30 março 2011




Fitch avisa que cortará rating de Portugal se FMI não intervier (dos jornais)

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29 março 2011




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28 março 2011

Negacionistas



Daniel Oliveira acabou ontem a sua prestação no Eixo do Mal chamando, com gravidade, a atenção para uma entrevista do Expresso, que, segundo ele, deveria alterar substancialmente a visão que temos sobre o único, ou um dos poucos casos em que chegou a tribunal, julgada e condenada a exploração pedófila dos menores asilados .
Fui ler: trata-se, no meu modesto entender, de uma peça vulgar de contra-informação, da autoria de um free lancer que tem tido como ganha pão uns trabalhos de reabilitação da imagem de um dos condenados. Custa a perceber, apesar de tudo, como é que aquele material passa no Expresso.
Mas Daniel Oliveira não tem dúvidas: a investigação, todo o trabalho do MP e dos juízes ficaram imediatamente " abalados pela entrevista". Não tem dúvidas nem contraditório.

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27 março 2011

A Líbia à beira da democracia


Lazlo Moholy-Nagy , Mãe Europa trata dos seus.


A qualidade da informação que chega da Líbia é lamentável.
Nos últimos dias uma cidade foi libertada pelos rebeldes. As câmaras mostram uma cidade semi-destruída onde o lixo se acumula. Somos guiados por jovens que falam francês e inglês e, por esse facto, parece terem assumido algum relevo no movimento rebelde. Visitamos a família de um rapaz que morreu e um centro artesanal de produção de notícias. Os rebeldes derrotaram as tropas regulares. São exibidos quatro rapazes negros- mercenários, dizem. Um deles confessa, por monossílabos, ter combatido ao lado dos fiéis de Kadafi. São conduzidos para interrogatório a uma cidade próxima. (Presume-se que nessa cidade existe um nível de decisão superior do movimento rebelde. Mas o jornalista desinteressa-se desse facto e da sorte dos prisioneiros.).
No Público, de raspão, lemos outra versão. Os rebeldes ocuparam a cidade depois da aviação francesa ter bombardeado as posições do exército, acantonado em dois pontos estratégicos.
Noutro momento vê-se um desgraçado com uma catana encostada ao pescoço cercado por uma turba aos gritos.
Outro repórter, na fronteira da Tunísia assiste ao êxodo líbio.
A informação é sempre a mesma. As fontes são muito limitadas e não identificadas. O papel da NATO na solução militar é ocultado. O tratamento dado pelos revoltosos aos prisioneiros nem sequer é aflorado. Os mortos são todos vítimas de Kadafi.
Passa-se tudo no terreno idílico do maniqueísmo . Os bons, desarmados e ingénuos, os maus, mini Kadafis, demonizados. Ao que leio, este digest indigente deixa todos satisfeitos, à beira de mais uma vitória da democracia.
Alegremo-nos : já chegou o José Rodrigues dos Santos.

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25 março 2011

24 março 2011

Geração aparvalhada volta a atacar




André Bonirre


Morreu a Liz Taylor e caiu o governo. Um de cada vez, como convém. A Liz Taylor de manhã. O Sócrates ao fim do dia. Depois de ter dito ao Presidente. Deve-se dizer tudo ao Presidente. Ele tira boa nota do que se lhe diz. Encomenda o velório e a missa de corpo presente. A minha mãe teve pena da Liz Taylor. E à noite teve pena do Sócrates. A minha mãe tem pena das pessoas que partem, sobretudo se são mais novas do que ela. Eu estive o dia todo sem saber. O muro espesso das crianças esconde-me a notícia das mortes. Demasiadas mortes atrás da cruel cortina da infância.
À noite vi. Já tinha acontecido tudo mas os cadáveres pareciam quentes. Vi que tinham aberto a caixa de Pandora e os monstros da Idade Intermédia se tinham soltado. Vi o Arnauth, o único ser contente à face da terra, nulo e contente, a boca a comer os lábios finos, menos polido que na última glaciação.
-De onde saiu este?- disse o senhor Júlio que estava a servir ao balcão. E os clientes da meia-noite trocaram olhares de cumplicidade.
Temos então a alternância. Outra vez o excitante debate entre ir à praia ou ao dever cívico, escolher entre o PEC 4 ou o FMI, a obediência a Bruxelas ou ao FMI, recuperar o BPN ou privatizar a TAP, avaliar os professores ou pagar horas extraordinárias aos médicos, pagar subsídios de desemprego ou exterminar os desempregados.
E isto dito ao ouvido, com iPhone de preferência, ou clicado à pressa em sms.
Vou-me embora. Tenho 6.300 dias de férias acumuladas e sete dias para as gozar, despacho de 21 de Março.
Ficai em paz. O Viegas que vos alivie.

