Micro, pequenos, médios e grandes ricos que querem pagar a crise de todo o mundo, uni-vos!

Phamílias de todo o Mundo, uni-vos!

Bicicleta

(publicado no jornal i, a 10.08.2011. Hoje, na mesma coluna do i, Babi Yar.)

O episódio é contado por Julian Barnes num dos seus livros recentes, "Nada a Temer", na tradução portuguesa. Bertrand Russell descreve assim o fim do seu primeiro casamento: "Uma tarde fui andar de bicicleta, e de repente, quando passava por uma estrada no meio do campo, percebi que já não amava Alys. Até esse momento, não fazia sequer ideia de que o meu amor por ela estivesse a diminuir." Barnes conclui exclamando: "Afastem os filósofos das bicicletas."

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Continuem os bombardeamentos

Na Líbia caíu outra ditadura. Vejo as imagens dos rebeldes a disparar metralhadoras e não me comovo. Não sinto nenhuma simpatia pelos rebeldes. Falo com algumas pessoas que evitam o tema (ou me evitam a mim?). O presidente das Nações Unidas pede aos rebeldes que sejam clementes. Logicamente deveria pedir à NATO que, para evitar massacres, começasse a bombardear os rebeldes.

Classe média de todo o mundo, uni-vos!

Nação valente

O patriotismo dos portugueses é estranho. O PC bem pode bramar contra a troika estrangeira. Enquanto não doer a sério não atirarão pelas janelas os suaves representantes do capital financeiro.
Mas mais difícil de compreender é o patriotismo com limite de idade. A selecção nacional pôs bandeiras nas janelas e a população nas ruas em saudável convívio e festejo económico. Mas a selecção nacional de sub-20 , finalista mundial, quase passou despercebida. Tirou o sono a meia-dúzia que assistiram à conversa de dois comentadores, tão isentos e rigorosos que pareciam da Bielorrusia ou do Rio Grande do Sul.
Pronto, já percebi: o patriotismo é para depois dos 21.

isto é

O Gualter é encenador de teatro
isto é
encena os encenadores de teatro e é também o namorado da Fénix que o traz de rédea curta exceto nas noites de primavera
isto é
em que a Fénix cheira a primavera e envia mensagens com convites de beijos que não chegam a lado nenhum
isto é
julga a Rufina A Rufina é amiga do Gualter e não lhe agrada a coisa
isto é
cheira que a Fénix cheira muitas vezes a primavera nas noites de todas as estações primavera incluída A Rufina quis seduzir o Gualter para haver alguma justiça no mundo O Gualter fez-se caro
isto é
aplicou as técnicas de Stanislavski ao seu desejo que trepava E a Rufina disse-lhe deixa lá também não estava assim tão interessada o que aguçou o tesão do Gualter mas era tarde
isto é
foi assim que a Rufina me contou
isto é
a Fénix.

Uma pergunta por dia: Aceitava trabalhar no tema Serviço Público de Televisão numa Comissão presidida por João Duque?

O professor João Duque, um dos maiores defensores da privatização do serviço público de televisão vai presidir a uma Comissão que vai estudar a privatização do serviço público de televisão. A Comissão tem vários elementos. Um deles é José Manuel Fernandes (JMF). Acho muito pedagógico ouvir as posições de JMF sobre o desempenho do actual governo. Comparar a agudeza com que JMF denunciava o socratismo com a postura actual, actualiza a opinião sobre a honestidade e a coerência da figura, uma das presenças mais contantes nos media e um dos mais importantes conformadores cerebrais do regime . Nessa comissão está ainda um funcionário do PSD, Ribeiro Cristóvão, alguns nomes cujo curriculum desconheço e três pessoas interessantes: Manuel Villaverde Cabral, Eduardo Cintra Torres e uma investigadora da Universidade do Minho, Felisbela Lopes.

A pergunta é: o que é que fazem nessa comissão M. Villaverde Cabral, Cintra Torres e Felisbela Lopes? Como aceitaram pertencer a uma comissão presidida por Duque?

