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André Bonirre
Morreu a Liz Taylor e caiu o governo. Um de cada vez, como convém. A Liz Taylor de manhã. O Sócrates ao fim do dia. Depois de ter dito ao Presidente. Deve-se dizer tudo ao Presidente. Ele tira boa nota do que se lhe diz. Encomenda o velório e a missa de corpo presente. A minha mãe teve pena da Liz Taylor. E à noite teve pena do Sócrates. A minha mãe tem pena das pessoas que partem, sobretudo se são mais novas do que ela. Eu estive o dia todo sem saber. O muro espesso das crianças esconde-me a notícia das mortes. Demasiadas mortes atrás da cruel cortina da infância.
À noite vi. Já tinha acontecido tudo mas os cadáveres pareciam quentes. Vi que tinham aberto a caixa de Pandora e os monstros da Idade Intermédia se tinham soltado. Vi o Arnauth, o único ser contente à face da terra, nulo e contente, a boca a comer os lábios finos, menos polido que na última glaciação.
-De onde saiu este?- disse o senhor Júlio que estava a servir ao balcão. E os clientes da meia-noite trocaram olhares de cumplicidade.
Temos então a alternância. Outra vez o excitante debate entre ir à praia ou ao dever cívico, escolher entre o PEC 4 ou o FMI, a obediência a Bruxelas ou ao FMI, recuperar o BPN ou privatizar a TAP, avaliar os professores ou pagar horas extraordinárias aos médicos, pagar subsídios de desemprego ou exterminar os desempregados.
E isto dito ao ouvido, com iPhone de preferência, ou clicado à pressa em sms.
Vou-me embora. Tenho 6.300 dias de férias acumuladas e sete dias para as gozar, despacho de 21 de Março.
Ficai em paz. O Viegas que vos alivie.
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André Bonirre
Durante algum tempo haverá dois países. O país que nasceu a 12 de Março e o outro. O país 'que roça a santidade', conforme à ordem de Bruxelas, à sem razão dos mercados, à esperança na alternância do PSD, e o outro, aquele aluvião de gente ainda sem representação, que assobiou a Joana Amaral Dias quando ela quis mais protagonismo que um lugar na multidão.
André Bonirre
Algumas das palavras de ordem de ontem: "the best system is sound system' .
E,claro, a frase luminosa: Precários nos quiseram, rebeldes nos terão '.
André Bonirre
Na sexta-feira Helena Matos, no Blasfémia, chamava aos manifestantes 'filhos de Boaventura'. Também lá os haveria, felizmente, que a coisa quer-se variada. Mas não deixa de ser irónico que o Público tenha escolhido Filomena Mónica e VPV para comentar a situação . Pulido Valente, preguiçoso, tinha crónica escrita de véspera e assina frases deste teor: 'A complacência para os governantes que levaram Portugal à miséria roça a santidade.' Roça, sim, Vasco. A santidade e a insanidade.
Uma nova situação exige novos intérpretes e novos comentadores. Os sociólogos, politologos, economistas e comentadores generalistas das varias instâncias mediadoras têm o lugar a prazo. Ė o problema dos recibos verdes.
André Bonirre
A manifestação assinalou um desses momentos de aceleração da história em que tudo o que fica para trás parece irremediavelmente antiquado. Momento simbólico: um manifestante transporta um cartaz em que as suas propostas estão escritas em árabe. Não porque ele se pense, como o alucinado, na Praça Tahir. Mas porque tem consciência de que é precisa uma nova língua para exprimir uma coisa nova. Felizmente não estávamos na Praça Tahir- havia mulheres, muitas mulheres sem medo.
Rui Ramos queixou-se de que ao escolher os percursos históricos e algumas canções e palavras de ordem do passado, a manifestação se tinha colocado no terreno da esquerda partidária ( Ramos pensava lisboeta, como de costume). Mas as criaturas que farão a manifestação que agrade a Ramos ( o Rui, como o pivot da SIC já lhe chama) já morreram há séculos e nunca encherão senão os salões da marquesa do Cadaval.Isto que escrevo não é um juízo de valor. É apenas uma constatação: o sobressalto cívico daquelas multidões não usou os símbolos que agradariam a Rui.
( continua)
André Bonirre
Sonhei que chegava ao trabalho e me sentava para a reunião de passagem de turno. Ninguém falava, mas à segunda-feira as coisas arrancam devagar. Olhei, interrogativo, a Valeria, que fizera o turno da noite. Como ela se mantivesse calada, disse, sem elevar a voz: - Podemos começar. A Valeria olhou nervosamente para os apontamentos.- Aconteceu alguma coisa?- perguntei, enquanto procurava os olhos da Júlia. A Júlia é a chefe de serviço e coordenadora do departamento. Quando me esqueço de alguma coisa- o que sucede com alguma frequência nos últimos anos- ela toma a palavra com naturalidade. Também me substitui em algumas conferências e, desde Janeiro, acompanha-me às reuniões do Conselho. Mas a Júlia não levantou os olhos. Então, do lado esquerdo, aproximou-se o Rogério, o jovem promissor que o Conselho contratou em novembro, e, com aquela voz mansa que sempre me irritou levemente, disse: -Precisamos de falar.
- Depois de receber o turno, se não se importa- respondi, com autoridade.
- Acho que o senhor ainda não percebeu, Dr.Santos, nós já passámos o serviço- continuou o Rogério, sempre de pé, ligeiramente inclinado, do meu lado esquerdo.
Voltei a procurar a Júlia e pela segunda vez ela me falhou.
- Achamos que chegou a hora de ser substituído na direcção da empresa, Dr. Santos. Espero que compreenda essa necessidade e se integre no Novo Espirito, como a esta hora está a suceder por todo o lado, neste país, e em toda zona mediterrânea.
- Mas substituído por quem, ó Rogério ? E por ordem de quem? E por alma de quem? -tentei ironizar, calando prudentemente a minha surpresa pela erudição geopolitica do Rogério.
- Por mim - respondeu o rapaz. Ordens do Conselho, interpretando o Movimento a que pertenço.
- Do Conselho? - interroguei perplexo?
- De alguns membros do Conselho- explicou ele, tolerante.- Os mais jovens.
- Mas porquê você, Rogério ?- comecei eu, jogando na divisão, e olhando cúmplice para a assistência. - Você, Rogério, tem um contrato magnifico, bem mais vantajoso do que o meu, ao que julgo saber. E, se se trata de promover uma renovação geracional, por que não dar o lugar à Dra.Júlia, muito mais preparada que você, caro Rogério, perdoe a franqueza.
- A Dra. Júlia faz parte da classe que deteve o poder, Dr. Santos, ou esteve perto dele, ou perto da geração do poder. As coisas mudaram, queira deixar essa cadeira.
Tentei protestar. - Cidalia, tu que tanto protegi. - Fernando, que levei à conferência de Munique. - Serena, o que vai ser do teu projecto de doutoramento?
Levantei-me da cadeira. Igual às outras, afinal. Mas, pela colocação na sala e pelo uso que eu lhe dera, simbolizava a minha tíbia direcção. Se alguma coisa sei é a força que têm os símbolos. E também sei que em épocas destas é preciso respeitar gente como o Rogério e os membros mais jovens do Conselho. Tenho a pensão da minha mãe para defender - nem tudo está perdido.
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