25 junho 2013

Na serra, os gritos



Ela gritava. Era Inverno, eles estavam na serra e ela gritava muito. Uma manhã ele levantou-se da cama e espreitou a encosta. E viu cabras e ovelhas sem pastor, viradas para a casa, suspensas da sua refeição interminável.

Ela gritava, como ele ouvira gritar a rapariga no hotel da Gare de Lyon, no quarto ao lado. Mas esta gritava para ele, por causa dele. Talvez gritasse com ele. Um grito que ecoava na casa e, sabia-o agora, na colina onde as cabras pastavam os retalhos que a neve não cobria. Gritava a alegria primitiva dos seres, sem outro conteúdo que a exultação dos corpos, a repartição do prazer, a ilusão de que se pode chegar mais alto, mais fundo, mais além, mais perto do outro e de si própria, do precipício onde a matéria se recolheu até ser só energia, da borda do universo, do lugar mais provável onde se recolhe um deus que a si mesmo se ignora, como o espaço do décimo nono degrau da cave da Rua Garay, onde uma tarde Borges viu o Aleph e ao mesmo tempo as multidões da América e, de uma mulher em Inverness, a violenta cabeleira. Dizem que o mesmo sucede quando o ar rarefeito falta nas células e um ponto de anoxia, no cérebro, permite, sem surpresa, que nos retiremos silenciosamente para um ponto elevado e assistamos à nossa agonia, sem sofrimento, num registo cinematográfico. Nessa altura sentem que são o feldspato e a erva, o gelo que se desfaz e a água que empapa a terra, os seres unicelulares da charca, a lã dos animais antes da tosquia e os seus vagarosos habitantes, a carraça, e na saliva da carraça a rickéttsia. E no transporte dos gritos sentem a espantosa continuidade que o prazer institui. O encadeamento no abraço que parece impossível de desfazer. A expansão do ser que o grito permite. A casa e as cercanias da casa. O cervum da turfa, a tramazeira e o zimbro. Matéria semelhante, reconciliada, com a vantagem de estarem vivos e poderem continuar a sentir, mas gastando apenas a energia necessária para se manterem juntos e uivantes.

Em que momento deixaram de gritar? Foi por causa do filho no quarto ao lado? Da mulher ou do homem do quarto ao lado? Da mulher ou do homem ao lado? Veio o pastor e levou as ovelhas? A noite e o nevoeiro? Ou foi simplesmente a vida, a vulgaridade da vida naqueles pontos intermédios em que se afasta da vertigem da reflexão, da morte e do sexo e se dedica apenas aos alimentos e à sua conservação.

Borges viu o Aleph depois de, na sala onde esperava Carlos Argentino Daneri, ter dito para o anacrónico retrato da parede: “Beatriz, Beatriz Elena, Beatriz Elena de Viterbo, Beatriz querida, para sempre perdida, sou eu, sou Borges.” É surpreendente que ele, um homem que nos habituámos a imaginar tímido e reservado, tenha tido a coragem de uma invocação tão longa e explícita. A acreditarmos no relato, disse-a antes de beber, como um veneno, o cognac do país que ele próprio levara para casa de Carlos Argentino, depois de ter conseguido transformar o aniversário dela em pretexto de uma visita anual.

A visão do Aleph é outra versão do grito na serra. Os preliminares – uma longa preparação da visita ritual à casa de Beatriz e a deslocação à serra, as estradas sem sinalização, sinuosas, desertas, a casa fechada que é preciso aquecer, a confecção da comida, a abertura do vinho, os pesados cobertores de papa, a urgência dos corpos, a suspensão do tempo – e de repente o Aleph, como um pião que roda, e um nome que é preciso dizer e repetir, reafirmar, o nome da pessoa amada, que quando surge já está para sempre perdida, presente e ausente, anunciando a sua frágil realidade, sou eu, sou Borges, são eles reencontrados no desvão de um degrau, numa cama de uma casa da serra, por um instante poderosos e iguais às coisas duradouras e depois um grito, o eco de um grito que faz parar a mastigação das cabras e ondular o zimbro.


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17 junho 2013

Este país não é para rapazinhos



A descer a Rua do Carmo, eis os adeptos da “santidade e do heroísmo contra a luta de classes e a concepção económica da história”. Oh, que garbosos rapazes. Tão musculados e de cabeça quadrada. Uma reunião de porteiros da noite e seguranças de ministros, CEOs, dealers. Oh, os bicípites da História. Salientes como gémeos, colunas dóricas,  repugnantes como um molho de fascios.
À frente, confundindo-se com a polícia verdadeira, vem aquele indivíduo que sempre existe em todos os movimentos sociais, associações, sindicatos, clubes e demais colectivos, já quarentão e a quem ninguém ouviu duas frases completas, excepto nos alegres convívios depois das marchas. Cobra quotas, toma notas para relatórios que nunca ninguém leu, abre e fecha a sede, distribui panfletos e convocatórias. Até que um dia é preso e tem os armários cheios de esqueletos. Este, hoje, vai feliz como um maestro, embora não toque nenhuma música.
Mais atrás, ao lado de um carro do movimento em marcha lenta, vai o sujeito do megafone. O som que sai dos megafones é quase sempre sórdido, seja qual for a natureza das manifestações. Não, sórdido não é a palavra certa. Trata-se de um som estranho, gutural, excessivamente mecânico, quase sempre gritado - ninguém sussurra a um megafone. Um som destes, sem que  os organizadores aparentemente disso se apercebam, cria um efeito de distanciamento. Tão notório, que mesmo as palavras familiares se tornam bizarras. Nunca fui capaz de aderir a um slogan gritado a um megafone. Desperta-me, quando muito, um sorriso etológico. Neste caso, as palavras gritadas eram “família” e “inocentes”, “inocentes” e “família”, repetidas de forma aparentemente ingénua e pouco elaborada. Reparei que ninguém ouvia, mas, a bem dizer, não havia ninguém para ouvir na Rua do Carmo, àquela hora. Como se a manifestação fosse alguma coisa que fizesse parte da animação natural da rua, com o homem que faz bolhas de sabão, o pedinte da perna gangrenada, os dois malabaristas, as turistas que por uma razão desconhecida preferem gelados Santini aos Artisani. E não faltam as crianças de uma numerosa família regular, a ilustração da inocência por que os organizadores clamam, vestidas de patrióticas cores.
Do passeio do outro lado, um homem grita “fascismo nunca mais” e o sujeito do megafone responde-lhe aos gritos, com palavrões, rompendo o comedimento em que era suposto decorrer a manifestação.  Vejo então os mandantes:advertem o companheiro, recordam-lhe a responsabilidade de que foi investido, e desatam a cantar o Hino dos campos de futebol, que é o traço de união entre aquela gente, o nobre povo e a Nação, que os há-de levar à vitória ou pelo menos ao Rossio, onde dispersarão.
Quando passou a cauda da manifestação, felizmente poucos minutos depois do descrito, procurei o homem que gritara contra os fascistas. Cruzei a rua e aproximei-me dele. Ficámos os dois, silenciosos e cansados, ofuscados pelo excesso de história e pelo sol da Rua Garrett. 
­ No bairro Mitte, em Berlim ­disse ele então – há um lugar como este. Era a sede da Gestapo e hoje é uma espécie de museu, um centro de documentação e um memorial. Chamam-lhe a Topografia do Terror. O edifício desapareceu há muito. Mas ficaram os escombros e a cave. E é o que se percorre, agora. A céu aberto .
E depois, julgando que o não percebia: ­ Era esta a rua que os pides desciam, quando saíam do turno da tortura, e vinham comer às tascas da Rua 1ª de Dezembro. A rua que leva ao Rossio, onde aquele gajo, o exilado, sonhou desembarcar, e onde, se estivermos atentos, cheira ainda à carne dos judeus das fogueiras levantadas em 1506, ano de grande seca.
E é nessa altura que passa, bem diferentes dos suaves turistas com suas roupas claras, um casal apressado. Chegaram tarde à manifestação e aceleram a passada. Ela é velha, com madeixas de velha e a cara de bruxa das mulheres zangadas, que deixaram cair os cantos das bocas com as caretas que fizeram à democracia, à decadência dos costumes, ao massacre dos inocentes, aos atentados à propriedade e à família. Dá-lhe o braço que o levou à vitória e caminha vigiando os sapatos, conduzindo o doutor como fez toda a vida. Sim, conheço-os. É o doutor da Boca Grande. Foi da Mocidade, mas era só pelo aeromodelismo. Foi da Legião, mas era só pelo Gás Cidla. Foi dos espoliados das ex-colónias, mas era só pelos cunhados. Foi da Comissão de apoio ao General Tavares, mas era por causa do Parque Eólico. Foi da Comissão de Extinção da RTP, mas era só para reformar o Estado. O doutor da Boca Grande e a Esposa, aos saltinhos pela Rua do Carmo, atrás dos heróis do mar e do esplendor de Portugal. Estiveram sempre aí. Apagaram a merda toda que fizeram.  Taparam tudo. Calçaram os pés descalços da criadagem. Transformaram a sede da Pide num condomínio de luxo. Converteram as prisões politicas em museus tenebrosos, onde não sabes o que chorar, se a memória dos presos se a saúde oral dos funcionários ou o estado das canalizações. A bruxa murmura entre dentes uma reza qualquer. Talvez ralhe ao doutor por ter chegado tarde. Talvez o censure por ter levantado os olhos para os comunas que assobiaram, decerto, os rapazinhos. Lá vai ela, de azul egrégio. 

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09 junho 2013

Just another scar


- Olhe–me nos olhos - disse ela. Ou talvez tivesse dito: - Olhe para os meus olhos. Eu estava de pé, com uma enorme prótese ocular encavalitada no nariz, na qual ela tinha colocado as lentes Zeiss Photofusion para motociclistas, adaptadas a todas as situações de luz, preparadas contra encadeamentos, insectos, ventos, poeira e, julgava eu, alucinações. De pé, com o capacete debaixo do braço e a optometrista subitamente perfilada à minha frente, cabeça levantada, nariz empinado, olhos perscrutando o fundo das lentes Zeiss a que já podia chamar minhas, pois as pagara no acto de encomenda, uma semana antes, ao escolher as armações Paulino spectacles, num impulso fútil que homenageava os artistas portugueses e a indústria nacional de qualidade. Estava muito próxima, dentro do meu círculo pessoal, entre 45 centímetros e um metro e vinte. Foi então que ela disse: - Olhe para os meus olhos. E através das lentes Zeiss, beneficiadas com o maravilhoso tratamento Photofusion, ainda com as marcações originais e suspensas numa armação de prova, vi, à distância do meu braço, os olhos da optometrista. Oito dias antes ela tinha-me mostrado as armações de Paulino spectacles, os Arnaldo C 150 e os Bernardo  A 80, escrutinado meticulosamente a prescrição, feito medições no feróptero,  confirmado a distância interpupilar e o olho dominante, apresentado as lentes e explicado as vantagens do sistema Photofusion. Tudo me distraiu dos seus olhos. Era um dia do Inverno que este ano se infiltrou pela Primavera dentro e estava incomodado, arrependido por estar a perder tanto tempo num processo de escolha irracional, porque, incapaz de ouvir explicações técnicas enfadonhas, eu esperava, como uma epifania, o fascínio absoluto de umas armações perfeitas. Lembro-me da cor desmaiada da pele, da ênfase excessiva com que falava, como se saboreasse as palavras e sorrisse a partir do meio de cada frase, e quando se sentou à minha frente, no feróptero, da bata entreaberta e da blusa estampada com frutos tropicais. Mas o meu olhar saltitou de armação em armação, com pressa para sair da loja, arrependido do capricho que me estava a fazer perder a manhã.
Depois saí, na motoreta alugada, com um capacete demasiado pequeno para a minha cabeça, sem protecção integral,  com fendas laterais através das quais o vento assobiava como uma sirene, criando a sensação permanente de perigo e transgressão, a todo o momento esperando ver o carro da polícia, as luzes da polícia, a hedionda ronca que a policia partilha com os transportadores de feridos graves, assinalando uma qualquer infracção que decerto estarei fazendo, não decerto de  excesso de velocidade, já que a 250 que conduzo está cortada e com o punho todo rodado não atinge mais do que 60 km/horários, mas talvez a falta de qualquer documento, carta de condução, livrete, seguro, selo , IRC, IRS, IVA, declaração antiterrorista, certidão de casamento, cartão actualizado da Ordem dos Técnicos de Contas, BI, passaporte comunitário sem selos nem carimbos de países párias ou de seus aliados, cartão de eleitor, cartão do Pingo Doce, cartão de acesso ao parking da repartição, documento comprovativo de que finalmente  sou um tipo porreiro, um filho da puta a quem não se aplica nenhuma multa, coima ou contra-ordenação, cujo inocente capricho não vai além de desejar um par de gafas retro.
Vi então os olhos dela, as negras pupilas e as córneas azuis, sulcadas por riscos dourados que irradiavam das pupilas. Lentes de contacto coloridas, ainda tentei pensar, desconfiado de tanta e tão boa realidade, lembrando-me do período em que uma das minhas irmãs  usou olhos cinzentos ou de Bluemarine, a morena que encantou os comensais do restaurante Carmina, sobretudo os professores do agrupamento de Escolas  que almoçavam todos os dias, excepto às quartas, por coincidência, o dia de folga de Bluemarine e o único dia em que as córneas castanhas descansavam. Lentes que comprou com desconto especial na Óptica do Sacramento, ou que a Carl Zeiss Jena lhe cedia, ao abrigo do programa de promoção de novos produtos. Mas os olhos comoventes dela não estavam trocados. Via-lhe a fronte, o cabelo levantado sobre a fronte, a cicatriz da sobrancelha direita que resistira a um cirurgião insensível e assegurava que aquele rosto tinha, afinal, uma história. Scars, pensei. Another scar. Nothing but a scar. E naquele inebriamento que a velocidade confere, e que é a exaltação extrema dos sentidos, acelerei um pouco mais.

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02 junho 2013

Está tudo bem assim




O bastonário dos Advogados, António Marinho e Pinto (MP), teve um papel relevante neste último debate do Prós & Contras. A extrema convicção com que repete os seus argumentos permite fixá-los com facilidade. Se resumo bem, MP manifestou a sua firme oposição à co-adopção, actualmente em fase avançada de aprovação na Assembleia da República, e à adopção por parte de casais do mesmo sexo, baseado em três objecções principais: desafia “a Ordem natural das coisas” e é um “perigoso experimentalismo social”; retira à criança a possibilidade de “crescer harmoniosamente”;  e resulta anti-democrática porque a maioria da população é contra”.
Vou abordá-las sucintamente.
1.    A ONC
A Ordem natural das coisas, nesta crónica e a partir de agora designada por ONC, é uma crença fácil e generalizada mas que não resiste a uns minutos de reflexão. Há uma frase de Salazar que os ouvintes da Antena 1 podem ouvir todos os sábados, poucos minutos após as nove horas, no genérico de A Vida dos Sons, de Ana Aranha e Iolanda Ferreira, um dos melhores programas da rádio portuguesa e a que já uma vez me referi. Diz o ditador, com a voz rouca e o sotaque beirão que tornam esta frase inesquecível (http://www.rtp.pt/play/p657/e114718/a-vida-dos-sons):
 - Está tudo bem assim e não podia ser de outra forma.
Era a ONC, no tempo de Salazar. Salazar interpretava, a jeito, a ONC e colocava-a em marcha. Não suba o sapateiro além da chinela. Cada macaco no seu galho. A mulher quer-se pequenina como a sardinha. Albarda-se o burro à vontade do dono. Não ponhas o carro adiante dos bois. Pancada de amor não dói. Quem tem cu tem medo. Sinal na perna mulher de taberna. Mais vale sê-lo que parecê-lo. Enquanto há mulheres não se confessem homens.
A ONC já foi tanta coisa. Tomemos o Ocidente: o colonialismo foi, nos cinco séculos que antecederam o século XX, a ONC. O respeito pela hierarquia feudal já foi a ONC. A abolição da escravatura foi vista, nas plantações dos estados do sul da América do Norte, como “perigoso experimentalismo social”. As primeiras sufragistas foram ridicularizadas em nome da ONC. Galileu, Copérnico, Darwin, Freud, Einstein foram blasfemos que demoliram a ONC. Os búlgaros chacinaram os ábaros em nome da ONC. O casamento inter racial era interdito. Houve objecções sobre o estudo do corpo humano, e 500 anos depois, sobre o estudo do código genético, as vacinas e o uso de antibióticos. O principal receio era o desequilíbrio da ONC. Não apenas os revolucionários, mas inovadores e  reformistas foram invariavelmente acusados de experimentalistas sociais.
Quem era pobre morria doente, porque era a ONC. O destino sempre foi um lirismo para designar a ONC. Houve sempre ricos e pobres. As crianças das famílias abastadas tinham prioridade. Os pobres que paguem a crise. A ordem imposta pelos que tinham as armas e o ferro, foi sempre a ONC, no melhor dos mundos possíveis. Em todo o lado, da educação dos jovens à atitude com os mais velhos, as variadíssimas práticas e valores foram sempre vistas como “naturais”. Somos o resultado de uma evolução de milhões de anos, ouvimos agora dizer, e embora seja impossível ignorar a crise (passageira), há quem se sinta orgulhoso deste resultado e olhe para si como o fim da evolução: a menina de 3 anos a querer calçar os sapatos de salto alto da mamã (Christian Louboutin ), o domínio e o direito absoluto sobre a vida dos outros animais e sobre a natureza, o capitalismo financeiro especulador.
2.    A criança.
A mais prolífica e prestigiada das associações científicas pediátricas é a Academia Americana de Pediatria (AAP). A AAP e as suas congéneres de Enfermagem, Psicologia, Psiquiatria, Psicanálise, Serviço Social, Medicina de Família, entre outros, têm produzido recomendações baseadas nos estudos disponíveis sobre os aspectos psicossociais das crianças cujos pais, ou mães, são homossexuais. O mais recente, data de Abril deste ano. O resumo é longo, mas o clima de constrangedora confusão e desinformação é tão ensurdecedor que vale a pena lê-lo atentamente. Era aliás o mínimo que se exigia ao exaltado MP, antes de intervir publicamente sobre o tema:
 “Para promover a saúde e o bem estar de todas as crianças, a Associação Americana de Pediatria (AAP) apoia o acesso de todas as crianças a (1) direitos do casamento civil para os seus pais e (2) pais adoptivos disponíveis e capazes , seja qual for a sua orientação sexual.(…) A AAP apoia as famílias em toda a sua diversidade. As crianças podem nascer, ser adoptadas, ou temporariamente cuidadas por casais casados, não casados, pais ou mães solteiros, avós ou responsáveis legais e qualquer um deles ou delas pode ser, heterossexual, gay ou lésbica, ou de outra orientação.(…) A evidência científica afirma que as crianças têm desenvolvimento semelhante quer sejam educadas por pais do mesmo género ou de género diferente.”

3.    A maioria.
Os direitos humanos, tal como os direitos dos outros animais, não são referendáveis, nem podem resultar de votações como as que apuram presidentes de Juntas, deputados à Assembleia ou o Orçamento geral do Estado. Se uma qualquer maioria- tal a que agora escolheu MP como a sua Frigide Barjot- se formar para tornar letra de lei que a pena de morte deve ser restaurada, o testamento de vida ignorado, e o sexo obrigatoriamente“maravilhoso, só com o corpo nu envolvido parcialmente por lençóis de cetim branco ”, essas medidas, mesmo que apoiadas por 99,9% de eleitores serão ilegítimas. Porque, contrariamente ao que advoga quem brande a ONC conforme dá jeito, não é esta a estação terminal, o melhor dos mundos, o fim da evolução. Seres mutantes por escolha ou por definição, estamos em constante mudança, um processo mais caótico que linearmente ordenado, e é justamente assim que aprendemos a pensar. E a ser grandes (nem sempre). Essa, nem de propósito, tem sido uma lição partilhada pela ordem-caos simultaneamente natural e cultural, em pé de igualdade.
O tempo em que as maiorias declaravam os seus interesses e opções como naturais e universais banindo, criminalizando ou medicalizando as formas de existência dos Outros, acabou. As famílias são, geralmente, um sítio excelente para as crianças crescerem e se desenvolverem. As famílias- no plural, na sua diversidade, até onde vai o entendimento. E além, mais além.

Promoting the Well-Being of Children Whose Parents Are Gay or Lesbian, Policy Statement, From the American Academy of Pediatrics, Committee on Psychosocial Aspects of Child and Family Health, April 2013




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