31 dezembro 2004

Até amanhã




Vou por aí
com uma cara roubada.
Ainda bem que te encontrei.
Senão como é que podia
fazer este número
desacreditado como estou.
O fato tenho.
E tenho o tojo
E a forquilha
(E se por um instante
me vem à mente torturada
o fragor das jacqueries
sei que é só
um engano dos sentidos
e que a minha senhora
não é o meu inimigo).
E tenho as palavras
tenho amigos
tenho um sol como este
Levantado.

Enquanto puder roubar
Máscaras destas
Hei-de assim
leve
caminhar.

(gravura encontrada em Há só uma Alice)

Adições no fim de ano

O cabrão era eu

Esta noite(talvez tivesse bebido um pouco) estava a passar por sítios menos comuns da blogosfera e descobri um gajo que me copiava. O cabrão plagiador. Depois fui ver o meu post, indignado. Tinha sido escrito seis dias depois do post do cabrão.

(À Vieira do Mar)

30 dezembro 2004

Susan Sontag

Pode também medir-se uma vida pelos livros que deixamos. Susan Sontag deixou setenta mil.

Obra Escolhida

Não tenho a certeza André, mas acho que já mandou para a reciclagem.

Fim de Ano

Si fuera el Fin de Año eu era Nochevieja y tu o Ano Novo.

Pina laureado

Um dos nossos poetas favoritos foi distinguido com o Prémio Luís Miguel Nava. Pina faz o pleno. Hoje, além dos do Mal(acorda Sarah), uma médica do Santo António que um dia me trouxe a ler os Cuidados Intensivos, os gatos e as crianças devem estar felizes.

(Sobre Pina ver Nenhuma Palavra Nenhuma Lembrança, reunião da sua poesia em 1997, na Assírio e o mais recente Os Livros.)

29 dezembro 2004

Olhando O Sofrimento

O meu amigo era pivot de um canal de televisão. Disse-me estar plenamente convicto de que as pessoas se fartaram do comentador com resposta formatada, grande fluxo, alto débito e baixo conteúdo. Havia agora público para um novo tipo de comentário, feito por gente comum, que ora sabe um pouco menos, ora ligeiramente mais que o telespectador. Que hesita, gagueja, se envergonha, se cala. Acho que ele estava a pensar no José Luís Peixoto.
Aceitei. Hoje foi a minha estreia, logo a seguir ao telejornal da uma.
Perguntou-me de que forma evocava a Susan Sontag.

Como uma mulher alta, muito alta, elegante, enérgica, uma mulher linda.


Era o que me vinha à cabeça. Mas o André Bonirre tinha-me dito para não falar de mulheres logo no primeiro programa. Aliás o que ele me disse foi:
-Não haverá maneira do teu cérebro aceitar um sistema de quotas decente? Metade pelo menos dos teus pensamentos devem ser sobre homens.
Lembrei-me da Bósnia e de Susan Sontag em Sarajevo. Na altura não sabia posicionar-me bem, metia-me confusão aquele unanimismo contra os Sérvios, acompanhei de longe a polémica com Peter Handke. Lembrei-me dela em Cartagena das Indias a mandar vir com o Garcia Marquez sobre os direitos civis em Cuba.

Lembrei-me do livro que reúne as short stories de Robert Walser, prefaciado por ela.
Da doença e da luta contra a sua concorrente, a que nos mata antes.
Lembrei-me da fotógrafa loura da Vanity Fair e de como Virginia Woolf e Bloomsbury duraram afinal até essa New York do nosso tempo.

Como tinha de dizer alguma coisa disse o nome dos livros traduzidos de que me lembrava: Contra a Interpretação, trinta anos depois, O Amante do Vulcão, sim desses tenho a certeza. E Olhando o Sofrimento, da Gótica. A discussão em torno do fascínio das imagens de guerra, nos dois livros sobre Fotografia onde nenhuma imagem é consentida.
Nessa altura o meu amigo pivot, para quebrar o silêncio, começou a passar imagens do tsunami e eram só corpos nus, uma galeria de corpos nus que o mar devolve às praias.

(Foto de Anne Leibowitz)

Hei-de dizer

terra

Enterra as mãos em chãos
de tojos e de lírios
para que (me) digas com os
lábios o que sabes das
profundezas.


