31 maio 2007

H.



Hoje de manhã faltou a voz ao meu radialista favorito, Paulo Alves Guerra, da antena 2.
Faltou-me algumas vezes a voz em momentos em que parecia tão necessária e faltam-me continuamente algumas vozes. A falta dessas vozes transformou a minha vida num filme em que a imagem progride através de poços de silêncio. Faltou-me hoje a voz para dizer o teu nome. Mas eu nem te conheci.

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30 maio 2007

O Pão nosso


Uma linha de investigação com algum sucesso sustenta que a porcaria de comida que andamos a comer, o glúten dos cereais, a caseína do leite e uma infindável lista de produtos que vão desde o sumo de laranja à carne de porco, produz, no seu metabolismo, moléculas que actuam como endorfinas. Estes opióides endógenos alteram a nossa percepção, a função executiva, a capacidade de nos relacionarmos uns com os outros. Ainda não procurei IGAs na urina. Mas há muito tempo que depois do pequeno almoço, logo a seguir ao pão com manteiga, aos cereais, ao sumo de laranjas, Naranjas integrais, vindas directamente do Marrocos, de Miami, da Auchamp, me começo a sentir ganzado. Olho para a televisão e parece-me propaganda da DREN. Olho pela janela e todos os pássaros me parecem pombas, espírito-santos arrulhadores e vingativos. Olho para os meus filhos a encherem as mochilas de pão com marmelada e livros escolares, tão perigosos uns como os outros. E despeço-me como se fosse para uma columbine doméstica, como se nunca mais o teu rosto compassivo, uma frase musical, o estampido de um verso rompessem a espessa neblina dos receptores preenchidos pelos IGAs.

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29 maio 2007

Sob pressão



Amanhã não esqueças que apareces na Internet, é um despacho. Está bem, eu adiro, não vou descurar a minha imagem pública.

Créditos: S.E. o Ministro

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Maria



Moss, 2001, c-print on dibont with foil, 125 x 100 cm, Jannie Regnerus

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28 maio 2007

pensando na família F


blue

kant considerava um escândalo não ter sido produzida até então nenhuma prova da existência do mundo. heidegger ripostou, dois séculos depois, que escândalo era alguma vez ter-se procurado tal prova.


durante muito tempo sofri de incapacidade metonímica. os meus raros sonhos eram uma reprodução da realidade. vivia no pesadelo da mimese contínua.
sabemos que há mimese que não é poesia: acontece por necessidade. os mundos dos sonhos não eram os possíveis. o mundo é que era impossível e essa impossibilidade estendia-se aos sonhos. talvez os sonhos fossem uma espécie de verificação empírica do mundo. o mundo era uma referência vazia que precisava de ser agitado para que ganhasse consistência. o mundo como um não-lugar. na verdade esta era uma experiência de morte: só desligando-nos do mundo se poderia vir a sentir o mundo.

em viseu a olhar para a calçada, a ponta da sombrinha antiga levemente entortada, uma sombrinha melancólica usada em tempos revolucionários. a memória de patti smith anoréxica e com buço a gemer soletrando o gloria. levanto repetidamente o rosto e vejo aparecer uma cara séria eternamente vestida de castanho, sorrindo, a dizer que sabia que me ia encontrar ali. a ponta metálica do guarda chuva esquadrinha meticulosa e oblíqua a calçada quase portuguesa. chuvisca e o dia parece conter todas as possibilidades. não podemos saber mas daqui em diante tudo à volta irá desaparecer.
análise e êpochè.

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With a Chimera

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O Júlio, Guimarães



Os livros que se encontram nos alfarrabistas são agora os livros da minha infância. (Jorge Silva Melo,rtp2, Câmara Clara)

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26 maio 2007

Lila Downs


Hoje à noite em Guimarães

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Ponto de interrogaçao


Rita Magalhães

Não gosto do ponto de interrogação. Gosto da interrogação e da escrita que se interroga. Mas prescindo do ponto. Percebo que seja difícil escapar-lhe. A mais arrasadora das frases sobre a interrogação - Se não sabe, porque é que pergunta- não escapou à maldição que pretendia conjurar. O ponto de interrogação é uma bengala inútil. Os de língua castelhana grafam-no no início da frase, para não deixar dúvidas. E aí, invertido, ele tem alguma graça. No final é redundante. Não é feminino como as reticências. As reticências encontraram o seu esplendor no tempo dos sms e dos mails. Algumas mulheres muito profundas não conseguem acabar uma frase sem os três pontinhos. Parecem querer dizer sempre mais . Uma mulher com três pontinhos é uma mulher insinuante. Como as que_______ pontuam à Llansol. Ou dizem bisou no fim dos mails ou comentários. Não vejo diferença entre uma que diz bisou, bisou e um que se notabilizou assegurando que jamais, jamais. Ambos estão dispostos a trair. O que diz jamais, jamais, à la voix de son maître dira, tout de suite. A que diz bisou, bisou diz de lábios esticados. Pontos de interrogação, notação______à Llansol, reticências, estão bem para retiros na Arrábida, comentários de blog feminino, sarau de Laurinda Alves com pôésia e muitos sentimentos. Uma escrita seca e viril, uma escrita que seja como as coisas, como os pratos lambidos pelos gatos, como os lapiás apontados aos céus, o voo silencioso das corujas, as mãos secas das mulheres da limpeza, o suor frio que se segue à vertigem, a fome e o desejo, não precisa destas ajudas de custo

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Uma mulher do Mal: Sophia

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

(Sophia de Mello Breyner Andresen; foi poema e canção. A maior parte dos que a cantaram andam agora aí a calcular)

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Espiritos Livres

Vasco Pulido Valente ( as crónicas de sexta e sábado no Público); Eduardo Cintra Torres (hoje no mesmo jornal). Podem-se enganar, posso não estar de acordo, mas são espíritos livres, sem agenda, longe dos que meteram tudo na gaveta, depois do socialismo as liberdades públicas.

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Leituras

O acto de casar é um acto de amor. Mas o acto de ficar casado é um acto de estoicismo. (Pedro Mexia, numa crónica em geral conformista).

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Sabado

Atrás de cada mulher que abre uma persiana está um homem de borco num colchão,dobrado sobre si mesmo, feio do sono.

