31 agosto 2009

Sobre os efeitos da rega no esquecimento dos alicerces (e, quiçá, na diluição dos pilares)






Festas, bares, discotecas, tudo regado a bebidas alcoólicas, adultério e tabaco, esta era a vida que Rui gostava de viver. Com tanta tentação, acabou por se esquecer do grande alicerce da vida de qualquer pessoa: a Família

[todas as semanas, irá acompanhar, aqui, histórias emocionantes e dramáticas de quem enfrentou e venceu desafios]

in Folha de Portugal, 30.08.2009



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28 agosto 2009

Para lá da porta oculta, a parte esconsa do escritório

Eu cá também até hoje ainda não, confesso





"Viria a revelar-se mais tarde uma mulher de grande visão política, qualidade de que, na altura, confesso, não me apercebi".

(escrito por Cavaco Silva sobre a sua ex-ministra e amiga, na sua autobiografia política)








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24 agosto 2009









22 agosto 2009

Todas as falésias



Caiu a falésia, ruiu a arriba. E esmagou os pobres incautos que tinham procurado a sua sombra. Nas horas seguintes todas as fases do luto: 1. Não acreditamos 2. Não nos podemos habituar à ideia 3. O acontecimento revolta-nos. 4. Queremos culpados. Identificar e punir os culpados 5. Acalmamos e entristecemos.
Este trabalho de luto é alimentado pelas televisões, hoje. Amanhã serão os jornais e depois outra vez as televisões. Como as carpideiras, o clamor acende-se a cada ligação em directo. E de cada vez cresce o coro securitário.
Imagine o leitor que vivia na aldeia de G., na Beira. Saía de casa de manhã para a Escola, na vila de P., a 5 kms. De inverno os caminhos estavam gelados. Não havia camioneta escolar, nem seguro escolar, nem bolsas. Os meninos de G. juntavam-se para o percurso, davam as mãos nos trechos mais escarpados. No mês mais rude, os pais de G. alugavam um quarto em P. onde os miúdos ficavam a fazer os têpêcês. Houve meses de intempérie em que tiveram de lá dormir.
Imagine que tem 15 anos e vai acampar com amigos junto a um rio. Tem de escolher o terreno, limpar o mato, alisar o chão retirando as pedras, montar as tendas. De madrugada fazem uma escalada. O percurso está marcado, foi revisto umas semanas antes.

A nossa relação natural com a natureza é assim. Respeitamo-la. Tememo-la. Sabemos que ela varia com as estações, com as horas do dia, com as condições meteorológicas. Que um lameiro empapado é perigoso, mas uns meses depois se atravessa facilmente.
A cidade alterou esta relação natural, transformou as crianças em playsituacionistas obesos e os adultos em turistas de disneylândia. O mundo é hoje, para os nossos contemporâneos das cidades, um parque temático. Anulámos todos os sensores. Alguém, a quem pagámos num contrato social paradoxalmente sem propinas, estudou e anulou os perigos. Alguém vigia. Deitamo-nos debaixo das arribas. Penduramos as toalhas na sinalética de aviso.
Ruiu a falésia. Vem o Pai, o Tutor e os prefeitos. E o responsável do Parque de Diversões. E essa gente do Estado menos Estado. Quarenta carros, quatrocentos homens. Amanhã instalaremos sinalética adequada, de maiores dimensões. Depois, em acção punitiva, derrubaremos a arriba assassina. E em breve todas as arribas e todas as falésias.

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Os arbicidas




Na casa do bairro operário, pequena manhã de sábado, acordo ao ruído de uma moto-serra. No pátio das traseiras da casa do lado uma árvore está a ser abatida. A árvore que resta de um pomar que, há 50 anos, sobreviveu à construção dos prédios desta rua, agora na primeira periferia da cidade. Está a ser decepada. Ramo após ramo. O sangue escorre das superfícies de corte , os ramos e as folhas estendem-se, os frutos rolam no cimento. O executor empunha o instrumento de abate. O mandante arruma os limões a um canto, cabisbaixo. Não se vê ninguém além do homem indignado que assiste a esta execução e se interroga sobre a razão deste abate. Impedia o trânsito no pátio? Dava sombra em excesso? Os ramos batiam no automóvel que queria estacionar? Foi derrubada por ser excepcional? A última árvore dos quintais.
Nunca saberemos. Os arbicidas acabaram o seu trabalho. Silêncio no bairro. A classe operária irá para o paraíso e terá à espera um sol abrasador.

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21 agosto 2009

Façonnable



Sou a engomadeira do Vale das Flores e passo os meus dias a brunir.
Há muito que deixei de ver as vossas camisas para me perder nos campos de algodão nas mãos dos operários têxteis indianos nas fábricas das ilhas da Indonésia. Sou um elo dessa cadeia humilde que leva aos corpos. Sou quase nada. Faço a recolha de manhã, entrego ao fim do dia. Levo trocos e trago de volta as cruzetas. Aliso a roupa lavada de fresco com o meu ferro dragão.
E é aí que me sinto, por vezes,
façonnable .

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20 agosto 2009

2666




Eduardo, tens razão: ninguém trabalha. Tens razão: és lento.

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Não morreram antes de envelhecer


Diane Arbus

Tony Judt diz, em Pós Guerra, que parte da importância decisiva da geração de 60 adveio do tempo que esta gastou a promover-se, a “falar sobre si própria” como cantava uma banda sua contemporânea(1). Agora que essa geração atingiu a senilidade é natural que haja um desvio da temática. Da insurgência juvenil para a melancolia senil. Preparemo-nos, pois. Há algo, no entanto, que me desagrada na temática senil, mais como possibilidade perversa que como realidade. Essa reticência tem a ver, estranhamente, com a pedofilia. Não gosto de livros, filmes ou representações de crianças. As crianças são ágeis e podem ser determinadas. Há crianças que parecem sábias e capazes de decisão. Mas a fragilidade do mundo infantil assombra qualquer representação, mesmo as optimistas. Só os adultos jovens podem ser inteiramente autónomos, porque só eles possuem a força física, os meios materiais, a resiliência e a rápida cicatrização. Com os velhos passa-se o mesmo que com as crianças. A personagem de Homem Lento e de Diário de Um Ano Mau é enganada porque se entusiasma sexualmente por alguém mais novo, vive na iminência de um roubo, de um assalto informático, de um engano através das tecnologias invasivas ou dos afectos que não domina. Os jovens adultos enganam as crianças e os velhos. Quando o engano não resulta, batem-lhes.

1. The Who, My generation.

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19 agosto 2009

Velhos




A velhice persegue-me (este Verão). Ou está tão presente que é indisfarçável. Um livro divertido sobre a paixão serôdia de um engenheiro ucraniano(1), um filme em que a dureza e a fisicalidade de Philip Roth é lida por uma espanhola do tipo romântico que eliminou tudo o que era felatio, nádegas, concupiscência até ficar com uma Love Story amarrotada nas mãos(2). Agnès Varda do alto dos seus 80 anos (3). A história do adultério de dois anciãos que os jovens críticos alevantados do Público enjoaram (4). Os últimos livros de Coetzee, o meu escritor, atravessados pela lentidão, o medo de ser enganado, a ruína económica, a melancolia e o cheiro da velhice(5) . O japonês a babar-se pela nora cruel(6). A antologia da morte do Manuel de Freitas (7). A minha amiga F. a contar a história de engate do velho que a leva a beber um copo e pede “um irish coffee” , uma escolha que o denuncia imediatamente como impotente (8).
Pode haver um Pranzo di Ferrangosto, eu sei, mas é sempre 15 de Agosto quando se é velho e se está sozinho e nós já partimos, ou fazemos as malas, ou estamos só de passagem, doentes de pressa e velocidade.

