Depois da canonização de Nuno de Santa Maria levaram a Senhora de Fátima ao Cristo Rei.
O Cristo Rei de Almada é uma criação do cardeal Cerejeira, um pastiche do Redentor do Corcovado que o cardeal quis trazer para Almada. Muitas destas idiossincrasias devem ter acontecido, ao longo dos tempos . Erigir a Tour Eiffel em Xabregas, o Arco do Triomphe no Rossio, as cataratas do Iguaçu em Vil de Moinhos, Lurdes na Cova da Iria. Sucede que o país era uma ditadura e o ditador o amigo do cardeal. O monstro cresceu ali, virado para a exposição do Mundo Português, um símbolo do mau gosto de um povo sem apego à cultura nem à liberdade.
Agora quiseram comemorar. Numa arriscada sobreacumulação simbólica quiseram juntar a senhora de Fátima ao Cristo Rei. A Igreja Católica não resiste a este folclore. Lá está ela, como a estátua, de braços abertos para tudo o que cheire a bafio.
O cardeal oficiante, o Midas do Vaticano, o que transforma em santidade tudo em que toca, falou de paz. Parece que o Mostrengo foi levantado em cumprimento de uma promessa dos bispos portugueses. Eles pediram a Deus
que salvasse Portugal da guerra. Em 1940 o nazi fascismo ocupava a Europa, bombardeava a Inglaterra, perseguia implacavelmente os judeus, e o país entrava no décimo quarto ano de suspensão das liberdades. Os bispos portugueses não pediram a Deus para que a barbárie fosse derrotada. Fizeram um pedido privado ao seu pequeno deus nacional,
que poupasse Portugal.
Eu respeito a gente simples que se reúne em Almada. E respeito a sua fé. E defenderia, até à última consequência, o direito à celebração dos seus rituais . Mas irrita-me que chamem paz à capitulação e à hipocrisia estratégica . E que tentem reabilitar a história com estórias mal contadas.