31 janeiro 2009

Cinco Estrelas



A crítica cinematográfica em Portugal é lamentável. Os críticos das estrelinhas derrotam qualquer veleidade de prazer a um cidadão que às quintas comece a fazer planos para as estreias do fim-de-semana. Os críticos são ideológicos. Veja-se o que escrevem sobre o filme dos Baader-Meinhof. Os críticos estão confinados ao mainstream, à banalidade que enche as salas dos centros comerciais, produzida para o êxito das bilheteiras e, ainda um dia se irá ver, co-responsável pela mortalidade inexorável desse ser raro que é o espectador de cinema, no escurinho das salas de exibição. Lamentamos a sorte dos críticos das estrelinhas. Deve ser horrível encontrar-se a meio da vida, numa profissão assim. Mas não é por o material ser desanimador que os coveiros deixam de fazer o seu trabalho. Agora que os críticos começaram a fazer umas viagens com a Lusomundo, talvez o entusiasmo arribe um pouco.
Este sábado preparava-me para o Milk, o Revolutionary Road, a Duquesa, quando fui ler os críticos das estrelinhas. Que depressão. Vou ver aquele filme em que o Dustin Hoffman encontra a que foi a mulher dos meus sonhos.

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30 janeiro 2009

E que tal legislar sobre o Corruptor Arrependido?

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29 janeiro 2009

Vicky Rebecca Barcelona

Vicky Cristina Barcelona é um filme sobre a comédia humana, as ralações, entre homens e mulheres e entre mulheres e mulheres - que, apesar de Javier Bardem, Allen gosta mais de mulheres.
Homens e mulheres fúteis, a vida fácil de gente ociosa, a etérea vida dos artistas que quando sujam as mãos é em telas milionárias. Os iates, as casas de revista, Barcelona e Oviedo muito bilhete-postal, Turismo de España, o inevitável Gaudi e a tese sobre identidade catalã.


Ficam as pessoas. Joahnsson, a loira que tanto me espantou, é Cristina. Agora arrasta-se penosamente, sem perceber bem o que faz ali



Felizmente há Vicky, a noiva americana.
E Maria – Elena, Penélope Cruz a resistir à caricatura

Entre Vickie e Cristina eu prefiro Vicky, Vicky e Maria-Elena



Pode-se ver o princípio, depois ir fazer qualquer coisa de interessante e regressar ao plano final, duas mulheres no aeroporto, de regresso aos Estados Unidos e à realidade.
E guardarmos a face de Rebecca Hall , uma vida estragada por uma noite insensata em Oviedo.

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28 janeiro 2009

F-R-A O Centenário da República Rás-te-Parta


Lisette Model


O Centenário da República: aqui está uma iniciativa que me faz simpatizar com a monarquia.
Tal como o debate sobre a Esquerda, no Mundo diplomatique, me faz sentir de Direita.
Esquerda? A minha alma cidadã não sabe para onde se virar: A Esquerda Freeport, a Direita dos sobreiros e dos submarinos, a Esquerda dos aviões e da alta velocidade, o bloco central dos negócios em Angola e da Valor Alternativo. Tanta opção. Incapaz de continuar a jogar o hipócrita jogo democrático, olho para vocês com grande desânimo.

Da borda
vejo passar o vosso comboio,
animado pela inércia de um mundo
que acabou.
Entretidos na algazarra
agitais bandeiras
outrora poderosas.
Ainda não há grande coisa para dizer.
Estou preparado.

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Ao primeiro sinal


Diane Arbus



O antigo administrador da Sociedade Lusa de Negócios (SLN) Dias Loureiro afirmou hoje que se demitiria do Conselho de Estado se sentisse que causava algum embaraço ao Presidente da República.
"Formalmente não dependo dele [Presidente da República], mas ao menor sinal de que estava a causar embaraço ao Presidente, demitia-me", disse.

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27 janeiro 2009

Uma horta



Uma horta junto à casa. Mas quanto tempo é preciso para que cresça uma endívia, uma beringela. E os corvos, os animais com asas que comem as sementes. E os bichos da mata, que de noite remexem a terra plantada. A natureza é brava, mesmo a que cerca e invade a horta junto à casa. O limoeiro invadiu tudo, teve que ser podado, e jorrava sangue dos ramos decepados.

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24 janeiro 2009

Receita original «Isso é mentira e vou pô-los em tribunal!»