Uma pergunta por dia: O que pensa Darwin da Fundação Champalimaud?

Que actividade desenvolve a Fundação Champalimaud? Numa área anexa funciona um restaurante café chamado Darwin's café. Desde que o actual secretário de estado da despromovida Cultura criou um blog com o título feliz de A Origem das Espécies que nada me espanta, no campo da apropriação do prestígio actual do evolucionismo e no contrabando ideológico. Ainda ontem vi a Maya citar o grande filósofo Agostinho Neto sem ser corrigida.
A pergunta é: o que acham do Darwin's café, espaço e decoração? O que faz, realmente a Fundação da conselheira de Estado Leonor Beleza?

Uma pergunta por dia: Quem substituiu Dias Loureiro no Conselho de Estado

Todos somos poucos para salvar Portugal. Todas as contribuições são necessárias. E as dos melhores são as mais necessárias. Falta-nos o conselho de Manuel Dias Loureiro, a visão, o faro investidor.
A pergunta é: quem, dos novos conselheiros de Estado nomeados por Cavaco reúne as qualidades que levaram Dias Loureiro ao podium em que se encontra?

Filmes do Verão

1. A conspiradora, de Robert Redford
Um episódio da construção da ordem jurídica norte-americana, reconstituindo um julgamento do processo do assassinato de Lincoln. Robin Wright e James Mc Avoy em dois grandes papéis. Uma reflexão sempre actual sobre a realpolitik e os direitos humanos, a razão de Estado e os seus limites.

2. Gianni e as Mulheres, de Gianni di Gregório
Depois da surpresa da estreia em "Almoço do 15 de Agosto", a desilusão. A sexualidade dos velhos, sem surpresa nem piada.

3. Confissões de uma namorada de serviço, de Soderbergh.
Um dos filmes que a crítica dos estrelinhas chacinou injustamente. As relações sexuais sob o FMI antes do caso DSK. Ou, simplesmente, Chelsea (e o PT).

Patrícia Acioli

Patrícia Acioli, juíza em Niterói, conhecida pela coragem na condenação dos assassinos da PM, os bandidos dos esquadrões da morte brasileiros.
Executada à porta da sua casa, na sexta-feira, quando voltava do trabalho.
Um grupo de encapuçados disparou 21 tiros contra a magistrada. As cápsulas eram de um calibre usado habitualmente pela polícia.
Patrícia não tinha protecção especial. Segundo um primo, ouvido no local, tinha-lhe sido retirada há quatro anos, apesar de continuadas ameaças de morte.
O presidente do Supremo Tribunal disse que não tinha conhecimento das ameaças e que um inquérito decorreria célere.

Cartas aos amigos em férias

Foto de André Bonirre


A semana passada o MST disse que se espantava que tivessem ido buscar a nata dos economistas liberais e eles nem soubessem fazer as contas do BPN. Hoje acordei para assistir à conferência de imprensa do Gaspar, do governo Gaspar. Os jornais titulavam : "Governo revela plano de cortes na despesa". Mas as minhas expectativas foram defraudadas. O Gaspar, do governo Gaspar, anunciou mais impostos. Nada de poupanças, mais impostos. Logo a seguir falaram os responsáveis da Troika. Se os puserem a falar muitas vezes e os portugueses ainda guardarem alguma massa encefálica, estas conferências da Troika podem ser altamente pedagógicas. Um dos senhores disse que era ainda precisa muita alteração legislativa, menos direitos para quem trabalha e mais para quem emprega. Outro disse que a TSU deve baixar muito mais do que o governa queria e um estudo muito discutível que encomendara, tinha aconselhado.
Os economistas do Ladroes de Bicicletas escreveram que este estudo era ideologicamente viciado e fraco nas suas conclusões. Se o objectivo é relançar a economia e tornar os produtos mais competitivos não percebo como é que se consegue isso aumentando a electricidade e o gás .
Os Ladrões de Bicicleta dizem que o objectivo do governo é proceder a uma alteração regressiva da repartição da riqueza nacional. E o JPP, na revista Sábado , diz que este governo tem, com os ricos, proximidade e promiscuidade.
Deixem-se ficar na praia. Quando voltarem serão mais pobres, isso podem ter por garantido.