23 março 2011

21 março 2011

O bombardeamento bom



Algumas das pessoas cujas opiniões mais respeito apoiam com convicção o bombardeamento da Líbia. Os motivos são os óbvios: a satisfação por ver derrubar Kadafi, a urgência em parar com a matança de inocentes, a simpatia para com os insurrectos que tiveram a coragem de se manifestar e pegar em armas contra um dos regimes mais abjectos do mundo. Ao contrario do que se passou com o Iraque, grande parte da esquerda aceita esta intervenção. Os motivos foram resumidos pelo Daniel Oliveira: existe uma situação de massacre, a intervenção é feita sob os auspícios das Nações Unidas, os objectivos são bem definidos e não incluem a ocupação do país.
Estariam assim reunidas as condições para realizar a famosa ingerência humanitária: a humanidade evoluída, moderna, escondendo objectivos económicos imediatos e em nome dos valores civilizacionais, normaliza a situação num país atrasado. Neste caso a Líbia tribal.
Não me entusiasmo. Como na morte do ditador iraquiano (um enforcamento ignóbil pré-moderno, convém recordar) não levanto nenhuma taça a nenhum brinde. Não há nenhuma humanidade num bombardeamento. Um bombardeamento é um acto covarde. Não distingo entre o bombardeamento das forças armadas líbias sobre Bengasi e o bombardeamento das forças francesas sobre Tripoli.
Depois, este assomo de interesse pela sorte dos insurrectos líbios está, na maior parte dos que se escandalizam, manchado pela hipocrisia. Sem falar do Ruanda e do Darfur, da Eritreia e do Sudão, houve matanças ignominiosas a serem perpetradas debaixo da indiferença moderna, de um ligeiro incómodo pós-moderno e da turbulenta ignorância hiper-moderna. Hoje mesmo, os ditadores africanos pós-coloniais, herdeiros do pré-colonialismo, do colonialismo e do anticolonialismo, exploram, agridem e algumas vezes massacram os seus povos, sempre com o apoio e o entusiamo do homem branco empreendedor e debaixo do pesado silêncio das instâncias internacionais. O Reino Unido soube esquecer a tragédia de Lockerby ee enviar o príncipe do povo converso, para os negócios de Tripolí. E de Berlusconi e Sarkozy está tudo dito.
O direito de ingerência humanitária é um pouco como a pena de morte. Exige um carrasco. Um assassino bom, legitimado pelos fins. E depois, como diziam os antigos pacifistas do Iraque, sabe-se como começa mas não se sabe como acaba. Começa com a tenda de Kadafi a ser bombadearda e acaba com José Lamego a redigir a nova constituição democrática da Líbia e os mercados a procurar quem vai, responsavelmente, administrar o petróleo.

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18 março 2011

Discurso aos Combatentes



Às gerações mais novas, é importante transmitir o testemunho de quem enfrentou a adversidade ombro a ombro com aqueles a quem confiava a vida e por quem a daria também; o testemunho de quem conhece a relevância de valores como a solidariedade, o profissionalismo, o mérito e a honra, a família e o País.


Importa que os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas essenciais ao futuro do País com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar.


discurso de 15.03 de Cavaco Silva aos Combatentes


Sou um apresidente, um agnóstico da Pátria. Este homem não me representa. Este ufano combatente da guerra do Ultramar, este rastejante que foi à PIDE fazer uma declaração de bom comportamento e acrescentou uma denúncia subtil do sogro, que cometera o pecado salazarista do divórcio, este homenzinho rancoroso da noite do CCB, pode ser o vosso presidente, orgulho e graça do Francisco José Viegas, benzido pelo Prof. Lobo Antunes. Para mim é mais um símbolo e um sustentáculo do corrupto sistema político, um cavalo do xadrez, um homem que não lê jornais, um bajulador das gerações mais novas desde que estas se comportem como os netinhos.

