Pedalam curvados
Charlotte Perriand
Pedalam nos Alpes
curvados no volante - estes
agora
descem
para o vale
depois de passado o Julierpass.
Ele vai à frente
de cabelo branco.
Ela apanhou-o
debaixo da trança do capacete
e de uma touca
escarlate
que desce à nuca.
Parece uma marciana
em missão de paz.
Tão frágeis ao lado dos cumes
do colo de Julier.
Inclinam o corpo com graciosidade
pedalam depois de desfeita a curva
entre os dois a distância vai esticando
e depois
reduz-se
tão perto que talvez nas subidas
ela tome a dianteira.
Estão equipados a rigor
com jerseis que desenham as ancas
os ombros
e como uma segunda pele deixam
o corpo seco
ao transpirar.
Abaixo das ¾ knickers
as pernas são
-como se diz-
torneadas.
De vez em quando ele volta ligeiramente a cabeça
para a ver ( como ela é
de relance
polarisada pelas oakley path radar).
É assim que fazem os que se amam.
Pedalam em uníssono
em doces
mas arrebatados orgasmos
simultâneos como um par verdadeiro.
Não existe entendimento maior do que este:
no cenário dos Alpes
dois corpos cuidadosamente aparelhados
que envelheceram juntos mas conservam
o brilho e a elasticidade do
neopreno
a sofisticação do tungsténio
e do vermelho absoluto
nos lábios dela.
Etiquetas: amor, ideia do amor
3 Comentários:
um regresso em grande.
Se trocares os Alpes pelos Pirinéus eu já os vi assim. :)
Que bom.
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