31 outubro 2007

O blog da semana: A pandora complexa


Rui Santos e Julio Dolbeth

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Por exemplo: António Capucho sucede a Marques Mendes no Conselho de Estado sem consultar Menezes



Eric I

Copyright 1981 Alberto Assunção Alvim

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30 outubro 2007

Salvação

29 outubro 2007

Filmes menores com Michelle Pfeiffer


Sam Taylor Wood, Pietá, 2001


Percebi agora que não percebi nunca nada e, neste mesmo acto, percebi então o quanto percebi bem as coisas. Não percebia nada porque estava aluada. Estive sempre ao lado, aluada, enquanto a vida passava. Estava ali e via muitas coisas que os outros não viam, mas estive sempre ao lado, aluada e concentrada na minha lua privada a julgar que a minha era a mesma de todos os outros.
Nunca pensei muito nisto, mas acho que pairava na vaga convicção de que eu e os outros pisávamos a mesma lua. Éramos seres transparentes com algumas dificuldades de comunicação. Era apenas uma questão de intrincada sintonização de rádios sob tempestade próxima. Como radioamadores sempre agarrados ao microfone e ao sintonizador, inconformados com a falta de contacto, numa teimosa perseguição do sinal do sinal, sempre na esperança de que o sinal crescesse e se tornasse sólido, incansáveis nessa busca de um sinal mais forte, jogando com todas as posições de todas as antenas feitas de todos os arames.
Estive aluada e concentrada na minha lua privada a julgar que era a mesma dos outros todos. Estive aluada e não vi os homens que me amavam a tempo de lhes estender a mão, estive aluada e tentava agarrar homens que estavam noutros planetas sem eu saber porque desconhecia que falava e amava a partir de tão longe, a partir da minha lua privada e inabitável. Estive aluada e não vi o meu filho a ficar mais aluado ainda do que eu. Estive aluada e sei que vou continuar assim apesar de dar conta de tudo o que existe nas pessoas. Só que não é a realidade delas. É a minha lua a incidir parcialmente nalguma fracção delas. Nada é totalmente verdade e nada é totalmente falso. Apenas uma lua minha a que ninguém tem acesso. Julgava eu que estava povoada e ciclicamente olho à volta e verifico que não há ninguém. Mas por momentos houve, tenho quase a certeza de que houve gente por aqui, embora agora não haja rasto de ser vivo. Como o principezinho a tentar manter viva a flor numa redoma inútil, uma única flor condenada ao extermínio pela tristeza num planeta deserto e hostil.
Talvez tenha, como o pai dele, de entrar no avião que desaparece no nevoeiro pacífico como algodão doce.
Talvez no lado de lá viva a onda hertziana que permite mensagens de longa distância. Até agora, demasiada chuva sideral, demasiada perfeição para tão pouco que dizer.

//sent by Rosaarosa

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Hermitejo


Andreas Gursky, Untitled XIII


O Pólo do Hermitage na Ajuda é comissariado por Prof.Fernando António Baptista Pereira e pelo Prof. Bernardo Pinto de Almeida.
Foi inaugurado pelo Presidente da República. As fotos mostram, em segundo plano aparente, na direita baixa, o primeiro-ministro, já envolto na adrenalina que o carrasco Tchecheno lhe desperta, e Isabel Pires de Lima, concentrada na alcatifa.
Durante a cerimónia, dois mil convidados faziam fila às portas da Galeria do Rei D. Luís. Eram a élite da nossa intelligentsia, os mesmos do beija-mão a Sampaio, da inauguração do CBB, uma mistura entre descendentes dos solares abandonados das Beiras e os aplicados filhos dos caseiros. É basicamente por eles que eu escrevo este blog.

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27 outubro 2007

Serviço Público

Este blog sempre pode ser de alguma utilidade. Hoje, por exemplo, informamos os incautos que devem evitar um restaurante de Lisboa que dá pelo nome de Cop'de três. Pelo menos nos dias em que o mesmo tiver como recepcionista uma mulher tatuada, que fez a escola de hotelaria no Gulag.

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Pode ser do Porto

Alguém que informe a dra. Isabel Pires de Lima que 1) Putin não é o secretário geral do PCUS 2) o Polo inglês do Hermitage fechou por falta de financiamentos. Alguém que avise a senhora. Pode ser alguém do Porto.

