28 fevereiro 2005

A menina mais bonita






Olha Bruno eu compreendo-te, até acho que te compreendo profundamente, mas ao fim deste tempo todo tenho de te dizer: discordo de ti.

Morgan Freeman: todos os prémios são merecidos

Cate Blanchett: todos os prémios são merecidos

Os velhos de Lisboa (Longe de Saraband)

Deixam de mastigar, de telefonar, de escrever. Deixam de foder. Deixam de ser vistos. De ser ouvidos. Alguns não deixam de sentir. Esperam que seja lavrado o auto, feito o assento.

O professor Marcelo ganhou as eleições

Não, ele não andou a fazer campanha com Menezes, não pediu os votos para as listas de Lopes. Era o jogo democrático. Um epifenómeno da permanência. Quem ganhou as eleições foi o PS com votos que vieram do PSD (ele explica com gráficos, para alguma coisa é professor). Esses votos colocam Sócrates a governar como se fosse...o sucessor de Durão. Ela é um híbrido das duas mulheres louras de Sexo na Cidade após dez anos sem ginásio e a cabeleireira do bairro a querer dar um jeito. Será assim, sem interesse, até que ela deixará de fazer beicinho e querer fazer o contraditório, e um dia, à entrada do segundo ano de Sócrates, ele distraído em seu íntimo fulgor chamar-lhe-á Júlia, Ana Júlia, desculpe. Ana Júlia, deixe lá professor, até gosto, a minha mãe diz que até estive para ser.

27 fevereiro 2005

Serviço Púbico

Com Lopes morto Marcelo não tem picante. A única curiosidade é ver como Ana Sousa Dias faz de Júlio.

Um óscar censurado

Logo à noite se vir os Óscares não esqueça que está a ver um programa censurado. O resto será previsível. Scorsese e o Aviador, A million dollars baby e Eastwood, assim ou ao contrário. Morgan Freeman merece. Em Sideways nem o vinho é bom.

Os livros da semana


André Malraux : Os Conquistadores ( A Livros do Brasil alterou o grafismo das capas mas não foi capaz de pagar a um revisor para eliminar as gralhas da tradução de Armindo Rodrigues).

Eloy Sánchez Rosillo, As coisas como foram ( Antologia do poeta de Múrcia por José Bento, na Assírio e Alvim).

The Catcher in the Rye, de J.D.Salinger na Difel.

3º Trípticos Espanhóis , na Relógio D’Água. Tradução de J. M. Magalhães de mais três contemporâneos espanhóis. . As revelações são agora Amalia Bautista, Madrid, 1962; Luis Muñoz, Granada, 1966 e Pablo García Casado, Córdoba, 1972.As notas de J.M. M., as traduções, as escolhas, tudo é precioso neste livro.

Antologia de O Mal: Silvina Rodrigues Lopes



Graffiti.

Sobre o muro preto da fotografia ocultava-se um nome. Estava escrito na pedra sob os corações. Escrito pelos acidentes, detritos, gritos da revolta e do amor. Nenhum de nós sabia, foi em 1950. Brassaï passou numa rua de paris, cidade onde 23 anos depois o branco da neve e o vermelho de um primeiro grito formaram a figura que ficou invisivelmente escrita em corredores onde ninguém respondia. Em 2000, quando acabou o mundo, viu-se o nome que assinava. Um graffiti é sempre assinado- os nossos olhos, mãos, ossos, coração, terra, terra, terra, terra.
Hoje o meu peito é o muro e os estilhaços são estas palavras descontroladas. Repito o irrepetível.


Silvina Rodrigues Lopes, in Sobretudo as vozes,
Edições Vendaval, 2004

Sobre Silvina Rodrigues Lopes cf Juraan Vink, nos Universos Desfeitos.

O Papa à janela.

Puseram-no à janela do Hospital um minuto depois do Angelus. Talvez tenham tido autorização médica para a exibição. Houve sempre médicos para tudo na história dos homens. Mas os crentes lúcidos deviam reagir. Já bastou o Mel Gibson. A forma como o Vaticano utiliza o Papa, num reality show que ameaça perder o sentido dos limites, merece uma reflexão.

Lições de Saraband (6)

"A receita para uma relação durar é uma amizade forte e um erotismo inabalável." É mais ou menos esta a declaração do bom velho Bergman ou do anti-herói bergmaniano em Saraband. Que horror, disse o Esquilo! O que é que tem a amizade a ver com isso? O inabalável erotismo confunde, e depois destrói, a mais forte das amizades.

25 fevereiro 2005

Lições de Saraband (5)



Temos de nos livrar dos pesadelos dos velhos.

Lições de Saraband (4)

Gritar. Só a mais nova é ainda capaz de gritar.

Lições de Saraband (3)

-Porque choras se não tens motivos para isso?
-Tenho os meus motivos, responde ela. Mas não os declara.
Os motivos nunca são declarados em Saraband.

Lições de Saraband (2)

Pode-se ser um monstro, odiar e ser odiado e tocar Bach divinamente.

Lições de Saraband (1)

Vivemos demais. Um dia deixamos de atender o telefone.

