A Líbia à beira da democracia
Lazlo Moholy-Nagy , Mãe Europa trata dos seus.
A qualidade da informação que chega da Líbia é lamentável.
Nos últimos dias uma cidade foi libertada pelos rebeldes. As câmaras mostram uma cidade semi-destruída onde o lixo se acumula. Somos guiados por jovens que falam francês e inglês e, por esse facto, parece terem assumido algum relevo no movimento rebelde. Visitamos a família de um rapaz que morreu e um centro artesanal de produção de notícias. Os rebeldes derrotaram as tropas regulares. São exibidos quatro rapazes negros- mercenários, dizem. Um deles confessa, por monossílabos, ter combatido ao lado dos fiéis de Kadafi. São conduzidos para interrogatório a uma cidade próxima. (Presume-se que nessa cidade existe um nível de decisão superior do movimento rebelde. Mas o jornalista desinteressa-se desse facto e da sorte dos prisioneiros.).
No Público, de raspão, lemos outra versão. Os rebeldes ocuparam a cidade depois da aviação francesa ter bombardeado as posições do exército, acantonado em dois pontos estratégicos.
Noutro momento vê-se um desgraçado com uma catana encostada ao pescoço cercado por uma turba aos gritos.
Outro repórter, na fronteira da Tunísia assiste ao êxodo líbio.
A informação é sempre a mesma. As fontes são muito limitadas e não identificadas. O papel da NATO na solução militar é ocultado. O tratamento dado pelos revoltosos aos prisioneiros nem sequer é aflorado. Os mortos são todos vítimas de Kadafi.
Passa-se tudo no terreno idílico do maniqueísmo . Os bons, desarmados e ingénuos, os maus, mini Kadafis, demonizados. Ao que leio, este digest indigente deixa todos satisfeitos, à beira de mais uma vitória da democracia.
Alegremo-nos : já chegou o José Rodrigues dos Santos.
Etiquetas: Líbia
4 Comentários:
O mesmo J.R.S. que escreve livrinhos que vendem que nem pão quente em todos os cantos do mundo (parece que o próximo lança a suspeita de que Afonso Henriques era um submarino da Al-Qaeda)?
O mesmo J.R.S. que, farto de esperar pelos obuses, abandonou a sua varanda favorita do hotel em Bagdad meros dias antes da invasão?
Pode ser que desta vez ele consiga levar o galhardete de "reporter de guerra" para usar na edição chinesa da sua última preciosidade.
a propósito do tema:
http://josespadafeio.blogspot.com/2011/03/da-tenda-desarmada.html#links
os teus textos sobre a líbia são bastante bons..
é engraçado com o homem da revolução de 69 e ex-pária da comunidade internacional se transformou há uns anos num homem bom com quem todos negociavam.. até comprou umas centrais nucleares ao Sarkozy e tudo.. acho que o Amado até lhe montou cá a tenda para o Sócras lhe ir lá apertar a mão e pedir uns trocos... agora voltou a pária e é preciso tirá-lo de lá.. mas tudo em nome da defesa das populações oprimidas (aguardo ansiosamente as intervenções no Iémen e no Bahrein.. já para não falar da Arábia Saudita).
Outra coisa engraçada é que o reatamento das relações internacionais se fez entre outras pelo Kadafi ter deixado essa criatura mitológica para a resolução de todos os males, o FMI, entrar no País e isto apesar da Líbia ter um dos maiores rendimentos per capita da zona e de ter algumas políticas sociais que reduziram as desigualdades entre a população nos anos pós-revolução..
Esta situação tem me deixado num dilema moral.. Agora não sei se gosto mais do Reagan, do Bush ou do Nobel da Paz.
«Da mesma forma que em Portugal as pessoas quando não têm nada para fazer vão ver o mar, aqui as pessoas vêm ver os tanques.»
José Rodrigues dos Santos, num momento literário em directo da Líbia
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