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Sabado

No terceiro esquerdo, a Dona Amélia olha longamente para o estendal da roupa da menina Júlia e estremece ao ver a lingerie.

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Sabado

Ninguém de mãos dadas. Ninguém se beija. O distribuidor de jornais gosta da menina do quiosque mas só leva as sobras.

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Sabado

O senhor Maia-Ferreira, do Gabinete Psicopedagógico, já está a dar aulas de recuperação.

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Sabado

À excepção dos escuteiros todos os jovens dormem.

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Sabado

O mundo parece bom. Ainda não li os jornais.

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Sabado


Blue

É sábado de manhã. Muito cedo. As mulheres com decotes ainda não chegaram à fila do pão.

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Sabado

Sábado de manhã. Apesar do tempo regressivo as pessoas têm um ar feliz e algumas mulheres sorriem. Excepto nas ruas que levam ao ginásio.

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25 maio 2007

With Spectres

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M

Uma menina desapareceu. Conhecemos-lhe a cara, os pais, os sítios que habitou. Preocupamo-nos. Emocionamo-nos. Estamos condenados a isto. Sofrer com o que podemos nomear. Não devia ser assim?
Há tempos uma mulher foi torturada por adolescentes. Revoltámo-nos. Nesses dias dezenas de excluídos estavam a ser pontapeados nas ruas por hordas de selvagens, eles também vítimas de exclusão. Mas nós conhecemos a tragédia de Gis, o lugar onde foi sepultada viva. Essa proximidade agudizou a nossa empatia.
Alguém disse que um morto é uma tragédia, mil mortes uma estatística. A sorte da menina desaparecida deu um nome à miséria de todos os meninos desaparecidos.

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Um livro



Fahrenheit 451, de Truffaut em 1966. Apartir de uma distopia de Ray Bradbury. Num mundo em que os livros desapareceram e em que os exemplares escondidos são perseguidos e queimados por uma corporação de bombeiros pirobibliómanos, a resistência organiza-se. Cada resistente decorou um livro. É o que temos de fazer quando, face à apatia geral, o DN extinguiu 6ª e o Público reduziu a critica e a notícia literária à insignifiCância.
Fahrenheit 451. Que livro era Oskar Werner? Que livro era Julie Christie? Que livro és tu?

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Um tiro no pe de Vital


A DREN Margarida Moreira ( pose chavista)

É preocupante que uma comissária do PS ache que tem clima político para suspender um funcionário que em privado "insultou" Sócrates. De facto tem. Vital Moreira (Causa Nossa) não se espanta, não se indigna, não faz valer o seu magistério para que esta e outras comissárias se acautelem. Acha que a senhora "deu um tiro no pé". Para Vital, a DREN cometeu um erro táctico. E dias depois Vital precisou a sua posição: ele espera "que a comunicação social dê tanta atenção a um comunicado oficial da DREN" (que linka) como deu à vítima. Vamos ao link. E o que é que lá está: nenhum esclarecimento. A indigência.
Aguarda-se a reacção da Fenprof.

Entretanto Sócrates reagiu. Declarou que o governo não tolerará perseguições por delito de opinião. Já tolerou. Respondeu à pergunta da jornalista com outra pergunta. Não me parece a forma correcta de um primeiro-ministro responder a uma questão de inegável importância. Os socialistas que se incomodavam com o autoritarismo, que viram no governo de Lopes uma ameaça às liberdades deviam estar na primeira linha da indignação e não neste silêncio envergonhado.
A demissão da DREN é uma exigência democrática e estética.

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24 maio 2007

Sweet Homeless

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HOME, SWEET HOMELESS


Jeff Wall



I
um sem abrigo que frequenta as bibliotecas de arte
escreve sobre um pedaço de esferovite que acaricia,
entalhada como uma pequena ardósia das primeiras letras.
folheia com cuidado a enciclopédia britânica
e balouça levemente o corpo para apreciar alternadamente
o alívio das nádegas bem sentadas numa poltrona civilizada.

o ar condicionado ronrona e fez-lhe vestir todas as roupas sem estação.
sofre de uma magreza endurecida e não parece preparado para o calor.
estamos no auge do verão e usa um boné de ir para a neve.
isso não parece incomodá-lo.
mergulha os livros na estante com um leve afagar na lombada.




II


apanhados pela chuva no museu gulbenkian,
já não estamos apaixonados,
nem vemos sem abrigo afectivos.
há famílias de domingo e cinéfilos a tragar madalenas,
há empregadas de mesa com aventais incorrectos
e gargalhadas sonoras como só os lisboetas semi gingões e semi cultos sabem dar.

é maio e chove como num dia de outono.
o ar não está condicionado.
um rumor de gente frágil sente a chuva lá fora e contempla as velas acesas
do lado de dentro de fora.

uma névoa interna atravessou os anos e ainda temos os movimentos tolhidos de sonolência e receio.

lentidão ao chegar e lentidão ao partir, o mundo continua
e soergue-se no cotovelo.
onde está o sem abrigo do boné de esquiador?

apanhados pela chuva, esperamos e tememos.

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Ao lado do homem vou crescendo





António, um menino com más companhias.

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23 maio 2007

With Diamonds

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Cila


Uma mulher é um shuffle de lágrimas e sangue. Há uma mulher confiável que todas as manhãs me deixa pão quente numa saca. Mas essa nunca a vi.

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22 maio 2007

Sexo dental


Thomas Ruff

Não vejo nada erótico na exposição dentária. A luz excessiva, a abertura prolongada da articulação, a ameaça de dor, o som de alta frequência das brocas, o incómodo do aspirador, a humilhação do babete, o látex nos lábios, a impossibilidade de outra réplica que a da minha voz gutural. Desta vez o homem era simpático. Fez várias insinuações. Acho que ele gostava sobretudo das minhas mamas. E a mim não me repugnava o cotovelo dele. Fiz três tratamentos. Cem euros a sessão, com ajuste final. Saía de lá babando-me, e não era o babete o mais molhado. Pensava: como posso estar a pagar a um sujeito destes. E ainda: será que ele se concentra nos meus dentes ou no meu peito. Mas voltava sempre. A terceira sessão foi mais demorada. Ele pareceu muito aplicado no trabalho. O dente em que ele tocava era um dos meus melhores dentes. - Não me lembro de me doer - disse. - Estou só a limpar - respondeu. Pensei na tabela da limpeza. Mais trinta euros. - Mas não tem de limpar todos? A limpeza não é geral? – Já lhe mostro. Estava um sol lindíssimo a entrar no consultório, filtrado pela persiana. Eu olhava para a luz, para o braço articulado. E depois juntava os olhos e via-lhe os dedos, os pulsos, os braços peludos. Foi uma sessão puramente estomatológica. Só saúde oral. Nenhuma emoção. Nenhuma participação dos mamilos. O cabrão é dos que fogem no fim do tratamento, pensei. Tudo muito profissional. Foi só fantasia de mulher deitada na cadeira.

