30 julho 2008

Contra aquilo que não se sabe como acaba



A notícia passou ontem nos jornais da noite e hoje já foi comentada aqui. O Comando Marítimo do Sul proibiu a massagem nas praias. O homem, Comandante Reis Agoas, foi frontal: "sabe-se como é que isto começa e não se sabe como acaba". Eu desta vez concordo. É como as bolas de Berlim. Sabe-se lá como aquilo acaba. E os castelos na areia. E o banho-de-mar. E as avionetas a passarem nas nossas costas. E o vólei de praia. Sabe-se lá como é que aquilo começa. E a conversa. A conversa na praia. E a preia-mar. E as gaivotas. As pulgas da areia. As algas, os peixes-aranha, as medusas. E a leitura na praia. Sabe-se como acaba? E não é só no Sul. O grupo de leitoras de Ruy Belo que se reúne em Caminha, começa com As Margens da Alegria mas acaba sempre a fazer chichi no mar. O Comando Marítimo do Norte que se cuide. E o Comando Marítimo da Praia da Consolação. Está alerta. E agora a sério. Sabe-se como é que começa esta gente simpática que proíbe massagens. Mas sabe-se como acaba?

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Helena Matos explica Loures


Zhang Xiaoging

Quando chegou de "umas curtas férias" Helena Matos, a cronista do Público, tinha ao seu” dispor as edições acumuladas que noticiavam” o que se passara em Loures, na Quinta da Fonte. Vinte dias depois era de esperar que Helena Matos soubesse alguma coisa mais do que os jornalistas que arriscaram escrever nesses dias. Afinal não sabe. Se sabe não diz. Os pretos, diz Matos. Já tantos disseram. Os ciganos, diz Matos. Já disseram também. A ladainha exorcista a que Rui Tavares tão bem aludiu, como se uma censura políticamente correcta tivesse, ao longo destes anos, impedido esta gente de dizer ciganos e pretos . E ainda, em Matos, a raiva inexplicada contra “as explicações sociológicas”. Será que têm saudades das explicações policiais, ou simplesmente dos comunicados do Governo Civil ou do Ministério do Interior. Ficamos à espera, 20 dias depois , umas curtas férias depois, que Matos nos explicasse um pouco de Loures. Afinal o tema era outro. Ela simplesmente queria constatar que os jornalistas não tinham palavras para a realidade. E desta constatação parte para uma história saborosa sobre os tempos da descolonização, o regresso dos colonos e a falta de palavras para, nesses anos da década de setenta, nomear os refugiados brancos. Para Matos há sempre um culpado: os jornalistas e a nociva ideologia “progressista” que estes (todos, sem distinção) servem. Não lhe passa pela cabeça que possa haver outras causas. Se as férias curtas se repetirem, ousaria aconselhar a Helena Matos um livro de Sebald, A História Natural da Destruição. A destruição sistemática e punitiva da Alemanha nazi já militarmente derrotada foi silenciada pelas vítimas, portadores de um tabu tácito, que a sua bem recente condição de verdugos parcialmente explicava. Demorou muito tempo até haver palavras para nomear a destruição operada pela RAF e pelas tropas soviéticas na marcha para Berlim. Em alguns sectores, como o da violência sexual, esse silêncio nunca se quebraria, e mantém-se até à actualidade.

(publicado tb. no Blasfémias)