15 março 2011

Para lá do consumo cultural


André Bonirre


António Guerreiro escreveu no Expresso sobre os consumos culturais (link pagas-para-ler) lamentando-se de que a sociologia empírica que descreve os consumos, não acrescente nada ao que previamente sabíamos. Diz Guerreiro: quando os interrogatórios incidem sobre os "consumos culturais", imediatamente se obtém o inventário dos produtos que as novas tecnologias fazem circular.
E Guerreiro distingue entre o que se consome e a representação disso no consumidor, essa sim, fonte de conhecimento para quem quer conhecer a sociedade. António Guerreiro exemplifica dizendo que é muito diferente ler Sade como filósofo ou como consumidor de pornografia.
A comparação não é muito feliz porque o consumo não é ler Sade mas ler. E, se as coisas se processassem como Guerreiro se queixa, os inquéritos dir-nos-iam apenas a como se lê, isto é, com que plataformas, e não o que se lê, muito menos -ideia um pouco bizarra e totalitária- como se lê.
Eu uso o meu iPad para ler blogues. Aprofundando: uso sobretudo para ler E Deus Criou a Mulher. E para dar algum conhecimento a Guerreiro, teria de dizer aos jovens que presumivelmente virão preencher o inquérito sobre consumos culturais, que o meu prazer, na leitura, é ampliar as imagens, entre polegar e indicador, até ficar com o ecrã preenchido por pontos que vão entre a orquídea e o rosa claro, o salmão e o vermelho indiano. É esta a ideia, António?

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14 março 2011

Lugares Comuns


Lugares Comuns é um dos bons lugares da rádio. A horas improváveis (às nove da manhã já quase toda a gente trabalha e às nove da noite quase ninguém ouve rádio) aprende-se português e ouvem-se histórias saborosas.
Prometer bacalhau a pataco, andar sobre brasas, Traulitânea- aprendo sempre que coincido com estes originais lugares comuns.
A voz que conta é, como direi, fascinante.
Vem das profundezas da etimologia e de outras disciplinas fantásticas da Gramática. É circunspecta, quase desprovida de ênfase, oscilando apenas ligeiramente entre a denotação e a conotação.



Por detrás de toda expressão popular existe uma história que lhe deu origem. São pérolas da língua portuguesa que o uso da própria língua se encarregou de remeter para a memória. Partindo de um breve comentário a um evento noticioso, e escolhendo uma expressão popular que a ele remeta, a ideia desta crónica será a de, com bonomia e humor, revelar ao leitor a etimologia/origem de uma expressão popular. De 2ª a 6ª feira – 08h58 e 20h58 com Mafalda Lopes da Costa

13 março 2011

Dois países (2)




André Bonirre

Durante algum tempo haverá dois países. O país que nasceu a 12 de Março e o outro. O país 'que roça a santidade', conforme à ordem de Bruxelas, à sem razão dos mercados, à esperança na alternância do PSD, e o outro, aquele aluvião de gente ainda sem representação, que assobiou a Joana Amaral Dias quando ela quis mais protagonismo que um lugar na multidão.

Rebeldes nos terão




André Bonirre

Algumas das palavras de ordem de ontem: "the best system is sound system' .
E,claro, a frase luminosa: Precários nos quiseram, rebeldes nos terão '.

Os velhos comentadores precários



André Bonirre


Na sexta-feira Helena Matos, no Blasfémia, chamava aos manifestantes 'filhos de Boaventura'. Também lá os haveria, felizmente, que a coisa quer-se variada. Mas não deixa de ser irónico que o Público tenha escolhido Filomena Mónica e VPV para comentar a situação . Pulido Valente, preguiçoso, tinha crónica escrita de véspera e assina frases deste teor: 'A complacência para os governantes que levaram Portugal à miséria roça a santidade.' Roça, sim, Vasco. A santidade e a insanidade.
Uma nova situação exige novos intérpretes e novos comentadores. Os sociólogos, politologos, economistas e comentadores generalistas das varias instâncias mediadoras têm o lugar a prazo. Ė o problema dos recibos verdes.



