27 março 2011

A Líbia à beira da democracia


Lazlo Moholy-Nagy , Mãe Europa trata dos seus.


A qualidade da informação que chega da Líbia é lamentável.
Nos últimos dias uma cidade foi libertada pelos rebeldes. As câmaras mostram uma cidade semi-destruída onde o lixo se acumula. Somos guiados por jovens que falam francês e inglês e, por esse facto, parece terem assumido algum relevo no movimento rebelde. Visitamos a família de um rapaz que morreu e um centro artesanal de produção de notícias. Os rebeldes derrotaram as tropas regulares. São exibidos quatro rapazes negros- mercenários, dizem. Um deles confessa, por monossílabos, ter combatido ao lado dos fiéis de Kadafi. São conduzidos para interrogatório a uma cidade próxima. (Presume-se que nessa cidade existe um nível de decisão superior do movimento rebelde. Mas o jornalista desinteressa-se desse facto e da sorte dos prisioneiros.).
No Público, de raspão, lemos outra versão. Os rebeldes ocuparam a cidade depois da aviação francesa ter bombardeado as posições do exército, acantonado em dois pontos estratégicos.
Noutro momento vê-se um desgraçado com uma catana encostada ao pescoço cercado por uma turba aos gritos.
Outro repórter, na fronteira da Tunísia assiste ao êxodo líbio.
A informação é sempre a mesma. As fontes são muito limitadas e não identificadas. O papel da NATO na solução militar é ocultado. O tratamento dado pelos revoltosos aos prisioneiros nem sequer é aflorado. Os mortos são todos vítimas de Kadafi.
Passa-se tudo no terreno idílico do maniqueísmo . Os bons, desarmados e ingénuos, os maus, mini Kadafis, demonizados. Ao que leio, este digest indigente deixa todos satisfeitos, à beira de mais uma vitória da democracia.
Alegremo-nos : já chegou o José Rodrigues dos Santos.

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4 Comentários:

Blogger Guilherme disse...

O mesmo J.R.S. que escreve livrinhos que vendem que nem pão quente em todos os cantos do mundo (parece que o próximo lança a suspeita de que Afonso Henriques era um submarino da Al-Qaeda)?
O mesmo J.R.S. que, farto de esperar pelos obuses, abandonou a sua varanda favorita do hotel em Bagdad meros dias antes da invasão?
Pode ser que desta vez ele consiga levar o galhardete de "reporter de guerra" para usar na edição chinesa da sua última preciosidade.

segunda-feira, março 28, 2011  
Blogger Unknown disse...

a propósito do tema:
http://josespadafeio.blogspot.com/2011/03/da-tenda-desarmada.html#links

segunda-feira, março 28, 2011  
Blogger hugo besteiro disse...

os teus textos sobre a líbia são bastante bons..

é engraçado com o homem da revolução de 69 e ex-pária da comunidade internacional se transformou há uns anos num homem bom com quem todos negociavam.. até comprou umas centrais nucleares ao Sarkozy e tudo.. acho que o Amado até lhe montou cá a tenda para o Sócras lhe ir lá apertar a mão e pedir uns trocos... agora voltou a pária e é preciso tirá-lo de lá.. mas tudo em nome da defesa das populações oprimidas (aguardo ansiosamente as intervenções no Iémen e no Bahrein.. já para não falar da Arábia Saudita).

Outra coisa engraçada é que o reatamento das relações internacionais se fez entre outras pelo Kadafi ter deixado essa criatura mitológica para a resolução de todos os males, o FMI, entrar no País e isto apesar da Líbia ter um dos maiores rendimentos per capita da zona e de ter algumas políticas sociais que reduziram as desigualdades entre a população nos anos pós-revolução..

Esta situação tem me deixado num dilema moral.. Agora não sei se gosto mais do Reagan, do Bush ou do Nobel da Paz.

terça-feira, março 29, 2011  
Blogger Menina Limão disse...

«Da mesma forma que em Portugal as pessoas quando não têm nada para fazer vão ver o mar, aqui as pessoas vêm ver os tanques.»

José Rodrigues dos Santos, num momento literário em directo da Líbia

terça-feira, março 29, 2011  

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