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28 julho 2008

O PINacionalismo Russo




Acho que o Estado moderno deve assentar em regras claras, resultantes de consensos e aplicadas de forma universal. A corrupção é a violação destas normas por parte daqueles a quem confiámos a sua aplicação. Teoricamente somos todos contra a corrupção. Mas quase todos somos corruptos se da corrupção retirarmos vantagem e quase nenhum de nós se mobiliza contra a corrupção, excepto se os resultados da corrupção perturbarem de modo sensível a nossa qualidade de vida.
Hoje, o jornal anuncia que 529 hectares de uma zona de Faro onde não se pode construir foram vendidos por mais de 50 milhões de Euros. Uma empresa de capitais russos, através de um escritório inglês, comprou estas áreas do pré parque e do Parque Nacional da Ria Formosa. O presidente da Câmara de Faro disse ao Público que admite que possa surgir na zona um Projecto PIN que “permita ultrapassar as actuais restrições à construção.” Projectos PIN, ficamos a saber, são Projectos de Interesse Nacional. Então a história completa conta-se assim: o interessa nacional proibia a construção na área. Mas se se conseguir um projecto PIN muda o interesse nacional. Os capitais russos e os escritórios de advogados ingleses interpretam melhor o interesse nacional que os paisanos locais. Quem tem 50 milhões para estudar o interesse nacional chega a melhores resultados do que quem nem dinheiro tem para pagar aos cantoneiros.

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A responsabilidade individual


Zhang Xiaoging

Rui Tavares escreve hoje sobre ” a responsabilidade individual de alguém que participa num debate público”. Acho o tema fulcral, hoje em que quase todos, de uma forma ou outra, intervimos em debate público. Escrevemos, aceitamos dar a nossa opinião, subscrevemos petições, reclamações, manifestos, usamos Tshirts ou pins com mensagens, ou simplesmente votamos, entregamos a alguém o nosso voto para que um programa tenha condições para ser cumprido. Somos responsáveis. Quando defendi publicamente a despenalização do aborto responsabilizei-me pelo cumprimento de um programa de interrupção da gravidez, a pedido da mulher, em ambiente seguro. Quando um ano depois vejo os resultados fico contente. O governo, o ministério da Saúde e o Serviço de saúde cumpriram e os resultados são satisfatórios. Fizeram isso sem precisarem da pressão dos movimentos sociais. Merecem aplauso. Com o aborto despenalizado, sem mulheres presas nem castigadas pela infecção, pela hemorragia, pela infertilidade ou pela infâmia podemos discutir melhor o aborto. Ficámos mais livres. Mas eu devia ter acompanhado melhor o processo de cumprimento da lei. A minha responsabilidade individual exigia-me isso.
Se os bloggers do PS censurassem publicamente Martins quando ele foi arrogante contra Cravinho e dissessem: sinto-me arrogante, sinto que esta arrogância não favorece a luta anti-corrupção. Se os bloggers do PSD que consideram inaceitável para o ambiente uma intervenção pública como a de Jardim e Ramos, escrevessem: sinto-me insultado com estes insultos. Se os bloggers do BE reprovassem claramente a cultura de morte dos movimentos medievais que cercam o Estado de Israel e dissessem: o Hamas, o Hezbollah são movimentos medievais . Se os bloggers do PC dissessem, de cada vez que um texto abjecto é publicados no resistir.info ou no Avante: é um texto abjecto, sinto-me abjecto. Se isso acontecesse as coisas melhorariam. Os arrogantes, os terroristas da palavra e da bomba, os adeptos de agendas escondidas continuariam a existir. Mas sentir-se-iam mais isolados.
Vão dizer que esta responsabilidade individual é ingénua, curta. Que enquanto dela falamos os discípulos de Maquiavel decidem do que importa. Das nossas vidas. Talvez. Mas os resultados são
conhecidos. Os resultados condenam-nos a um futuro miserável. Se tentássemos de outra maneira? Se essa outra maneira começasse connosco?

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A Festa. Toda a Festa.