Sandra Costa

Esta foi a prenda que me coube na generosidade do Tempo Dual. Enterrar-me em chãos de tojos e de lírios. Fiquei contente. Aqui está o género de coisas que posso prometer.

28 dezembro 2004

Prémio Príncipe das Beiras


Ricardo Araújo Pereira, pelo conjunto da Obra.

Mulheres de 2004: Catherine Destivelles

Catherine Destivelles (1960), a primeira mulher a abrir uma via 8a. Lesão grave em 1996, no Verão antártico, a 4.000 metros, quando num pico sem nome, Erik Decamp, companheiro de escalada, lhe pediu para dar um passo atrás para a foto de topo.

Prémio O mais criativo dos bloggers


António, o Tawzeeto, de Sous le pavé la plage. Por tudo e por ter lembrado My life, o melhor de todos os blogs, o impossível blog .

Prémio A Nossa Secretária-Geral

Ana Sá Lopes, criadora do Lopes, na melhor coluna de análise política.

Prémio O meme mais infeccioso do ano

Eu hoje acordei assim.
Créditos para a Charlotte

Prémio Filosofia Popular


Desidério Murcho.
Pela eficácia em tornar acessíveis os temas mais actuais da filosofia. Pela coluna no Mil Folhas, pela actualidade dos temas, pela actividade de tradução e pelas propostas de tradução.


A mulher do ano


Cristina Santos da Não te Prives, pela coragem, quando quase todos faltaram na praia. Deu a cara pela acção das Women on Waves e fê-lo sempre com serenidade.

27 dezembro 2004

Prémio Reduto


Aos rapazes da Quasi, pelo esforço para que a Poesia não seja só taberna, só latrina.

A editora do ano


A Teorema pela edição de Sebald

O filme do ano


Lost in Translation,
Antes que anoiteça,
Agente Triplo.

Prémio Mistério

Quem é Paula de Parma?

O feito militar do ano


A corveta de Portas contra o Barco do Aborto nas águas da Figueira da Foz

A fuga do ano


Barroso, Marcelo, Vitorino, António Costa

O melhor correspondente estrangeiro (Prémio Graham Greene):

Alexandra Lucas Coelho (foto na Vogue de dezembro)
Pelas Crónicas do Médio Oriente.

O escritor mais prolixo (Prémio Jumbo)


Gonçalo M. Tavares (menção honrosa para Eduardo Prado Coelho, Prémio Pingo Doce)

O melhor programa musical na rádio


Intima Fracção, de Francisco Amaral, agora na RUC na madrugada de domingo

O melhor concerto



Llasa de Sela no TAGV

Os melhores livros de 2004


O Mestre de Petersburgo, Coetzee JM


Austerlitz, WG Sebald


Vida Oculta, Pedro Mexia


Alguns gostam de poesia, Cavalo de Ferro

Os mais do Mal 2004

A escolha que se segue é tremendamente parcial e limitada. Não conhecemos grande parte dos blogs, não lemos grande parte dos livros , não vimos filmes, não ouvimos música, não estivemos no sítio. Sofremos de um nepotismo que não chega a concretizar-se: achamos que os nossos amigos são os melhores em tudo, mas prejudicamo-los sistematicamente, par délicatesse. Da justeza dos Prémios que afixamos em seguida só temos alguma certeza relativamente a três: A melhor caminhada do ano foi a de Pitões das Júnias, em Novembro e o melhor vinho é um Syrah de Monte Sete Reis, o melhor restaurante chama-se Gostilna A S e fica em Lyubliana.

26 dezembro 2004

Fechados para Balanço


Nas próximas horas vamos estar fechados para balanço.

Vale a pena ir ver

As prendas do Tempo Dual. E entre todas o beijo da Cláudia Caetano: Os lábios sabem...