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Andrei Nekrasov


O momento grande da semana foi a presença de Andrei Nekrasov em Lisboa. O realizador russo esteve com a viúva de Alexander Litvinenko na apresentação do livro que relata a eliminação deste dissidente dos serviços secretos russos através de métodos que têm a assinatura do Kremlin. A sua presença coincidiu com a exibição de Rebellion no DocLisboa. O jornal Público entrevistou Nekrasov. A entrevista do realisador de S.Petersburgo e o texto que o director do jornal lhe dedicou são dois momentos que honram o jornalismo português. Uma volta pelos jornais pode dar a ver Sócrates e Pires de Lima enrubescidos da química que Putin lhes faz libertar, notícia de como algumas zonas de Lisboa viveram a "regra russa", a crónica do inenarrável Espada e a posição económica do PCP. Mas um jornal, o Público, lembrou Anna Politovskaya, os mortos de Tchechénia, o horrível assassinato de Litvinenko.

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25 outubro 2007

Sem linha


Anya Gallaccio

Nem sempre foi assim. Tive manipansos pendurados na parede dos quartos e bem para lá da idade em que estas devoções são desculpadas. Aqui escrevi sempre sem Deus nem Mestre. Mas tivemos, o André Bonirre e eu, uma linha e uma Secretária-Geral. Era o nosso farol, a nossa bússola, o nónio, o astrolábio, a carta de navegação, o trilho, o azimute, o complexo vitamínico, o neuroléptico, a eritropoietina. Há muito tempo que ela se calou. Há dias em que, incompreensivelmente, sentimos saudades da sua fala preclara.

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24 outubro 2007

Troca Justa



Na manhã de domingo eu estava a reparar a injustiça que a FNAC fazia ao livro da Alexandra Lucas Coelho, empilhado numa estante de arrumos. Tentava furtivamente trocar-lhe a posição com o da Angelina Jolie, que merecia o escaparate. Não é fácil trocar a posição da Alexandra Lucas Coelho com a da Angelina Jolie. Um rapaz surpreendeu-me nesta troca justa. Era um leitor e sorria. Perguntei-lhe se era o Ágrafo.
– Ainda não, respondeu ele.


Oriente Próximo
Alexandra Lucas Coelho
Relógio D'Água

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Elogio do Moleskine


Tacita Dean

Gosto dos Moleskines. Sempre gostei. Democratizaram-se e podem-se comprar em qualquer livraria. Não consigo encontrar nenhum motivo para deixar de gostar deles. Agora tenho o calendário da Google a avisar-me de tudo, mal abro o computador. Mas é diferente saber das coisas quando elas estão inscritas no Moleskine diário. Este fim-de-semana comprei um triplo caderno liso Moleskino. Mole, castanho, com 80 folhas, com as últimas dezasseis destacáveis. Num deles escrevo os acontecimentos de relevo para a Companhia. No outro registo os clientes especiais. O terceiro reservo-o para as ideias que tenho durante o dia. Apenas ideias como o caderno: leves, macias, para todas as ocasiões. Ao comprar um molhe de triplos Moleskines aproximei-me do meu núcleo fragmentado.

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22 outubro 2007

O guarda-pássaros


António Guerra.

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21 outubro 2007

Uma hipótese de Revolução

O sucessor de Paulo Portas na Defesa Nacional comemorou hoje o 860 º aniversário da tomada de Lisboa aos mouros. Nesta cerimónia foi anunciado que 1. O Ministério deitou fora os obsoletos G3 e Chaimites 2. Está em curso um ambicioso programa de substituição do arsenal 3. O ambicioso programa não está a ser cumprido.
Abre-se assim um cenário objectivo de Revolução. Infelizmente os revolucionários não ouvem o telejornal da Um.

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A quinta frase completa da pg. 161 do livro mais à mão

Não custa nada:
Junto a este escenario, por supuesto, hay otros escenarios.

Roberto Bolaño, 2666, Anagrama.

(Passo aos primeiros cinco blogs da minha lista de links).