Dong He


Hoje é o dia da Festa do Povo Madeirense. Os humanistas gostam de falar do Povo e, no jogo democrático, por demagogia ou pedagogia, não há candidato a lugar, da Junta de Freguesia ao Parlamento, que não teça loas ao povo, ao Povo, seja lá isso o que for. Individualmente tomadas as pessoas são , geralmente, excelentes. Numa cleptocracia são ladras. Num sistema assente na delação a maioria das pessoas são bufas. Na História da Pide , Irene Pimentel relata um ofício de um inspector que pede para não aceitarem tantas denúncias, pela dificuldade que tinham de confirmar a sua veracidade e por não ser plausível haver tantos opositores. No Chão da Lagoa o povo faz o que se lhe pede. Come, bebe,dança e aplaude. É assim desde que as lagoas têm chão. Jardim faz isto de olhos fechados. Chega, percorre as 56 tendas, em cada uma bebe um copo. No início está desinibido e as reacções parecem rápidas. Com as barreiras morais diminuídas os jornalistas vão registando a perda progressiva da autocrítica o aumento da agressividade , a megalomania e a valentia . Hoje quando lhe perguntaram se não respeitava o Presidente Nacional do Partido ele respondeu que era ele o “Presidente Nacional do Partido da Madeira”. A aparência ruborizada, a euforia, as oscilações do humor predominam. Depois vem a fase de fadiga mas como coincide com o grande discurso, Jardim faz apelo aos condicionamentos e aos conteúdos destrutivos para contrariar a sonolência . Atrás dele o povo do palco, a nomenklatura do PSD Madeira, baloiça a cabeça com gravidade sublinhando as banalidades da intervenção. Mas se a fixação da câmara demora, perdem a compostura, trocam segredos e riem às gargalhadas, fora de tempo. Os jornalistas escolhem habilmente as imagens e o texto. Como Jardim é um case –study tem que haver qualquer coisa de insultuoso, báquico, popular . Mas com limites. Nunca nos deram o fim de festa. Onde é que esta gente urina, vomita, entra em coma. Onde é feito o atendimento primário. Como reentram nas camionetas.

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Alberto Martins ao fim-de-semana


Wu Desheng


João Cravinho deu este fim-de-semana uma entrevista em que fez o balanço da corrupção no nosso país. A corrupção é baseada no Estado, disse ele. Aumentou. As medidas que propôs foram derrotadas pelo seu próprio grupo parlamentar e as que chegaram à fase de aprovação são decorativas.
Alberto Martins, o líder do grupo parlamentar socialista, reagiu: que o grupo não recebia lições de corrupção, perdão, de anti- corrupção. Que Cravinho tinha deixado o combate a meio, para aceitar um alto cargo de um Banco Europeu. (dos Telejornais)
A primeira afirmação é uma bravata sem possibilidade de confirmação. Martins pode falar por ele. Tenho-o por um homem sério, um parlamentar novecentista capaz de conviver com o fantasma de Antero, os ácaros do socialismo de gaveta e os novos camaradas sempre em trânsito para as empresas . Se Martins conhece o curriculum dos seus pares no que diz respeito à matéria, de Vara a Coelho, sem falar nas modestas eminências locais e regionais, podia dar conhecimento aos eleitores, e deixar-se de generalidades.
Mas a segunda afirmação é insultuosa e da tradição liquidacionista. Os argumentos de Cravinho saíram diminuídos por ele ter aceitado um cargo institucional europeu?
Foi sempre assim na má política: é mais fácil desqualificar um opositor que perder meia hora com as suas razões.

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27 julho 2008


DrGica


Para onde foi o calor do verão quem
gelou os rios e os lábios
do verão

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26 julho 2008

Dos Jornais

Li alguns jornais ao longo destes 15 dias. Apesar do verão e do início das férias continua o ruído insuportável da nossa classe politica, tão vazio de surpresas que o silêncio de Manuela Ferreira Leite já consegue animar VPV com um entusiasmo que lembra um tremor num rigor mortis.



Sarah Hobbs


Para o caso de não terem dado conta registei algumas notícias sensacionais, daquelas que nos fazem acreditar um bocadinho na espécie humana: Luís Osório (o jornalista que foi uma esperança de uma geração) foi convidado por Jardim Gonçalves ( que foi uma realidade transgeracional) para seu biógrafo. Já se começaram a encontrar, por enquanto apenas uma vez por semana. Recomendo a Osório que se encontre também com Eduarda Maio, porque sendo a biografia pouco cultivada entre nós e não lhe conhecendo curriculum no género , uma pequena troca de experiências pode ser proveitosa.
Num hotel de luxo de Luanda um jornalista do Expresso encontrou, em negócios, Luís Nobre Guedes, José Luís Judas e o anterior director da PT. Coelho, o bulldozer mota-socialista, tinha passado por lá.
A capa da revista New Yorker que retrata Obama na Sala Oval vestido de muçulmano, foi reproduzida em todo o lado, muitas vezes descontextualizada. JMF escreveu sobre um assunto um bom editorial, uma profissão de fé liberal nos EUA que só peca por não incluir uma condenação vigorosa de Guantanamo.
Rui Tavares deu luta aos que acham que o debate sobre a Quinta da Telha inibe a esquerda. Mas ou ninguém lhe respondeu ou ele se cansou. No Eixo do Mal Daniel Oliveira está cansado, irritado e com falta de argumentos. No Eixo do Mal falam todos ao mesmo tempo, sob o olhar tolerante do moderador.
O melhor texto que pude ler, vem assinado por José Vítor Malheiros ( Público, 22 de Julho de 2008, não disponível gratuitamente na net, mas se houver interessados posso disponibilizar) e é sobre a Directiva do Retorno, essa infâmia a que ele chama, com propriedade, a Directiva da Vergonha.

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Paisagem



Sarah Pickering



A maior dor do mundo a minha
velha dor tão rara tão
inesperada tão brutal que não dá
tempo para chamar fugir tentar
a posição que alivia as suas tenazes
negras

Respiro como se lhe obedecesse
e as garras cravam-se no mediastino
sobem à nuca como um calor maligno
paralisam os braços
verticais

Respiro
até ao degrau onde a violência se suspende
respiro
e é a dor que respira por mim e é dela
o hálito o ritmo a profundidade e é dela
este suor tão estranho

Quem pode escolher essa zona
do meu corpo como habitação Que vitória obterá
se me levar

Se voltar se continuar se aí não se detiver
vou talvez vê-la em combustão
nos lugares centrais onde aperta vou vê-la
regurgitada pela boca ou tão extrusiva que vem
pelo tórax salta entre as omoplatas
a dor maior do mundo a minha
velha dor tão rara

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Epistolário Russo


David Claerbout


Predrag Marvejevitch é um croata que hoje vive entre Paris e Roma, entre o asilo e o exílio, como ele diz. Em 2004 os nacionalistas Croatas condenaram-no à prisão. Nessa altura já tinha escrito alguns livros importantes sobre a dissidência e Breviário Mediterrâneo, um livro sem género sobre o Mediterrâneo, que Pedro Tamen traduziu e a Quetzal editou por volta de 1995.( referências : Rui Cóias, Miguel Marujo e João Paulo Sousa)
A outra tradução de Predrag Marvejevitch existente entre nós, também da Quetzal, leva o nome de Epistolário Russo e reúne textos escritos entre 1972 e 1992.


AFP Denis Seniakov

Este livro reúne impressões de viagens, petições a favor de escritores soviéticos presos ou cujas obras eram interditas, e vários epitáfios: de Bukharin, Kropotkin, Gorki, Trotski, Nadeja Mandelstam e outros, uma legião infindável de perseguidos, desaparecidos, torturados, cujo nome quase foi apagado da história.
Entre eles Karlo Steiner, um comunista nascido em Viena que, vivendo em Moscovo em 1936 foi apanhado nas purgas estalinistas de 1936-1938 e passou vinte anos na Sibéria- 7 000 dias. Steiner sobreviveu, foi localizado e resgatado por intervenção de Tito após a morte de Estaline. Predrag, na altura membro da Liga dos Comunistas Jugoslavos, leu os relatos de Karlo Steiner, a quem chama um herói do nosso tempo, e fez tudo para que o livro fosse publicado na Jugoslávia. Como de facto o foi, anos antes do Arquipélago Gulag ser conhecido. Sete mil dias na Sibéria foi traduzido em muitas línguas, desconheço se terá tido tradução na nossa. Segundo Marvejevitch, o livro pôs Steiner “em comunicação com leitores de várias gerações e permitiu-lhes ter uma ideia sobre que tipo de razões levaram os jovens do tempo de entre guerras a aderir ao comunismo”. Mas é também, claramente, um depoimento sobre as características do comunismo soviético, e a monstruosidade da repressão .
Outra das figuras salientes do Epistolário é Varlam Chalamov. Já aqui falei, a propósito de uma nota sobre o Straw Dogs de John Gray, do autor de Histórias de Kolyma. Kolyma é uma zona do norte da Sibéria, próxima do Alasca. O número de vítimas entre os deportados para Kalima, até ao advento de Gorbatchov, é sujeito a debate, mas pode ter atingido três milhões de pessoas. Transportados em vagões de gado ao longo de mais de trinta dias, chegavam ao grande norte onde trabalhavam na exploração mineira em condições de escravatura e o extermínio parecia ser um objectivo tão importante como a obtenção de ouro e carvão. Histórias de Kolyma é uma obra literária, uma fonte de reflexão sobre a natureza humana.
O livro Epistolário Russo mantém algumas áreas de actualidade. A esquerda não estalinista do Leste europeu, onde existiu, não conseguiu produzir um modelo de sociedade que se demarcasse do comunismo real, nem suster a caixa de Pandora que, após a morte de Tito, soltou os demónios dos nacionalismos, os Milosevic e os Tudjmans. As oposições que se forjavam na URSS dos anos 70, baseadas num regresso ingénuo ao cristianismo, foram trituradas pelo capitalismo real. Personagens como Predrag Marvejevitch estão no exílio, não têm lugar neste mundo a preto e branco, como sucedeu ao pai, um judeu fugido da Rússia.
Simultaneamente a leitura do livro desencadeou-me uma onda de angústia e culpabilidade. Nesses anos 70 em Portugal, Óscar Lopes era para mim um modelo de investigador rigoroso e cidadão integro, um homem discreto, perseguido, afastado do ensino. Lopes visitou a URSS e publicou um livro, Convite para a URSS, na Inova, do Porto, em data incerta, mas próxima das primeiras visita que Predrag Marvejevitch refere. Nessa altura o Arquipélago Gulag começava a ser conhecido, Siniavski e Daniel estavam presos, Brodsky implorava para que o deixassem continuar a ser um escritor russo, Akhmatova e a mulher de Mandelstam eram humilhadas, Bulgakov não tinha sido publicado. As Uniões de Escritores, anfitriãs destes turistas privilegiados, eram dirigidas por funcionários preguiçosos, alcoólicos, sem talento nem prestígio junto dos colegas. Predrag Marvejevitch questionou, dirigiu queixas ou interrogações, angustiou-se, envergonhou-se. Óscar Lopes escreveu um livrinho que não guardei, mas li despreocupadamente. Já não era a Albânia em festa do baiano que os meus pais adoraram, mas, adaptada à índole pouco expansiva do Professor, mantinha os mesmos ingredientes de plena aceitação.
Karlo Steiner e Chalamov morreram pobres e sozinhos apesar das circunstâncias políticas dos seus países serem, então, muito distintas daquelas em que sofreram perseguição e injúria. Não sei como acabará o exílio de Predrag Marvejevitch, um homem que se pensava jugoslavo. Eu fui cúmplice, para sempre, dos horrores de Kolyma.


Liu Zheng


Epistolário Russo
Predrag Matvejevitch
trad: Pedro Tamen
Quetzal

Sete Mil Dias na Sibéria
Karlo Steiner

Convite para a URSS
Óscar Lopes
Ed Inova

Kolyma Stores
Varlam Shalamov
Penguin ed.


29/7/08: Ler o texto de João Paulo Sousa em Da Literatura sobre Danilo Kis, um amigo de Matvejevitch

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21 julho 2008

Pediatria


Martin Parr


Ana, esperamos pelas primeiras chuvas. E pelos teus dedos finos e ágeis.

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Post adiado


Otto Lange

Hoje tentei escrever um post sobre o Bastonário da Ordem dos Advogados mas não consegui. O José Miguel Júdice não estava disponível para comentar.

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20 julho 2008

A Juventude do Partido Socialista antes de banhos


Erwin Wurm

Mexia escreve ontem uma excelente nota sobre Leonard Cohen onde recorda que o canadiano errante se inscreveu uma vez no P. C. Canadiano para seduzir uma rapariga. Se há, na Juventude Socialista, alguém movido por estes nobres ideais que me perdoe as palavras que se seguem. A JS é uma máquina eleitoral do Partido Socialista, que recebe rapazes e algumas raparigas em trânsito para assessorias ministeriais sem avaliação de mérito, direcção do IPJ e suas delegações, vereações camarárias, Parlamento europeu ou apenas gabinetes de advogados com negócios nas ex-colónias. Antes das eleições, os jovens socialistas lançam umas campanhas baçamente destinadas á captação de eleitorado incauto. Este ano o tema é o casamento entre homossexuais. O tema é respeitável, faz parte da carta de direitos fundamentais. Embora a discussão do casamento me entedie e ache o matrimónio adequado apenas para as camas dos albergues espanhóis, faz parte da minha educação achar que, se eu posso aceder a tal contrato, ninguém dele deve ser excluído. O que é caricato no empenhamento destes jovens é a maneira leviana com que o fazem. Não pertencem ao partido no poder? Não são camaradas do eng. Sócrates e do eng. Coelho? Pode-se ser pelos direitos sexuais e surdo aos direitos sociais, culturais, económicos, políticos. É evidente que sim, mas a fraude está em reclamar para tal objectivo a apelação socialista.
A homilia esteve a cargo do Alberto Martins. Segundo o jornal, o Alberto garantiu que o tema seria discutido depois das eleições e "apelou aos jovens para arriscar o sonho e constituir a utopia". Enquanto são jovens, não é Alberto? Só lhes fica bem. Lá estão vocês para os acordarem do sonho e lhes agendarem a utopia para a próxima legislatura.

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17 julho 2008

«Não há alternativa ao capitalismo»



(MICHAËL BORREMANS - Various ways of avoiding visual contact with the outside world using yellow isolating tape)

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16 julho 2008

«A desconfiança alastra-se e o pessimismo pode acentuar ainda mais a crise do sector financeiro»


(MICHAËL BORREMANS, The German & Sociedade de Porcelanas de Coimbra)

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15 julho 2008

«Quando tudo é escondido tão bem, não se pode exigir às autoridades que tivessem detectado "acções tão bem urdidas"»



(MICHAËL BORREMANS, The Examination & Fábricas Triunfo - Loreto)

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«As autoridades não viram irregularidades porque não podiam ver»



(MICHAËL BORREMANS, The Examination & Fábricas Triunfo - Loreto)

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14 julho 2008

«A Autoridade da Concorrência não identificou qualquer infracção à lei da concorrência »



(MICHAËL BORREMANS, The Examination & Fábricas Triunfo - Loreto)