Bochechei. Limpei a boca. O homem aproximou-se com um espelho. Como fazem os cabeleireiros. Apeteceu-me dizer-lhe:- Corte mais. E não era bem essa cor que combinámos. – Sorria- pediu ele. Não me apetecia sorrir. Abro a boca, calo-me, deixo que me apalpe, pago, mas sorrir não me está a apetecer. Então, enquanto falava, vi no espelho um brilho que vinha de entre os lábios. Arreganhei os dentes. E vi o piercing no meu incisivo lateral. – Um pequeno diamante- disse o homem. Agora sou a amante de um dentista. Ele foi gentil. Não se cobrou da pedra, só do trabalho.

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21 maio 2007

Adições: dois blogs mais um

O senhor Amadeu


Thomas Ruff

O senhor Amadeu gosta de gatos. A mulher está cada vez mais nova. Mora ali. No sítio onde mora o senhor Amadeu. O beco. A rua do senhor Amadeu. Ali.
O senhor Amadeu sai à noite. Atravessa a rua. Debruça-se. Apanha qualquer coisa do chão. Ou será que deixa. Depois cruza a rua. Torna a baixar-se. Faz isto muitas vezes à medida que avança até ao fundo da rua. É um bailado estranho, sete ou oito bordos, gestos longos de braço, hemibalismos. Tudo rápido, como se tivesse um fito. O senhor Amadeu, quando se volta, parece que sorri. Uma noite aproximei-me. – Boa noite senhor Amadeu. – Boa noite senhor X. E parecia que sorria. O senhor Amadeu envelheceu. A mulher do senhor Amadeu ficou cada vez mais nova, até se tornar numa virgem magnífica. O senhor Amadeu parece uma criança velha. A mulher parece uma mulher muito nova. A dedicação do senhor Amadeu aos gatos já não cabe no beco nem na noite. Este fim-de-semana contaram-me. O senhor Amadeu, com óculos de sol, formato de criança, vai agora até à Avenida. Mais de sessenta bordos, sessenta flexões, sessenta movimentos de braço rente ao chão. Aqui retira um prato, ali põe pão, acolá um pingo de leite. Num sítio limpa, noutro suja, noutro só parece acariciar as pedras, o rasto dos animais.
O senhor Amadeu volta a casa, entra e fecha a porta. Nem deve subir as escadas. Conta até dez. Talvez seja até trinta. Não sei qual é o período do senhor Amadeu. Abre a porta. Lá vai ele outra vez.

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Ici même


Tardi

O meu meme, Elisa, é sempre o mesmo:
Eu quebro as cadeias de felicidade.

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Climas.



Isa e Bahar. O Mediterrâneo turco: Verão. Istambul no Outono. Dogubeyazit no Inverno, na fronteira do Irão, junto ao monte Ararat, onde a arca de Noé parou para descansar e se levantou o palácio de Ishka Pasha. Os sítios onde um homem perde e tenta recuperar o amor de uma mulher. Faltam palavras, pele, mãos. As mãos tapam os olhos, desesperadas. Rasgam roupa. Reparam os rasgões. Oferecem, desajeitadamente, uma caixa de música comprada em Dogubeyavit. Sobram os sons dos elementos: a neve, a lama onde os sapatos escorregam, o vento. Uma estória de amor está a ser contada. É preciso interrompê-la para que o avião passe. E o avião leva Isa, o homem.


(Climas, de Nuri Bilge Ceylan)

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A Comissária Regional da Educação

Margarida Moreira. Sabem quem é? Uma comissária política regional do governo na Direcção do Ensino do Norte. Suspendeu um funcionário a quem abriu um processo disciplinar por "insultos ao primeiro-ministro". Os "insultos" não são conhecidos. Mas terão sido proferidos em conversa privada, num gabinete. E convenientemente delatadas, de acordo com uma interpretação alargada do recente incitamento governamental à delação. Os funcionários-públicos que se cuidem. Aliás convém que estejam todos perfilados de medo quando se começarem a sentir as reformas de Sócrates em que a direita pôe tanta expectativa. O deputado do BE Teixeira Pinto, foi cauteloso na qualificação da actividade disciplinar da comissária Moreira: "o acto roça a censura", disse aos jornais.(Sim, roça.) E à esquerda, mesmo aqui, não tenho lido comentários. Há um filme, que ainda passa numa sala de Lisboa, onde um episódio semelhante é narrado. Chama-se A Vida dos Outros. Infelizmente pouca gente o viu e ainda menos gente falou dele.

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Olívia patroa, Olívia cidadã

A governadora civil de Lisboa marcou eleições. A data, cozinhada ente PS e PSD, inviabilizava praticamente a apresentação de candidaturas que não resultassem dos aparelhos partidários, e foi posteriormente alterada pelo Tribunal Constitucional. Alguns dias depois, a diligente governadora civil sentou-se, como cidadã, na sessão de apresentação da lista de António Costa.

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Ipsilão e a morte dos livros

Confirma-se a morte dos livros e da crítica literária no Público renovado. O Ipsilão desta semana tem três páginas (em sessenta) dedicadas a livros. A excelência de quem escreve (Pedro Mexia, Eduardo Pitta, Alexandra Lucas Coelho) não compensa esta insignificância.

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Elogio


Câmara Clara, de Paula Moura Pinheiro. Quase duas horas a falar(bem) de B.D. E a oportunidade de rever o meu saudável favorito, o Luisinho.

