Marchar, marchar
Como factor identitário cada país cria um inimigo, para uso dos poderosos , no mesmo pacote da bandeira e da selecção nacional, fazendo-nos crer que temos mais a ver com o Vara, o Loureiro ou o Coelho que com os Benitez, o Benoit Garrel ou o John Samper.
Um bom inimigo dos portugueses é a gripe A e o (H1N1)v 2009. Este H1N1 é um vírus português, um vírus do Sócrates. Olhem para Valença do Minho. A crer nos telejornais é o caos, uma vila medieval no começo da peste. Mas se passarem a fronteira, e a jornalista da TVI, da escola do Gato fedorento fê-lo – o que vemos? Nada. No pasa nada. Não sabem da gripe, se adoecerem adoecem, ora essa, nem percebem bem o interesse da senhora, respondem porque são educados.
Aqui, a gripe ocupa os jornais e os noticiários. Mal aconselhada, a ministra continua a ser a Mãe da gripe, sem ver que a médio prazo se pode tornar na sua Viúva. O inevitável Prós e Contras de segunda –feira demonstrou que não se pode ser bom português e contra a gripe. Eu passo metade do meu tempo a ser interrogado sobre a gripe. E a escrever posts originais como este.
A gripe A é o flagelo de que o país precisava. Para um paísinho, um vírusinho. A vergonha dos Orthomyxoviridae. O H1N1 v 2009 é o inimigo descartável, a Abissínia, a Polónia, a Áustria de Portugal.
Existe, e está dentro de nós. Acabou com os beijinhos. Mas nós já não beijávamos de facto. Encostávamos meia cara displicente ou dizíamos “ beijinhos”- uma saudação que tem a marca dos tempos, falsamente íntima, sem contacto nem risco.
De vez em quando mata. Mas os nossos Institutos rapidamente demonstram que a culpa da morte está no morto. O nosso inimigo é benigno. As vítimas são colaterais, gente que ia a passar e, mesmo sem saber, estava tão secretamente doente que não merecia cá andar. Temos sido leais com o nosso vírus. O H1N1 só mata nas estatísticas, só mata no balanço final. Nenhuma morte individual que não seja desclassificada.
Ele deu-nos uma razão de existir e nós não o deixamos transformar-se em vilão.
Um bom inimigo dos portugueses é a gripe A e o (H1N1)v 2009. Este H1N1 é um vírus português, um vírus do Sócrates. Olhem para Valença do Minho. A crer nos telejornais é o caos, uma vila medieval no começo da peste. Mas se passarem a fronteira, e a jornalista da TVI, da escola do Gato fedorento fê-lo – o que vemos? Nada. No pasa nada. Não sabem da gripe, se adoecerem adoecem, ora essa, nem percebem bem o interesse da senhora, respondem porque são educados.
Aqui, a gripe ocupa os jornais e os noticiários. Mal aconselhada, a ministra continua a ser a Mãe da gripe, sem ver que a médio prazo se pode tornar na sua Viúva. O inevitável Prós e Contras de segunda –feira demonstrou que não se pode ser bom português e contra a gripe. Eu passo metade do meu tempo a ser interrogado sobre a gripe. E a escrever posts originais como este.
A gripe A é o flagelo de que o país precisava. Para um paísinho, um vírusinho. A vergonha dos Orthomyxoviridae. O H1N1 v 2009 é o inimigo descartável, a Abissínia, a Polónia, a Áustria de Portugal.
Existe, e está dentro de nós. Acabou com os beijinhos. Mas nós já não beijávamos de facto. Encostávamos meia cara displicente ou dizíamos “ beijinhos”- uma saudação que tem a marca dos tempos, falsamente íntima, sem contacto nem risco.
De vez em quando mata. Mas os nossos Institutos rapidamente demonstram que a culpa da morte está no morto. O nosso inimigo é benigno. As vítimas são colaterais, gente que ia a passar e, mesmo sem saber, estava tão secretamente doente que não merecia cá andar. Temos sido leais com o nosso vírus. O H1N1 só mata nas estatísticas, só mata no balanço final. Nenhuma morte individual que não seja desclassificada.
Ele deu-nos uma razão de existir e nós não o deixamos transformar-se em vilão.
Etiquetas: gripe A( H1N1)v 2009
7 Comentários:
convém distrairmo-nos um pouco dos desempregados, não achas? os jornalistas já devem estar fartos de tanta miséria, pelo que um vírus assim vem mesmo a calhar...
O português, como campeão das baixas médicas, fica logo doente só de pensar que uma boa doença lhe pode dar uns dias à lareira. O caso da gripe h1n1 é exactamente um daqueles em que esse fado se manifesta. Independentemente de estarem ou não infectados, fazem crer que poderão vir a estar e, para que isso não aconteça, há que ficar doente antes mesmo de a doença o afectar.
PS: espero nunca "apanhar" agripe h1n1.
luís , sabes que eu até não sou dessas coisas e, infelizmente, vivo o "histerismo" por dentro.
em todo o caso, em espanha, e até ao dia 22 de out, tinham morrido 63 pessoas com gripe A. se calhar o motivo pelo qual "não se fala" do assunto não é dispiciendo (se calhar é o mesmo por que não se fala de outras coisas, não fica muito bem).
relembro, por exemplo, que em espanha também pura e simplesmente não se falava do prestige.
só começou a "ser notícia" depois dos órgãos de c.s. interncionais "mencionarem" a pequena nódoa.
O medo é o que melhor vende... sempre foi, desde tempos idos; o medo do inferno e do diabo, do castigo divino, dos gajos que comiam criancinhas e dos gajos que nos soltavam a língua; o medo de falharmos; de sermos maus pais, maus filhos, maus cidadãos; enfim o medo da morte... essa puta que vive na rua, nos jornais e tv, que se deita connosco e nos bafeja o pescoço sempre que queremos viver um pouco mais... lembrando-nos só no fim a história do outro que morreu sem ter vivido.
Bom poste e obrigado pelo blog
Pedro Gama
"Fidel Castro acusa Obama de introduzir gripe A em Cuba"
Foi por medo que uma vez viajei em 1ª para os EUA. Medo do outro que me deixou o lugar. Tinha ocorrido um mês antes o 11/9 onde morreram efectivamente pessoas.
A gripe mata? Tudo mata pela condição única de sermos mortais. Situação única que não conseguimos inverter.
Por medo deixamos de viver. Não há pior morte...
TB
Pois!
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