Que Viva España
A selecção portuguesa de futebol perdeu com a espanhola. Um grupo de trabalhadores nacionais emigrados e de estrangeiros emigrantes perdeu com um grupo de trabalhadores espanhóis. Explicaram-me como foi: a Espanha teve 61% do tempo a posse da bola, chutou à baliza com intencionalidade três vezes mais. A Espanha passou o jogo no meio campo português a trocar a bola e a urdir lançamentos em profundidade para os atacantes. Em linguagem futebolística : a Espanha fez a bola circular entre as nossas linhas à procura de espaços de penetração. Face a esse domínio esmagador, um certo equilíbrio podia existir se a equipa portuguesa partisse rapidamente da recuperação da bola para situações ofensivas. Isto é, se as transições fossem rápidas. Isso quase nunca aconteceu. Poucas vezes até aos 52 minutos e nunca depois. Todos os jogos têm uma história que não está escrita antes e raramente é previsível. Um grande escritor sobre futebol, Luís Lobo, escreveu há tempos que um jogo se podia perceber encostando o ouvido à linha de meio campo e auscultando os passos dos jogadores que a cruzam. Se tivéssemos feito isso teríamos percebido que a equipa portuguesa era o silêncio com uma intermitência pela esquerda .A alteração possível implicava o reforço da ala esquerda mantendo o homem Almeida no eixo do ataque. O treinador português não fez essa escuta e a equipa apagou-se, inofensiva.
A nossa selecção de futebol é muito inferior à espanhola. A nossa selecção de jornais também. A de colunistas nem se fala, embora seja difícil imaginar com quem se pode comparar um imbecil ilustrado como VPV, um católico ultramontano como César das Neves ou um diletante como MST. Se nos compararmos, perdemos em quase tudo: na poesia, na novela, na viola de gamba, na saúde oral e no tamanho dos narizes. Ontem viu-se, quando as câmaras focavam a assistência: uma mulher guapíssima passando bâton pelos lábios, alternava com um broeiro lusitano, atarracado e hirsuto.
A Espanha teve de tudo e a sério. Teve anarquistas e falangistas, brigadas internacionais e fossas comuns. Na primeira metade do século XX a Igreja Católica em Portugal foi nojentinha. Em Espanha foi mesmo nojenta.
Hoje estamos como sempre fomos - se excluirmos o breve período em que um bruxo brasileiro, com o apoio do Marcelo das bandeiras, fez psicoterapia de grupo à selecção de futebol e hipnose ao País. Condenados ao Sócrates e ao clone barítono, aos socialistas entre a jugular e a estomáquica, aos sociais-democratas revirgens como um rapaz de Blake, aos estalinistas e à esquerda alternativa. Ao senhor Silva e ao comendador Loureiro. Ao fartote, ao rega-bofe, à depressão cortical, ao fado da humanidade imaterial, à maldição insular que atingiu Antero e ainda chega até nós, como um anticiclone que vem dos Açores.
Dos Açores e não das Canárias. Do Brasil e não da Argentina, do Alto Peru ou de Cartagena das Índias. Faz toda a diferença. Toda la diferencia.
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