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18 maio 2007

2 Junho - FEIRA SEM REGRAS


F E I R A S E M R E G R A S
tERREIRO frente ao Convento de Santa Clara a Velha, Coimbra
sábado, 2 Junho, das 10 h. às 22 h.
traz uma manta + chapeu de sol com base
posso vender as coisas que tenho na garagem
vender os meus desenhos
fazer mimo

Informações: 239 441 657, depois das 14 h.

TRANSNATURA VIDEOLAB 2007

Jardim Botânico - Coimbra / 18 de Maio a 16 de Junho - 21H30

PROGRAMAÇÃO do dia 18 de Maio

“IMAGEM CORPO” - ”Corpo Formal” (“IMAGE-BODY”- “Formalized Body”)

“Tela Humana" VIDEOLAB + “Corpo” o habitante (Portugal) + "Two Thousand Walls (A Song for Jayyous) + PETER SNOWDON (Inglaterra) + “Manic Chinatown Bycicle” JEREMY SLATER (EUA) + “The Chase” FRODE KLEVSTUL (Noruega) + “Empieza por la a” JOHANNA REICH (Alemanha) + “Keyframe” ROBERTO ZITOLO (Itália) + “The Beach: (Closed Eyes. Strong Sunlight.)” STEVEN JONES (Inglaterra) + “Lurk” JEREMY NEWMAN (EUA) + “...” LAETITIA BOURGET (França) + “U.F.O” MOONA (Reunion Island) + “Black White” PRIYANKA DASGUPTA (Índia) + “Siempre” SOPHIE SINDAHL-INVERNESSE E MICHAEL LISNET (EUA)

Ver Programação dos outros dias aqui.

O parecer daTeixeira Duarte

Um jornal de hoje debruça-se sobre o folhetim do fémur de Afonso Henriques, o primeiro responsável desta desgraçada história. Os membros da Comissão Científica de aconselhamento da Ministra da Cultura, por unanimidade, e é curioso, como diria EPC, verificar o voto de Cláudio Torres, decidiram-se pelo repouso do guerreiro. O que não espanta. A opção pelo repouso caracteriza a política da Ministra.Salvou-se o princípio da conformidade dos conselheiros com a aconselhada. Na reportagem a jornalista diz que "nos corredores do Ministério da Cultura" chamam à investigadora Eugénia Cunha a Indiana Jones de Coimbra. O que a jornalista, por pudor, não revela é como chamam, "nos corredores do Ministério da Cultura", a Isabel Pires de Lima.

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Roubaram Baisers Volés


Agora, na RTP 1, estava anunciado Baisers Volés, de Truffaut. A foto reproduz a cena fundamental, em que Antoine Doinel repete, frente ao espelho, o nome das mulheres que o atormentam. Não veremos esta imagem. O que foi para o ar foi um filme sobre a vida de Milu.

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17 maio 2007

Armando aos Cucos, hoje no TAGV às 18 H



A ÉCLOGA

Já fomos os pastores
de ovelhas líricas
que tão mansas nasciam
e incautas percorriam
a relva pestilenta.

Andamos como tontos
pelos currais
com o cajado platónico
no braço
e o livro mais recente
na cabeça.

Viemos pelos montes
cheirar cidades nuas
e não houve quem não tropeçasse
no hálito doente
que exalavam as ruas.

Donos de um gado débil
bucolizando um pouco
morrendo a pouco
e pouco

velados por lobos
taciturnos

e
perseguidos
pelos mesteirais
do sono.


ARMANDO DA SILVA CARVALHO, O COMÉRCIO DOS NERVOS, 1968





É só para lembrar que este moço armando vem hoje, 17 de maio pelas 18, ao tagv (coimbra) com as suas máquinas de escrever. Este moço e outra moça da mesma geração (maria velho da costa que se apresenta lá dos fundos do british quintal como a ‘rapariga velha’), publicaram em 2006 um grande livro pouco valorizado pelos legentes mais ou menos oficiais, mas que sói ser o texto irónico do fim de uma época que muitos de nós sentimos ter findado sem disso nos termos dado conta. Falo d’ O Livro do Meio, que nos faz recordar o que não é nosso porque eles o repassam de severidade e melancolia e então percebemos tudo (ou quase tudo).

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As coisas que eu aprendo de manha

José Miguel Júdice é mandatário de António Costa para a Câmara Municipal de Lisboa.

(música: O que eu andei práqui chegar)

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16 maio 2007

O que eu aprendo de manhã: os órgãos próprios do Partido



As questões da Câmara de Lisboa não se resolvem por carta. Resolvem-se nos órgãos próprios do partido.


(Sócrates, a propósito da carta de Helena Roseta. Na mesma peça da sic notícias Almeida Santos declarou, à entrada do Rato, que vinha dar um abraço a António Costa pelo grande amor que este demonstrara aos órgãos próprios do Partido.)

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Consultório





Tenho de correr pelo cais da estação. Sair do comboio e correr pelo cais da estação. P. anda por lá à minha procura e encontra-me mal eu ponho os pés fora da carruagem. Como terá conseguido dar assim com a carruagem certa, entre tantas? Dá-me as indicações que consegue, tem a sorte de não ser pessoa de quem se espere muito. Provavelmente só foi buscar-me à porta da carruagem para tentar obter alguma aceitação através da utilidade. Eu faço-o com as palavras, ele com a utilidade. Eu frequentemente, ele daquela vez. Eu ainda cá ando, embora nem sempre, ele talvez não, nunca se sabe. E eu corro, claro que corro pelo cais da estação, com os olhos arregalados e um .rriso de felicidade desmedida. Nunca fui muito bom nos sorrisos de felicidade desmedida, mas a este pratiquei-o. Ostento-o sem interrupções enquanto corro pelo cais da estação, enquanto espreito pelos interstícios da multidão para ver antes de ser visto. Como se fizesse alguma diferença.

Eduardo

R:
Eduardo, não abuse. Uma questão de cada vez.
Comecemos pelo seu décimo primeiro do verão. Gosto muito. Tem de tudo. Estações, o Eduardo a correr pelo cais, o sorriso que ostenta e essa ideia que persegue: chegar antes, ver sem ser visto, ver quem ainda não o vê, quem não o espera, quem gosta de ser encontrado.
Imagino-o a correr, no cais da estação, de dia. No Copo dos Dados, Max Jacob, escreveu o Nocturno das Hesitações Familiares que acaba assim: Noites há que terminam numa estação, estações que terminam no meio da noite. Ah maldita hesitação! Pois não foste tu que me perdeste e bem longe, ó estações, das vossas salas de espera!
A sua corrida determinada, sozinho, é tão linda como a hesitação nocturna de Max Jacob. E felizmente há muita gente para dar por isso.