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Louis Garrel, um rapaz do Mal



Caminhando ao longo das ruas do 10 ème, com a Porta de Saint Martin por fundo, ou no espaço que vai do cemitério de Montparnasse aos Jardins do Luxemburgo, ou trágica no Boulevard Saint Michel, a face de judeu palestiniano com a camisola bretã ou a roupa Agnès B, Louis Garrel é agora a face de Paris, Cidade Amável, onde uma nova geração escreve uma história que avança com canções. Há uma morte inesperada que desliza, à porta de um clube, e ele soluça em silêncio, enquanto, na frequência da polícia, ouvimos o código que a anuncia, delta charlie delta. Há uma mulher, Clotilde Hesme, que quis ser a ponte entre o amor deles, o lugar onde se pudessem abraçar. Há os rapazes bretões, de nomes impossíveis. Há os velhos da geração anterior, os pais soixante-huitards, que tal como no filme de Julie Delpy são retratados como dementes, alcoolizados e irresponsáveis, e os de uma idade intermédia, a de Chiara Mastroianni, todos tentando perceber, ainda e sempre tentando perceber. Não há nada para perceber na Paris de Louis Garrel. Os céus de Paris, a Porta de Saint Martin, o génio da Praça da Bastilha, os Jardim do Luxemburgo já viram tudo. É só mais um minuto e depois nada.

O filme Les Chansons d’amour é uma iluminação. Redime-nos do cinema americano, das salas vazias da Lusomundo e das pipocas. Dá-nos a força e a ligeireza para os nossos dias. Eu não estou disposto sequer para a contabilidade das estrelas, o pequeno poder dos críticos-que-não-gostam-de-cinema. Só queria agradecer, fixar os nomes de Christophe Honoré, Alex Beaupain, Ludivine Sagnier, e claro de Clotilde Hesme e Chiara Mastroianni e inscrever definitivamente o nome de Louis Garrel como o de um rapaz do Mal.

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20 outubro 2007

Les Chansons d'Amour

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Je n'aime que toi...toi

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19 outubro 2007

Teoria da Literatura


Steve Mc Queen


Nasce o sol
mas antes
é preciso que a dona Zélia compre 12 papos secos
às sete da manhã
e apanhe o autocarro das sete e doze
mas antes
é preciso que o padeiro coza o pão
às cinco da manhã
e só então
nasce o sol
às oito e dois minutos
mas antes
é preciso vestir a horrível camisa azul
às oito horas
e pôr a toalha no arame
e antes
às sete e quarenta
fazer a barba, tomar banho
e só então
nasce o sol
às oito e dois minutos
por detrás da serra da Lousã.

A arte é tudo o que nós quisermos.
Já com a literatura não é bem assim.

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Centro de Biodenúncia Ética

O Médico do Trabalho denunciou o rapaz, cirurgião, naturalmente depois de ter consultado o Centro de Direito Biomédico. Parece que o risco é pequeno, um para um milhão, mas houve casos. Não bem com cirurgiões, mas com dentistas. O rapaz não é dentista, nem faz bem cirurgias, apenas furinhos para espreitar o abdómen. Ainda assim, diz o Centro de Direito de apoio aos denunciantes, o doente corre o risco de ter hemorragias internas e do rapaz cirurgião positivo ter que se despenhar na barriga aberta do doente, para estancar a hemorragia. Risco é risco. As nossas crianças, assevera o locutor da manhã, têm um risco enorme de rinite alérgica. Um nariz entupido pode esconder uma rinite alérgica, garante o médico de serviço à TVI esta manhã, mesmo sem o apoio do Centro de Direito dos denunciantes bioéticos. Temos de pôr as criancinhas a fazer profilaxia muito cedo, é a mensagem. Mas com quê, doutores, com quê? Será preciso marcar consulta para saber?

