30 dezembro 2010

28 dezembro 2010

Sem palavras


Clarisse d'Arcimoles



Em janeiro David Lodge terá 76 anos e a sentença de silêncio apertar-se-á em seu redor. Julian Barnes, 65. Manfred Encher, 67. Luísa Neto Jorge morreu há 21 anos, mais nova do que eu, como o Nuno Bragança. Há sete anos que o António Franco Alexandre se calou. O Magalhães destruiu , como se diz, a sua obra. John Le Carré chegou aos oitenta, no ano em que sai Um Espião dos Nossos. O Vila-Matas tem 61 e esteve mesmo à beira de desaparecer. Coetzee será em breve um homem lento e parece ter concluído a sua peculiar autobiografia. O Philip Roth tem 78 anos.
O Philip Larkin morreu em 1985. O Bolano mal o conheci. Todos velhos, surdos, mortos e eu com eles, como uma camisa em farrapos arrastada na corrente, sem outras palavras que as palavras deles, sem outro mundo que o mundo pequeno que foi o deles.

Morreram quase todos, como ele. Já não há nas ruas da sua cidade uma só pedra que tenha pisado. Uma noite acordei e, no corredor da casa que habitava, reverberava uma cinza incandescente. Sabia onde encontrar as palavras que contavam isto, num livro de capa castanha do Nuno Júdice. Escrevi-as com tinta permanente e fui pô-las debaixo da pesada jarra das flores, na esperança pueril de que a minha mãe as haveria de ler, antes das chuvas. Hoje nada resta dessa febre: o mármore, a terra remexida, a memória dessa noite, as palavras roubadas, a agitação do roubo.

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Tenho o privilégio de fruir os vossos eventos e só vos queria transmitir o meu afecto e apego ao estado de sítio em que me encontro






A oligarquia vai eleger Cavaco e preparar-se para mais um lustro de regabofe. Caridade para os mansos, porrada para os relapsos, internamento para os anarquistas, fluoxetina e assistência social para os excitados, tropicalismo para os Dias Loureiros e Jorge Coelhos. E muito espectáculo, muito pavilhão, concurso, casino, euro milhões e gala.

O PS e o PSD são o regime do regabofe. O PC e o BE a caução ao regime. A esquerda-que-existe é a idiota útil da farsa democrática. Mantém em vida vegetativa os famélicos figurantes encarregados de levar cabazadas pelos profissionais do crime organizado- a comparação futebolística é de mau gosto, mas é a que melhor exprime a mascarada. Como nas ditaduras a sério, a oposição devia perceber que não tem condições para disputar a farsa eleitoral e desistir à boca, ou aos pés das urnas.

Entretanto estamos no Natal, é Natal, Santo Natal. Temos de ouvir verbos como fruir conjugados improvavelmente. Fruam, fruais, fruísseis, fuírieis. Desfrutem, desfrutais, desfrutásseis, desfruteírieis. E teremos o privilégio de ser bem fodidos, em vários e sucessivos eventos, sempre com afecto e carinho, consideração e carinho, respeito e carinho, o respeito que todos merecemos e o carinho que, no fundo, prodigalizamos, prodigalizem, prodigalizásseis, prodigalizaríeis.

Luís, send by mail

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27 dezembro 2010

21 dezembro 2010







15 dezembro 2010

11 dezembro 2010

O líder da Wikileaks violou o Pacheco Pereira (para não falar do Fernandes)


Miguel Barceló, A solidão organizativa



Há um verso de um poeta alemão que diz:- Olha para as tuas convicções e vê: estão velhas. Os jornais que lemos também envelheceram, quando, como foi o caso, os deixamos de ler mesmo que por um breve período.
Como estão os comentadores, os críticos, os jornalistas. Ponto de exclamação. Como envelheceram mal. Mesmo os criadores. Mexia entrevista Miguel hífen Manso e explica-nos que o hífen é um pseudónimo literário. Mexia, velho, à conversa com Miguel-Manso. Mexia, o culto tolerante, com Miguel, à entrada do estrelato para que visivelmente ainda não está preparado. Pedaços da conversa:
“Podíamos por exemplo falar da sua poesia, arriscar aproximações parciais", diz Mexia, "como hermetismo ou imagismo", diz Mexia. Manso "contrapõe", diz Mexia. ”Acho que sou um poeta pop”, diz Manso. "Porquê pop", interroga Mexia. Miguel –Manso “meio encabulado”, diz Mexia, "diz apenas", diz Manso: “Um amigo disse-me e eu gostei”.
"E fica sorridente com a resposta", diz Mexia.
O i, levezinho, tem agora à escrita Inês Serra Lopes. É impossível ler Inês Serra Lopes sem ouvir Serras Lopes. A voz de Serras Lopes gruda-se às páginas do i, e como estas são poucas , empapa o jornal e cola--se nas mãos do incauto leitor.

Ainda no Público, Pulido Valenta inquieta-se com a dificuldade que tem a direita portuguesa para se unir. VPV queria-os mais unidos, tipo União Nacional.
São José Almeida, uma excepção no panorama jornalístico, entusiasma-se com Carlos César. Como Mexia com hífenManso. Uma pessoa tem que se entusiasmar. Já dizia o Régio que em Portalegre, aos pés da estranha casa do Largo do Cemitério, frente aos ciprestes, se humanizam as coisas brutas e se têm tais criancices que é melhor ter pudor de as contar seja a quem for.
Segundo alguns o que caracteriza a cena actual é que deixámos de ter pudor. Contamo-nos a todos e contamos tudo. Uns por profissão e com o devido lucro. Outros por terapia. Outros na vertigem do tempo.
E queremos saber tudo. Ora isso é perigoso, como se sabe desde o Fausto, desde o paraíso perdido, desde a maçã, desde o pecado original. Deus sabe tudo. O Imperador sabe tudo. O Imperador e os Assessores. As Instituições responsáveis da Democracia parlamentar, diz Pacheco Pereira. Essas sabem tudo e sabem o que nós, a turba, nós a fonte da soberania, nós as massas votantes devemos saber. E ignorar.
Pacheco diz, sem originalidade, o que os colegas têm repetido ad nausea. As revelações da Wikileaks são um perigo para a nossa Sociedade. O líder da Wikileaks é um terrível anarquista.
Pacheco escreve isto depois de uma cansativa análise que devia ter como subtítulo “A actualidade de Marx”. Pago a 10 000 palavras, Pacheco recorre à sua memória de trabalho de Comunista primitivo: Marx, Hegel e a situação das classes proletarizadas na primeira revolução industrial. É como se o ouvíssemos a chamar por Stetson. Mas o que sai do chão que Pacheco remexe é o sacrossanto respeitinho pelos “mecanismos da democracia que implicam mediação, conhecimento, saber, especialização” quer dizer censura, acesso restrito, sigilo, classificação da realidade. Por quem? Pelos eleitos? Não, pelo Pacheco, pelos sábios conselheiros secretos, pelos que a si próprios se arrogaram o direito a decidir a verdade a que temos direito.
Pacheco, Fernandes, Valente Mexia, eu estava quase morto. Mas mesmo do frio dos quartos dos lares ilegais me havia de levantar para vos dizer:
Somos todos Anarquistas Difusos e Comunistas Primitivos.

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10 dezembro 2010





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09 dezembro 2010






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08 dezembro 2010





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07 dezembro 2010





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