Mais cedo que tarde, independentemente dos caminhos, para lá das saídas e das entradas, sem que haja regularidades observáveis no que toca às materialidades (ora...) inerentes à problemática em apreço, por fugazes segundos ou, até mais ver, para sempre, todas as pessoas por quem me apaixonei até hoje, e que, para felicidade minha e alheia, não foram mais que umas poucas dezenas, acabaram sempre sempre sempre por me fazer lembrar as aguarelazinhas do Adolf Hitler. Os danos são incomensuráveis. Deverei ter esperança? Se sim, de quê? Se não, porquê?

Eduardo

R:
Não acredito que as pessoas “por quem se apaixonou” se tenham transformado em aguarelas tão medíocres. Que esteja condenado àquilo a que Barthes chamou o “horrível refluxo da imagem” do ser amado, o momento em que Carlota passa a ser uma “mulherzinha”, em que Albertine diz “le mot terrible”. Se é assim não deve ter esperança. Porque o outro não se conforma com o “envelope liso “ onde o quer amar. Pode correr nos cais que não merece aquele que quer surpreender no interstício das gentes. Nem a estação merece ser tratada assim.

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15 maio 2007

Coragem

António Esteves Martins, jornalista, em 1998 e neste momento no Prós e Contras. Depoimento sobre as redes pedófilas na Madeira a partir da Inglaterra, da Holanda, da Alemanha, das suas protecções e impunidades.
Imediatamente, e de forma incompreensível, Júdice fez uma intervenção relativista, em nome do progresso e do admirável mundo novo.

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14 maio 2007

Para Laurinda Alves, com afecto


Andrés Serrano


Para os que não seguiram o episódio: um dia destes a jornalista Laurinda Alves reuniu à sua volta os amigos e a família. O habitual. Tudo imbuído do espírito Xis, muita emoção e afecto. No final alguém leu um poema brasileiro de Fernando Pessoa que Laurinda considerou”um texto inspirador num fim de tarde inesquecível”:

"Posso ter defeitos, viver ansioso/ e ficar irritado algumas vezes mas/ não esqueço de que minha vida é a /maior empresa do mundo, e posso/ evitar que ela vá à falência."

Até aqui é difícil notar no texto algum aspecto inspirador. Mas a inspiração é como a sageza. Cada um colhe onde menos se pensa.
Mais à frente diz o Pessoa, “ que foi lido em voz alta”:

Ser feliz é (...) agradecer a Deus cada manhã / pelo milagre da vida.”

Pronto, estamos esclarecidos. Grande poema inspirador.
Há coisas assim. Perfeitamente compreensíveis. Se o fim de tarde é inesquecível, até a conta da mercearia parece poesia. Pessoa não escreveu só magníficos poemas, como prova o vol. 3 da sua Poesia Completa. E talvez o poema em causa seja de Eduardo Sá, o heterónimo só recentemente retirado do baú.
O texto de Laurinda saiu no Público. Alguns blogs comentaram-no. O blog da Casa Pessoa (Francisco J. Viegas) gritou: Agarra que é apócrifo. Finalmente, um mês depois, o Provedor do jornal veio esclarecer Laurinda e os leitores. O poema era inspirador, mas não era de Pessoa. Uma pequena inexactidão que não serve para ensombrar a perfeição daquele fim de tarde.
Para o ano, se Laurinda voltar a reunir aqueles amigos e familiares, e ao fim de uma tarde inesquecível quiser ler um texto de Pessoa, um poema verdadeiramente de Pessoa e verdadeiramente inspirador, proponho-lhe a Saudação A Walt Whitman (excerto)

Portugal-Infinito, onze de Junho de mil novecentos e quinze...
Hé-lá-á-á-á-á-á-á!

De aqui, de Portugal, todas épocas no meu cérebro,
Saúdo-te, Walt, saúdo-te meu irmão em Universo,
Ó sempre moderno e eterno cantor dos concretos absolutos,
Concubina fogosa do universo disperso,
Grande pederasta roçando-te contra a diversidade das coisas,
Sexualizado pelas pedras, pelas árvores, pelas pessoas, pelas profissões,
Cio das passagens, dos encontros casuais, das meras observações,
Meu entusiasta pelo conteúdo de tudo,
Meu grande herói entrando pela Morte dentro aos pinotes,
E aos urros, e aos guinchos, e aos berros saudando-te em Deus.

Cantor da fraternidade feroz e terna como tudo,
Grande democrata epidérmico, contíguo a tudo em corpo e alma,
Carnaval de todas as acções, bacanal de todos os propósitos,
Irmão gémeo de todos os arrancos,
Jean Jacques Rousseau do mundo que havia de produzir máquinas
Homero do insaisissable do flutuante carnal,
Shakespeare da sensação que começa a andar a vapor,
Milton-Shelley do horizonte da electricidade futura!
Incubo de todos os gestos,
Espasmo pra dentro de todos os objectos de fora
Souteneur de todo o Universo,
Rameira de todos os sistemas solares, paneleiro de Deus!

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Ceifa Combinada



Na Praia de Chesil, o último Ian McEwan, o rapaz virgem que está a ganhar balanço para a rapariga virgem, sente-se como no dia em que assumiu os comandos de uma máquina de ceifa combinada desconhecendo tudo de ceifas.