25 dezembro 2004

Um dia amaldiçoaram o Natal diante de mim

Diante de mim, seja em que recanto for, ninguém amaldiçoará o Natal

Textos como o que o Bénard da Costa assinou no dia de ontem, evocações do natal no tempo das criadas impecavelmente fardadas, de crista e luvas brancas, dos lares aconchegados da Vila da Feira de outrora, causam-me alguma incomodidade.
Já não há pachorra para a ladainha de que o melhor do mundo são as crianças, para os especialistas a explicar que a crença no Pai Natal é saudável e estruturante. Vêm agora- sem um filme que lhes valha, as recordações do tempo em que era o Menino Jesus quem descia a chaminé. Mas eu gosto do Bénard da Costa e dos olhos ingénuos com que olha a câmara do Manuel de Oliveira e estive a tarde toda sem perceber a raiz do meu mal estar.
Agora, ao fim do dia, lembrei-me dela e vou contar isto depressa para não estragar o vosso sossego.
Foi num tempo quase tão distante como os que Bénard da Costa recorda. Era o dia da consoada, e nessa tarde, devia chegar a nova empregada. (Em casa dos meus pais dizia-se empregada, ou empregada interna. Em casa dos meus avós diziam criada.) Nesse dia, a chegada de uma empregada nova devia ser um acontecimento excitante, para a minha irmã e para mim. Mas não escapámos à sesta. Se queríamos estar acordados até tarde, na noite de Consoada , devíamos dormir a sesta. Nós obedecíamos, secretamente esperançados em acordar rapidamente, para não perder os preparativos da ceia, nem a chegada da criada. Por um motivo que não recordo aquela sesta foi muito prolongada. Quando acordámos a casa estava silenciosa e a nossa mãe preocupada. De um quarto interior, dos lados da cozinha, vinha um murmúrio estranho. Proibiram-nos suavemente de investigar a sua origem. Mas com a aproximação da noite foi impossível continuar a esconder a realidade. A nova empregada não parava de chorar. Tinha saudades da terra, da família, do seu natal. Enquanto o meu pai não chegava para dar ao caso uma solução, naquela casa, num quarto que não era o dela, ao olhar atónito de duas crianças, a empregada nova, uma criança afinal, talvez pouco mais velha do que nós, amaldiçoava, do seu recanto, o Natal.


O blog que leio (...) há três meses que
fala dos ciclos menstruais das mulheres. Da tirania hormonal e do tanto que todos os meses se perde. Das almas e dos corpos transtornados. Das lágrimas sedentas de consolo. Fala dos apetites sôfregos. Fala da culpa e da sujidade.


24 dezembro 2004

As Prendas de O Mal

Para o jamiroo, uma vez concluída a educação sentimental:

Para um@ que vai nascer (epidural e Apgar 10)

Eras o musgo. A palha. O bafo dos animais. Eras o alvoroço das tias. A alegria dos avós. O desamparo do pai. Eras a pele e o mamilo, a voz e as mãos e o cabelo e a saliva da mãe. Eras a filha da puta da pomba, o bicho encornador, mas as caganitas eram pepitas, única luz do chão em que caíam. Eras, desgraçadamente, o romano que iria receber o teu registo de nascimento. Eras o céu imperscrutável. Eras os povos crentes que de longe mandavam os seus reis e os povos infiéis que te resistem.

Se houvesse natal e o natal fosse um presépio e eu te pudesse amar como queria.

As Prendas de O Mal

Para o Filipe
A Ilíada (traduzida por Frederico Lourenço,imagem não disponível)

As Prendas de O Mal

Para o Joaquim,

As Prendas de O Mal

Para o Bruno:

As Prendas do Mal

Para o PC:

23 dezembro 2004

As Prendas de O Mal

Para a Claire Lunar:

As Prendas de O Mal

Para a Sandra

As Prendas de O Mal

Para a Carla:

As prendas de O Mal

Para o Pedro Mexia, pelo Eixo do Mal:

As prendas de O Mal

Para a Charlotte:

As Prendas do Mal

Para o Zé Mário:

As Prendas do Mal

Para o Luisinho.

22 dezembro 2004

"Mais fotos, mais fotos."


"Depois das mulheres, o silêncio."

Neoténicos

Fiz parte do júri de um concurso ( do Júri) para o grau mais elevado (grau superior, último grau) de uma carreira técnico-profissional. Decorreu a coisa numa centenária instituição da cidade de H. O candidato mais jovem tinha cinquenta anos. Foi-lhe louvada a coragem por se ter apresentado tão cedo àquelas responsabilidades. Em privado o que se ouviram foram dúvidas sobre se teria maturidade para elas. Outro concorrente trazia uma camisa de finas riscas verticais coloridas e o terceiro botão aberto, pormenor que desde Pode um Desejo Imenso, do Frederico Lourenço, não pára de me impressionar. Outra exibia um vigor felino de praticante de body combat. Tinha mestrado, provas pedagógicas e anunciou para breve o doutoramento. Um jurado (Jurado), especialista em curricula paralelos, segredou-me que ela vivia uma paixão escaldante com um interno. Duas senhoras com sessenta e três anos dissertaram sobre os respectivos projectos profissionais. Quando a candidata que viria a sagrar-se vencedora se levantou para sair, apesar de procurar uma postura humilde, deixou entrever a tatuagem lombar. Procurando não a perder de vista verifiquei nos meus apontamentos a data de nascimento : 1948. À noite, assinadas as actas (as Actas), fomos todos para a noite. Quando começámos a passar um charro, o senhor Presidente do Júri disse que era a primeira vez que experimentava.