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17 outubro 2007

I'm not ready for peace


Martin Puryear


Não estou preparado para
a paz

Olha para mim como
se eu fosse o cavalo
do huno
e ela a tundra antes de ser
pisada

O arquitecto Pagano morreu
no campo de Mathausen ao lado
dos escravos de Speer
o que constituíu notável
excepção
pois os colegas continuavam
a construir a Itália
fascista

A norte de Santarém
pastam cavalos brancos
e a cento e três quilómetros por hora
o Alfa pendular
parece parado
à luz do entardecer
Campina Irreal

Não estou preparado
para a paz ainda não estou preparado
para me render

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16 outubro 2007

Outro Retrato


Sam Taylor-Wood

a inquietude assimétrica
escondida
nada que denuncie desalinho
tudo alto e liso


e se há uma sombra que se afunda
depressa volta em claridade
em função do grau de intensidade
da ficção perfeita em que ela vive

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Publicar Mensagem


Sam Taylor Wood

Sou o Lacaio pressuroso, o que caminha ao lado, numa alucinação extra-câmpica, o que insiste na tradição nova, um filme crepuscular de Resnais, um cenário de Sintra com um cisne que vôa rente às águas. Uma estação do ramal do Tua onde uma rapariga que julga que vai ser célebre se despede da família. Uma mulher a dias. O homem que lava os vidros partidos do hospital. Um trilho na serra ardida. Uma coisa de nada, uma insignificância, uma mancha que sai com skipo. Um pedaço de cinzas por espalhar, uma T shirt velha com a cara estampada de um cão triste. Um pin que diz fuck the fuckin'fuck, uma pulseira de tornozelo, um broche.

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12 outubro 2007

NA TRANSTORNÂNCIA....

Na transtornãncia impiala da firmusa
onde tão sulca de aridentes vem
a lúpida virónia damitem
que à fura imerna talifera e gusa,

alumibate a sintoscura etrusa.
Etrusa e tantimorta. E noctibem.
Como doriga e desinada quem
turidonada aflia a solidusa.

Regredassara detimura antrô-
temáqua adira apira escamivorta:
adominata incesca viridou
muldina igura talimen sigorta.

Nantida imbiva. Na primara andiata
e na danfia atedimasta aflata.


1961.
Jorge de Sena

sent by rosaarosa
imagem de YBAs

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Lá estaremos



1º Encontro Insatisfação, Vazio Mental e Mal Estar

9 e 10 de Novembro de 2007

Auditório do Instituto da Juventude de Coimbra

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11 outubro 2007

Canal generalista

Os médicos servem um mundo de pesadelo. Uma pessoa acorda, ainda nem se ouve o ramal da lousã, iniciou-se a competição canora na varanda da dona Fernanda, aka Fernanda Aldina Pureza, e no canal do povo já lá está, o médico da manhã, a dizer-nos que palpar ou apalpar as mamas de uma mulher é, consoante o apalpador, prevenção primária ou secundária.

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Tracey Emin: uma mulher do Mal

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10 outubro 2007

Prepúcio


André Bonirre

No balneário o rapaz cruzou o olhar com o meu prepúcio. Como estava a entrar no duche tive este tempo todo para reflectir. A primeira impressão foi desagradável. Olhei o rapaz e no olhar dele, fugidio, oblíquo, vi o meu prepúcio. Esta triangulação irritou-me. Lembrei-me de Cavafys. Tive pena de não ter sentido o que Cavafys sentiu quando entrou na loja escura e o rapaz o atendeu furtivamente. Pensei simultaneamente no meu prepúcio e em como a minha recta orientação me limitava nas emoções, sobretudo no balneário masculino, ao entardecer. Depois, enquanto ensaboava a cabeça, percebi que não ia sentir nada de transcendente ao cruzar com a maior parte das ginastas de body jump, se a limitação de género não me impedisse a entrada no balneário feminino.
Apaziguado com esta auto-absolvição fiz a barba. Infelizmente a falta de creme de barbear não deixou durar muito esta beatitude.

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09 outubro 2007

Ciência Viva

A produção de eventos, digamos, científicos, está agora consideravelmente simplificada. Nós tratamos, digamos, da parte científica, quer dizer de parte da parte, e os empresários da República Popupar da China tratam do resto. Não trazem os Divine Comedy, mas uma réplica dos Divine Comedy de Nanquim, não bem os Shostakovitch Ensemble, mas um dos Shostakovitch Ensemble de Cantão. E tudo a custos zero. Eles ficam só com os lucros da erva.

