o leio com apreço todos os dias.
Claro que já tinha lido o programa do BE. E até postei duas vezes sobre o mesmo. Se calhar de forma tendenciosa mas nem todos têm a sua capacidade.
Claro que o programa do BE tem pontos válidos para serem discutidos , analisados e aprofundados. Idem para o do PS.
Mas a conversa a dois é dificultada se um ( o BE ) está sempre a dizer do outro ( o PS ) que é neo liberal e de direita.
Não me queria alongar. Apenas duas notas finais :
- qual o interesse do ataque até à nausea ao homem ( Sócrates ), sobre os seus sapatos, fatos, livros que lê ou não lê ?
- ter cultura não é garantia de nada. Consta que os alemães eram muito cultos e foi o que se viu em 1933. E hoje os italianos elegem o Berlusconi. Já os "burros" dos americanos elegeram o Obama.
Um abraço
lindíssimo, luís
MM
Não gosto deste tipo.
Nem eu. Nada. Nada mesmo. Mas é que nadinha mesmo.
nem consigo perceber por que é que acho que me cansei dos blogues. claro, que não me cansei. porque isto são os blogues, quer dizer, a natureza do mal são os blogues e eu gosto muito disto. embora, aparentemente, esteja cansada.
António P.,
tem o maior interesse.
Um "homem do seu tempo", "moderno" (a modernidade já tem décadas, para não dizer séculos) que não é fluente em nenhuma língua estrangeira, que tem fraca formação académica e uma carreira profissional quase inexistente (Marcelo lembrava ontem que, em geral, os grandes políticos são os que já eram grandes nas suas carreiras), cujos méritos se resumem a vestir bem, à paixão pelas novas tecnologias e à "determinação", não tem interesse nenhum...
Uma nota mais, se me permitem.
Pobre povo se não escolhe os melhores para seus representantes...
www.odivademaquiavel.blogspot.com
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