André Bonirre

A manifestação assinalou um desses momentos de aceleração da história em que tudo o que fica para trás parece irremediavelmente antiquado. Momento simbólico: um manifestante transporta um cartaz em que as suas propostas estão escritas em árabe. Não porque ele se pense, como o alucinado, na Praça Tahir. Mas porque tem consciência de que é precisa uma nova língua para exprimir uma coisa nova. Felizmente não estávamos na Praça Tahir- havia mulheres, muitas mulheres sem medo.
Rui Ramos queixou-se de que ao escolher os percursos históricos e algumas canções e palavras de ordem do passado, a manifestação se tinha colocado no terreno da esquerda partidária ( Ramos pensava lisboeta, como de costume). Mas as criaturas que farão a manifestação que agrade a Ramos ( o Rui, como o pivot da SIC já lhe chama) já morreram há séculos e nunca encherão senão os salões da marquesa do Cadaval.Isto que escrevo não é um juízo de valor. É apenas uma constatação: o sobressalto cívico daquelas multidões não usou os símbolos que agradariam a Rui.

( continua)

12 março 2011

Hoje ou Nem tudo está perdido

11 março 2011

Depois de amanhã ou Nem tudo está perdido.




André Bonirre

Sonhei que chegava ao trabalho e me sentava para a reunião de passagem de turno. Ninguém falava, mas à segunda-feira as coisas arrancam devagar. Olhei, interrogativo, a Valeria, que fizera o turno da noite. Como ela se mantivesse calada, disse, sem elevar a voz: - Podemos começar. A Valeria olhou nervosamente para os apontamentos.- Aconteceu alguma coisa?- perguntei, enquanto procurava os olhos da Júlia. A Júlia é a chefe de serviço e coordenadora do departamento. Quando me esqueço de alguma coisa- o que sucede com alguma frequência nos últimos anos- ela toma a palavra com naturalidade. Também me substitui em algumas conferências e, desde Janeiro, acompanha-me às reuniões do Conselho. Mas a Júlia não levantou os olhos. Então, do lado esquerdo, aproximou-se o Rogério, o jovem promissor que o Conselho contratou em novembro, e, com aquela voz mansa que sempre me irritou levemente, disse: -Precisamos de falar.
- Depois de receber o turno, se não se importa- respondi, com autoridade.
- Acho que o senhor ainda não percebeu, Dr.Santos, nós já passámos o serviço- continuou o Rogério, sempre de pé, ligeiramente inclinado, do meu lado esquerdo.
Voltei a procurar a Júlia e pela segunda vez ela me falhou.
- Achamos que chegou a hora de ser substituído na direcção da empresa, Dr. Santos. Espero que compreenda essa necessidade e se integre no Novo Espirito, como a esta hora está a suceder por todo o lado, neste país, e em toda zona mediterrânea.
- Mas substituído por quem, ó Rogério ? E por ordem de quem? E por alma de quem? -tentei ironizar, calando prudentemente a minha surpresa pela erudição geopolitica do Rogério.
- Por mim - respondeu o rapaz. Ordens do Conselho, interpretando o Movimento a que pertenço.
- Do Conselho? - interroguei perplexo?
- De alguns membros do Conselho- explicou ele, tolerante.- Os mais jovens.
- Mas porquê você, Rogério ?- comecei eu, jogando na divisão, e olhando cúmplice para a assistência. - Você, Rogério, tem um contrato magnifico, bem mais vantajoso do que o meu, ao que julgo saber. E, se se trata de promover uma renovação geracional, por que não dar o lugar à Dra.Júlia, muito mais preparada que você, caro Rogério, perdoe a franqueza.
- A Dra. Júlia faz parte da classe que deteve o poder, Dr. Santos, ou esteve perto dele, ou perto da geração do poder. As coisas mudaram, queira deixar essa cadeira.
Tentei protestar. - Cidalia, tu que tanto protegi. - Fernando, que levei à conferência de Munique. - Serena, o que vai ser do teu projecto de doutoramento?
Levantei-me da cadeira. Igual às outras, afinal. Mas, pela colocação na sala e pelo uso que eu lhe dera, simbolizava a minha tíbia direcção. Se alguma coisa sei é a força que têm os símbolos. E também sei que em épocas destas é preciso respeitar gente como o Rogério e os membros mais jovens do Conselho. Tenho a pensão da minha mãe para defender - nem tudo está perdido.