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13 julho 2008

Vou ali já venho, pode ficar com o chip


Lu Peng

Senhor primeiro ministro, excelência, escusa de gastar dinheiro com o meu chip. Se enviar, eu devolvo. Eu praticamente não me vou mexer, pelo menos nos próximos tempos, entre a rua M. e a rua Z. , ruas pacatas, onde nunca Vexa gastou dinheiro com segurança e agora, bem vê, não vale a pena. Se por acaso, num ímpeto eu correr, pode Vexa taxar-me por excesso, eu pago, como sempre paguei, obedientemente, às vezes com juros e outros emolumentos, mas sempre paguei, a Vexa e aos que legitimamente se respaldam em Vexa, a PT, a Brisa, as Águas da Cidade, o Gás da Lusitânia, a Alta Regulação da minha Corporação. Pode Vexa aplicar o dinheiro que gastaria com o meu chip, e com o esforço inútil para o localizar, em actividades prioritárias como a defesa da fronteira marítima da invasão das barcaças africanas, a instalação de Centros de Internamento Provisório e de Centros Provisórios de Educação antes da Expulsão Definitiva. Sem comenda para lhe devolver, aceite senhor primeiro-ministro, a recusa humilde deste chip. Já sabe, são dez milhões menos um. Nada que o incomode. Como um voto branco. Nulo.

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Uma santa latino-americana para a Igreja de Roma



Deus, o deus de Roma, libertou Ingrid das FARC. Este milagre não diminui o êxito das Forças Armadas da Colômbia e da assessoria israelo-americana, da posição francesa, da negociação que envolveu a maior parte dos países que têm opinião pública. O deus de Roma, embora às vezes tenha de escrever por linhas tortas, usa, sempre que pode, as que mais merecem. O deus de Roma precisa de uma santa para as massas latino-americanas e só se Bento XVI e os que o aconselham estiverem distraídos é que desaproveitarão o transe místico de Ingrid.

O fervor de Ingrid Betancourt não retira uma linha ao que aqui escrevemos nos últimos anos. É fácil escolher entre um refém e o seu carcereiro. Um combate apoiado no rapto, na extorsão, no tráfico de drogas não trará mais liberdade, mas mais escravidão. Entre Chavez e Uribe, agora apaziguados, tem que haver mais mundo.

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12 julho 2008

«A iluminação artificial dos postos de trabalho nos modernos espaços atemporais»


(MICHAËL BORREMANS, The House of Opportunity - Voodoo! & Fábrica O Progresso da Pampilhosa)

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11 julho 2008

«O accionismo criativo da banca»



(MICHAËL BORREMANS, The Filling & Fábrica O Progresso da Pampilhosa)

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10 julho 2008

O Sumol de laranja


Mert and Marcus



Fiel à minha determinação de não escrever, não serão estas poucas linhas que irão empequenecer o meu esforço. Cinco minutos não desmentem um dia, muitos dias, uma semana. Fumar um cigarro não me transforma num fumador. Nem é bem escrever o que agora faço. O ar entra pela janela da direita e sai pela da esquerda, aqui onde me encontro. O ar circula, como a água, como devia circular o sangue, como circulam as palavras. Pego-lhes com cuidado. Algumas palavras queimam. Pesam. Têm gumes acerados. Menos estas, que uso. Estas palavras são de uso vulgar e registam o que valeu a pena.
Valeu a pena o Sumol de laranja. Não me lembro de mais nada tão excitante, que vibre assim nas mucosas do palato, das fauces, da orofaringe, que preencha tão completamente os receptores da sede e vá arder à distancia, levando pelos nervos esfenopalatinos uma dor boa que não se conforma com a extinção e pede sempre mais.