24 fevereiro 2005

A mulher Bartleby

Num café da cidade de L., estão sentados na mesa do lado. Ela uma mulher magra, cuja face se mantém sempre antes da animação, ele um touro de mãos cabeludas. Loreta e o Mamute, pensei. Mas não era Loreta. Era a mulher- Bartleby. Dava explicações longas, sussurradas, que terminavam com uma frase que ouvia distintamente:- Não conseguirei dizer mais do que isto. Ou ainda: -Neste momento não te consiguirei dizer mais sobre isto. Ele esteve o tempo todo silencioso. Não se levantou quando ela se despediu. Não se virou para a porta por onde ela saíu. Não olhou para o tampo da mesa onde ela deixara umas moedas. Parecia olhar para mim. Quando antes de me levantar lhe sorri acho que lhe ouvi dizer: -Eu só lhe queria dizer, fundamentalmente, que sim.

22 fevereiro 2005

A vida, a luta

Na noite das eleições, em estado de grande beatitude, ocorreu-me que éramos todos, cada um à sua meneira, vencedores. Escrevi isso no blog, e depois enviei um mail de felicitações aos que têm a infelicidade de estar na minha caixa de correio. Com a minha afinidade ainda ao rubro, achei que o texto apropriado seria : Parabéns. A luta , a vida continua. As reacções foram fantásticas. Cínico, disse-me um. Não estou de parabéns com o país de rosa bebé e o pm a lembrar-me o Ken. It's a Barbie world e eu não gosto, disparou outra.
Mas a resposta que me persegue, como as canções que não conseguimos deixar de trautear foi a que disse: A luta continua. A vida não.

Saudades do Lopes (sms)

Depois do voto fiquei sem PC. Agora o Lopes. Eu não volto a escrever.

André Bonirre

Chuva (sms)

Chove a chuva que não havia. Foi-se o que nunca desistia. Deve ser a isto que chamam o Estado de Graça.

André Bonirre

21 fevereiro 2005

Quem é que manda aqui?

Na noite da contagem de votos o Moniz e a senhora interrogavam os políticos. A cada pergunta parecia que nos queriam dizer( a nós ou aos estagiários da TVI): - Estão a ver como é que eles devem ser tratados! E iam subindo a agressividade, e os maus modos, à medida que o sangue lhes faltava nos territórios corticais e os votos dos políticos baixavam. Quando se cansavam, havia um subalterno, junto à mesa do interrogatório, que repetia as perguntas do casal. E em falso segundo plano, os comentadores encartados, na Mesa, tinham a última palavra. Depois de Portas ter recebido, de Deus, a indicação demissionária, Moniz atirou-se a Nobre Guedes. O ministro do Ambiente estava cansado e triste. Disse qualquer coisa irónico sobre a nova maioria, uma frase descontrolada e menos correcta. E o senhor Sousa Tavares, da Mesa: - Dr Nobres Guedes tenha vergonha. Siga o exemplo de dignidade do Dr. Paulo Portas e não brinque com o Povo! E o dr. Nobre Guedes, humilde: - Oh Miguel, desculpe. O Miguel sabe que eu não queria dizer o que quis dizer, etc, etc.
Lembrei-me de um poeta alemão que quando chegava a uma cidade perguntava:- Quem é que manda aqui? E respondiam-lhe: -O Povo. - Eu sei, dizia o poeta. É o Povo, claro. Mas quem é que que manda?
Manda o Moniz e manda a senhora. Manda o Miguel a seguir.

Amor

O Barnabé nunca perceberá o que há de importante em Amor, Leiria. Nem havemos de ser nós a dizer-lho.

O melhor dos mundos

No dia a seguir às eleições, os que sempre governaram o país lembraram discretamente a Sócrates que eles é que tinham acabado com aquela trapalhada do Lopes. Sócrates formou um governo competente com gente da direita nas pastas económicas, gente de esquerda nos ministérios sociais e Edite Estrela. O PC e o BE radicalizaram-se na oposição. O PSD debateu as questões internas com grande abertura e elegeu Marques Mendes para a travessia do deserto. O professor Marcelo repetiu a missa da TVI na RTP. O PP entrou em meditação transcendental tentando resolver o problema levantado pelo líder-que-nunca-desertará: como é que um partido trotskista fica a um por cento (zero vírgula nove) do nosso partido democrata-cristão.

O melhor dos mundos

Sócrates vai reunir um bom governo. Vital será chamado. A sua função consistirá apenas em periódicamente lembrar as regras da boa governação. O PC e o BE aprofundarão as suas propostas alternativas. O PSD debaterá as questões internas com grande abertura e elegerá Marques Mendes para a travessia do deserto. A espantosa sensibilidade do professor Marcelo vai aconselhá-lo a não repetir a missa da TVI na RTP. O PP vai entrar em meditação transcendental tentando resolver o problema levantado pelo líder-que-nunca-desertará: como é que um partido trotskista fica a um por cento (zero vírgula nove) do nosso partido democrata-cristão.

André Bonirre

20 fevereiro 2005

Parabéns a todas e a todos

Há quem tenha um género público e outro nas conexões entre os hemisférios e o hipotálamo, íntimo. Houve anos em que votei "pragmático", como hoje ouvi dizer. Uma vez levei um dos meus filhos para dentro da cabine de voto. Ele devia conhecer a minha verdadeira opção. As crianças, como os gatos, sabem a verdade. Ele preencheu um quadrado, sem hesitação, e senti-me bem, como nunca depois. Tinha votado no futuro, com o mais fundo de mim próprio. Hoje votei naturalmente. Aprendi a apreciar as opções dos outros. Sei que pessoas de quem gosto, admiro, aprecio, votaram como eu, contra a minha opção, por uma outra, ou nem sequer votaram. Aqueles em quem votei tiveram um honroso terceiro lugar, apesar do André Bonirre. A partir daqui a coisa complica-se.

no walk, no work


Hamish Fulton, U, K.

Em 1973, depois de uma caminhada de 47 dias, Hamish Fulton decidiu apenas produzir arte " resulting from the experience of individual walks.' Depois resumiu assim a sua atitude: No walk , no work. Os passeios são quase sempre solitários: Japão, América do Norte, México. O que o artista que caminha leva da natureza é apenas a impressão fotográfica. Deixa ficar apenas as pegadas.

19 fevereiro 2005

Bandeira Vermelha


Sigmar Polke, Homem cantando a Marselhesa


(...)
Tu que já louvaste tantas glórias burguesas e operárias
volta a ser farrapo e que o mais pobre te desfralde.

Pasolini

18 fevereiro 2005

Convocatória


Bruce Nauman,Punch and Judy II

Vamos entrar em reflexão. Gostávamos muito de reflectir convosco, leitoras e leitores dO Mal, hipócritas leitores, meus irmãos. Reuni alguns, às vezes sou cão pastor. Partimos para a reflexão, onde os quartzitos rompem do xisto. Às nove, no lugar do costume. Podem vir. Não vamos falar da extinção das energias fósseis, da insustentabilidade das pensões, da reforma dos serviços públicos. O nosso voto é sempre o mesmo: no nascimento e na vida, no sexo e na morte.

André Bonirre

Brecht, Weill e elas


Hoje, às 00h, Ellas eram Raquel Ralha (Belle Chase Hotel, Wraygunn e Azambla's) e Sofia Lisboa (Silence 4). Ele(piano) Paulo Figueiredo. Dez canções para Weill. Entre elas Speak Low, The Balad of the soldier's wife e Je ne t'aimes pas. O público esteve à altura das vozes e do piano e a noite acabou com o Alabama Song cantado em pluríssono. A produção foi de Cantigas da Rua. Não fosse a Margarida e ficávamos mesmo na rua.

17 fevereiro 2005

Saudades do Lopes e dos outros (depois da última soindagem)

A Direita foi derrotada. Daqui enviamos uma saudação especial a Lopes, que interpretou como só ele podia fazer, a sua Ascensão e Queda. A Jerónimo de Sousa um bem-haja. Sócrates tem um futuro brilhante atrás de si. A Louçã outro bem-haja. Prontos. Agora já podemos votar todos à vontade.

André Bonirre

The Cholmondeley Ladies


Anon. (1600 - 1610)

Nenhum dia igual ao dia em que para sempre os dias pareciam iguais. O dia dos homens iguais. Para sempre iguais e nós iguais com eles. O dia igual ao dia e o homem igual ao outro homem igual para sempre. Ninguém duas vezes disse então alguém. Disse no rio. Disse em latim no rio quando os remadores iguais passavam. Kayak de dois e dois na margem e dois homens iguais enquanto alguém em latim assegura que ninguém duas vezes.

Last Tapes


Raymond Pettibon, USA

Desde Outubro um lugar como nenhum lugar onde.

16 fevereiro 2005

Olá Alice


David Hockney, U.K.

Absolutamente

O artigo de Vital, aqui. O que devemos exigir ao governo. Algumas das razões porque não devemos votar no eng. Sócrates. Esa crónica fue muy buena, dio en el blanco.

Agenda



60 MINUTOS COM BRECHT - 10 CANÇÕES PARA WEILL

No âmbito do projecto "60 minutos com Brecht"

Datas :
Quinta-feira, 17 Fevereiro > Café Teatro > 24h00

Café-concerto

Com Raquel Ralha, Sofia Lisboa e Paulo Figueiredo

Lúcia dos Santos


Gerhard Richter, Duas velas

Na tua morte vi desfilar os que como tu nasceram humildes e agradeciam teres-te mantido fiel a essa visão improvável na charneca. Também lá estavam os que construiram e engrandeceram Fátima. Esses ficar-te-ão para sempre a dever os direitos de autor.

Saudades da irmã Lúcia

Agora não haverá ninguém para ver a Senhora, ninguém que A tenha realmente visto.

A nossa vitória é a derrota de todos

A Direita tem uma política de alianças que só funcionará para a vitória. Mas vai perder. A Esquerda vai ganhar, mas não tem uma política de alianças. Perguntado, Louçã falou do desemprego e do nosso passado glorioso. Sócrates disse que qualquer alusão a entendimentos era uma palhaçada. Domingo, até os que ingénuamente comemorarem, hão-de comemorar uma derrota.

Momento de Poesia

Foi quando Sócrates começou a falar de Centros de Saúde e Portas de Cuidados Primários de Saúde.

Maioria esmagadora

Há uma coisa pior que o debate. O festim dos comentadores, no rescaldo.

Contenção

Sim, o Louçã por vezes fala demasiado. Mas não era preciso o Jerónimo exagerar na diferença.

Seca

O que é que se podia esperar de um debate com seis homens e em que a única mulher era a Judite de Sousa?

Saudades do Lopes

Sempre achei o Lopes simpático. Se o que estivesse em causa fosse a presidência do Sporting, e eu fosse do Sporting, votava no Lopes.

Maioria absoluta

AInda não foi desta que Sócrates disse qualquer coisa de esquerda.

15 fevereiro 2005

Golpe de Estado

Como nota o Ivan o Barnabé, o mais lido dos blogs portugueses, foi tomado pelos apoiantes de Sócrates, mal o Daniel Oliveira se distraiu. Eu, quando depois do trabalho volto aqui, faço-o sempre em sobressalto, não vão o André Bonirre e o Bartleby apoderar-se da linha editorial d'O Mal.

A ler

14 fevereiro 2005

Ao rapaz da Tasca


Gerhard Richter, Alemanha

Agora, como te disse, começa para ti a verdadeira vida. Experimenta já hoje com a próxima mulher. Não deves sentir nada. Se por acaso sentires, exagera. O exagero reconduz à normalidade. Se a estiveres a surpreender, explica que já disseste isto, com variantes, a três mulheres. E que qualquer coisa como isso já foi dito, com variantes, a trezentas mil (tenho-te por original). E se fores fraco, se o meme do amor ainda te infectar, pede-lhe desculpa. Diz-lhe, não é nada, estou a chorar porque ainda estou doente, não é nada contigo, é uma coisa que trago comigo, é só comigo.

Uma história de amor


Jannis Kounellis, Grécia

A história de amor que merece ser contada, e tem sido contada, é a de Camilla. Uma vez mais se espalha esse meme de fulminante infecciosidade: Há o amor que dura, que se esconde, que espera a sua hora. Há o amor e será coroado. A frase de Carlos, o amante separado, esteve à altura de Tristão ou de Abelardo, embora as circunstâncias da divulgação tivessem ensombrado a força imanente. Um tablóide publicou as gravações de chamadas telefónicas de Carlos a Camilla.( Sempre os amores clandestinos foram espiados para infortúnio em vida dos amantes mas também para sua grande glória póstuma). A frase que ficou, foi a de Carlos a segredar a Camilla que queria ser o seu Tampax. Assim estaria sempre dentro de si. Hoje, e na época, houve quem risse. Mas passe a alusão publicitária (as fans do o.b. tomaram posição) a frase de Carlos ficará na nossa memória. Pela ambição desmedida que só o amor permite. Pela elegante fusão entre um tema do amor romântico (estar para sempre dentro do ser amado) e a alusão moderna (a cavidade e o método escolhidos). Pela humildade. Avisadas que estão dos riscos do Síndrome do Choque Tóxico é breve a vida de um Tampax, e o seu destino as trevas e o silêncio.

12 fevereiro 2005

Até à última pedra


Gabriel Orozco, México

Ainda é doze de Fevereiro e este já fala assim:
"O país já passou a Quarta-Feira de Cinzas, não enlouqueceu, alguém terá que pegar no timão. Haverá que, pacientemente, cerzir os rasgões, esquecer as ofensas, congregar energias e reunir consensos. Os agravos recebidos serão respondidos com sorriso complacente, embora vigilante. Não, não haverá outra face a oferecer, mas não será reposta a lei de Talião. Se necessário, continuar-se-ão políticas, ainda que não desejadas, por mor da estabilidade e da confiança.
Até lá nada será fácil, tudo tem que ser denunciado, retorquido, reposto. Nada será esquecido."

Nada será esquecido, prometo-lhe. Todos os dias, até à última pedra, hei-de lembrar-me de si.

Saudades de Lopes


Sigmar Polke

O Lopes faz a política da direita (privatiza sem sequer se preocupar se a oferta privada é de qualidade, descredibiliza o serviço público, diz que sim aos americanos, permite a concentração dos meios de comunicação nas mãos dos financeiros, não se percebe que posição tem relativamente aos direitos civis e sociais). Mas com o Lopes a vida tem um sabor especial. O país não está parado. Acordamos todos os dias à espera de uma surpresa, e isso é estimulante. Geralmente é uma má surpresa. Mas como dizia a Camila aos dezassete anos: é melhor sofrer que estar anestesiada.
Sócrates vai fazer a política da direita sem piada. O Inimigo Público já confessou que quando pensa Sócrates não consegue gerar uma piada de jeito. O que será de Delgado com Sócrates? Os dias vão parecer longos, os jornalistas cinzentos subirão às colunas, a cimenteira de Souselas cobrirá os céus da minha cidade com cádmio, níquel e outros metais pesados e o senhor Fonseca dirá com os seus botões: este é da estirpe do homem de Santa Comba. Mas nem ele mostrará alegria, porque o senhor Fonseca sabe o que é a História e aprendeu a comemorar em privado as suas vitórias.

Un hombre llevaba dos anos ...


Nan Goldin

Un hombre que llevaba alrededor de dos años muerto en su domicilio de C., en el número 7 de la Ronda de Nelle, fue descubierto el pasado miércoles, cuando el presidente de la comunidad necessitó de acceder a su su casa para hacer una comprobación. Los vecinos no sabían nada de él desde hacía un par de años, y casi todos pensaban que había dejado el piso al fallecer su amante. La policia se hizo cargo del cuerpo al que se praticará la autopsia.
El País, viernes, 11 de febrero

Há sempre alguém a pronto a interromper as coisas interessantes que conseguimos fazer sózinhos.

11 fevereiro 2005

Eyeliner


Sigmar Polke, Alemanha

escrever um poema
para escrever palavras
como eyeliner
lipstick
e também para dizer
que a única
foundation
está debaixo da pele
da tua face

e escrever isto
pela cultura
e pela natureza

no espelho
onde tu
única
te pintas

(imitado do Bruno)

Carlos podes vir


Lucien Freud, Alemanha, U.K.

Nem todas as mulheres são boas. Esta mulher, justamente célebre pela carteira que mais que a coroa a acompanha, parece uma invenção republicana contra a idéia monárquica, como Cavaco, só fala por fontes próximas, não faz amor desde que morreu a Rainha Mãe (Victoria) e é muito má para o filho.

O desmentido de Cavaco


Gerhard Richter, Alemanha

O episódio Cavaco/ Público (a que alguns chamam episódio Silva) merece uma leitura muito mais aprofundada do que aquela que tem vindo a ser feita. O leitor não sabe, nem saberá nunca, o que aconteceu realmente. Mas como dizia o outro: em política o que parece é. Cavaco veria com bons olhos uma maioria absoluta do PS e disse isso nos jantares e festas onde vai. Escapa-me o que levou o Público a considerar como uma notícia as opiniões privadas de Cavaco. Se ele tem opiniões que as diga. O homem fala, caramba. Como não é de todo crível que o Público dê recados de Cavaco tratou-se, objectivamente, de uma ingenuidade. Sócrates (a "coisa nova")e Lopes (a "coisa velha")receberam o recado. E o eleitorado do centro, esses que querem ser do que vai ganhar, do "máior", também perceberam. Já Freitas lhes tinha explicado. Só falta fazer desenhos, mas há quem esteja a fazer esses desenhos todos os dias e a todas as horas.

10 fevereiro 2005

A Sra. Silva ou o Choque Onomástico


Luc Tuymans (Bélgica)

O Zé Mário (BdE) diz que sentiu na pele quando o líder da Madeira pediu a cabeça militante de Cavaco ao comité disciplinar do PSD, e o passou a designar por senhor Silva. O que o Zé Mário não viu foi Lopes, ontem, num momento de relax, sentado à conversa com uma aldeã.
– A senhora ainda é parente do professor Cavaco?
- Diga?
- Se a senhora ainda é da família do prof. Cavaco?
- Não senhor.
- É que podia ser. Maria Silva... Podia ser da família.
Talvez em Castelo Branco, o Comité de Notáveis do Partido em Torno de Lopes tenha decidido passar a designar o professor Cavaco por senhor Silva. Vamos estar atentos às próximas declarações de Eurico de Melo.

O dia absolutamente novo


Imi Knoebel (Alemanha)

Sócrates anunciou o dia absolutamente novo, em que os portugueses acordavam cheios de confiança. Vital já tinha ameaçado. Freitas escreveu a pedir. Cavaco (e Marcelo) em privado. O dia absolutamente novo, com eles absolutamente novos e outros,atrás deles, a agradecer o serviço e a dispensá-los até às novas eleições, e absolutamente velhos, a organizar os negócios e a governação, assusta-me. Contento-me com um dia relativamente novo.

Cavaco íntimo


Gabriel Orozco (México)

Com o episódio Cavaco, O Público de ontem abre um novo capítulo na informação de referência, um degrau mais na devassa da privacidade dos políticos. A partir de agora as conversas das figuras públicas nos jantares de intimidade passam a constituir matéria de notícia.

09 fevereiro 2005

Nan Goldin


Nan Goldin, Fátima 1998

Nan Goldin figura na lista dos 100 artistas vivos mais relevantes, votação anual da revista alemã Capital.

Não ao Referendo sobre a despenalização do Aborto



A história do referendo em torno da despenalização do aborto foi ontem recordada aqui pela jornalista São José Almeida. Esta história é muito importante e vou transcrevê-la :

"Na noite de 4 de Fevereiro de 1998, a Assembleia da República aprovou na generalidade o projecto de lei apresentado pela JS e patrocinado pelo PS, que despenalizava a interrupção voluntária da gravidez até às dez semanas de gestação. Ao lado de muitos socialistas votava a bancada do PCP e a de "Os Verdes". Contra, o PSD e o CDS. Assim que o debate termina, nos corredores da Assembleia começa a correr a informação ainda não oficial: o primeiro-ministro e líder do PS, António Guterres, e o líder do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa, tinham acordado que a nova lei ia ser colocada a referendo antes de passar à votação final global, para saber se os eleitores concordavam com a decisão dos deputados.
O referendo realizou-se a 28 de Junho de 1998. De um lado, os defensores do "não" bramiam o direito à vida do feto, do outro, os defensores do "sim" proclamavam a urgência de acabar com o aborto clandestino. A abstenção de 68,11 por cento tornou o resultado não vinculativo - para o ser tinham de votar mais de metade dos cidadãos recenseados -, mas a Assembleia leu o significado político de terem havido 50,07 por cento de "não" e 48,28 por cento de "sim": a lei morreu ali.
Desde então, o país continua a discutir o assunto, a extremar argumentos e a esperar que os estados-maiores dos partidos acordem sobre o momento de repetir o referendo. Isto com mulheres a serem levadas a tribunal, em julgamentos na Maia, em Lisboa e Setúbal, este último com o processo arquivado."

A lei foi votada na Assembleia. Nos corredores, vencidos, Guterres, o beato, Marcelo, o maquiavel, e o padre Melícias, o confissor comum, decidiram submetê-la a referendo. Na discussão que antecedeu o referendo o secretário geral do PS e primeiro-ministro não fez campanha. A abstenção foi de 68% o que tornava o resultado não vinculativo. Mas, como se disse atrás, as ilações políticas foram retiradas pelos mandatários dos 50,07% que votaram não.
Nesta questão funciona de forma notável aquilo a que Gil chamou “a não inscrição”. As dezenas de milhares de mulheres que tiveram de recorrer ao aborto preferem esquecer que o fizeram. Não discutem, não olham, não votam. Pagam para que lhes não lembrem. Talvez lembrar seja entrar no campo da culpa, que a Igreja tece e amplia sem cessar. Ficam para o debate os homens, os padres, as menopáusicas arrependidas, a Laurinda Alves e as noelistas.
Estão a convocar-nos de novo para um referendo. A abolição da pena de morte e da escravatura não foram abolidas por referendo. A separação da Igreja e do Estado, o voto das mulheres e o voto universal, o divórcio dos casamentos católicos, milhares de disposições legais que são o selo da nossa modernidade, não foram referendadas. Nas diferentes épocas em que surgiram, havia opositores poderosos, com argumentação que não convém subestimar. Tivessem referendado essas medidas e não é seguro que tivessem passado.
O direito a uma maternidade responsável não é referendável. O aborto é uma questão que a mulher grávida dirime na sua consciência e no seu corpo. Não me vou imiscuir nesse assunto, não vou mais discutir com os que fizeram votos de castidade. Se voltarem a pôr urnas eu não vou lá. Não quero saber. É o meu direito à “não inscrição”.

08 fevereiro 2005

Hoje, O Corso


No século XV, o papa Paulo II decidiu deslocar as celebrações do Carnevale, do Testaccio para uma rua mais central, onde a Cúria pudesse ver. O local mais adequado era a via Flaminia, no fim da qual construiu o Palazzo Venezia. A rua passou a ser conhecida apenas por il Corso ( a avenida). Até à reunificação da Itália, no fim do século XIX, era lá que os Romanos se divertiam com as corridas em que cães enraivecidos perseguiam aleijados, mendigos, prostitutas e judeus. Alguns, algumas, conseguiam chegar ao fim da rua.

(Com isto na memória, Joaquim, vês como é fácil regressar à Terra da Alegria)

07 fevereiro 2005

Florence Aubenas e Hussein al-Saâdi: 33 dias depois

«Leur liberté est la nôtre. Ne les oublions pas»

Uma campanha triste: a esquerda janta, janta...


A esquerda verdadeira continua a jantar em restaurantes tristes, mais acostumados a casamentos e baptizados. Os líderes falam e sente-se a falta dos noivos, dos padrinhos e do senhor padre.

Uma campanha triste:o PSD mal aconselhado


Se os assessores de imagem do PSD soubessem, cancelavam os comícios. Dizem-me que os fiéis precisam daquilo, que Lopes já só joga na consolidação do passivo. Mas então proibam a captação de som e de imagem. A ressurreição de Guterres é uma comoção negativa para os 30% de indecisos. Mas de cada vez que Morais Sarmento fala, o PSD tem, ao centro, uma hemorragia de votos. Sobretudo quando Sarmento fala para o povo. O comício de ontem teve outro momento fatal. Um Jardim apoplético a gritar um slogan em que Santana rimava com uma palavra que lhe deve ter sido inspirada numa noite de reflexão.

Uma campanha triste: o come back de Guterres


O brasileiro que aconselha o dr. Coelho quer comícios em espaços abertos. Por enquanto escolhem uma rua, lá virá o tempo das praças. A rua afunila para um palco, como nas largadas de touros em Salvaterra de Magos. No palco, atrás dos candidatos há meninas e meninos fretados a uma agência de acompanhantes, muito wasp, muito sorridentes, muito olhos em alvo, camisetas das várias cores do socialismo real do século 21. Devem-lhes ter dito para acenar, porque de cada vez que sentem a câmara, eles acenam, as cabeças afirmativas, o sorriso confiante, os olhos no futuro radioso. Foi assim com Guterres, no come back de Castelo Branco. Vai ser sempre assim.

Uma campanha triste: a sic-PP


Os comícios são rigorosamente encenados. No Coliseu do Porto a sic ajuda. Não há planos de conjunto para dar a ilusão de que a multidão enche a sala. Contre- plongé de Portas. Grandes planos de mães com crianças. Entrevistas ao senhor da Quinta das Celebridades. É como se o jornalista e o câmara seguissem o guião da produção PP.

Uma campanha triste: às vezes os candidatos dizem a verdade


O povo não vai esquecer estes seis anos de desnorte.
(Sócrates em Portalegre, 06/02/05)

06 fevereiro 2005

O Mal, Etty Hillesum e o sr. Finn


A Neisseria meningitidis.

O tsunami, a evocação de Auschwitz, o terrorismo islâmico fundamentalista, a ocupação do Iraque fizeram com que a questão do Mal voltasse às nossas preocupações. Hanna Arendt fez a cobertura do julgamento de Eichmann e escandalizou a comunidade judaica com aquilo que designou por A Banalidade do Mal : não existe na natureza humana nenhuma garantia contra o mal do totalitarismo. O terramoto de Lisboa tinha quebrado o optimismo dos iluministas e levado Voltaire a escrever: “ trabalhemos sem reflectir. É a única forma de tornar a vida suportável” (veja-se a este propósito o repto que cbs,o pó das estrelas deixou num comentário deste blog a propósito do tsunami e o excelente artigo de Manuel Fraijó no El País de sábado, sob o título Dios y el enigma del mal). O marxismo e a esquerda salvífica do século 19 tinham recuperado a ideia do homem bom a vir, nos amanhãs que cantam da sociedade sem classes. Essa idéia perigosa permitiu o desprezo pelos homens concretos existentes, o cerne mesmo da banalidade do mal. Este fim-de-semana, para onde quer que nos viremos, estamos confrontados com este espanto.N O Mil Folhas, António Marujo evoca Etty Hillesum ( www.salterrae.es), morta em Auschwitz , e que do Campo onde a assassinaram escreveu: o mal está nos outros e está também em nós…A barbárie nazi pode despertar em nós outra barbárie.

O mal não estava nela, que se queria ajoelhar e não conseguia ajoelhar.
Não existe mal. A propósito disto apetece-me contar a história do meningococo, mais ou menos como o sr. Finn, um infecciologista de Cardiff, o fez, numa tarde destas. O meningococo é uma bactéria. Vive nas nossas faringes e deleita-se com a nossa mucosa. Em Invernos frios, quase vinte por cento dos adultos o albergam. Às vezes acontece que passa à corrente sanguínea, onde se multiplica rapidamente e nos mata, num festim de sangue e defedação da pele. Esse extraordinário sucesso de algumas gerações de meningococos é também a sua morte. Não sobreviverão ao hospedeiro. Se os meningococos tivessem consciência haveriam de chorar as suas vítimas. Mas os meningococos não sabem o seu nome, não tiveram ainda o seu Kant e não discutem, como Voltaire propôs que fizéssemos, o sentido último da sua existência.

Vera Drake dos Santos



Vera Drake, quando chega a polícia. Londres, 1950.


Muitas vezes é um livro, ou um filme, que (re)abrem o espaço para uma discussão insuportável no mundo da política e dos partidos. É difícil debater o aborto quando as igrejas perceberam que excitando os fiéis recuperavam o terreno que a saúde pública e os direitos das mulheres tinham ganho, nos anos de esperança do pós segunda guerra mundial. Aqui passámos a uma postura radical. Só discutimos a questão quando meterem a polícia no lugar em que estava, antes do guterrismo e do governo do fragateiro.
A propósito veja-se Vera Drake e o vibrante texto da jornalista Maria José Oliveira.

Defecção

Depois de Pedro Mexia (DN) e de Carla Hilário (Expresso) foi a vez do Filipe Nunes Vicente se passar para o Público. Não é justo que perca assim os meus melhores bloggers.

05 fevereiro 2005

05/2/05

Hoje deve ser para ela um dia especial. Levantou-se às o8:o8 ou às o9:o9? Ouviu o Trio Rouge, Lucilla Galeazzi, Vincent Courtois e Michel Godard. Começou a servir o pequeno-almoço às 10:01 ou às 10:10. Foi tomar um café com um amigo às 11:11, esse instante perfeito. Ou às 12:12 ou às 12:21 ? Leu o jornal às 13:13 e recebeu um sms enquanto o lia. Mas só o abriu às 13:31. Talvez às 17:17 ela lhe ligue.
Ele atende. Ele pensa nela todos os minutos.

Imagina...Musil


Só uma total falta de tempo não permitiu destacar o acontecimento da semana passada: o anúncio da Obra quase completa de Robert Musil e o artigo de João Barrento no Mil Folhas de 29 de janeiro. "O Homem sem qualidades" já não está disponível há bastante tempo nas nossas livrarias. E o manifesto da Tábua Rasa que João Barrento assina é digno da citação de Christa Wolf: "Imagina que havia uma guerra e ninguém lá ia!"

04 fevereiro 2005

Uma campanha triste


Retirado de Manos Metralha. Ao lado (não ficou na foto) Sócrates promete inglês para todos no básico.

(05/02/05 O cartaz deo CDS-PP já foi corrigido. Ao lado, o de Sócrates, continua a prometer.)