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After Sun


August Sander no blog o século prodigioso

Concentro-me em coisas simples
Sorver o ar para as traqueias
Juntar algum pão
Estender a pele ao sol
Procurar um sítio onde tu passes
ou ao menos se ouça
a tua voz

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08 outubro 2007

Perda (2)


Rachel Harrison


A minha única experiência comparável à das mulheres de pele transparente foi aos quinze anos. Acreditava num destino grandioso onde a minha glória pessoal se misturava com a vitória dos proletários e o reconhecimento amoroso de uma adolescente que conhecera no primeiro período do Instituto Italiano. Na festa do Natal ela deu-me com os pés e deixou tudo de valer a pena. O prémio Marinetti, o quadro de honra, a preocupação das minhas irmãs e o desaparecimento do cágado. Não sabia que aquela inesperada derrota pessoal iria ser uma das experiências únicas que, com a minha herança genética e o ambiente iriam determinar a minha personalidade. Depois ainda tive a hepatite, a recaída comunista e a Fanny Ardant. Durante algum tempo julguei que só seria amado por mulheres desgrenhadas que tivessem lido o Segundo Sexo. Mas tornei-me num perito em perdas, um ridículo conselheiro sentimental. A partir daí sabia quanto dura a dor insuportável de uma perda. Dezassete dias. Toda a vida.

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Perda (1)


Rachel Harrison



Conheço mulheres cuja pele é transparente. Vêm-se os músculos, as veias, o sangue circulante, a linfa, os delicados órgãos e a ideia da perda. Debaixo dos planos diáfanos, em contra-mão com os humores, baloiça a ideia da perda. São mulheres sensíveis, embaladas numa grande emoção, de sono sobressaltado. São magras e alimentam-se de cremes, néctares, tubérculos, olham em redor, ficam em silêncio. Telefonam-se com assiduidade.

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06 outubro 2007

O declíneo da masturbação





Na banheira a água
fria
desanima a masturbação

Pior ainda é a água
quente


Há tal torpor tal
melancolia
que se esqueçe o objecto
da tesão

E às vezes mesmo
a mão

(foto de Alison Brady)

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03 outubro 2007

Tango às 9

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01 outubro 2007

A ministra da cultura


Aad Berlijn

No início de Agosto, com o país anestesiado pelos jornalistas da Polícia Judiciária, um comissário da Ministra da Cultura dspediu a directora do MNAA. A oposição de direita e alguns intelectuais, de malas feitas para as praias, protestou. A ministra calou-se. Estava em causa o direito de um director de Museu poder criticar a política do ministério, ou a falta dela. A ministra calou-se. Face aos artigos de opinião e a alguma indignação, a ministra calou-se. Esta ministra tem o saber antigo dos poderosos. Deixar pousar, deixar falar, deixar esquecer. Um mês depois, bronzeada, ela voltou. Para uma entrevista a um programa fútil sobre como tinha passado as férias. Para largar o intelectual orgânico dos azulejos a largar o mote Ele explicou, inefável, que a anterior directora do MNAA não era assim tão boa. Tinha descurado a vertente de investigação sobre as imensas riquezas sepultadas nas Janelas Verdes. Ele vai investigar, abrir as portas aos investigadores. Ele contenta-se com as sobras do Hermitage e do Berardo e uns dinheiritos das entradas. Vai tentar responder à confiança nele depositada e cumprir com lealdade a missãoque lhe foi conferida. E os jornalistas, já esquecidos e sempre mal informados, não perguntaram. Os jornalistas estenderam a passadeira ao gajo dos azulejos. Quando tudo estava serenado e a ordem restabelecida, ela voltou. No Expresso e na Antena dois. Afinal a ministra faz avaliações. Discretamente, sem que os avaliados suspeitem, Pires de Lima avalia. Lagarto chumbou, era um incompetente. Pinamonti um incompetente parcial. E Dalila Rodrigues a) aumentou a visibilidade do MNAA, mas b)descurou a investigação do imenso espólio e c)fechou o Museu aos investigadores. A ministra estava atenta. Agora é que vai ser bom. Não importa o MNAA fechar aos fins-de-semana sem trocos para porteiros. Vai haver imensa investigação, intertextualidade, diálogo com a contemporaneidade. E tudo isto à borla, com passes sociais para o Hermitage da Ajuda, para o Berardo e para o Corte Inglês.

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