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09 julho 2008

Os Livros Ardem Mal


Richard Wentworth


Pelo segundo ano consecutivo os meus meses foram pautados pela celebração literária, aqui frequentemente publicitada, que, na primeira segunda-feira de cada mês, um grupo de professores da Faculdade de Letras de Coimbra, leva a cabo no foyer do TAGV, a que chamaram Escaparate e depois Os Livros Ardem Mal. Comprei e li quase todas as sugestões de Luís Quintais, de John Gray a Edelman , de Paul Bowles a JG Ballard, passando por esse inesquecível O Antropólogo Inocente de Nigel Bartley. Rui Bebiano parece lamentavelmente ter trocado o palco do TAGV pela coluna da revista do Círculo de Leitores, depois da remodelação de F.J.Viegas, embora não consiga descortinar a incompatibilidade das duas prestações, tanto mais que o Rui é um inesgotável leitor e dono de um método invejável. Apolinário assegura, na reunião, a presença da literatura espanhola, de Pessoa e de Eça de Queirós.
Ao longo dos dois anos de existência o Escaparate reviu a sua fórmula e soube ganhar público sem perder qualidade. A associação com a RUC entrega a sonoplastia a um personagem pouco amável e bastante incompetente, mais próximo do body combate que dos estudos literários, incapaz de ensinar aos membros da mesa que devem falar para os microfones e indiferente à penumbra auditiva das partes laterais do átrio, onde se amontoam pessoas, muitas delas sentadas nas escadas.
Se a sessão tiver uma quebra, como por vezes acontece quando o Osvaldo se alheia do tema, pode-se sempre olhar pelas vidraças e ver os plátanos, e entre as suas copas o tronco putativo de uma palmeira que, como um arranha – céus, cresceu para a luz. Pode-se também pensar : onde estão os professores e os estudantes das Letras ( sessão com Frederico Lourenço), os historiadores (Irene F. Pimentel), os generalistas (Mexia), as prostitutas (Ana Lopes), os estrategas da alterglobalização, os militantes dos abaixo-assinados?
Osvaldo Manuel Silvestre é o centro de resistência das sessões, o lugar incombustível dos livros. Nas escolhas do mês, na apresentação e no interrogatório dos convidados, na selecção e na leitura de textos, o que Osvaldo diz e o modo como diz, tornam Os Livros Ardem Mal o maior acontecimento cultural da cidade, uma luz bruxuleante no cinzento dos dias analfabetos de Coimbra. A luz que vem de Carlos de Oliveira, Ruy Belo, Luiz Miguel Nava mas também de Musil e de Coetzee, a luz da literatura e a sua sombra.

«Os meninos de oiro»



(MICHAËL BORREMANS, The Constellation & Sociedade de Porcelanas de Coimbra)

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08 julho 2008

«Para haver investimento em infra-estruturas públicas não é necessário ter dinheiro público disponível»



(MICHAËL BORREMANS, Trickland & Fábrica O Progresso da Pampilhosa)

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07 julho 2008

«O adorável negócio das festas»



(MICHAËL BORREMANS, Four Fairies & Sociedade de Porcelanas de Coimbra)

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05 julho 2008

«A renovação do tecido produtivo»


(MICHAËL BORREMANS, The Journey & Sociedade de Porcelanas de Coimbra)

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04 julho 2008

Going Forward

03 julho 2008

«A classe média tem sofrido muito»




(MICHAËL BORREMANS, The Barn & Sociedade de Porcelanas de Coimbra)

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Ingrid Betancourt


Para Ingrid Betancourt acabou o cativeiro da selva.

02 julho 2008

« €.€.€. », disse Salvador de Mello



(MICHAËL BORREMANS, The Preservation & Fábrica O Progresso da Pampilhosa)

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O barulho de noite

Acorda. É de noite. O pino da noite, a noite a prumo, a hora em que caçam as corujas, os homens velhos se levantam para mijar e escrever poemas, Elisabeth Costello adormece, sem afecto, sobre a mesa de Rayment. Ouve um barulho na noite da cidade. De vez em quando passa um carro e, embora seja Verão, é como se arrastasse a água das sarjetas. Mas há outro barulho. Que se torna distinto depois do carro passar. Um barulho mecânico, pulsado. Muito próximo, pode ser o sangue latejando nas têmporas. A harpa insuportável. A revolta doméstica dos aparelhos de cozinha, como nos contos infantis. Pode ser longe. Um ruído de soma. O sono das mulheres e dos homens nas suas camas. Um milhão de vezes a corrente de ar na árvore dos peitos, dezasseis a sessenta vezes por minuto. Adormece.

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01 julho 2008

«O plano que promove a excelência e a empregabilidade»



(MICHAËL BORREMANS, The Assistant & Sociedade de Porcelanas de Coimbra)


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