- Sim. A Glenstal Trading Limited, constituída em Gibraltar pelo BCP e com conta numa sucursal no Funchal, mas que também tem conta no BPN, aberta em Cayman; e outra offshore também criada pelo BCP mas num estado americano, com conta em Cayman.

- Realmente isso existe. Quer dizer, existiu. Mas não teve movimento nenhum, nem conseguem provar. É uma pura mentira que eu tenha recebido… Até fiquei muito chateado por o Smith nem me agradecer – e isto era altamente confidencial. Mas como vieram a saber das minhas offshores?


(aqui)

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23 janeiro 2009

Uma receita ascensional

22 janeiro 2009

Receita para um Brinde

2 cadeiras
1 parede
1 telemóvel com câmara
1 projector
1 figurante com braços



- Erguer alternadamente o braço direito e o braço esquerdo, obsequiando-s€.


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20 janeiro 2009

Internet: se vir uma notícia a dizer que Obama não tomou posse, não vá lá clicar

"Our nation is at war, against a far-reaching network of violence and hatred."


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15 janeiro 2009

Running legs


Lisette Model


Dispensa transitória de concurso público para as empreitadas públicas (do Estado e dos municípios) até 5 milhões de euros ( Vital é compreensivo quando até o Presidente dos empreiteiros achou deslocado); milhões de euros para salvar o BPN e o BPP, nada para salvar empregos de empresas em dificuldades; O Vara e o Pedroso- altos quadros do Partido- a darem o exemplo da solidariedade e da transparência. Mais reforma para o Vara e mais uns anitos de trabalho para a malta. Pastoreada pelos Vitais a malta vota, agradecida.

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14 janeiro 2009

Um cardeal em Fátima


Muslim Fashion, algures, sob o Corão, numa ditadura branda

Concordo com o cardeal Patriarca: uma rapariga portuguesa pode "meter-se num monte de sarilhos" se casar com um muçulmano. É preciso ser- se hipócrita ou alteromundista para se escandalizar com uma afirmação destas. Uma rapariga portuguesa mete-se num monte de sarilhos se casar com um fundamentalista cristão americano, com um judeu ultra-ortodoxo em Israel, com um católico irlandês ou mesmo, infelizmente, com aquele meu amigo de Lamego que não tem religião nenhuma.

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A insensível leveza do silêncio

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13 janeiro 2009

Licht, mehr Licht!

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O amigo


Rosalind Solomon

-Ele brinca com alguém que nós não vemos. Mas sabemos que está ali alguém. Ele oferece-lhe comida, troca brinquedos com ele. Fala para ele. Fica à espera de uma réplica.
- É o amigo imaginário, explicou o médico.
- Sim, deve ser amigo. Mas não é tão imaginário como diz. Ou tão amigo. Agora instalámos duas cadeiras de transporte no carro e quando saímos, temos de ter imenso cuidado. Com as precedências, com a forma como aplicamos os cintos e fechamos a porta. E este fim-de-semana esse...amigo, resolveu sair do carro e vir a correr ao lado, na estrada. Ao lado da janela de trás, coladinho ao vidro. Ele sorria-lhe, deu mesmo algumas gargalhadas, mas a certa altura zangou-se connosco. Foi quando percebemos que queria que conduzíssemos mais devagar.
- É uma fase de desenvolvimento, disse o médico.
- Claro, esperemos que sim, que seja uma fase. E os medos. Agora tem medo de tudo. Do barulho do aspirador, da máquina de lavar. Dos palhaços.
- É a fase dos medos, voltou a dizer o médico para quem tudo parecia normal e assustador ao mesmo tempo. Nas palavras do médico a máquina de lavar, sobretudo em funcionamento, era aterradora. Aqueles barulhos, as pausas, a forma como recomeçava, os turbilhões de água, o ronronar com que se anuncia o programa de enxaguamento.
- Está bem, é a fase dos medos e a fase dos amigos imaginários. É precisamente por isso que viemos falar consigo. Ele agora tem medo, mas medo até às lágrimas, medo de aparecer a fugir lá do escuro do corredor. Medo de quem? Do amiguinho imaginário.

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12 janeiro 2009

Imagem pouco original do medo



Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)

O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos

Poema pouco original do medo, Alexandre O'Neill

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11 janeiro 2009

Palacio Grassi com homem à porta

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Prometheus



"
aqui me tens, homens farei
segundo minha própria imagem,
homens que logo serão meus iguais
que irão padecer e chorar,
gozar e sofrer
e, mesmo que forem párias,
não se renderão a ti como eu fiz"

Goethe

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08 janeiro 2009

Palácio Grassi: Italics (4)



Bellini está doente. Viu a exposição sempre sozinha, coincidindo com Bronx apenas num vídeo de um tal Francisco Vezzoli, que filma divas decadentes em cenários rococó, cantando hits italianos enquanto um jovem borda o que parece um rosto. Bellini diz qualquer coisa sobre a admiração de Bronx que queria dizer que ele não estava a perceber nada, o que era parcialmente verdade. Não estava a perceber mas estava a gostar.
O que não aconteceu sempre. Algumas vezes não estava a perceber nem a gostar - por exemplo quando os novos autores repetem sem citar. Ou estava a perceber e não gostava, como na instalação do que edita os pensamentos em lápides - pensamentos ligeiros demais para a pedra.



Percebia o Funeral de Togliatti, de Guttusi, sem vislumbrar o “gosto final” de que falava o comentário. Os comentários dizem, por vezes, coisas tolas, que lançam sobre a arte contemporânea a suspeita de diletantismo, pensa Bronx, baixinho e envergonhado por um pensamento tão pouco original.




Bronx fica a admirar o Palácio Grassi . Há qualquer coisa de estranho numa exposição que reúne os italianos contemporâneos (Italics) e onde predomina a Arte Povera, no último Palácio do Grande Canal, aberto pela intervenção de Ando. Outra coisa que Bronx não entende é o que resta da renovação de Gae Aulenti para a Fiat, nos anos oitenta. Os anos oitenta duraram vinte anos e deram lugar a salas claras, separadas por portas que são só gonzos encastoados em ombreiras de mármore muito claro. Um edifício liso, elegante, pronto para receber como uma página em branco
- O efeito “white cube”, diz Bellini.
as intervenções tão saturadas de significado da arte contemporânea.
No piso superior Bronx copia uma frase em néon sobre uma rede fina. - Se a forma desaparece a sua raiz é eterna, traduz Bellini. Ao lado está uma escultura disforme. Vista dali parece alguém que se move sem que se perceba para onde, um vulto trôpego, precipitando-se sobre si próprio. À saída Bronx volta-se por acaso e, do vão do hall central, dois pisos abaixo, vê de novo o vulto. Parece um anjo negro, abrindo as asas.





Renato Guttuso, Bagheria, 1911. Roma 1987
Mario Merz, Milão 1925 - 2003
Paola Pivi, Milão 1971. Vive em Anchorage
Francesco Vezzoli, Brescia 1971. Vive em Milão, em Serralves em 2002

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07 janeiro 2009

Galeria da Academia (3)


Tintoretto

Foram de vaporetto. À porta estava uma família russa.-Otar Iosseliani, disse Bellini. Bronx fotografou a família. Mastigavam, cegos à objectiva. Bellini chamou. -Anda, dizia ela. Para a Academia que está frio.

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Escrevo de Itália. Posts (2)



Se la forma scompare la sua radice è eterna, 1982–89
Mario Merz,
Palácio Grassi, Italics

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Escrevo de Itália. Posts


Tiepolo, Perseu e Andrómeda

O primeiro post é facílimo. Em A Outra Veneza, Predrag Matvejevic diz que ouviu um conselho de um sábio do Oriente que era assim: "Não descrevas lugares por onde passou muita gente. Alguém o fez já e melhor do que tu." Felizmente Predrag Matvejevic não seguiu o conselho do sábio e escreveu sobre a Sereníssima um livro precioso. Bronx não contraria um sábio, muito menos do Oriente.

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David Grossman


Cada vez mais escuro. Cada vez mais difícil.E apesar de tudo continuar a escrever.

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Cortado ao Meio ( ii)


Juan Muñoz


O anão suicida cortado ao meio
o pénis
isto é uma história mental
escapou à partição
lê a biografia de um rei antes que
acabe a monarquia
caça a sua metade numa finca
argentina
anoitece e a metade cega vê a outra
reflectida no vidro
já não consegue calar
as criancinhas
quando choram
por motivo
dos dentes
de cólicas
de dor de ouvidos
do medo
do negócio de manter a mãe
de mama na arreata.

