Enfim Isabela
Querem escrita feminina a sério? Tomem. Isabela Figueiredo, Caderno de Memórias Coloniais, editada pela Angelus Novus.
Logo nas primeiras páginas percebemos que estamos fodidos. Isabela não tem medo das palavras iniciadas por c. O seu livro começa mesmo pela cona das pretas em Lourenço Marques, nesses anos finais do Império tuga. Mas o livro não é erótico, nem o sexo que dele transpira dará ao leitor qualquer prazer.
O livro não tem similar na escrita em português contemporâneo. Uma mulher recorda o pai. E nós podemos ver esse homem, cheirá-lo, sentir-lhe a presença. O livro é sobre uma traição fundamental e sobre uma questão fundamental, que não revelarei aos possíveis leitores.
A edição de Angelus Novus faz uma opção discutível: incluir posts da autora num blog e uma entrevista. Na minha opinião os posts, um dos quais repugnante, quebram a unidade temática do livro e não lhe acrescentam nada. Tal como a entrevista. A Assírio ignorava tudo do registo biográfico dos autores. A Angelus Novus quer dizer-nos de mais.
Etiquetas: Angelus Novus
8 Comentários:
Luís,
Este livro me despertou muito a curiosidade. Como moro no Brasil gostaria de saber os dados bibliográficos para que eu possa pedí-lo daqui. Seria possível?
Desde já, obrigado,
Um abraço,
Carlos Eduardo
veredaspulsionais.blogspot.com
não li o livro, li entrevistas com a autora, li uma recensão (feita por quem?) que me pareceu credível, por cruzamento com as entrevistas, e fiquei com a sensação de que sim, a autora, é capaz de escrever muitas palavras começadas por c. (mas isso também eu, é só querer) mas muito pouco credíveis. Não vou ler.
Caro Carlos Eduardo
Claro que é possível. Veja o site da editora- excelente.
Angelus novus : www.angelus-novus.com
Se não conseguir tenho muito gosto em lho enviar. Como gostaria de o oferecer à Isabel. Às vezes a intuição engana-nos e faz-nos perder coisas estimáveis, neste caso o conhecimento de uma autora e de um grande tema.
Li no final do ano passado. Não sei se se trata de 'escrita feminina a sério', mas é excelente e um dos melhores livros que li em 2009 – embora o tenha recomendado a pessoas que detestaram. Concordo também que os posts eram dispensáveis; e sim, o do aborto - se é a esse que se refere - era particularmente dispensável.
Do que li nessa recensão que trazia muitas transcrições, é um livro cheio de coisas dispensáveis. Obrigada Luís. Um dia destes passo numa livraria e dou uma olhada, não vale a pena encher mais as estantes com o que não vale a pena, é mais do que intuição.
Preocupa-me o seguinte: quem nada souber do sistema colonial e descolonização, se ler apenas este livro, não fica bem informado. Estou a pensar especialmente nas pessoas que nasceram depois de 1975. Terá apenas a visão pessoal de IF, que é isso mesmo, uma forma de ver a questão. E IF tem todo o direito de emitir a sua opinião.
Sei que a saída precipitada de uma criança de 12 anos da terra onde nasceu para um ambiente diferente, sem a família, é um acto violento com consequências dramáticas. Aquilo que viu e ouviu, em LM e cá, também agravou a sua revolta.
Outros falariam do assunto noutros termos, menos violentamente, ou mais, até.
Se fosse eu a recordar todo o tempo que lá vivi e foram muitos anos, nunca poderia exprimir-me assim, não vi o que ela viu e não tinha aos 12 anos a sua argúcia.
E é um grande tema, na verdade, muito mais complexo do que umas memórias pessoais possam transmitir.
Gostei de alguns textos do livro. Alguma beleza de escrita e bom ritmo e de repente um vendaval de rancores pessoais.
para visões complementares, sugiro a leitura destes posts:
http://entreasbrumasdamemoria.blogspot.com/2010/02/o-meu-padrinho-mulato.html
http://ma-schamba.com/roupa-velha/no-sofa-com-a-filha-do-electricista-da-matola/
Pois...já muita água correu sobre o livro da Isabela. Li o livro, contrariada, mas gostei. Não por k ele represente a verdade sobre o sistema "colonial" em Moçambique e Angola, k está a anos luz daquilo k lá se passou. Isabela escreve bem, mas a visão k apresenta é a sua, de criança. É legítima pois foi assim k ela a viveu. Mas não é igual à minha ou à de milhares de outras pessoas k lá viveram uma vida inteira. Por isso, me insurjo quando vejo as críticas generalistas - muito doutas - de pessoas k não fazem a mais pálida ideia do k aconteceu naqueles territórios. A minha realidade de 30 anos em Angola é outra, completamente diferente e ninguém me quer publicar. Deixem outros autores mostrarem também as suas estórias e as suas experiências, mesmo sem linguagem vernácula e, aí sim, poderão fazer generalizações. Até lá, o 'Caderno de Memórias Coloniais' é apenas isso - um livro, leve, k se lê bem, mas não é DEFINITIVAMENTE o best-seller k apregoam!
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial