29 fevereiro 2008

Enquanto não volta





Agora que desapareceste quanto
tempo demoras a ficar novo quanto
tempo demora a pele a cobrir
a carne viva em que rua
voltarás com que sapatos-pedrinho
e o cabelo ainda será preto

voltará ao cinema sousa basto voltará
a ouvir sisters of mercy
mas como se eu tenho os dois auscultadores
voltará num vídeo de Viola nas águas
do convento de santa-clara-a-velha voltará
nas fábricas de onde a classe desertou ou na
RudolfSeiffert strasse no tempo
em que perdeu a esperança
na construção civil socialista ou voltará
nos trilhos do Gerez voltará nos carris ou voltará
que horror nos transes do sistema biométrico
voltarás novo

28 fevereiro 2008

Morte de mais uma pomba sociológica



Fiona Banner, Homo erectus


Um sociólogo da Universidade do Minho tem um blog. O Conselho do seu Departamento que "é um órgão colectivo, composto por quinze docentes, com regras democráticas de funcionamento, actas publicitadas e participação assegurada, onde neste momento o docente Daniel Luís participa na qualidade de representante dos docentes não doutorados e, ainda, de Secretário. Em mais de trinta anos de existência, este Departamento sempre se pautou por comportamentos de intransigente defesa da liberdade de expressão, de debate democrático e de participação alargada de todos os seus membros, seja em termos de funcionamento interno, seja em termos de intervenção pública" decidiu “ apelar-lhe com base em receios que lhe foram explicados e que em primeiro lugar o procuravam proteger na sua dignidade profissional e no conteúdo funcional da sua actividade como educador, área objecto, nos seus textos, de inúmeras referências atentatórias da dignidade de professores, alunos e responsáveis políticos, cuja acção o docente Daniel Luís é suposto estudar, investigar, ensinar e criticar em termos académicos, para o efeito beneficiando de condições institucionais e de toda a liberdade académica.”
O docente não resistiu ao apelo e prometeu moderar-se.
A história vem contada no Público de ontem e no blog do docente, que, basicamente, diz que tem família e um cu sociológico.

Eu aqui nos Correios sou um privilegiado. Claro que ainda não tenho um órgão democrático como o Conselho Do Departamento dos Sociólogos do Minho para me aconselhar sobre os meus conteúdos funcionais.

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27 fevereiro 2008

Candeeiro Lavoisier


Zhang Huan

Vendi a pálida imagem
do que fui
A compradora levou-me para a cama
onde adormeci
fosforescente
Ela aproveitou para ler Raduan Nassar

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25 fevereiro 2008

O Ângulo Morto



A surpresa da manhã. O blog que dura exactamente um ano. O blog secreto do PC.

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24 fevereiro 2008

Em beleza


Zhang Huan

Às vezes parece que nem em termos estéticos
a vida é suportável
manda a Rosa em sms
às quatro e meia da manhã. Talvez o nosso destino
seja este ver a vida como ela é uma tasca
sem alma deserta onde
perdeste a biografia ninguém vê a madeixa
azul do teu cabelo um mundo sem memória
nem história onde citas sem que reconheçam
só estão à venda os tecidos e os padrões
da Salsa são todos gestores
beneficiários da segurança social membros
da Fundação segurados da Medis formadores

Já acabei numa ruela junto à estação
à sopa nocturna da caritas já acabei
a atacar na Avenida
no uniforme dos infectados
sonda no nariz e cateter na clavícula
ou à porta dos jumbos entre os dentes caídos e a garrafa
de super bock tamanho familiar
e acabei como um gato castrado com placa
e homenagem
já acabei com amigos que liam
alto a última página dos cem anos de solidão
ao som de uma música igualmente foleira
e tive um fim que era
uma explosão e um fim
químico silencioso mas sempre
esteticamente aceitável

Não estou é preparado para esse fim
que anuncias Se vai ser assim devíamos acabar
em beleza

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Adições

O blog de Francisco Lucas Pires.

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22 fevereiro 2008

Paisagem

21 fevereiro 2008

É a cultura esperto

eu não vou lá não vou lá não fui lá não acho que seja a cultura o jogo vesgo das cadeiras há outra cultura é o trabalho dos actores antes da estreia o fotógrafo na rua o investigador a publicar a crónica destes dias de abafar não ponho o meu nome como dizia o Eduardo debaixo de nada já sei escrever sozinho há alguns anos um acto de cultura ide entronizar os vossos ex futuros se não são capazes de dar a vida voz aos criadores estejam quietinhos não vos chega a justiça o ambiente não chega o Parlamento as ajudas de custo as comissões se não há vozes da tinta e do papel de cenário então deixem a cultura prós ranchos populares.

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20 fevereiro 2008

Paisagem

19 fevereiro 2008

2008


Fiona Banner, Nude beam

A vida começou a piorar
em mil novecentos e noventa e seis
e está quase a ficar insuportável de manhã
há demasiados carros e são todos
grandes potentes derramando
o fuel e mudando incessantemente
de fila
os lugares estão todos
preenchidos
os rapazes das cheias de mil novecentos
e sesssenta e sete
vieram contar como conheceram o povo
nesses idos estava o povo morto
desfigurado à espera de ser enterrado pelas mãos
sensíveis
dos jovens que tinham descoberto
staline e o concílio vaticano segundo e enquanto
agora se lembravam chovia
sobre os pobres de sacavém enchia-se
de lodo Sacavém
agora está quase tudo a piorar e são
tão poucos os que recusam
o modo funcionário de viver
tão sozinhos em sítios que nem sei
tão longe do vosso fogo
de artifício da vossa agenda dos eventos setas
a subir
a semana correu bem está tudo
mais pesado mais agreste os parques
são todos bragaparques

ainda gostam de mim por razões obscuras
quase todos alguns de menor idade
quase todas

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18 fevereiro 2008

As mães na escada


Fiona Banner
Performance Nude, 2007(detalhe)



No meio da escada olhando
a escada como se estivessem no cimo
debruçadas no corrimão na curva
da escada debruçadas
de costas para a porta
da enfermaria
no intervalo das visitas ao fim
do dia
enquanto as enfermeiras
procuram a veia ou alguém
as rendeu
por um momento debruçadas
na escada para o vão da escada
olhando tão fixamente
que os olhos se cruzam e os pontos
se reúnem num só ponto cego

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14 fevereiro 2008

Paisagem

13 fevereiro 2008

Paisagem

12 fevereiro 2008

A morte por outros motivos



Vee Speers

O médico que de manhã
entre o tempo e o trânsito
nos esclarece sobre
os estudos que
demonstram que
claramente que
o médico de gravata e aquele
ar seguro de quem chegou
ao volante de um carro
que confirma que
os estudos que
claramente que
tem hoje dois minutos
para falar sobre a dilatação
sacular das pequenas artérias
cerebrais
felizmente silenciosas
diz o médico apoiado
em estudos que
silenciosas até que um dia

e o médico diz então a frase imprevista que
havia de cair neste poema
a morte sim é possível
embora os estudos que
mostrem claramente que
a morte diz ele

A morte ocorre geralmente
por outros motivos

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11 fevereiro 2008

Entre o nada e o nada

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sms termas


Lala Meredith-Vula


Há também uma velhota que encolheu para metade e tem a cabeça sem pescoço incrustada a meio das costas tão curvadas que parecem uma bossa.Chamamos-lhe a bossa velha. Essa dizia há bocado: “-Eu, entre uma criança e um velho, vou mais pró velho…”

// sent by Rosaarosa

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sms termas


Lala Meredith-Vula


Aqui as velhotas quando se separam, do 2º para o 3º andar, por meia hora de sesta, despedem-se no elevador com beijos, adeusinhos e “ até já se deus quiser”. Nunca se sabe…


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sms termas


Lala Meredith-Vula

A festa em pijama acabou em overdose de renda. Umas velhotas receberam por baixo da porta, a altas hora, talvez à meia noite e meia, um bilhete que dizia: ”- Vocês são muito simpáticas. Mas deixem-me dizer-vos que fazem renda a mais.” Agora desconfiam todas umas das outras e sobretudo do único homem do grupo, que diz que as viu nuas, quando voltou pra trás a buscar os comprimidos prá hipertensão.


//sent by Rosaarosa

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sms termas


Lala Meredith-Vula

Almoçámos no Regalinho original. Há anos que não comia uma refeição comparável. De boa. A última vez foi em Mogadouro, em abril de 2005. Anteriormente, em Amarante, em agosto de 2003. E mais atrás terá sido em Tormes, um arroz de favas por volta de 1873.


//sent by Rosaarosa

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10 fevereiro 2008

14 dias

El País, Babelia, 26 de janeiro : Los grandes clasicos de la televisión

Expresso,Actual, 9 de fevereiro: As grandes séries que marcam a história da televisão

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Babelia

Costumbres perdidas, otra vez valiosas: que se enciendan las luces y uno se quede aturdido, como recién despertado, mirando con sorpresa las caras pálidas a su alrededor; salir a la calle y recibir el aire frío en la cara con la sensación de estar cruzando la frontera en la que termina el influjo magnético de la ficción; estar de vuelta en el mundo real y sin embargo seguir habitando las vidas de esas dos mujeres, en una ciudad casi a oscuras, una noche de hace más de veinte años. Casi no recordábamos que ir al cine nos gustaba tanto.

Hábitos perdidos, de novo valiosos: as luzes acendem-se e ficamos aturdidos, como se tivéssemos acabado de despertar, olhando com surpresa a palidez das faces em redor; saímos para a rua e recebemos o ar frio na cara com a sensação de cruzar a fronteira em que termina o influxo magnético da ficção; voltar ao mundo real e contudo continuar a habitar as vidas dessas duas mulheres, numa cidade quase às escuras, numa noite de há vinte anos atrás. Já quase não nos lembrávamos de que gostávamos tanto de ir ao cinema.

Antonio Muñoz Molina en Babelia, sobre o filme romeno Quatro meses...

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2008


Zhang Huan


Estou abstinente. Sigo os conselhos da Comissão. Não sou homem para fumar à porta dos vossos restaurantes, nem para envergonhar a família com o mau aspecto. Porto-me bem, beta bloqueado as mais das vezes. Suspiro, dou voltas à mesa, ouço a miúda na convulsão dos sms, rego o bonsai que há-de florir na primavera, escrevo cartas à prima nas termas de S. Pedro do Sul, ainda havemos de jantar no Regalinho. Mas sonho, todos as noites sonho, com um dia assim.

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Portugal Talvez Não



Depois das excelentes conferências que trouxeram ao Porto Peter Sloterdijk e Giorgio Agamben, entre outros, a Fundação Serralves anuncia um outro ciclo, comissariado por Paulo Cunha e Silva, que decorrerá entre Fevereiro e Maio e responde à questão Portugal: sim ou não, ponto de interrogação.Tenho pena que a Rosa esteja para as termas e já ninguém aqui tão pardo se alevante.O tema A Justiça vai ser tratado pelos inevitáveis José Miguel Júdice e Gomes Canotilho, a Defesa pelo Fragateiro e pelo actual ministro, a Educação pelo dr Grilo e pela actual Maria de Lourdes, a Cultura pelo Oliveira Martins e pela deputada Manuela de Melo, tendo à moderação a Anabela Mota Ribeiro. Este Portugal parece o meu peixe no aquário. Comeu o que havia, está a caricatura do peixe que nunca foi e se usasse cinto tinha-o ao pescoço, que o meu peixe é só ventre e livores, vêm-se à transparência das escamas as tripas enfarinhadas. Este Portugal parece os Estados Gerais da novíssima maioria. Visto de cima, no auditório de Serralves, dá vertigem a distribuir auriculares, um beijinho na face, então onde está agora, ah na Fundação, no Conselho de Administração, na Associação, ns Deputação, na Constituição, na Comissão, na Restauração, ia jurar que já o vi na Reprografia.

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09 fevereiro 2008

O homem vê Amélia


Zang Huan

Amélia tem um rosto perfeito, oval, com as regiões genianas salientes, a testa alta e os lábios grossos.
Há, no entanto, pormenores ainda não resolvidos no rosto dela. Alguns cabelos nas têmporas afunilam a fronte, os olhos afinal não brilham tanto, o sorriso para nos dentes, o rosto não abre para o corpo. E acima de tudo, de forma irritante, ela parece pedir desculpa por não ser a mulher magnífica a que abre a expectativa. Barthes fala do momento em que o amante vê, no ser amado, la petite tâche. Neste caso não há mancha nenhuma. A pele de Amélia parece lisa e elástica. A questão é que ele se apaixonou por um rosto quase perfeito. Começou a oscilar, como um pêndulo, a dúvida de não ser aquele, e de existir, algures, a mulher que Alice anuncia.

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08 fevereiro 2008

Paisagem

Oh Gregório, aqui ninguém se cansa!


«Um trabalhador que esteja cansado física ou psicologicamente – porque está mais velho, porque tem problemas familiares, porque trabalhar naquela empresa não era exactamente o que pretendia ou porque se desinteressou do trabalho – deve poder ser despedido por justa causa.» Gregório Rocha Novo, Director da CIP.

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06 fevereiro 2008

Laboratório Manaia-Pereira


Gillian Wearing

Manaia-Pereira com tracinho faço orientação profissional testes de orientação lanço as cartas tarot leio sinas e faço unhas se for preciso faço unhas eu pago um dinheirão de renda neste andar pago tanto como as velhas da rua todas juntas e tenho vergonha de chegar a casa com dez euros tenho filhos cheios de necessidades faço tudo atelier de talentos mateginásio historioginásio ginásioginásio formação faço mudanças se alguém se mudar para esta rua eu ajudo nas mudanças e dou orientações nos restauros dos apartamentos afago os chãos lixo portas e rodapés dou palpites estudo acompanhado orientação vocacional assentamento de tacos e parquets laboratório de línguas laboratório de boletins de apostas dos paizinhos ao fim de tarde quando vierem buscar as criancinhas um homem tem de trabalhar tenho o andar iluminado um dinheirão de vóltios e de luxes a minha mulher só pergunta porque é que não vais à televisão parece que eles pagam bem ao teu colega de curso se lá fosses fazias melhor figura que ele e um cuidado enorme em não chegar à janela quando não se vê ninguém do exterior sempre se pode imaginar as salas cheias de infantes pequeninos cujas cabeças não chegam às janelas altas de facto não vem ninguém há anos que não vem ninguém Manaia-Pereira Psicologia Laboratórios outdoors cartões nas caixas de correio bandeiras nas varandas nunca veio ninguém

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05 fevereiro 2008

Porque é que ninguém escreve sobre isto?



Massas chinesas tentando apanhar transporte para casa no Ano Novo chinês
(1 de Fevereiro 2008)

Elogio do jornal Público e dos que o escrevem


Cy Twombly

Segunda-feira de Carnaval, uma pessoa a imaginar os jornais entregues às agências e aos preguiçosos que não conseguiram “interrupção” e veja-se o Público de 4 de Fevereiro: um destaque sobre o declínio do casamento católico no Norte e uma referência a um estudo sobre o envelhecimento e a solidão. Na página 12 uma fotografia de Daniel Rocha conta, com Andreia Sanches, a história de um homem que não existiu, violado todos os dias, o 61-50-63 na Casa Pia dos anos sessenta. No P2 Alexandra Prado Coelho escreve sobre o movimento de arte contemporânea da China eufórica, onde parece passar-se tudo o que é importante nos nossos dias, da arquitectura ao extermínio das massas. Ainda no P2, Paulo Varanda dá notícia das conferências de Maria José Fazenda sobre coreografia e formula votos piedosos de que elas saiam da Culturgest para as terras do interior. Na última página, Rui Tavares, um dos poucos que, em público, se arrisca a pensar e a fazê-lo à esquerda, escreve desta vez sobre o Regicídio. Um pobre agradece e bate palmas com ambas as mãos. Além do mais o jornal não refere o casamento do Sarkozy nem traz fotos do par real a passear nos jardins do Eliseu (é notável como Carla Bruni, de casacão Cortefiel, enfeiou e envelheceu com o convívio presidencial). Já no Ipsilão de sexta, entre as habituais pérolas de Eduardo Pitta (sobre Robert Graves) e Pedro Mexia (um reaccionário genial a escrever sobre outro), há notícias do cinema soviético do degelo (Luís Miguel Oliveira), da vinda a Portugal dos Balanescu (João Bonifácio), e Alexandra Lucas Coelho escreve um roteiro genial do Porto onde só faltam a Casa das Artes e algumas caralhadas mais. Glória a um jornal assim e aos que o escrevem, quando o Libération se tornou uma simpática folhe de couve em extinção, o Le Monde um obituário e o El País um respeitável programa de governo europeu.

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04 fevereiro 2008

Intertexto com cães


Vee Speers

Animal altruísta é o cão. E a cadela. O cão actual, e a cadela, explicam os evolucionistas, foram seleccionado pelos homens e pelas mulheres. Assim, eles são fiéis, dão a vida pelos donos e pelas donas e um dia virá em que copularão com júbilo.

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Entrevista


Vee Speers


Perguntam-me se li a entrevista de X. Li. Perguntam-me o que acho. Acho que algumas pessoas, antes de falarem dos problemas do povo e dos deveres do Estado, deviam a) passar três dias numa roulotte no parque de campismo da Quarteira b) ver o filme Não me toques nas bolas, de Ben Garant, ao domingo com pipocas, numa sala da Lusomundo, num shopping dos Estádios, c) à saída comer francesinha com molho especial d) ver do princípio ao fim uma Câmara Clara e)ler o Plano Nacional de Saúde f)ir à urgência de Penafiel e ser transferido pelos bombeiros de Freamunde, com treino de Suporte Avançado de Vida g)usar blusas da lanidor.

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Os inocentes de serviço aos corruptos


Francis Bacon



Os inocentes de serviço, os inocentes úteis, não querem ouvir falar de corrupção. Desqualificam os que denunciam a corrupção. Não é de bom tom falar na corrupção. Falar em geral da corrupção é colocar a moral no campo da política, dizem. Quando alguém fala em geral da corrupção, os inocentes de serviço pedem sangue privado. Quando alguém fala em particular os inocentes arrepiam-se: desceu ao estatuto do denunciante, dizem. É um justicialista, um louco paranóide, dizem com o lábio esticado.
Os inocentes úteis de serviço aos corruptos descredibilizam os que falam de corrupção: quem fala de corrupção quer atingir algum objectivo, deve ele próprio ser investigado, está ao serviço dos inimigos políticos do denunciado, etc.
Os inocentes úteis banalizam a corrupção: são todos corruptos, a corrupção é própria das sociedades humanas, corromper e ser corrompido humanum est.
Os inocentes úteis acham que se deve legislar contra a corrupção. Legislar é uma coisa limpa. Aplicar a legislação uma coisa suja, própria da gente de baixo, da que ganha à peça.
Os inocentes úteis acham que a culpa da corrupção não é dos corruptos. É do Estado. Menos Estado menos corrupção.
Os inocentes úteis apontam para os que falam da corrupção.
Enquanto os inocentes úteis desqualificam os que falam da corrupção, os corruptos perseguem-nos, eliminam-nos. Enquanto os inocentes úteis prospera a corrupção.

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02 fevereiro 2008

Magnicídio



A História é um lugar terrível. Nestes dias, o herói da direita é Carlos de Bragança. Não sei se o homem a quem o assassinato no Terreiro do Paço deu a dimensão trágica é melhor que Salazar. O seu mais recente biógrafo, Rui Ramos, é seguramente muito mais apresentável que o J. Nogueira Pinto. Outra geração, outra Cambridge, outros públicos. A enorme vantagem de não ter tido que fossangar na Mocidade. Já o drama da esquerda é mais profundo. Com Aquilino morto, não há ninguém capaz de lembrar o professor Buíça.

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