O menino. A noite
Lisette Model
Não sei nada sobre este miúdo. Nasceu antes do tempo, respirou por tubos, uma mistura de gases que, para chegar ao sangue, tinha de ser soprada a altas pressões. Ficou ligado a uma botija que debita meio litro de oxigénio numa coleira que lhe dá uma autonomia de dois metros. Vive num lar de acolhimento, chamemos-lhe assim. A mulher que hoje dormiu ao seu lado trabalha nesse lar e esteve ausente uma semana, por gripe , claro. Quando voltou achou o menino mal. Tinha os lábios roxos e estava paradito. Disseram-lhe que já estivera pior. Ela rodou a torneira do gás e o menino melhorou. Depois chamou a ambulância e foi com ele para o hospital, onde há um médico que conhece a criança e a sua doença.
Ouço esta história duas vezes. Na passagem de turno e pela voz da mulher. É uma rapariga da terra. Ainda não tem idade para ter filhos e, nesta manhã, não teve tempo para se arranjar. O menino está ao seu colo e ora olha com atenção ora se esconde no côncavo do ombro, como fazem as crianças expostas a desconhecidos.
Quando lhe digo que o menino está feliz, ela responde: - Pela primeira vez na vida dormiu com uma pessoa que era só dela.
Etiquetas: a vida como um romance
10 Comentários:
quando crescer o menino há-de saber q havia mais alguém a velar por ele... silenciosamente. são assim os anjos da guarda.
A resiliência dos meninos dos lares de acolhimento (chamemos-lhes assim) é imensa. E não é tão difícil que cada menino tenha uma pessoa só dela, gestos tão simples como uma funcionária que vai à rua fazer um recado e diz “queres vir comigo á rua fazer um recado?”. Faz toda a diferença e só depende da sensibilidade e bom senso de todos os adultos envolvidos.
caramba, uma destas logo pela manhã. porque é que a natureza nos prega destas?
bonito, bonito, bonito
(parece um conto de natal)
Laços como estes é que são importantes...mulheres que dão colo assim enchem-nos de esperança.
~CC~
:(
Wellcome back, Luis.
ainda há esperança...
É por isto e muito mais, que a adopção deve ser incentivada e não cerceada, a quem de boa vontade o queira fazer, sem preconceitos de qualquer espécie.
triste demais para sabermos que é uma história comum a muitos meninos de lares de acolhimento....resta-nos ter esperança na natureza humana e na grande generosidade de todos os profissionais que se cruzam no caminho destes meninos!
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