O ipsilon nao tem o Mil Folhas
A minha Mãe acha que o Mil Folhas acabou.
- O Mil Folhas acabou- diz ela.
- Está no ipsilone- tentamos convencê-la.
- Não, não está no ipsilõ. Acabou. Ficámos sem nenhum suplemento literário.
O jornal da minha Mãe é o Diario de Lisboa. Ela considera o Público, por alguma razão, o sucessor do Diario de Lisboa. Não é bem a mesma coisa. Os tempos mudaram. Os filhos também são diferentes dos que ela tinha no tempo do Diario de Lisboa. Mas são os filhos possíveis, na época em que o mais parecido com o Diario de Lisboa é um jornal que se chama Público, onde escrevem jornalistas de que ainda sabe o nome. Agora as coisas complicaram-se. Não se habitua a pedir o P ao jornaleiro. A verificar se o P2 vem inteiro no P. Se à sexta-feira o P tem o ípsilõ.
- O ípsilõ não tem o Mil Folhas. Se duvidam é porque não lêem- a minha Mãe, habituada a defender opiniões ligeiramente diferentes das nossas. E folheia à nossa frente, os Arcade Fire, o que é que isto me interessa, um casalinho que diz que a música deles é como a Bíblia, o Old Jerusalem, o groove, o Elvis no deserto. Até chegar à página 20, a primeira em que se fala de livros. E nem aí se alegra.
- Se o homem "tinha que fazer uma arte poética sexual" porque é que se deixa fotografar assim?
( As pgs 20 a 22 do ípsilon têm uma entrevista com Manuel da Silva Ramos. Duas fotografias. O texto, todo junto, cabe no relógio do poeta.)
Etiquetas: imprensa escrita, poesia
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