Matam-se uns aos outros
The Straight Story
Quinze dias a conduzir num país normal chegam para, no regresso, nos escandalizarmos com o comportamento dos nossos condutores. Não respeitam os sinais de trânsito nem os limites de velocidade, buzinam continuamente, se por acaso lhes vemos as caras parecem zangados ou ameaçadores. Estacionam nos passeios tornando a vida dos peões uma aventura e interditando a via pública às crianças. O exemplo vem sempre de cima: as passadeiras, os traços contínuos e as marcações em geral empalideceram incitando à transgressão; as altas figuras do Estado e as pequenas figuras locais com direito a viatura e chofér sentem-se acima da lei e circulam a altas velocidades; a Brisa manda nas auto-estradas e tem direito a obras intermináveis, tornando o trajecto da A1 um martírio taxado. A polícia caça multas vergonhosamente, sem nenhuma missão pedagógica ou de censura, parecendo movida apenas pelo cumprimento de metas de auto- financiamento. Entretanto os inocentes sofrem, ficam estropiados, morrem.
No primeiro dia de chuva os incêndios deixaram de ser notícia e voltaram os acidentes nas estradas, um bombardeamento na A 25 com famílias desfeitas e a infelicidade distribuída por vários hospitais.
Estamos condenados a isto. Aos incêndios, ao crime nas estradas, às condolências e à lamúria. Os mais corajosos já partiram e os mais pudicos já se calaram. Eu escrevo estas coisas como quem se lava, mas a água vem suja e faltam-me as palavras.
Etiquetas: Auto-estradas da morte; país real
9 Comentários:
Olha, estou contigo no desencanto. Um tipo diz que é vergonhoso, mas já nem vergonhoso é.
Por muito que te custe, Luís, ainda bem que voltaste. Fazes falta.
Abraço
Perante outra situação da falta de civismo habitual no nosso jardim à beira mar plantado (vizinhos), hoje pensei exatamente o mesmo: como gostava de gritar mais vezes, talvez educar á força, fazer queixa, reclamar, lutar,ou simplesmente falar, sem que a voz me tremesse de raiva.(Quando me dou ao trabalho de falar.)
Cada vez que me deparo com casos destes na estrada, na escola, no supermercado, nos hospitais ou no meu prédio, a atrasada mental pareço eu. Enfim.
É tão triste.
ainda bem que escreves.
Para variar, «na mouche»
A essas palavras tão certeiras, junte-se a minha, à sua e à voz de todos quantos vão abrindo o caminho para declarar este país num aparentemente estado de calamidade pública.
O que aconteceu ontem na A25 foi mau, muito mau, mesmo!
Ai Portugal Portugal...(mas) do que é que tu estás à espera ?
O desencanto inevitável, a tristeza impermeável a tudo excepto à vontade, à vontade e à crença de que uma imensa minoria consiga mudar este fado, esta sina, esta ausência de valores.
Bem vindo.
David
Eu, se mandasse, hehehe, proibia a venda de Audis neste país. Sério. O real problema era o que fazer dos cretinos que os conduzem... Ou "Nous sommes tous des cretins"?!
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial