30 setembro 2009

Se numa noite de inverno um viajante, que história lá ao fundo espera o fim?



Som: Symphonie pour un homme seul, Pierre Schaeffer et Pierre Henry, 1949

se numa noite de inverno um viajante, fora do casario de Malbork, debruçando-se da escarpada falésia, sem temer o vento e a vertigem, olha para baixo onde a sombra se adensa, numa rede de linhas que se entrelaçam, numa rede de linhas que se intersectam, no tapete de folhas iluminado pela lua, à volta de uma cova vazia, que histórialá ao fundo espera o fim?

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27 setembro 2009

O eleitor dispõe de um voto singular para votar em listas plurinomiais, fechadas e bloqueadas




Fotografia: Marisa G.

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26 setembro 2009

Top Agradecimento


Ao masson, sempre tão secreto, com quem estou quase de acordo.

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25 setembro 2009

Agenbite of Inwit (2)


Yeondoo Jung

Acabou o voto ideológico. Ninguém vota em Jerónimo por causa do internacionalismo proletário, nem em Sócrates pelos valores. Excepto Júdice. Ontem, numa rua do Porto, Aguiar Branco e dois funcionários da sede de Cedofeita pegaram literalmente na senhora ao colo e gritaram:
- Vitória.
Mas, até Pacheco Pereira explicar, ninguém percebeu a que se referiam.
O único voto ideológico é o voto no Bloco. A estratégia pedagógica do Bloco colocou Louçã em primeiro plano para evitar uma identificação pessoal, fácil mas efémera. Numa campanha em que não se viu Marisa Matias, quem votar no Bloco vota em perfeita consciência e anti-climax. Como deve ser.
Não falo de Portas Paulo. Portas chegará ao poder pelas mãos da coligação dos polícias e das peixeiras, com piscar de olhos a tudo o que parece mexer. Os agentes de campanha devem achar que os eleitores adoram o SNS. E Portas gabou o SNS das IPSS e das Misericórdias que é assim uma maneira de gostar do Alegre por aquele poema em que não falou da Pátria.
Uma figura a reter: um homem do PSD chamado Paulo Mendo, que disse do programa de saúde do PSD o que Mafoma não disse do chouriço. E na pintura, o Sócrates de Campos, o mais falso dos artistas em tournée, ficou esborratado. Acontece sempre que alguém livre fala.

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Agenbite of inwit


Wen Fang

A minha amiga é nulista e a amiga dela também .
São desencantados da política. Acham isto tudo deplorável. Não vão em slogans. Votariam no RAP porque o RAP não concorre. Se o RAP concorresse o RAP seria radical, demagogo, mal enjorcado. Eles um dia votaram, secretamente, mas já não se lembram em quem, nem porquê. Agora votam nulo, porque vai nascer o partido nulo que até promete deixar vago o lugar que conquistar. Se lhes digo que tal partido não existe, eles retorquem :- Pois é precisamente para que exista que votamos nulo. Vão destruir o voto, riscá-lo, rabiscá-lo, cruzes a mais, sei lá. Alguns dos meus nulistas votam branco, o que acham completamente diferente. Não se identificam com ninguém. Se lhes peço para serem positivos e indicar em quem confiariam se porventura se apresentasse a sufrágio, dizem:- Em ninguém, absolutamente em ninguém. Não fazem ideia de quem nos deva governar. Os meus amigos nulistas são conservadores- acham que a esquerda é utópica.

(De facto a esquerda é utópica. A esquerda é qualquer coisa em que é impossível acreditar. Assim como um amor que durasse para sempre. A direita é natural. A esquerda é sobrenatural. A direita é uma coisa conhecida: o curso de direito, uma bebedeira ao fim-de-semana, uma bofetada do marido, um quadro do Cargaleiro, uma homilia de domingo, o Expresso, a crónica do Marcelo, os lucros do Belmiro e a nossa inevitável pobreza, as festas da Hola, os filmes da Lusomundo, a literatura internacional e a comida do Eleven, a hipertensão e a obesidade. A esquerda é a nacionalização do petróleo, um curso de enfermagem veterinária, um bellini ao fim da tarde em Corso Como, o esplendor das línguas , a pele secreta que as mulheres do Ocidente revelaram no final do século, a música de Arvo Part e Marilin Crispell e Christina Plhuar, os romances de Bolaño, Sebald- a esquerda tem tendência a ter um êxito póstumo-, Vila-Matas, Coetzee, o design de Laszlo Moholy-Nagy, o testamento de vida , os legumes no wok, o vinhateiro que resiste no Mondovino. )

Se lhes digo que os votos deles nem serão contados, que elegerão o Vítor Batista e a Rosário Águas, eles dizem que não são assim tão importantes. Votar não é importante. Por isso eles votam nulo ou branco, um voto que é quase nada, um voto evanescente, o voto verdadeiramente possível. Os meus amigos nulistas ou branquistas são arrogantes. Eles acham, no fundo, que não existe alternativa ao senhor S. e à senhora Manuela, que estaremos para todo o sempre condenados à asfixia alternante, ontem os sobreiros, hoje os engenheiros. Mas aos pobres só resta um poder. Votar. No domingo de manhã somos todos verdadeiramente iguais. Nessa hora democrática, quando o ruído parou e os pulhas ainda não ousam as sondagens, não há governo e é tudo possível, até o senhor Domingues, no Sátão, votar na Carmelinda. Eu vou viver intensamente esse dia, longe dos branquistas e dos nulistas, ao pé do povo das freguesias, na mesa 36, ajudando os deficientes, os votos que contam, a cruz trémula que a Ermelinda leva à urna.

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23 setembro 2009

Para não falar mais do Assessorado nem de Castela

22 setembro 2009

Para não falar mais do Cavaco


Imagem:
La Truite, Joseph Losey (1982)

Som:
Léa, Louise Attaque

(...)

Elle l'a pas vole, elle passing-shot
Elle est passe-temps, elle est passable
Elle est pas stable, elle est pas partout
Elle dit qu'elle partira ou elle est meme pas venue
Elle est partisane, elle est pas pas pas sortable
Et ça j'vous l'ai pas pas deja dit
Qu'elle est parisienne, elle est parisienne
Elle est pas terroriste, elle est pas terroriste

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Autárquicas

Legislativas

21 setembro 2009

Para não falar mais de política


Imagem:
Montagem_cj, "famílias" NEvAR (Penousal Machado), Sierra de Monchique (
Super8, 1972)

Som:
L´estaca (Lluís Llach)

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A post a day keeps the doctor away


Han Da Hui


Mas só um post...
Os bloggers obsessivos transformam-se em jornalistas. Submetidos à agenda mediática, são mais um elemento da paisagem. Podem ser demolidores, profundos, sarcásticos, cultos. Mas são apenas um objecto num décor degradado.
Os bloggers mais talentosos, ao aceitarem a realidade pautada pelos media, empenham o seu talento e banalizam-se.
A bem da saúde mental dos leitores do Mal e da nossa própria não falaremos mais de política até ao dia 28.

(ou não falaremos mesmo de nada, quiçá).

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A Asfixia São Eles


Paula Rego, série Jane Eyre

Abro os jornais do costume: o Público, o Expresso. Percorro os canais . É a asfixia. Sem adjectivos. O país pequenino, de gente pequenina ou que, à aproximação da câmara da televisão, se empequenece. No Antropólogo Inocente, Nigel Barley conta como , sabendo da fama que gozavam de antropófagos, os nativos de um povo africano, ao serem abordados por antropólogos europeus, narravam, para espanto e deleite destes, histórias terríveis de antropofagia. Pode ser que os portugueses não sejam assim. Que sejam calmos, cordatos, reflectidos e capazes de um discurso estruturado sobre a realidade. E que apenas quando confrontados com uma câmara devolvam a imagem boçal que o jornalista procura. Os açuladores de peixeiras podem escrever o que quiserem. Louçã esteve bem quando recusou a peixaria.

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18 setembro 2009

Escutas e Cocas - técnicas de intrusão

17 setembro 2009

...

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14 setembro 2009

Homens


António Franco Alexandre

Não gosto deste homem. Devo dizer que gosto muito de mulheres e sempre apreciei homens. Embora às vezes me engane sobre os homens de quem as mulheres gostam. E sobretudo me engane sempre sobre o tipo de homens apreciado pelas mulheres de quem eu gosto. Aos 15 anos vi uma mulher que muito admirava nos braços de um belga. Ele perguntou-me as horas, sem despegar dos lábios dela, e eu arrumei-lhe com uma citação de um escritor francês da moda. Ela interrompeu um pouco a colação para me dizer, cúmplice e meia chateada: - Não te esforces que este não dá mais do que isto.
Isto eram os teus lábios, Manuela. Os teus lábios que eu não ousava sequer desejar porque estavas a verde no Quadro de Honra.
Este assombro perante as escolhas das mulheres marcou o Verão dos meus 15 anos e a minha vida em geral. Se elogio um homem, as minhas amigas concordam com reserva. Mas excitam-se sempre com aqueles tipos que trazem um letreiro a dizer perigo, pendurado nas patilhas desenhadas.
Desde cedo percebi que o comum das pessoas achava estranho, ou suspeito, que eu apreciasse homens. Para mim sempre foi natural como ter opiniões estéticas ou políticas. No código viril dos meus amigos, como nas normas de cortesia das famílias, gostos não se discutem. Sempre apreciei uma boa discussão.
Gosto de homens como o Nicholas Cage de Wild at Heart, ou do William Hurt do Turista Acidental, ou do Joaquin Phenix de Dois Amores, ou do Brendan Gleeson de In Bruges, ou do António Franco Alexandre quando escreveu Moradas 1 e2 e Oásis, ou do Manfred Eicher quando lançou as ECM New Séries, ou o Amis, o Kingsley em 1962, ou o James Stewart na Janela Indiscreta. Gosto do Jerónimo de Sousa, que tem uma cabeça como deve ser, no carro, a despedir-se do neto:
- Vai para dentro, não apanhes sol
e a dizer um verso de Neruda.
Não gosto deste tipo. Tem as calças justas em baixo e está bem calçado, os fatos são de bom corte. Mas é traído pelo nariz, pelo brilho cúpido dos olhos, pelo modo com junta as mãos e alisa o philtrum com os indicadores. Há uma boa maneira de conhecer uma pessoa. É quando está cansada e perdeu as defesas. Num destes dias ele deixou-se filmar na correnteza do Tejo, com uma Filomena ao largo a fazer-lhe perguntas profundas do tipo: - Já chorou?, quando chorou?, gosta de puésia? Ele estava lento, de meia guarda, absolutamente desinteressado dos presuntos encantos da Filomena. De repente teve um sinal de vida. Era um pescador que puxava um peixe. Mas logo caiu na modorra anterior. Não interessa se de poetas só lhe veio Camões, Pessoa e Cesário e não foi capaz de se lembrar de um filme sequer. Ali estava um homem absolutamente desinteressante.

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13 setembro 2009

Barnes e alguns amigos

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Barnes

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Barnes a chegar



click sobre a imagem para ver Barnes

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A Miséria do Comentário e o Espectro do Bloco


Hirsch Perlman


Ontem tirei o dia para a minha formação cívica e andei de canal para canal. Um espectro varre os comentadores políticos: o Bloco de Esquerda.
Descobriram de repente que o BE tem um programa. E foram lê-lo? Não, os preguiçosos. São 113 páginas e dá muito trabalho. Se nem MFL leu o programa do Paulo Mota Pinto. Então o que leram os comentadores que ouvi? Uns, nada. Ouviram o Sócrates a apontar para um parágrafo que dizia “devem ser eliminados integralmente todos os incentivos fiscais aos produtos privados de poupança para a reforma ou às despesas para a educação e para a saúde nas áreas em que haja oferta pública.”

(Por acaso irrita-me a formulação”devem ser eliminados integralmente”. Não gosto da palavra “eliminação” e “eliminação integral” causa-me calafrios. Mas essa é a questão formal que atinge a redacção dos programas em geral e dos programas revolucionários em particular.)

Recordo que Sócrates omitiu inicialmente a parte final do parágrafo, aquela em que se especifica que as despesas referidas se referem às áreas em que não há oferta pública (devia estar escrito “ oferta pública de qualidade e asap , em tempo útil”).

Mas discutir este ponto exigia reflectir sobre os princípios da política fiscal e sobre o financiamento do SNS e da Segurança Social. Como se viu pelo debate Sócrates, MFL de ontem, os presidentes dos nossos maiores partidos não estão preparados para esse debate. Sócrates usa o SNS como bandeira icónica e MFL esqueceu-se dele no programa. E , na questão central da sustentabilidade da Segurança Social, MFL referiu que a taxa de susbstituição seria , dentro de 10 anos de 50% do vencimento bruto, quando os estudos referem esse cenário para 2050. Sintomaticamente Sócrates mostrou irritação, mas não corrigiu.

Pode-se dizer que o modelo dos debates não permite o aprofundamento destes temas. Mas o mesmo não se passa com o modelo dos comentários. É vergonhoso que Ricardo Costa, Delgado, aquela Senhora da Rádio Renascença que tem um sorriso arrepiado de cada vez que diz esquerda e o Resendes, para não falar do Viegas e do outro reaccionário que escreve no Expresso, tenham estado 2 horas a especular sobre quem ganhou o debate, da superfície, dos olhares, da atitude, dos eleitores e não tenham tido uma palavra para aprofundar os conteúdos. Dizem que o que está em jogo é a superfície. Mas também por culpa destes preguiçosos, que não fazem trabalho de casa, que não questionam os políticos, que não escolhem os técnicos sérios para explicar as questões decisivas do desenvolvimento, de forma clara e compreensível para os eleitores.

O BE está assim a começar a ser julgado pelo seu programa. Aquilo a que o reaccionário chamou de casa desalinhada, ou cave dos horrores ou sótão dos esqueletos. Mas infelizmente nem assim lhe leram o programa. Estaríamos agora a debater a extensão da medicina dentária ao SNS, a privatização da GALP ou das Aguas de Portugal, ou temas verdadeiramente fracturantes como o respeito pelos animais ou as culturas transgénicas ou a morte assistida. Mas isso dá muito trabalho. Fica mais fácil puxar pelo PSR e pela UDP.

O Francisco questionou-me nos comentários sobre o meu voto. Eu não vou perder a oportunidade, mínima que seja, de assustar os figurões. Se um espectro assusta os figurões, se todos se unem numa Santa Aliança para o conjurar, eu não vou dissimular as minhas convicções nas urnas.

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12 setembro 2009

Não vejo lábios


Lola Duenas lendo lábios em Los Abrazos Rotos

O último Almodôvar pode ser lido como uma grande alegoria da montagem cinematográfica, ou da criação artística, se quiserem. Somos financiados por um ser abjecto, que detém a propriedade dos resultados do nosso trabalho e direito de pernada da mulher que desejamos. A nossa obra foi desfigurada intencionalmente. Tentamos restaurá-la mas cegámos- cegueira cortical, diz o médico, o que significa que não percebemos o que vemos.
O vilão também não percebe. Visionando em directo o filme que encomendou para vigiar a produção do filme, o asqueroso detentor do capital desabafa: - Não percebo nada desta porcaria.
E nos momentos mais deliciosos do filme, uma mulher do Leste lê, em tom monocórdico, os lábios dos que estão a ser espiados. Quando os lábios estão na sombra ela usa a expressão: - Não vejo lábios. A alternância de frases de elevado conteúdo emocional recitadas em voz funcionária, intercaladas com a expressão “ não vejo lábios”, criam um efeito divertido.

Nesta campanha eleitoral, e na vida em geral, acontece-me com frequência não ver lábios. Não vejo lábios, não percebo nada desta porcaria e , de uma maneira geral estou atingido por cegueira cortical. Há felizmente quem veja tudo e rapidamente. Os jornalistas vêem tudo, e da noite para o dia investigam e põem setinhas para baixo e para cima. Mesmo o cauto público com que me relaciono é muito sensível ao critério das setinhas. Não havendo pachorra para ler a notícia e menos ainda para analisar a informação, fica a setinha, colada ao personagem, como se resultasse de escrutínio popular ou desígnio divino.
O carro de combate do Simplex também vê tudo e tudo explica. No início espantei-me como é que gente respeitável podia meter-se numa lagarta socrática. Depois percebi. É a divisão de tarefas na máquina de guerra. Uns definem os alvos, outros carregam os obuses, outros disparam e os mais recatados fazem os relatórios de ocorrência. Há ainda os mais puros de todos, que nem estão bem no combate e só oleiam as lagartas. No final todos serão premiados, a curto ou longo prazo, na terra ministerial ou no céu da fraternidade socialista.
A grande desilusão deste ciclo de debates é a Esquerda, seja lá isso o que for. O partido da vanguarda proletária e dos seus aliados tem um líder que inspira respeito e comiseração. O tipo de sentimentos que o recomendam para director do Museu do neo-realismo ou da Memória do Alfeite.
Francisco Louçã não tem gabinete de imagem. Alguém que lhe diga todos os dias que uma grande parte dos portugueses lhe deplora a Virtude, a Indignação e o verbo fácil. No debate com Sócrates, Louçã esqueceu-se de que estava a falar para os portugueses, e de que era mais importante esclarecer a política fiscal do BE e a política de nacionalizações do que encostar Sócrates aos interesses da Mota-Engil e do Amorim. Louçã já diz “eu” vezes demais, levando a crer que o BE é um partido como os outros e cada vez menos um movimento que alguns reclamaram como necessidade.
A direita portuguesa, se os seus dirigentes a representassem verdadeiramente, seria fantástica. Anti capitalista, defensora das liberdades, sempre ao lado dos mais pobres e desfavorecidos. Dir-se-á que depois de 4 anos de Sócrates, Campos, Coelho, Santos Silva e Victor Batista toda a direita reluz só por existir e ser outra coisa. A questão é que está ainda na memória de alguns a trapalhada de Santana e Portas- não o afável Paulo Portas que hoje disputa as eleições, urbano e culto, inteligente e educado, mas o ministro do Mar e dos submarinos, o Portas do Telmo e do Luís Nobre Guedes, a abaterem os sobreiros na noite em que já não eram, a noite fatídica em que os ministros, de mala feita, têm aquela convulsa dedicação ao bem público e ao interesse nacional.
A senhora MFL é simpática. Se ela vencer teremos enfim o país com que Pacheco Pereira sonhou. Ou Aguiar Branco? Ou António Preto? Ou Jardim, o guru de Jaime Gama? Ou o inefável Arnaut, Mexia, o pugilista de que já não lembro o nome? Ou os candidatos em quem verdadeiramente, nominalmente, posso votar e cujo nome vou declinar para vosso opróbrio, amigos da cidade que prezais a claridade intelectual: Pedro Saraiva, Maria do Rosário Águas, Nuno Encarnação, Miguel Almeida, Madalena Carrito, Filipe Carraco, Maurício Marques, Ana Paula Sançana, Carlos Ferreira.
Sim, eu sei. Paulo Mota Pinto lava a lista de Coimbra tal como Ana Jorge permite que os torturados socialistas de Coimbra votem em Victor Batista e Horácio Antunes. Mas não deixa de ser arrepiante. Oh António, oh Carolina, oh Camilinha, oh Francisco, eu sei que quereis como eu um Portugal futuro, onde se conseguisse ouvir a torre de Santo António dos Olivais e as crianças de manhã a entrar nas Escolas, mas olhem quem vão sentar no Parlamento. Olhem vocês. Eu não percebo nada desta porcaria. Não vejo lábios. Nem do Leste me vem nenhuma ajuda

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11 setembro 2009

Visões parciais, sem manipulação (digital)

10 setembro 2009

Afinal havia outro

09 setembro 2009

(PUB.) Estilo, classe e fineza nos mínimos detalhes

Descrição sumária
Peças de ourivesaria em ouro de lei de fio redondo liso, diâmetro 6,5 cm, estas pulseiras designam-se por escravas, sendo o seu uso em números impares, com total máximo de 7 pulseiras.



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08 setembro 2009

Mais visionários políticos

Uma cabeça de partido ou um quebra cabeças

07 setembro 2009

Azar meu


Diane Arbus


Onde via a Palmira era afinal o Proença de Carvalho.

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Pacheeeeco, Allôôô Paulo Mota Pinto



A Manela não conhece bem o programa minimalista.

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06 setembro 2009

MFL/ Louçã (3)


Jacob Aue Sobol


Logo a seguir ao debate a SIC-Notícias explica aos inteligentes quem ganhou . Três comentadores de direita. Três. Sem contraditório. Um deles a inefável Inês Serra Lopes. Parecia mais um gabinete de imagem de MFL (não deve dar razão ao adversário, tem de ler o programa do PSD..., etc). Nem só de PRISA vive a censura.

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MFL/ Louçã (2)


Liu Zheng



No debate de MFL/Louçã fomos poupados à novela dos professores. Em troca tivemos alguns momentos de Saúde. MFL confundiu Sistema de Saúde com Serviço Nacional de Saúde (SNS) e pareceu defender, ingenuamente, um lugar supletivo para a iniciativa privada nesta área. Louçã, melhor preparado, exagerou. A exigência de um cérebro para o SNS, e de regras de qualidade, gestão, financiamento e profissionalismo é vital para a sobrevivência e viabilidade de um Serviço de Saúde ameaçado do seu interior- decisores que favorecem directa ou indirectamente a concorrência privada e profissionais instalados em regimes especiais de trabalho, sem limites no pedido de exames de diagnóstico nem na prescrição e resistentes à avaliação.

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MFL/ Louçã (1)


Conni Kelly


O debate de MFL com Louçã foi bom. Louçã esteve quase bem. A meio e no final cedeu à tentação de vencer o debate e essa voracidade não o favoreceu. Também não percebi a opção por ter tratado a senhora por Dra. Ferreira Leite. É discutível. Não está na nossa tradição elidir o nome próprio das mulheres e MFL marcou pontos ao tratá-lo por Francisco. MFL não conhece bem o programa do PSD nem isso é importante. MFL é a parte visível de um partido complexo, um conjunto de barões, autarcas, dirigentes desportivos, homens de mão dos diversos interesses e José Pacheco Pereira. Uma espécie de União Nacional da democracia e José Pacheco Pereira. MFL é melhor do que eles (exceptuando JPP) e por isso nos é apresentada assim, cabeça de um cartaz desgastado, tentativa de legitimar uma prática política com pouco crédito, táxi para a reconquista do poder. O programa não interessa muito. Num comentário do fim-de-semana António Pinto Ribeiro dizia, a propósito da Cultura, que bastava os partidos indicarem quem propunham para Ministro e qual a percentagem do orçamento atribuído. O que verdadeiramente está ali a ser apreciado, julgam os adjuntos e os assessores de campanha, é a imagem de ganhador. Mas os eleitores, quase todos, olham para o carácter. E MFL parece mais fiável que Sócrates.

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Jerónimo


Myoung Ho Lee


Os que a si próprios se chamaram de Simplex - ou pelo menos a ala mais simplista dos Simplex- exultaram com o debate de ontem, entre Jerónimo e Sócrates. E o mesmo parece ter acontecido com os comentadores que li. Mas quem viu o debate com alguma atenção sabe que Jerónimo está, nestes debates, muito diminuído. Jerónimo é um homem bem educado com quem parece fácil simpatizar. Mas o que se esperava do secretário geral de um partido é que, em questões fundamentais como a Saúde, o emprego, o ensino, fosse um pouco além das generalidades, mesmo que declinadas com inegável convicção. Ou o PCP já não tem gente de qualidade nos gabinetes técnicos- é o que afirma o Daniel Oliveira no Expresso, ou Jerónimo não conhece os dossiers. Eu fico triste quando vejo um debate destes. O Figurão a mostrar aos gajos do Fripor, à confederação dos patrões e aos camaradas do Largo do Rato como é que come os comunistas à sobremesa, e o sucessor de Bento Gonçalves e de Cunhal a ser estrugido na cadeira . É preciso muita luta de classes e muita brutalidade social capitalista para um partido assim ter dez por cento de votantes .

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05 setembro 2009

O nosso líder

Hans Gindlesberg




Quando fazem uma pergunta a uma pessoa normal o que é que acontece? Tentem observar. Ela reflecte um pouco antes de falar. Depois a resposta vai-se organizando com pausas, hesitações, modulações do ênfase.

Experimentem fazer a mesma pergunta a um dos líderes partidários que agora fazem o favor de se debaterem às 20:45 na partilha televisiva. A resposta é imediata, como se já existisse pronta-a-servir nas dobras programáticas do córtex partidário . Pode ser heróica (Jerónimo), pedagógica (Portas), cínica (Sócrates), indignada (Louçã) ou insípida (Leite). Mas está lá, completa, ao gosto das claques, das jotas , dos jornalistas, das perguntadeiras e dos comentadores.

Se acreditarmos que temos os políticos que merecemos, que o povo de votantes segregou eleitos à sua imagem e semelhança, somos responsáveis por estes. Eu sou responsável por Louçã . Vocês pelos restantes.

Não alijo as minhas responsabilidades. Este é o meu país. O país que deixo aos meus filhos, digo para que percebam.

Gostava que o meu líder fosse diferente. Um homem ou uma mulher sábios por terem pensado muito, cultos por terem estudado, modestos por haver certamente homens e mulheres mais sábios e mais cultos, viajados/cosmopolitas por ser esta uma das maneiras de conhecer o Outro e fugir às visões paroquiais, com humor. Capazes de dizer não sei, não faço ideia, não tenho solução para isso, não estou preparado para responder, não quero responder a essa pergunta.

Um líder raro como a gente comum. Capaz de se indignar, mas não em estado de permanente indignação. Capaz de emoção, riso, espanto, surpresa, alegria, esquecimento, fragilidade. Talvez não federasse os broeiros, os facínoras, os adoradores de ídolos, os marchistas, os abaixo-assinados, os carreiristas da Alta Administração com motorista e gestor de imagem, os taxistas, os leitores do Equador, os que admiram incondicionalmente o Camisas. Talvez nunca ganhasse eleições e fosse apenas alguém em quem nos orgulhássemos de votar, uma força, como se diz, indispensável à democracia.

Sentei-me a ler isto como se tivesse feito um esforço violento. Lavado a louça com sabão líquido, prato a prato. Feito as camas no dia da muda. Desentupido o cano do lavatório , pintado as paredes da sala com trincha, escadote e tintas CIN. Fiquei a olhar para os muros amarelos, que foi a cor que ela uma vez escolheu, amarelo da Provença, quase ocre afinal. E pensei: ao que tu chegaste. Propagandista do mesmo –merdismo, esse partido sem imaginação. Devias ser obrigado a beber o veneno que serves às novas gerações.

Mas sabes o que eu queria mesmo? Era que ela me fizesse um bóbó.

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04 setembro 2009

Cola de Verdade

03 setembro 2009

Laços


Hugo Tillman




Estás outra vez a recolher folhas mortas
Mas não olhes para cima.
As árvores não são as tuas árvores agora
E seja como for, as aves brancas da tempestade não cantam canção nenhuma.
Dentro de casa
Ele está de novo a brincar às genealogias,
A maldição do costume:
A dele, a tua, a deles, a de todos. E a dela.



Ian Hamilton
Unpublished and Uncolleted Poems, Faber and Faber, 2009

tradução A Natureza do Mal et al.

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02 setembro 2009

Lei Seca

Pedro Mexia regressa com a Menina Limão.

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01 setembro 2009

Ardem os livros em silêncio







O Osvaldo, o Rui Bebiano, o Apolinário e o Quintais. Os livros já não ardem no Público (quase nada, apesar do Pitta), nem no Actual (pese o esforço do José Mário Silva), não ardem onde nunca arderam, nem ardem mais às segundas no TAGV. Nós também não merecíamos aquilo. Sempre vi aquelas tardes como uma graça, uma efemeridade, um ecosistema frágil, ameaçado pela indiferença dos estudantes e a boçalidade dos professores, a iliteracia da cidade, a desinformação habitual e o mau humor do gajo do som. Eu gostava de tudo às segundas feiras. Da sabedoria e do método do Rui, do classicismo do Apolinário, das escolhas tímidas do Luís Quintais e sobretudo do Osvaldo, do brilho, da profundidade, da gravitas e do modo como falava de cinema ou dos livros do Planeta Tangerina. Havia claro o senhor José Dias, que se sentava na primeira fila e saía invariavelmente às sete em ponto, a minha Musa a chegar das aulas, as miúdas louras com ar de groupies da Teoria da Literatura e que se hão-de chamar Madalena, Sanseverina e Odette de Crécy . E o Miguel Cardina( onde é que agora vou encontrar o Miguel). E a Cláudia (Blue) arrancada ao comboio da Lousã. E a Sandra e o Alentejano. E a rapariga do macacão que um dia levou o filho, o rapaz da testa alta e, às vezes, o Fernando ou o Bonirre.
Li o Antropólogo Inocente do Nigel Barley( Obrigado Luís Quintais), comprei o Diário de 1663 páginas que Bioy Casares escreveu sobre o Borges(obrigado Osvaldo), os livros de John Gray e de J.G. Ballard (obrigado Luís Quintais), a poesia de Bénedicte Houart (Osvaldo) e tantos outros, que me faltam a memória e as agendas. E claro que houve os convidados: O Nuno Júdice( e eu tão injusto), o Pina, A Alexandra Lucas Coelho, o Frederico Lourenço, o Mário de Carvalho, o Fiolhais, o Viegas, o Mexia que ouviu ler um obituário certeiro, a jornalista das mãos na anca, a Irene F. Pimentel, o RAP, o Adolfo Luxúria Canibal...
Agora a primeira segunda-feira de cada mês será igual às outras. Já não tenho de trocar o Serviço. Já não tens de correr para Campanhã. Agora acabou.

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Cunt-bolted Florence




Na Praia de Chesil (On Chesil Beah) de Ian McEwan (Aldershot, 1948) e A Mesa Limão (The Lemon Table) de Julian Barnes (Leicester,1946).

O livro de Ian McEwan, entre um conto longo e um romance curto, relata a noite de núpcias de dois jovens que teriam vinte anos à entrada dos anos sessenta do século passado. Ela talvez o ame. Mas o seu amor não passa pela fornicação. E isso é intolerável para o rapaz. Esse erro de apreciação, que o narrador insinua poder ter sido evitado se a acção se tivesse passado apenas uns anos depois do mítico 1962, o Annus Mirabilis de Larkin, marcou a vida do homem. Vemo-lo no melancólico final , um homem alto e saudável, finalmente capaz de apreciar a “estranha proposta” que ela lhe fizera e o indignara. Com razão viril, inteiramente compreendido pelo seu juiz mental, “severo e imparcial”.
Essa proposta, a de um amor sem sexualidade ou pelo menos sem sexo penetrativo nem orgástico, é bem entendida pelo sexagenário em que se transformou. Mas passou demasiado tempo e ele contenta-se em imaginar o que teria sido a sua vida se não tivesse permanecido no seu “silêncio virtuoso”.
Em A Mesa Limão Julian Barnes é brutal. O amor não é uma fogueira, diz ele. "A nossa época, conhecedora, reprova às anteriores os lugares comuns e as evasivas. O amor não é uma fogueira, santo Deus, é uma pila dura e uma rata molhada(1).
Está dito. A nossa época conhecedora não facilitaria a vida à jovem Florence, na praia de Chesil.


(1) Our knowing age rebukes its predecessor for its platitudes and evasions, its sparks, its flames, its fires, its imprecise scorchings. Love isn't a bonfire, for God's sake, it's a hard cock and a wet cunt, we growl at these swooning, renouncing people. Get on with it! Why on earth didn't you? Cock-scared, cunt-bolted tribe of people!
The Revival, em The Lemon Table.

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Futuros pluralistas









{(PS) \/ (PPDPSD) \/ [(PSPPDPSD \/ PPDPSDCDSPP) \/ (PSCDSPP)]}

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