Ian McEwan, Na Praia de Chesil. Lisboa: Gradiva, 1.ª edição, Abril de 2007, 129 pp. (tradução de Ana Falcão Bastos; obra original: On Chesil Beach, 2007. Com a inevitável capa da Gradiva que tem o condão de transformar qualquer novidade numa velharia cor-de-rosa)
Ver tb. In Absentia, o blog de André Moura e Cunha


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13 maio 2007

Nova Declaração

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O Bonirre já deu o mote. Este blog, tal como existe, está condenado. Quando começou, a blogosfera estava a nascer neste País. Tinha a ilusão de falar sobre os meus livros, os meus poetas, a guerra de agressão que o ocidente mentiroso tinha desencadeado no Iraque, os lapiás que se levantavam no carso, as mamas empinadas das garçonettes do TAGV em dois mil e três, o vôo das aves de rapina, o encontro com os cavalos no Gerêz, a mulher, o homem e os outros animais.
Hoje a blogosfera é infinita (e infinitamente odiada pelos que sonham "regulamentar" todas as formas de expressão). Falar de livros é ainda necessário e a contracção do espaço literário nos media (Osvaldo Silvestre) dá à blogosfera essa responsabilidade. Mas há quem fale, e bem. Os meus poetas mudaram. Manuel de Freitas publica na Assírio ( poesia de qualidade); Ana Paula Inácio só voltará na sombra de alguns versos (Carlos Bessa); Rui Pires Cabral está quase na Academia, ao lado de Nuno Júdice; Pedro Mexia é uma estimada figura pública do centro. Embora reeditado, Carlos de Oliveira não é lido. (O espaço dos livros contraiu-se também nas livrarias, onde só se encontram as novidades, os mais vendidos. Os outros apodrecem em depósitos e garagens. Não terão sequer uma segunda oportunidade nas desacreditadas feiras.)
A guerra do Iraque acabou. Os agressores planeiam uma retirada que não seja vergonhosa. Ficará a guerra civil, o " governo democrático" que Bush, Blair e José Lamego ajudaram a criar e as grandes companhias mundiais apostadas na reconstrução e na extracção petrolífera. No Iraque, muito mais eficaz que a fatwa que Sarkozy lançou sobre o legado de Maio de 68, as bombas dos extremistas islâmicos acabaram com a vida de Sérgio Vieira de Mello e dos seus colaboradores, uma elite da ONU e do mundo irenaico do pós-guerra, forjada na revolução mundial de 68, como um jornal lembrou recentemente.
A ICAR recuperou. O magistério de Ratzinger é elegante e ilustrado, com pontos altos como a viagem à Turquia. Eu prefiro um Papa alemão, a famigerada tradição do Vaticano, o escarlate dos sapatos e da estola, o branco pérola das sotainas e casulas à pobreza intelectual dos pregadores televisivos evangélicos, ou das seitas cristãs latino-americanas. Quando os gerontes da Cúria Romana morrerem não haverá ninguém para os substituir e terão de apelar aos leigos. Um novo Vaticano II será então possível, ou coisa nenhuma, já se viram religiões com mais de dois mil anos desaparecer na História.
A direita parece ressurgir na Europa o que estranhamente surpreende ou alegra alguns. Mas, como escreveu Tony Judt em Pós-Guerra, as"grandes narrativas" da história europeia desapareceram. A vitória de Sarkozy não trará à França nenhuma novidade, no que respeita à demolição do estado liberal, que Sócrates, Campos e outros mais anónimos estão a executar, debaixo da bandeira socialista.
As lutas actuais não me interessam. Tenciono ser relapso na cruzada anti tabágica. Quero ser um fumador passivo ou activo, conforme as circunstâncias. A capa do livro Ambientes, que o Prozac amavelmente escolheu para O Livro da Semana neste blog, reproduz uma belíssima fotografia maldita. Janelas altas e longos reposteiros, jornais empilhados nas mesas e pendurados nas paredes, uma nuvem de fumo. Desde que as crianças sejam protegidas, da concepção à idade das escolhas responsáveis, não tenho nada contra os fumos e desde já ofereço o meu modesto primeiro andar do bairro operário para charutadas, cachimbadas e outras inalações.
Desejo o fim da perseguição homofóbica e da discriminação em torno das inclinações sexuais, desde que não envolvam crianças e outros seres incapazes de assentimento esclarecido. Mas não me atrai o casamento, seja qual for o sexo dos nubentes. Não contem comigo para esses abaixo-assinados.
Fica assim reduzido o ambito destes posts.
Vamo-nos dedicar ao que interessa: consultório sentimental onde sentimos possuir uma mais valia relativamente à Abelha Maia, celebrações, futilidades fashion e sobretudo maminhas e outras celebrações.

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Dormir no Kremlin


Boris Mikhailov

Sócrates desloca-se à Russia com os construtores civis e vai dormir no Kremlin. Tive a tentação de escrever sobre isto. Mas também eu dormi no Kremlin, muito mais do que uma noite e quando o ocupante era um notório criminoso, mais pesado e soturno do que Putin.

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Filme da semana

Renaissance, de Chistian Volckman


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Imagens da semana

Um galeria de imagens sobre a Semana de Design de Milão




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Livro da Semana

Atmosferas



de Peter Zumthor - O mesmo que escreveu sobre as Termas de Vaals

Este livro reproduz uma conferência proferida em Junho por Peter Zumthor, arquitecto suíço, no palácio de Wendlinghausen, no marco do Festival de Literatura e Música da Alemanha.

editor GGili

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Blog da Semana

Made in Tokyo, de Frederic Gautron


Um francês radicado no Japão que gosta de motos, música, Macintoshs, é um exímio fotógrafo e, ainda bem, parece gostar (e perceber) de arquitectura.


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11 maio 2007

5 dias sem postar, estará apaixonada ?

Dois


Tintoretto

As peregrinações atraem gente das mais duvidosas proveniências: vendedores de imagens, negociantes de coletes reflectores, agentes de viagens, empresários da restauração, adeptos do jogging, padres, freiras, bispos, cardeais e até crentes. Hoje vi o entusiasmo dos podófilos. Os podófilos instalaram camiões em Fátima, pelo interessado prazer de acariciar, lavar, ungir, massajar, embalsamar os peregrinos pés. O presidente da União podófila declarou : -"Às vezes encontramos casos complicados. Sabe o que é que se sente quando se dão dois ou três passos com uma pedra no sapato. Agora imagine pessoas que fazem centenas de quilómetros assim".