1. Breve História dos Tractores em Ucraniano, Marina Lewycka, Civilização Editora.
2. Elegia, de Isabel Coixet , baseado em Dying Animal de Philip Roth, Dom Quixote.
3. As praias de Agnès .
4. Nunca é tarde demais.
5. Slow Man e Diário de um ano mau, Coetzee, Dom Quixote.
6. Diário de um velho louco, Junichiro Tanizaki, Relógio D’Água.
7. A Perspectiva da Morte, Manuel de Freitas, AeA.
8. F, Depoimento pessoal

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13 agosto 2009

Viva o 31 da Armada, abaixo a repressão social-republicana


Lisette Model


Benditos os rapazes que hastearam a bandeira azul e branca nos Paços do Conselho de Lisboa. Não sei se é ilegal. Os paranóicos do Estado de direito podem mandar a PJ perseguir os autores, com os aplausos dos hipócritas e dos ex-iconoclastas, que eram afinal virgens republicanas ofendidas. Glória aos rapazes do 31 da Armada que fizeram qualquer coisa de rebelde, içando um trapo que tocou no coração do regime e irritou esta gente instalada na mediocridade, este país só gripe só incêndios, a mala do Preto contra a mala do Mesquita, as listas da Manela contra as listas do Sócrates, e uma orla que não vai além do já visto, sem lugar para a esperança. Viva o 31 da Armada. Que as noites de Lisboa sejam pródigas em escadas Magirus para subir a mais varandas e haja coragem para um gesto de liberdade que nos redima destes Simplexes tão previsíveis, ideólogos da Bola e do Record, que abrem o fogo dos jogos florais para proteger os passarões da retaguarda, sempre em trânsito para a Mota-Engil, para a Iberdrola, a Diraniproject III, o Santander-Totta,o BCP.
Simplex, o carro de combate do PS inteligente é um chaimite enferrujado. Vou para férias com o desgosto de desconhecer as razões da Irene, mais difíceis que o programa do PSD.

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10 agosto 2009

Ainda o totoloto dos poetas de Coimbra



Uma onda de indignação varre o país. O professor João Lobo Antunes não foi indicado pelo Governo para o novo Conselho Nacional de Bioética (CNECV). Tal facto terá irritado Cavaco que reagiu através da sua Casa Civil – o que sempre é mais tranquilizante do que ter reagido através da Casa Militar. João Lobo Antunes fez o que competia a um putativo membro do CNECV- não prestou declarações. Ficámos assim com os mexericos. E com uma peça do Público, assinada por Ana Machado que será um case-study de desinformação e um atentado ao Livro de Estilo do Jornal.
O que fez a jornalista? Misturou informação ( o modo de formação do CNECV decorrente da Lei 24/2009 de 29 de Maio e a sua actual constituição) com opinião, ainda por cima facciosa e parcelar (declarações de Daniel Serrão puxadas para o título e para a legenda da fotografia do ex-Conselheiro, que ilustra a notícia, e onde se lê:

A nova formação do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, o CNECV, que tomou posse a 30 de Julho tem, nos seus 19 elementos, 11 personalidades designadas pelo Governo, pelo PS ou por institutos públicos.
E:

Para o médico e especialista em bioética Daniel Serrão, ex-conselheiro do CNECV, lugar que ocupou 15 anos, esta situação pode ser a morte do organismo consultivo que devia mostrar mais diversidade ideológica.).

Quem tiver tempo para aprofundar o tema saberá que a nova Lei, aprovada pela AR e assinada por Cavaco, prevê que a Assembleia eleja 6 pessoas – tendo PS e PSD repartido as nomeações dos eleitos; que 8 membros são indicados pela Ordens corporativas, pelo Conselho de Reitores, Academia das Ciências de Lisboa, Instituto de Medicina Legal e FCT; 5 designadas pelo Governo. Todas claro de reconhecido mérito, que assegurem especial qualificação no domínio das questões da bioética.
João Lobo Antunes poderia assim ter sido indicado pelo PS ou pelo PSD no âmbito da curée parlamentar, pelo Governo, pela Ordem dos Médicos, pela Academia das Ciências de Lisboa , pelos Reitores ou pela FCT.
Esta história está mal contada e muitos dos que escreveram fariam bem em refrear a sua indignação.
Humildemente confesso que não sei o que se está a passar na grande guerra do Alecrim e da Manjerona. Em Espanha, no pós-franquismo, falava-se muito dos poderes fácticos que modelavam as decisões do Estado. Assim se passa, tantos anos passados, com a República Portuguesa.

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09 agosto 2009

Menos por menos Orvar Lofgren


Pedro Mexia assina no Público de hoje uma crónica sobre a praia.Mexia parece ter lido On Holiday, um livro do etnólogo sueco Orvar Lofgren. Gostei bastante de Orvar Lofgren embora o sistema de citações não me tenha permitido perceber exactamente os momentos em que ele cita Mexia.

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Um post cintilante sobre a nova blogosfera

Do Bruno sobre a normalização política da blogosfera. Um ersatz ao centro.
Quase sem comentários- uma triste demonstração da razão que lhe assiste.

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A Escolha da Ética e o totobola dos poetas



Francisco, desculpe a pergunta. Mas acha que o totobola dos membros do Conselho de Ética é algo mais que o "totobola dos poetas de Coimbra". Mais quê? Mais importante? De nível superior? Mais sério?


(cf. Eduardo Pitta)

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Simplex Jamé


Annika von Hausswolff



Em época de eleições a blogosfera é animada pelo confronto. É saudável que as pessoas se juntem pelas suas afinidades. Na minha limitada pesquisa descubro dois carros de combate no deserto. Jamé e Simplex - já que Jugular, por exemplo, tem já uma vida longa e uma ligação menos eleitoralista à bondade de quem nos governa. Em ambos há pessoas estimáveis e algumas que , sem conhecer, respeito intelectualmente. Mas viajar, no deserto, num carro de combate, enlouquece. É o sol abrasador, a poeira que as lagartas sempre levantam, as tempestades de areia que não deixam ver o inimigo, as rações de combate, a táctica e a estratégia dos generais. E, pior de tudo, o suor do condutor, as opiniões do primeiro atirador, a boçalidade do cabo. Os carros de combate movem-se com uma lógica própria. As acções dos ocupantes implicam todos. Os incautos das Beiras que foram arregimentados por “boas razões” em breve perderam a veleidade de assomar à escotilha para sussurrar a sua ligeira heterodoxia, a sua individualidade. O carro de combate avança, triturador, esmaga o inimigo e homogeneíza os conteúdos. No carro de combate, o ocupante é um auto-colante na carroçaria, uma frase gravada no início das hostilidades, a que o tempo retirou sentido e fundiu na mesma cor baça.
E pior do que o pior de tudo. Oh ocupantes do Simplex e do Jamé. Não há batalha. Este texto pode dar-vos alguma razão de existência. Mas o deserto que alguns de vocês criaram e onde agora nos atolamos, não tem o cheiro das discussões programáticas. É feito de pequenas coisas prosaicas que agora ignorais: a mala do Preto, as acções do Loureiro que davam um jeitão, as habilidades dos tribunais, das polícias de investigação, das direcções dos jornais, dos gabinetes de imagem, os negócios à saída dos governos, do parlamento, o sistema bancário, as tias à espreita, essa legião de mulheres em madeixas que vive às janelas dos ministérios. Simplex, Jamé, estais destinados ao entendimento. É o interesse nacional que o reclama. O interesse nacional vê-se bem no caminho que vai do governo às empresas, das empresas ao governo. Dispam o fato-macaco e confraternizem.

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08 agosto 2009

Emoção


Hannah Starkey

Tenho agora dois motivos de interesse nesta contenda eleitoral e um para acreditar que vou introduzir alguma clarividência na minha vida pessoal. Um é a expectativa no Programa do PSD. O outro pelo post em que Irene Pimentel vai explicar “a forma como se atinge (?) a liberdade, igualdade e solidariedade, que a fazem votar no PS.”


PS (20:00h): Enquanto estamos aqui a falar de Utopias li as listas de candidatos dos nossos partidos do "arco governamental": parece que a Dra Ferreira Leite borrou a pintura. O Preto da mala está na lista de Lisboa. E, em outro registo, completamente diferente mas igualmente espantoso, a militante Celeste Amaro, igualmente em lugar elegível. Já o partido da Utopia possível apresenta por Coimbra a Ana Jorge, logo seguida do Vítor Baptista, o Baptista do costume. Oh Irene, peço desculpa, mas parece quase obsceno discutir utopias quando a realidade é baptista.

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Quase Nada



Zhang Xiao

É uma coisa de nada, eu sei
Mas não me deixa partir. Não é um aroma
Exactamente, mas em dias quentes ou à noite lembro-me dessa coisa
Um pouco queimada, ou madura demais:
Searas negras, enxofre, pele.
É também o silêncio
Embora de vez em quando julgue tê-la ouvido
Murmurando: uma oração
Talvez, uma promessa ou uma súplica. E não,
Não é de todo substancial: digamos
Que é sem substância, não é coisa
Que se possa tocar ou ver.

Não magoa mas está dentro de mim.
Como lhe chamamos então,
Esta qualquer coisa no ar, esta atmosfera,
Esta iminência?
Hoje, porque te afastaste,
Eu chamar-lhe-ei nada de importante,
Chamar-lhe-ei , já que estás com medo, permanência.


Ian Hamilton
Selected Poems
Faber and Faber, 2009

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07 agosto 2009

Biografia



Quem virou a página? Quando saí
Ontem à noite, a Vida dele ficou escancarada,
A meio-caminho, à luz da minha secretária;
A Meia Idade.
Agora olha para ele. Quem virou a página?


Ian Hamilton
Collected Poems
Faber and Faber 2009

05 agosto 2009

Simplex


August Sander

Não lhes chega o ordenamento do território, os planos de contingência, o despedimento sem justa causa , o emprego precário, o cartão de cidadão, o chip, a distribuição dos subsídios, a ocupação dos cargos de direcção, a alta rotação público-privado, o encerramento dos museus, o cancelamento das carreiras, o encerramento de vagas, a elaboração das leis, a humilhação das repartições, os júris de confiança, não lhes chega dominar as polícias e os tribunais, as escolas e os hospitais, as televisões e os jornais.


Vêm aí os novos engenheiros de almas para orientar convenientemente a nossa vida pessoal e a nossa existência colectiva

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04 agosto 2009

Two Lovers



Ele cai à água, na sequência inicial do filme. Leonard, um suicida. É salvo, o que transforma a tragédia num pequeno acontecimento risível. Agradece, a custo, ao seu salvador. Afasta-se, envergonhado, e ficamos a saber que é o rapaz que faz entregas na lavandaria. O desregramento inicial marca o personagem e o filme. Dois amantes, o amor fantasmático e o real, a pulsão da morte insinuando-se no quotidiano e apesar de tudo, quase em surdina, uma melodia de optimismo.
Um final muito belo que nos deixa suspensos, sem fôlego, aflitos por não poder ajudar este rapaz perdido, Joaquin Phoenix.

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Um assunto sério



Johan Bergstrom


Isso é um assunto muito sério para ser discutido em período eleitoral
.

Manuela Ferreira Leite referindo-se à opinião de Marques Mendes segundo a qual os arguidos de crimes graves deveriam ser impedidos da candidatura a cargos públicos.

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O Secretário de Estado Adjunto


Arno Rafael Minkkinen

"Não há razão nenhuma para desaconselhar a ida aos estádios de futebol"- Francisco Ramos, Sec. de Estado Adjunto e da Saúde, Economista da saúde especializado em organização, gestão e financiamento de serviços de saúde, em avaliação económica de programas e tecnologias de saúde e em políticas e administração de sistemas de saúde. Administrador Hospitalar.
Não há razão nenhuma, disse Franisco Ramos, maximamente enfático, enquanto o telejornal titulava a peça: Governa não desaconselha os estádios de futebol. O Governo c‘est lui, Ramos, o que resta da bravata emproada de Campos e do seu jeito para os negócios, Ramos, o administrador hospitalar no seu momento de Peter, certamente habilitado pelo convívio de gabinete, a sentenciar sobre o risco da gripe, esse abono de família do seu Ministério. E enquanto as administrações gastam milhões em máscaras especiais, batas especiais, viseiras especiais, testes pCr especiais, transportes especiais , contentores especiais, horas de trabalho extraordinárias, ele manda os inocentes para os estádios de futebol, certamente guardando um metro de distância e sem abraços nos golos a haver, uns na superior, outros na galeria, com um anel de permeio e ele Ramos no camarote do empreiteiro.


O Plano de Contingência do Campeonato de Futebol foi entregue aos Hospitais Privados de Portugal (Hermínio Loureiro, presidente da Liga de Clubes).
Era a notícia seguinte do alinhamento (RTP1, noticiário da noite de 3 de Agosto).
Assim se faz a Cooperação Público-Privado em Portugal

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02 agosto 2009

Feira


Annelise Kretshcmer


Chamas rosadas de algodão doce, estrelas em hastes
Rodopiando, um coco,
Duas bonecas de plástico de olhos esbugalhados,
Um gnomo em pranto:
À sombra da Roda Gigante
Fazemos as contas ao que ganhámos
E estamos "cansados, mas felizes".


Ian Hamilton,
Collected Poems, Faber and Faber, 2009

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Madame Chauchat


Lotte Jacobi

Hans Castorp sai da consulta com o pesado diagnóstico de TP e, à falta de tuberculostáticos, a prescrição inicial de repouso no leito. Estamos na p.203 da edição de A Montanha Mágica traduzida por Gilda Lopes Encarnação (Publicações Dom Quixote, 2009). Da p.203 à p.234 o rapaz de Hamburgo, de lá-de-baixo, da planície, que só fôra a Davos para visitar o primo, fica retido no quarto. Tem poucas visitas. Joachim, com quem partilha agora a doença, que não a gravidade. Uma enfermeira. O médico auxiliar. E Settembrini, o humanista. O tempo passa. Um tempo estranho, pautado pelas rotinas médicas, o repouso, os tratamentos, as refeições, a meteorologia caprichosa da montanha. Três semanas de descanso “no dormitório”- sentenciara, inapelável o conselheiro Behrens. E o tempo corre “em consonância com as leis por que se regem o narrador e o leitor”. Estranho narrador. Como se explica que durante as 21 páginas com que descreve as semanas de reclusão do jovem Castorp não haja uma menção, uma alusão sequer à mulher que se senta na mesa dos russos bons, que faz bater a porta envidraçada da sala de jantar, que, na última refeição em comum, “como ele recordaria mais tarde, trazia um sweater amarelo dourado com botões grandes e bolsos debruados” ? Não se ouve o nome dela. Joachim, reservado, nunca a refere. Nem Hans Castorp se atreve a perguntar. Como é que nós sabemos? Que poderosa intuição foi em nós despertada? Com que meios? Por que formas? Como é que sentimos que ele não deixa de pensar nela. Que “a imagem dela não lhe sai do pensamento”.

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01 agosto 2009

Intraduzível


Lazlo Moholy-Nagy


"Há alguns versos- poemas completos, mesmo:
Não faço nenhuma ideia do que querem dizer;
É o que não alcanço que neles me atrai."
Os teus costumavam ser assim, e os dele também.


Ian Hamilton,
Unpublished and Uncollected Poems
, Faber and Faber, 2009

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