31 dezembro 2009

Guido Boggiani (1861-1901)



Nos finais do século XIX o italiano Guido Boggiani, que em Itália tinha tudo o que um homem pode querer, mulher e filhos,entrou nas terras do Grande Chaco onde desenhou e fotografou os índios chamacocos. Desapareceu numa dessas expediçoes. Quase dois anos depois um outro aventureiro, ao entrar nas terras do rio Paraná, encontrou o seu corpo e percebeu as circunstâncias da sua morte. Perto do corpo estava a máquina fotográfica e centenas de negativos. Alguns deles, bem como a história que aqui se narra, estao expostos na cave do Museu de Arte Hispanoamericana Isaac Fernandez Blanco, em Suipacha, Buenos Aires. A exposiçao seguirá depois para Assunçao. Na cave do Palácio Noel estao expostas as fotos de Boggiani. Crianças de ventres luzidios, jovens de rosto fechado e um deles, com dois filhos, que se ri. As anotaçoes dizem exactamente isso, sobriamente: tronco de M. de frente, B. a sorrir. Em Buenos Aires o curador nao quis revelar-nos as circunstâncias da sua morte, nem que motivos a ditaram. Talvez em Assunçao se perceba melhor o que pode levar alguém a morrer nas margens do rio Paraná.

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23 dezembro 2009

Just What Is It that Makes Today's Homes So Different, So Appealing?








Agora que se aproxima a época natalícia e o corropio das compras começou, levando-nos por vezes à exaustão, decidimos sugerir-lhe uns minutos de descanso só para si, longe da azáfama, da marcação infidável de almoços e jantares de Natal.

O Sea Spa da Aldeia dos Capuchos acaba de lançar uma nova massagem própria para esta época de Natal

(continuar a
ler)


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21 dezembro 2009

O gay egoísta


Sarah Moon


Para modernizar a agenda eleitoral, Sócrates, o pior dos farsantes, prometeu o fim da discriminação heterosexual no casamento e convidou um intelectual para o espectáculo. Há sempre um intelectual pronto para morder o isco. Um intelectual ou um operário, no tempo em que havia classe operária. Dizia-se então que não tinham consciência de classe ou que a tinham em excesso, consoante o prisma. Os intelectuais aderiram. Era a sua janela de oportunidade. Como se o engenheiro do Fundão pudesse abrir janelas que não dessem para os pátios do costume: a esperteza, o negócio, a trapalhada, a conciliação sem princípios. Os gays prestaram-se à jogada do mestre beirão. Como as Isildas do costume e as sotainas de naftalina vieram a correr, houve almas distraídas que pensaram estar ali uma batalha ideológica, daquelas que une a esquerda, A Esquerda, esse guarda-chuva virtual que serve de abrigo a tanto malandro. Uma das revelações do ano foi ver a Unidade Simplex, com gente de bem a fazer a campanha do malandro e a perder a tramontana, como sucede nas acções prosélitas. Agora está tudo claro: os gays são iguais, mas diferentes. Para menos. Podem casar mas é-lhes vedada a adopção. Vão lá fazer as porcarias para longe das crianças. Fica assim consagrada a suspeição infamante de serem perigosos para o desenvolvimento da infância. É proibido votar outra coisa que não esta, decretou o chefe. Como se o esclarecimento se fizesse cedendo à ignorância e a justiça pactuasse com a discriminação. História triste. Uma lição para quem se mete com os capatazes da construção civil.

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O cão e o rapaz: manhã de domingo


É difícil escrever sobre isto. Hoje de manhã estava dentro do carro, a aquecer o motor, quando vi o rapaz e o cão. O rapaz tremia. Do frio, da falta de sono e da ressaca. O cão urinava. Era uma micção solene: um cão preto, de pelo lustroso e tamanho médio, com as traseiras ligeiramente flectidas , a mijar na terra argilosa. Um cão mijando de perfil, mijando em efígie. De início desviei os olhos, incomodado. Depois voltei a olhar, evitando cruzar o olhar com o rapaz que tremia. E vi o cão urodinâmico, olhando para o céu baixo dos canídeos, concentrado na micção, impassível. Vi o fluxo constante, o regato que cavava na argila. E percebi a tortura dos cães fechados nos apartamentos, fieis a uma noção alienígena de higiene, educados em absurdas exigências de esfíncteres. Os cães prisioneiros domesticos, dilatando as bexigas ao ritmo de 1-3 cc/kg/ hora, 10 a 30 ml cada hora para este cão médio que agora mija à minha frente, este animal antropocêntrico, pré Copérnico, que dormiu à beira da rotura vesical, como acontece todas as noites em que o rapaz emborca cervejas nas discotecas da cidade e se enchem de mijo, de ureia, um sozinho no apartamento, o outro sozinho na noite , à espera do dia, do rapaz, do cão, da rua, do terreiro.

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20 dezembro 2009

A e Cryo - muros de Coimbra

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15 dezembro 2009

O direito da criança a ser adoptada por adultos que a amem e protejam


Jeanne Letinen


Agora vou dizer o que acho sobre o casamento gay. Não acho nada. Não tenho nada de achar e tenho raiva a quem me pergunta. O que é que eu tenho a ver com a identidade sexual das outras pessoas e com as suas escolhas?
Acho que é "um debate importante". Para quem está na pré-história dos debates. Eu tenho mais que fazer. Como acabar este post depressa para ver se o G. está a mamar bem.
Mas já que estou com a mão na massa, acho mal que tenham separado o casamento gay da adopção por casais homossexuais. Percebo a táctica gradualista. Neste momento histórico há maioria para os direitos conubiais dos homossexuais mas ainda não dá para mais.
Esta táctica paga-se caro. Acho que se deve enfrentar a realidade científicamente. Se há pouca gente para dizer, eu digo: Já vi meninas a embalar metralhadoras e rapazes a dispara com a Barbie. Não conheço evidência séria de que a identidade sexual seja determinada pela família com quem uma criança cresce. E há crianças a mais nos novos Asilos.



There is no reliable evidence that homosexual orientation per se impairs psychological functioning. Second, beliefs that lesbian and gay adults are not fit parents have no empirical foundation.
American Psychological Association, Policy Statement on Sexual Orientation, Parents, & Children,

Research suggests that sexual identities (including gender identity, gender-role behavior, and sexual orientation) develop in much the same ways among children of lesbian mothers as they do among children of heterosexual parents.
American Psychological Association

A growing body of scientific literature demonstrates that children who grow up with 1 or 2 gay and/or lesbian parents fare as well in emotional, cognitive, social, and sexual functioning as do children whose parents are heterosexual. Children’s optimal development seems to be influenced more by the nature of the relationships and interactions within the family unit than by the particular structural form it takes.
Associação Americana de Pediatria

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Não chateiem


Diane Arbus

Para começar uma banalidade: acho que as famílias são importantes. Como lugar de convívio intergeracional, com uma mesa comum, onde além de comida haja calor humano, respeito, amizade, televisão fechada, auscultadores guardados e um tempo para contar e para ouvir. Também acho que o sucesso da espécie humana teve algo a ver com a existência de um pai caçador e de uma mãe recolectora. Mas uma das características da espécie é a diversidade de formas relacionais e sociais e a intervenção da cultura como factor de liberdade e de modulação da brutalidade biológica. A família burguesa vitoriana coexistiu com a prostituição feminina institucionalizada e com a miséria das mulheres operárias, sobretudo aquilo a que Clara Zetkin chamou “o ultraje da exploração das crianças proletárias” no início do sistema fabril.
Nas sociedades ocidentais contemporâneas vários tipos de famílias: famílias “tradicionais” nucleares, monoparentais, recompostas, e a família da Dra. Isilda Pegado, todas partilhando a educação dos filhos com os profissionais das creche e infantários e todas mais ou menos “saturadas” por uma multiplicidade de tarefas, relações e tecnologias enfrentando a ameaça da “fragmentação do caos e da descontinuidade” (Gregen, 1991).

A resistência da família nuclear é patética. Incapaz de enfrentar os monstros do sistema económico que criou, tão ameaçada como as outras, refugia-se no conservadorismo obsoleto: a cena caricata dos jovens que fazem claque às graçolas do Pedro Picoito e ao fim-de-semana recolhem assinaturas contra o casamento gay é uma das expressões deste activismo sem sentido, nem vitórias que não sejam pírricas. Tanta causa neste mundo para abraçar- os que precisam de causas e de abraços. Tanto problema para resolver- os que acham que os problemas se resolvem. Tanta criança debaixo das pontes. E eles preocupados com o casamento gay. Porque é que não vão reciclar o lixo, brincar no campo com os filhos, passear nas montanhas, namorar em qualquer lugar, cozinhar legumes, ler As Ondas de Virgínia Woolf. Porque é que não deixam os outros ser. Simplesmente como eles são. Inteligentes uns, menos outros. De blaser assertoado ou de T-shirt. De sapatos de vela ou Allstars. Como eles, ou de outra maneira. Não chateiem. Deixem ser.

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07 dezembro 2009

Encontro na Disneylandia socialista

~
Aino Kannisto


Queridos Amigos, companheiros e camaradas,

Obrigado pelo convite à Natureza do Mal. Mas não nos podemos ausentar das famílias nesta quadra festiva. Fica para outra altura a viagem guiada à Europa dos trabalhadores.

Saudações

O gerente

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06 dezembro 2009

Os minaretes explicados aos suíços

Um jornal de parabéns: o Público de hoje. O dossier sobre o Islão na Europa actualizado pelo referendo suíço, dito "dos minaretes", fornece informação importante para um debate muito prejudicado pela ignorância e o preconceito. Fiquei a saber que há quatro minaretes na Suíça. E que os cantões com mais muçulmanos não foram aqueles onde o voto proibicionista foi mais expressivo.
A questão dos minaretes, para mim, é uma questão do âmbito dos PDMs. Devem estar, como as torres das igrejas, adaptados ao volume dos edifícios envolventes.
Mas atenção que o debate tem de ser mais profundo. O fundamentalismo árabe é irmão gémeo da islamofobia ocidental. E a ingenuidade dos relativistas, que desarma frente ao rosto velado e à clitoridectomia, não ajuda muito.
É preciso apoiar os moderados islâmicos sem transigência táctica relativamente aos valores civilizacionais que as constituições europeias consagram.

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O pequeno-almoço giroflé


Aino Kannisto

Alguns psicólogos acham que uma das características fundamentais da mente humana e a que mais precocemente confere uma característica distintiva, é a capacidade de elaborar um pensamento contrafactual. O que verdadeiramente interessa, argumentam eles, não é o que aconteceu na realidade, mas o que poderia ter acontecido ou o que virá a acontecer. O bebé não brinca com o seu carro real mas com um carro imaginário, numa pista que agora é Indianápolis e em breve Francorchamps ou uma Nova Interlagos. Jerusalém será sempre a Jerusalém Celeste. Diz-se que algumas mulheres fazem amor de olhos fechados, com o rapaz da praia das Maçãs ou, por vingança, com um marido precocemente envelhecido.
Hoje de manhã fui a uma padaria, ou ao que resta das padarias. E enquanto procurava com os olhos o pão de mistura, ouvia a senhora que me antecedia na fila pedir “uma broinha bem escolhidinha” e três bicos “ bem estaladiços”. Todos merecíamos uma padaria diferente. Um pão de mistura, mas não desta mistura, de outra que no passado tinha um sabor diferente. E uma broinha de Natal, mas não exactamente esta. Bem escolhida, não por ser maior, mas por ter a farinha e os frutos secos na quantidade certa. Um pão bem estaladiço para um pequeno almoço que nunca houve, nem haverá, mas que está permanentemente a ser comprado, secretamente, em todos os balcões de todas as padarias.

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Aminetu Haidar: uma mulher do Mal

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05 dezembro 2009

Um soluço é sinal de morrer


Aino Kannisto

É preciso alguma tensão para escrever. Mas não tanta, não esta. Assim. É preciso alguma angústia. Mas este estado anterior à náusea não consente outra coisa que o silêncio. - Não há fim para o lamento mudo – dizíamos, quando nos roçávamos pelos muros no tempo da Nouvelle Vague. No tempo dos cartuxos, Rosa. Não devíamos ter brincado com coisas tão sérias. Sim, há um castigo para toda a nudez e um castigo para toda a imprecação. Voltarão todas as estátuas derrubadas. Voltará o sarampo e o garrotilho. E a peste bubónica e a cólera. Na semana passada vi uma criança que sofria. A criança soluçava. O soluço era o menor dos seus sintomas. Mas alguma relação terá de haver entre o soluço – um sintoma menor- e o grande mal que a consumia. Talvez que investigando o soluço pudéssemos chegar ao vómito, à suboclusão, à dismotilidade. Quem assim discorria era eu, para o meu Mestre compassivo. E ele, depois de muito pensar, disse-me:
- Quando Afonso de Albuquerque regressava a Goa, vindo de Ormuz, recebeu a notícia de que o rei o substituira. Este rei, um fraco que não resistia aos intriguistas da corte…
- D. Manuel- interrompi .
- Esse- continuou o Mestre. Nomeara para o cargo um dos seus inimigos. Então, no barco, com Goa à vista, Afonso de Albuquerque ditou a sua última carta, que começava assim:
Senhor. - Eu nam escrevo a vos alteza per minha mão, porque, quando esta faço, tenho muito grande saluço, que he sinal de morrer.

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