Depois do Haiti. Deus.
- Comeu-se demais na terra – gritava o pai dela. Comeu-se demais e morreu-se demais. Disse o Papa que o Núncio em Port au Prince tinha sobrevivido. - Graças a deus – disse o Papa. E graças a quem morreram os outros? Graças a quem sofreram? Graças a quem ficaram assim, gente sem nome nas ruas de Port au Prince, entregues à ignomínia das câmaras e da ajuda internacional, ao cheiro da carne putrefacta, à banalidade dos corpos insepultos, dos membros amputados? Que deus é este que se invoca para a graça excepcional e se iliba da tragédia colectiva? O ridículo deus pós – conciliar, o deus dos homens cultos, um deus sem lugar num Universo pequeno demais para o esconder, um deus inútil que já não ameaça nem castiga, um deus mais insignificante que a cúria romana e o Paparmani.
Etiquetas: Dezanove Recantos, Haiti, Luiza Neto Jorge
3 Comentários:
Aquando da retaliação da Indonésia sobre o resultado do referendo em Timor, gritou-se o slogan: ONU ONU, para que serves tu!? Cerca de dez anos depois, a questão está mais actualizada que nunca.
Certo, qual é, afinal, o papel verdadeiro da ONU?. Melhor, o que é que realmente estava fazendo a ONU no Haití?
O luto é alguma coisa entre a dor e a raiva ( revolta?). Uma dor irrecusável. Cada frase, cada imagem, aponta para uma coisa ou outra.
E nós somos levados pelas vagas, impotentes.
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