Homenagem a Paul Eluard

Porque é que estou tão gordinha?
Porque o meu amor me dá presunto.
Fatias de presunto.

Não parece um poema?
E se for pata negra?

21 dezembro 2004

Mulheres



Mulheres, mulheres, não me lembro de mais nada. (devia pôr umas fotos)

Mulheres

Mulheres, mulheres, mulheres.

Mulheres

Mulheres, mulheres, mulheres, mulheres.

Destaques

Excitações lusitanas e mais do mesmo do Almocreve, côté politique. A Praia sem fim do Rui Bebiano e o post da Cambada, uma coisa de outro Mundo.

20 dezembro 2004

Sótão



Morre quando queiras ou não queiras
mas deixa tudo em ordem aos que ficam.


Pedro Mexia in Vida Oculta.

Saudação


Coimbra, véspera do 3º Encontro de Ateus. Sejam brilhantes.

Destaque

A Perfumaria, do Bruno.

Antologia de O Mal: Pedro Mexia


Código Civil

Raparigas abraçadas ao Código Civil,
serve para alguma coisa,
o Código Civil, nunca imaginei,
que bom ser Código Civil.

Pedro Mexia in Vida Oculta, Relógio D'Água, Novembro de 2004

19 dezembro 2004

Um luar de sangue


Eu gosto mesmo é do Blog Escarlate.

Kusturika no Coliseu

Chegámos um bocadinho cedo. Vocês tinham razão. Era só a 17 de janeiro.

Regresso à Terra da Alegria

Quando este blog apareceu estava preso e queria escrever sobre os meus poetas preferidos. Depois quis falar de mulheres. Uma mulher presa na selva da Colômbia. Depois tive uma provisória e adoeci do Mal de Montano. Depois quis falar de mulheres. Uma mulher presa numa casa da Birmânia. Depois de política, estúpido. Depois quis falar de mulheres : uma mulher com uma lagarta gravada na retina, Loreta recolhida nos braços do Mamute na Avenida Lexington, Margarida numa furna do canal de S. Jorge, essa estranha Daisy que não queria que eu a publicasse, a talvez Florista, Ana Paula Inácio invisível como as toupeiras do Pico, a radialista secreta de terça feira à tarde,e nem todas, estúpido, estúpido, estúpido, mil vezes estúpido. Um homem tem que ser alguma coisa forte para poder ser uma mulher. Tem que ser de algum lado seguro para poder ser do lado das mulheres.
Agora volto às origens. Escrever sobre os meus poetas preferidos. Um poeta chamado Pedro Mexia e a sua Vida Oculta, vinte anos à espera, numa praia de Verão onde talvez Frederico Lourenço lesse o grande livro Krishna, onde a Vida de Cristo existisse realmente.

Vanessa na Cidade

O senhor Almeida, do Quiosque Académico, tinha reservado alguns exemplares. Tarefa difícil, que à província nunca chega nada, queixa-se ele. Três mil exemplares em azul, três mil em rosa. Eu sou do rosa.

Alcatruz

Ele mantinha com um grupo de amigos uma correspondência regular. Agora anunciou que o podemos encontrar no Alcatruz. Ele é um homem de muitas culturas e civilizações e todos os que o conhecem já beberam a água preciosa das suas palavras, dos seus silêncios e das suas imagens. Que agora esteja aqui, o Peregrino, é motivo de grande júbilo.

15 dezembro 2004

A Música de Kusturica

Emir Kusturica e a sua No Smoking Band acabam em Lisboa, este sábado, a sua tournée europeia.

Laboratório Social

Ontem, nas bancas dos jornais, por 25 euros, um pacote de DVDs: Dogville, Elephant e a Swimming pool de François Ozon. Experimentem. Em doses individuais ou por atacado. Alguém anda a brincar com os portugueses.