Estrelas para Angèle e Tony

foto de André Bonirre








O cenário é a Bretanha, uma das regiões da Europa onde talvez seja ainda possível alguma coisa parecida com isto acontecer. Uma mulher volta para estar perto do filho que perdeu. Mais um caso da Segurança Social. Os casos da Segurança Social chateiam os críticos de cinema. Os críticos de cinema (o plural é excessivo. Falo de Francisco Ferreira, com coluna no Expresso , um troglodita que despachou com uma bola preta o filme de estreia de Alix Delaporte, Angèle e Toni com Clotilde Hesme, a Elisa de Monfort de Mistérios de Lisboa, a Lilie de Amantes Regulares. E , nos papéis secundários, outro motivo de rejubilação, a almodovoriana Lola Duenas.
Naquele sítio há homens que pescam para vender o peixe e disso viver: pescadores. Um deles, Toni, responde a um anúncio da mulher. Ela procura marido como estragema para adiar a entrega definitiva da custódia do filho. As palavras-chave são então: Liberdade condicional, emprego precário e desqualificado, casamento por anúncio, prostituição, proteção de menores à mistura com solhas e linguados, greves e confrontos com a polícia. Há quem não goste destes temas e prefira a história da Gata Borralheira e do Peter Pan. Têm todo o direito. E também, claro, direito a condicionar as opções do público residual das salas de cinema. Mas deviam, à maneira de declaração de interesses, editar uma folha do tipo "informações " do Facebook. Era mais honesto e já sabíamos ao que vinham - e nós ao que íamos .
O cinema de Delaporte é um cinema de despojamento, sem efeitos especiais, sem cenário. Outro estrelista do Expresso gabou o cenário do filme quando, uma das características do filme é ter como cenário a paisagem moral das personagens, muitas vezes silenciosas ou de poucas palavras. O cenário natural da Bretanha, mar e terra, e o cenário social são mostrados quase pudicamente, de forma não icónica nem demonstrativa.
E depois o filme é um filme com motas e bicicleta, como se dizia, de Jane Eyre, que era um livro "com paixão e um incêndio ".
Para os que não sabem para que serve a bicicleta aí têm Angèle. Nas primeiras cenas parece mal saber equilibrar-se, o trajeto é irregular, sempre à beira do desequilíbrio . Depois, uma cena capital mostra-a em grande plano, desfeada pelo esforço e pela câmara , avançando a custo, soerguida na máquina, cada pedalada contada por uma expiração prolongada.
Estes temas, esta linguagem, estão para lá da literacia de FF.
Há ainda quem leia.Tem de haver.



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De pé as vítimas das Luzes

Foto André Bonirre


Alguns críticos de cinema têm com a sétima arte uma relação parecida com a que a Helena Matos tem com as Luzes. Escrevem como vítimas que não se atreveram a apresentar queixa. Mas que lhes fizeram alguma, fizeram. Foi o Godard ou o Truffaut, o Losey ou o Fritz Lang. O Rousseau ou o Diderot , o Junqueiro ou o Antero.  Eles e ela detestam. Se puderem pôr só uma bolinha sem explicações, adoram. Melhor ainda é  a pequena coluna arrasadora. Estilo processo sumarissimo. Quando se exige mais fundamentação, a questão complica-se. Mas isto não é terra de polémica nem contraditório e o que interessa é marcar posição. A Helena Matos, aiópá, é danada. Põe os gajos na ordem. E os críticos das estrelinhas também . 

Há ideias que me causam vertigem: a ideia de Universo. A ideia de um planeta gelado. A ideia de que, com um telescópio adequado, poderíamos ver o big bang e que se aumentássemos a resolução entraríamos na noite total que o precedeu.