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10 março 2011

07 março 2011

Pacheco, Marcelo e as Teses de Março/Abril


Gillian Wearing

O artigo mais importante do fim-de-semana pareceu-me ser o de Pacheco Pereira no Público , indisponível aqui, mas que começa assim: “Muitos no PSD acham que as portas dos ministérios estão escancaradas e não percebem por que não se entra já por aí dentro…” Pacheco explica aos impacientes que, depois de Sócrates, as condições se manterão inalteráveis: a dívida e os juros da dívida, a desconfiança dos mercados, o sistema bancário, e, como diria o PC, a combatividade dos trabalhadores… Por isso, para Pacheco, a solução seria um governo de União Nacional que englobasse o PS e mantivesse a esquerda na ordem.
À noite, na TVI, Marcelo disse o mesmo por outras palavras, tratando-nos a todos como apoiantes ou militantes do PSD e aconselhando-nos a calma.
Estes discursos para o interior do PSD, para o militante mítico e exaltado de Aguiar da Beira, teriam, aparentemente, mais sentido no Povo Livre. A menos que, estudiosos da comunicação de massas, estes dois engenheiros de almas não sejam inocentes. Tratados desta maneira, cúmplices com esta escrita e esta presença tutelar dos serões de domingo, alguma coisa em nós se começa a identificar com estes amigos que pensam. Um eu subconsciente descola de nós e começa a vestir a camisola laranja-azul-rosa desmaiado. Se o nosso clube não comparece, alguma camisola haveremos de ter.
E se a ideia principal, de Pacheco a Marcelo, não for a que se enuncia como tal: qual a hora certa para tomar o poder? Se a mensagem for afinal: o inimigo é a esquerda. A esquerda "radical" que não apenas se exclui desta solução, como de todas as soluções. Se o sistema económico é sagrado e a vida impensável fora dele, não viveríamos melhor, desobrigados de aturar os seus detractores? Há qualquer coisa, no texto de Pacheco, que remete para a solução final. Um país sem esperança e do qual tivessem apagado a própria ideia de esperança.

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03 março 2011

A falta de imaginação


Pandora, de Joseph Lefebvre

Quando os dirigentes soviéticos que fizeram a Perestroika foram questionados sobre o sentido do seu movimento, responderam:- Não temos a menor ideia. Depois dos líderes mais fracos dos países islâmicos terem sido derrubados, os jornalistas do ocidente fizeram a mesma pergunta aos que identificaram como novos protagonistas. E a resposta foi a mesma.- O nosso movimento está em marcha, mas não fazemos nenhuma ideia para onde.
Terá sido sempre assim, na história? Os historiadores que nos digam se as formas sistematizadas como hoje vemos as grandes revoluções do passado, não serão mais do que construções retroactivas, feitas pelos novos sistemas quando ideologicamente estabilizados? No início, no big bang das hordas a destruírem os palácios e a procurarem as sedes recônditas do poder, era só poeira e confusão? Há um programa revolucionário , tão simples que parece pueril, debitado pelas seitas islâmicas mais radicais. E deve haver outro, perigosamente autista, produzido pelos equivalentes locais dos bloggers sangrentos, tipo 5 noites. E depois fica a cantilena dos comentadores, oficiantes da decrépita religião do mercado, crescendo como cogumelos em todas as estações e restantes meios de anestesia, olhando para as Líbias como Pandora para a caixa de Epimeteu. Não haverá imaginação para lá desta ? Não haverá, entre tantos que difusamente sonham outra coisa ,quem a comece a querer viver, debaixo do sol?

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01 março 2011

Um intelectual inorgânico


Sarah Lucas

Cada época tem o seu ideólogo e o seu activista. Enquanto não chega o ideólogo do tardo-cavaquismo, Francisco José Viegas vai ocupando posições. Um Viegas irreconhecível que se senta nas cadeiras do regime de pescoço esticado. Estou a vê-lo na pequena entronização de Cavaco, na noite das eleições. Ao contrário de João Lobo Antunes, que guardava o ar aturdido do aristocrata em serviço público, Viegas parecia o adepto de Terras do Bouro a chegar ao Estádio do Dragão ( a metáfora futebolística é sinistra, mas não me ocorre outra).

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Os bifes que paguem a crise


Tom Mc Creagh

Miguel Relvas, comentando o anúncio de mais medidas de austeridade, diz que são sempre os mesmos a pagar a crise. - Os mesmos? Que mesmos?- alguém interroga. – Os contribuintes. Os portugueses- responde Relvas.
Claro, tudo seria mais fácil se fossem os contribuintes ingleses a pagar a crise. É a minha opinião há muito tempo. E o meu secreto desejo.

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