(correcção a 15/05/07)

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Um


foto retirada de geracao-rasca


De manhã, nos bons dias Portugal, é possível ouvir falar com a insustentável ligeireza dos seres que acordam para o dia de trabalho. Ninguém ouve verdadeiramente nada. É o tempo do metrourologistas, dos que perguntam se se deve dizer preocupação ou perocupação para bem falar em português. E tempo dos médicos na televisão a venderem margarina , afinal um produto dietético.
A pequena manhã é o único período do dia em que me sinto atento, e em alguns momentos permeável à ilusão da inteligibilidade das coisas.
Aprendo bastante de manhã.
Esta manhã, por exemplo aprendi que a Catarina Furtado foi das primeiras pessoas a acreditar nos três pastorinhos.

ver: Fátima, domingo na RTP1

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10 maio 2007

M

Os portugueses não se devem sentir tristes com o que aconteceu. O Algarve não é bem Portugal. O Algarve, aquilo a que chamam “ o sul de Espanha”, Malta, a Croácia, o litoral da Tunísia, as ilhas gregas, a Madeira, as Canárias, o Nordeste brasileiro, a Tailândia, são parte de um imenso território, nem terceiro mundo nem primeiro, uma espécie de colónia de férias global. Foi no Algarve, na véspera do Allgarve, mas podia ser em qualquer outro dos paraísos que nos dão como destino.

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Um homem novo com velhas amizades

O homem novo da nova direita, depois de pôr na ordem a gentalha da banlieue e o parque jurássico soixante-hiutard e descendentes, entronisado pelo voto popular foi para férias milionárias (em Malta! Há sempre qualquer coisa de medíocre em Sarkozy). Houve quem fizesse as contas: "environ dix-sept années de salaires pour un smicard et trente-six années de revenus pour un RMistes" ,calculou a Associação dos desempregados e precários (Apeis). Foi tudo pago por um grande industrial francês, que serviu de anfitrião. Como se Portas ganhasse as eleições e fosse às Canárias passar férias a convite do Américo Amorim.
O que é que a nova direita tem a dizer sobre isto? Foi com esta clareza que Sarkozy ganhou as eleições, não foi?

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09 maio 2007

É o Escaparate


Candida Hoffer


Na primeira segunda feira de cada mês, no TAGV, tem lugar uma sessão de divulgação e crítica de livros que leva o nome de Escaparate. Junta Rui Bebiano (história, ensaio), António Apolinário Lourenço (ficção), Osvaldo Silvestre (ensaio) e Luís Quintais (antropologia, ciência popular). O Escaparate é, pela qualidade destes quatro professores da U.C., uma iniciativa ímpar na cidade. O lugar escolhido, o foyer do Gil Vicente, é aprazível e central (com o senão de, inexplicavelmente, o bar interromper o serviço de chás e cafés, uma opção pelo silêncio e uma reverência desadequadas, se tivermos em conta o tom das intervenções, bem disposto e distendido sem deixar de ser rigoroso). O horário de fim de tarde (18h) parece ser bem escolhido. No fim das sessões há um sorteio de livros.
Ao longo da meia dúzia de meses que o Escaparate já leva de vida, uma constante: o completo alheamento do público. Das Faculdades, das Escolas superiores privadas, dos Institutos, dos Secundários e dos Básicos, não vem ninguém. Nem professores, nem alunos, nem funcionários, nem arrumadores. Ninguém. Os frequentadores habituais do foyer do TAGV, gente de aspecto afluente, iPod e portátil da maçã, mostra uma olímpica indiferença pelo evento e abandona a sala quando acaba a fatia do bolo de chocolate. Quando em Lisboa se deu início a um evento semelhante, o nome escolhido foi o de " É a cultura, estúpido". Mas das vezes em que fui ao S. Luiz as mesas estavam cheias e havia gente de pé. São os rapazes e raparigas do TAGV quem volta a cara para os autores do Escaparate como o espanhol sacava da arma ao ouvir falar de cultura. Que incómodo, conversava-se tão bem e vêm agora estes chatos para aqui com estas coisas incompreensíveis!
Há anos, num espaço do Colégio de S. Jerónimo que dava pelo nome de D. Diniz, três das vozes mais fascinantes da poesia portuguesa juntaram-se para uma sessão de leitura e celebração de poesia (António Franco Alexandre, AlBerto e Helder Moura Pereira). O ruído de fundo do povo nas mesas era tal que os poetas desistiram.
A situação melhorou. Agora é o povo que abandona o recinto deixando os poetas sózinhos.
Osvaldo Silvestre abordou este tema na sua intervenção desta segunda-feira. A situação dos livros nos media atingiu um ponto de quase nula visibilidade. O DN, no seu processo acelerado de tabloidização, substituiu o 6ª por uma TV guia, sem qualquer satisfação aos leitores. O Ipsilão fundiu o Mil Folhas com espectáculos, uma fusão sempre em prejuízo dos livros.O espaço de crítica literária no Expresso rarefaz-se. É medonho o silêncio dos livros que ninguém lê, de quem ninguém fala, que não merecem referência, que não influenciarão ninguém. Osvaldo declarou com ênfase a sua "paixão positiva" pelos livros, esse "mecanismo antigo e sofisticado de suspensão do tempo" e a intenção de "não ceder à doxa medíocre dos cantores do capitalismo de hoje", de se entregar à celebração da leitura, ao poder mágico das máquinas que nos fazem "perder o tempo".
"A iliteracia atinge os directores de jornais, não permitiu nunca a formação de uma esfera pública impressa" e explica o fracasso relativo deste Escaparate. O inquérito aos hábitos de leitura que, entre outros, Rui Bebiano conduziu, fornece informações devastadoras e traça um quadro deprimente. Professores e alunos que lêem sebentas e apontamentos "da matéria", analfabetos para tudo o que não seja a TV guia e os manuais da sua área restrita de saberes, um não-público, a matéria de que se faz o jardim de infância do pronto a usar, pronto a votar, pronto a aceitar.

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A maior descoberta da semana

Olegário Benquerença ( um apito dourado, para quem não saiba) é sobrinho do Quim Barreiros ( a presença mais constante da Queima de Coimbra nos últimos dez anos).