Uma campanha triste


Aqui não se comenta a intervenção da Dra. Matilde. Aliás não me pareceu bem uma intervenção. Foi um... apontamento. Uma...pequena conversa. Um... aparte. Un petit mot ...en passant. Um simulacro.

Uma campanha triste: As senhoras vêm


No debate de ontem de Coimbra as duas senhoras vieram. E fizeram bem porque algum esforço deve existir antes de se representar o povo da região. A prestação foi desigual. Zita Seabra esteve ao seu nível. Daria apenas três ou quatro conselhos ao seu staff. 1º É feio, já não se usa e não corresponde à realidade dos movimentos sociais, dizer que controlou a luta estudantil, que controlou o José Barros Moura, etc. 2º A povoação dos arredores de Coimbra onde Sócrates quer co-incinerar chama-se Souselas. Evita de dizer Sousela ou Sousel. É Souselas. 3º Lopes não inaugurou as novas instalações do Hospital Pediátrico. Assinou a concessão. Não foi bem a concessão foi a adjudicação. Olhe, uma trapalhada.

O debate Lopes -Sócrates

Eu não fui lá.

(créditos ao poeta Joaquim Namorado, 1920-1988)

Boatos

Dizer que as alusões à orientação sexual de um líder político são " boatos maldosos, mentirosos e caluniadores" não chega. É pouco e é ao lado. É uma negativa que se move no mesmo campo do boato. O terreno da intolerância, do atraso cultural, do provincianismo satisfeito. O que é uma vergonha é a orientação sexual ser discriminativa, é os homossexuais poderem ser chantageados, é isso poder determinar o voto. LerLutz no Quase em Português ( infelizmente Lutz falta muito para este teu post poder ser escrito Em Português). Uma resposta também a António Barreto que ontem fez um outingzito no Público.

03 fevereiro 2005

Um despacho

A juiza presidente do colectivo que julga o processo da Casa Pia, Ana Peres, reafirmou a intenção de autorizar novas perícias pelo Instituto de Medicina Legal (IML) à personalidade de oito das vítimas do processo, solicitada pela generalidade dos arguidos e contestada pela comissão de médicos e psicólogos que acompanham os jovens segundo a qual novas perícias psicológica às vítimas - actualmente com idades entre os 21 e os 17 anos -, "podem, seguramente introduzir a ideia de que o tribunal não tem, para estes rapazes, uma posição de neutralidade" e "expressar uma noção de desconfiança 'a priori', facto que alguns já expressaram aos seus médicos e psicólogos".
Para a comissão, as perícias "poderão representar uma forma clara de abuso emocional de rapazes já vítimas de múltiplas situações traumáticas" e constituem "um alto risco para o seu bem estar e equilíbrio psíquico". Por isso, sugere que os jovens "possam ser ouvidos em audiência e só mediante dúvidas daí decorrentes possam ser eventualmente requeridas novas perícias".
Ana Peres solicitara que a avaliação do IML abrangesse "a análise da personalidade das testemunhas, carácter e consciência moral, existência de perturbações psiquiátricas e outras que afectem a memória, a avaliação da realidade ou juizo crítico, a capacidade de ser sugestionável ou manipulável, comportamentos anti-sociais, depressivos, paranóicos, bizarros, histriónicos, patologia tendente a mentira e fabulação".
Dos jornais

Concordo com a juíza. Para garantir uma total imparcialidade acho mesmo que a avaliação dos peritos devia estender-se aos membros do colectivo. Declaro desde já ao IML a minha indisponibilidade para integrar a comissão de peritos. Não tenho dúvidas sobre o meu carácter e consciência moral. Mas tenho alguma dificuldade, depois de ler despachos destes, em contrariar algumas tendências depressivas, quiçá anti-sociais.

02 fevereiro 2005

Debaixo d'olho

60 minutos com Brecht



No TAGV, de 10 a 17 de Fevereiro às 21.30h

Música: Hans Eisler
Adaptação e encenação: Clovis Levi
Assistente de Encenação: Helena Faria

Com:
Fernando Taborda
Rui Damasceno
Victor Torres


Cenografia, Fotografia e Vídeo: Susana Paiva
Figurinos e Adereços: Ruy Malheiro
Design Gráfico: Maria Ferrand
Desenho de Luz: Jorge Ribeiro
Música original: Pedro Renato e Pedro Janela
Assistente de Produção: Cláudia do Vale
Co-produção: Margarida Mendes Silva / TAGV

Adições

Húmus, um blog de Ana.

Uma campanha triste: O sexo dos outros


O que eu queria dizer sobre isto foi hoje dito pelo PC no Mar Salgado. Mas podemos ver a actualidade de uma outra forma. O interesse obsessivo do povo pela orientação sexual dos seus líderes está no centro da campanha. O que é perfeitamente compreensível. O mundo mudou. A Nova Ideologia acabou com as rivais crísticas e divulgou a sua verdade absoluta: não haverá homem novo, nem outra sociedade, nem sequer outra forma de governo melhor. No centro das sociedades modernas passou a estar o entertainment boçal, dando à contemplação os novos heróis, onde o público e o privado se esbatem. O povo gostou do Big Brother I. Deram-lhe o II e o III e a Quinta . Agora vêm-lhe dizer que há limites. É tarde.