Cortado ao meio conhece
a natureza do Mal:
a banal mortífera cruel
natureza dos homens e mulheres
que há três mil gerações
vieram
os que vieram
empalidecer para o frio
do Norte
onde alguns
algum tempo depois
foram cortados ao meio
e assim compreenderam

não compreenderam

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06 janeiro 2009

Praça do Duomo, Milão



Esta manifestação teve lugar em Milão, no sábado passado. Podia ter acontecido em Londres, e aconteceu. Ou em Paris, Madrid, Lisboa.E em Jerusalém. E aconteceu. Com pequenas variações. Em Lisboa onde o Colectivo Abu-Jamal, uma das dezassete organizações que convocou o protesto, ainda conta com poucas adesões, a oração a Meca não foi incluída. Mas em todas as capitais europeias, e em Israel, é possível rezar virado para Meca à porta de uma catedral ou de uma sinagoga. Em algumas cidades é igualmente possível queimar bandeiras e ouvir um imã terrorista, sem perseguição judicial. Nem sempre foi assim. Foi preciso um longo caminho até que as mulheres e os homens da Europa pudessem criar cidades imperfeitas como estas mas onde gente simples ou mesmo simplória pode ver as fotografias de Robert Frank no Palazzo Reale ou de Lisete Model na Corso Como, onde as mulheres beijam e são beijadas nas esplanadas e se vê Caos Calmo num cinema de bairro. Claro que não chega. Que há Bossi e Berlusconi. Que em alguns pontos assoma uma cidade subterrânea de exclusão e ódio. Que a tibieza de sete anos de governo de esquerda permitiu à direita chauvinista recrutar votos na maioria antipolítica. Mas só ajoelhamos , só levantamos o rabo quando queremos. E a fatwa da nossa dissidência é apenas o desprezo e a compaixão dos nossos amigos, humanistas selectivos.

Entre mais tarde ou mais cedo, entretanto:



"No levantamento de uma forte corrente da opinião pública internacional, partilhando a convicção de que a paz é possível – a paz, não apenas mais um cessar-fogo – e pressionando os governos para que tomem iniciativas sérias nesse sentido, residirá mais tarde ou mais cedo uma boa parte da solução." (lido aqui)

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Bellini & Bronx



Num bar da Fondamenta Zattere ela pediu um Bellini. Porque um Bellini era o que serviam aos visitantes no Harry's Bar, no Danieli ou no Cipriani. Ele olhou demoradamente a lista dos cocktails e escolheu um Bronx.

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05 janeiro 2009

Capela Scrovegni



Todas as exposições deviam ser assim. Pagas - a conservação das obras-primas custa dinheiro- à guarda de mulheres de meia idade directamente interessadas na exposição, de mãos e rosto fino,voz doce, sempre prontas para uma explicação e que quando repreendem é com suavidade. Com marcação prévia e tempo limitado.

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Milão, este sábado



Este sábado, na Piazza del Duomo, na cidade de Milão. Um numeroso grupo de pessoas, quase todos homens, avançou a partir da Porta Venezia em direcção ao Duomo. Com os milaneses nos bronzeadores de montanha, o centro de Milão estava ocupado por gente simples, da Lombardia, tirando fotografias de família. Avisados pela polícia afastaram-se. Quando a manifestação chegou à praça já um grupo entoava palavras de ordem. Depois, virados para Meca- é notável como mesmo na Piazza del Duomo sabem a direcção de Meca e como conseguiram, sem perdas, o que nem sonharam os otomanos - rezaram e ouviram um líder religioso. Jovens com olhos de ódio, da segunda geração de imigrantes, alguns palestinianos, outros segundo os jornais, egípcios e magrebinos, queimaram bandeiras do Estado de Israel. Grupos italianos ligados à Rifundazione e a outras organizações, estavam entre os manifestantes, em grande coerência martirológica, embora presuma que não se prostraram no momento das orações, aproveitando a liberdade de culto. O arcebispo de Milão não reagiu, felizmente, preocupado com a pílula, a eutanásia e o casamento gay.

Para não dar azo a muitas especulações vou sintetizar: quero que Israel ganhe a guerra contra o Hamas, o Hezbollah, o Irão e os fundamentalistas árabes. Que os palestinianos tenham uma pátria. Que em Israel e na Palestina os moderados consigam impor uma negociação. De resto, o que sinto perante esta e outras guerras foi hoje dito exemplarmente pelo Rui Bebiano.

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