No Diário Ateísta

Eu estava a trabalhar numa editora. Fazia de tudo. Leitura de originais, pesquisa de financiamentos, revisão de provas, contactos com a tipografia, press release, direitos de autor, pós-produção. Trabalhava até tarde, num primeiro andar alugado da rua Cesário Verde. Uma noite em que saía para procurar uma bebida dei com um envelope debaixo da porta. Tinha um texto que não tive tempo para ler, mas que me pareceu incompleto. Assinava uma tal Daisy que não fazia parte dos meus conhecimentos e pedia:- Por favor não publique. Em breve voltarei a procurá-lo. E assim foi. Quase todas as noites, Daisy deixava um envelope. Eram pequenos poemas em prosa de uma escrita que não me impressionou. Aliás tive aquela sensação desagradável que se tratava de alguém que tinha por mim um interesse não literário. Uma vez ela deixou escrito:-Foram os seus textos que me motivaram. Os meus textos? Que podia ela saber dos meus textos? Eu escrevia uns artigos no jornal O Diário Ateísta, uma folha que devia circular apenas entre os dezassete membros da Associação e o Arquivo da polícia Episcopal. Não sabia nada de mulheres, mas até um homem como eu podia perceber que Daisy não existia ou era alguém que podia levantar problemas. Praticamente só houvera uma mulher na minha vida: Teresinha. Adorava-a. Comprava-lhe queijadas ao sábado, quando me pagavam. Mas ela não apreciava. Beijava-a no pescoço, porque os seus lábios me fugiam. -Você está doente, Teresinha? perguntava. E ela: - Estou-me sentindo estranha. A escrita de Daisy era a de alguém que está-se sentindo estranha e gosta. E terminava sempre com o mesmo apelo. Quando os envelopes ocupavam já a minha secretária decidi-me a ler o que Daisy escrevia. Mas era tarde, tinha bebido demais e adormeci.

14 dezembro 2004

Os Outros de Nós agora em Pasárgada

Seguindo um trajecto que se torna comum o Bruno foi para Pasárgada e quer que vamos com ele.

Percurso dos amores na enxurrada

Levados pelas primeiras chuvas, os amores acordam na lezíria e ao sol de um dia assim, voltam a acreditar.

O sensori homunculus

O homunculus de Penfield ( proposto pelo grande neurologista canadiano Wilder Penfield) mostra o corpo humano construído de acordo com a proporção que cada área ocupa no cortex cerebral sensorial. Note-se o relevo das mãos e das porções da face dedicadas à oralidade. Apesar de nos esforçarmos imenso por contrariar esta representação, acordamos todos os dias assim.

Museu de História Natural de Londres, referido por Richard Dawkins em The Ancestor's Tale, A Pilgrimage to the dawn of life, Weidenfeld & Nicolson, 2004

Chema Madoz, dito Ciekawezdjecie

Esta fotografia é do espanhol Chema Madoz, fotógrafo de objecto, prémio nacional em 2000. Para ela Chema é Ciekawezdjecie. Felix qui potuit rerum cognoscere causas.

13 dezembro 2004

Água

Vão-se com as primeiras enxurradas os amores a prazo. Todos os amores. Ou alegremente descem as pistas. Ou derretem-se à lareira. Ou aprendem o que devem fazer para desaparecer. Só alguns ficam. Como aquelas árvores que no Inverno são cobertas por um manto protector, ramos ao alto. E lembram um obelisco encurvado. Sabem quando voltam os que desaparecem, como os cometas de período longo. Inclinam um pouco mais os ombros, assobiam com o vento, têm a cara molhada. Mas é das chuvas, é a água das chuvas.

12 dezembro 2004

Se te derem Vila-Matas

A prenda mais perversa, diz Manguel, foi ter regalado Bartleby e companhia a un escritor amigo que sólo producia borradores.

Regalos peligrosos

Alberto Manguel assina ontem em Babelia um texto sobre os perigos das ofertas. Como nos revelamos quando oferecemos um livro. A que estamos sujeitos ao recebê-los. A pretensão de conhecer o presenteado, de o identificar com um personagem do livro, de o levar a acreditar que somos, de certa forma, um co-autor e escrevemos para ele, a pensar nele, como Oscar Wilde em Dorian Gray.