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O negócio do freak show






O negócio nazi (“17 cadáveres e 270 órgãos humanos conservados segundo a técnica de polimerização”) tem agora o seu capítulo lisboeta. Como nas outras paragens arranjou-se uma Comissão Científica. Podia ser o presidente da Comissão Científica da faculdade das Belas Artes mas como, nas últimas versões o álibi exibicionista é o da prevenção da doença, o convite foi para o presidente do Conselho Científico da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, uma entidade cuja designação deve impressionar os naturais de Freixienda e os assinantes do Mensageiro da Imaculada.
Trata-se do professor Francisco Castro e Sousa (corpo não disponível para exibição).
Como a exposição dura até Setembro vou hoje apenas reproduzir as suas declarações na pré inauguração.


1.
O presidente da Comissão Científica da exposição «O Corpo humano como nunca o viu», Francisco Castro e Sousa, lembrou que a organização do evento “não é benemérita”, mas ajuda o público a ter “da forma mais real possível” a noção da complexidade do organismo e um comportamento pró-activo em relação à saúde
Uma organização quase benemérita. Não se percebe como é que o Campos e a Fundação do Coração não estiveram na inauguração.



2.

(Houve quem se questionasse sobre a proveniência dos corpos. Chineses e russos. Afinal são chineses e russos, cujos corpos não foram reclamados, quer dizer, jovens saudáveis que morreram de morte natural, não mereceram sepultura ou cremação e que tinham feito doação dos corpos para ciência. O dr Glover estava lá, à cabeceira dos jovens defuntos, com a acetona, o bisturi e a polimerase.)

Se reconhecesse algum fundamento nas acusações a que a polémica se refere, não associava o meu nome à exposição que vi quando se apresentou nos EUA.

Os responsáveis da exposição garantem agora que todos os cadáveres utilizados são corpos não reclamados doados para a ciência.
(Aqui)



3.
Estou, por isso, em condições de garantir, como médico e cidadão, que esta é uma oportunidade única de vermos como funciona o nosso corpo. Tivemos, enquanto comissão, o cuidado de adaptar a exposição à sensibilidade do País .


( Uma exposição adaptada à nossa sensibilidade, depois do Presidente a ter visto em Nova Iorque, mais ao natural. Ele garante, como cidadão, que esta é uma oportunidade única. Bora, vamos.)


4.
"Não há que temer qualquer reacção de choque, a menos que se tenha uma natural
predisposição para isso, o que é válido para qualquer outra forma de arte,
científica ou não"


(Cá está, o motivo do meu choque. Tenho uma natural predisposição para reacções de choque face à arte científica.)

08 maio 2007

Cortejo

Se ouvires o grito das ambulâncias não te assustes. São os doutores e engenheiros a caminho do Hospital, sob o olhar benévolo das famílias. É aquele ritual de passagem. Enquanto estão bêbados não chateiam. Que eles não chateiam, fortes e mansos, coitadinhos, leões com coração de passarinhos.

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Sócrates, Sarkozy, sem surpresas


René Laloux

Pedro Mexia achou surpreendente ouvir o presidente eleito (dos franceses) dizer «os nossos amigos americanos» e ser imediatamente ovacionado. Eu não acho nada surpreendente. Quem fala para fiéis recebe sempre a ovação esperada. Outra questão é saber se uma ovação é um critério de verdade. Se Sarkozy dizer “os nossos amigos americanos” significa que os americanos são nossos amigos. Que americanos? Amigos de quem? Quem são os amigos americanos de S. e do “nós” de S.? Amigos para quê? Para destruir o legado de Maio de 68? Mas que legado?

A propósito do legado de Maio 68 o que disse Sarkozy?


Nicolas Sarkozy a accusé « les héritiers de mai 68 », dont fait partie pour lui la gauche, d'avoir détruit les valeurs et la hiérarchie. « Ils avaient imposé l'idée que tout se valait, qu'il n'y avait donc désormais aucune différence entre le bien et le mal, aucune différence entre le vrai et le faux, entre le beau et le laid », avait souligné le candidat UMP.

« Ils avaient cherché à faire croire que l'élève valait le maître, qu'il ne fallait pas mettre de notes pour ne pas traumatiser les mauvais élèves, et que surtout il ne fallait pas de classement. Que la victime comptait moins que le délinquant », avait-il encore ajouté, appelant les électeurs à trancher le 6 mai : « Dans cette élection, il s'agit de savoir si l'héritage de mai 68 doit être perpétué ou s'il doit être liquidé une bonne fois pour toutes
».


Sarkozy julga que estas eleições liquidaram o legado de maio 68. De facto a revolução mundial de 1968, que abalou o Sistema-Mundo do Viet Nam ao México, da América à Checoslováquia, há muito que se extinguiu. A Velha Esquerda continuou o seu processo de extinção sem que nada de entusiasmante a substituísse, do populismo latino americano às terceiras vias do Centro. A desagregação do sistema histórico do capitalismo trouxe de volta à Europa os lideres autoritários, em quem os poderosos confiam para acabar com o que resta do estado liberal ou em quem as massas acreditam serem capazes de frenar a emigração, limitar os direitos dos emigrantes e manter controlada a banlieue. Mas a guerra continua. Os amigos americanos não virão acudir à fogueira dos nossos carros capotados porque terão com que se ocupar em Los Angeles ou na fronteira mexicana. Ou dito de outra maneira mais optimista e militante: Os amigos americanos do nós de Sarkozy terão que se haver connosco, lá e em todo o lado, partout, acreditando que uma nova ordem é possível, que o fim do capitalismo não será o fim da espécie, que outro ciclo é possível, de outra maneira.

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07 maio 2007

Perdidos e Achados

O Homem Selvagem


Inauguração hoje, às 17 horas, na Galeria da Cozinha da Fac. de Belas Artes do Porto.

Exposição nazi em Lisboa


Aziz+Cucher


A exibição espantosa já está em Lisboa. Cientistas pegaram em mortos e antes do rigor mortis colocaram-nos em posições artísticas. Um maestro empunhando a batuta, um jogador de râguebi, um feto sentado. Depois tiraram-lhes a pele, em alguns casos, ou tudo menos a pele, em outros. Cortaram-nos às fatias, ao meio, em cortes sagitais, horizontais, oblíquos.
Taparam os buracos da nuca com silicone. Plastificaram-nos. Parece que a exposição é um êxito. Os médicos enlouquecidos dos campos nazis teriam adorado. As crianças dos 4 aos 12 anos têm desconto. Os bilhetes de família custam 50 a 55 €, conforme a dimensão das famílias, presume-se.

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