30 setembro 2008

O Mercado dos Brunos

" ... esta não é uma crise para a esquerda resolver. O problema não está no sistema produtivo, na indústria pesada. Não é um problema de produção. É mais refinado do que isso. È um problema da alta finança, de banqueiros desconfiados e receosos. E comunistas e bloquistas não sabem lidar com a banca. Portanto, nunca vão ser parte da solução desta crise.", Bruno Proença







" ... É aqui que entram as autoridades públicas: os bancos centrais têm de criar um mercado onde ele não existe. Comprando e vendendo os títulos que mais ninguém está disposto a negociar, um banco central pode descobrir o preço a que eles devem ser negociados. (...) No momento em que o mercado volta a funcionar normalmente, o banco central deixa de ser necessário. A regulação nunca o foi.", Bruno Maçães

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Adeus, rapaz



Leo Fuchs

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29 setembro 2008

Porque (não) lemos


Yinca Shonibare

O programa Câmara Clara debateu ontem o Plano Nacional da Leitura( a partir deste momento designado por PNL). Ou melhor, uma lista de títulos sugerida pelo PNL. Viegas achava que a lista era incompleta e mal feita (vd Notas sobre um plano inclinado, revista LER, Setembro de 2008, pg 53, onde avulta a prosa divertida de Rogério Casanova e a mais séria do José Mário Silva e da Filipa Melo). A responsável pelo PNL, Isabel Alçada, defendia a lista, tal como ela existe (obviamente depois de expurgada das múltiplas e desfigurantes gralhas). Eu não percebi as diferenças, que deviam ser substanciais, a acreditar nos fugazes instantes em que Isabel Alçada perdeu o impecável controle dos seus 17 músculos faciais, levator labii superioris alaeque nasi excluído.
O diferendo veio depois da emissão de um compacto de propaganda governamental com locução comicieira e onde o PNL é apresentado como uma prioridade nacional. Viegas, que a meu ver devia ter denunciado o gato, defendeu então que a longa lista fornecida pelos responsáveis do PNL não pode ignorar o cânone e Alçada, qual cânone?, discordou.
Mesmo atendendo ao formato especial do programa e às qualidades da moderadora não foi fácil perceber os dados em debate.
Ambos se confessaram leitores, com nostalgia de quando se lia, se ouviam histórias e havia tempo.
Ambos desconhecem porque é que uns lêem e outros não. E porque é que há quem tenha avós excelentes e tenha crescido entre livros e não abra um exemplar. E leitores obsessivos que não tinham biblioteca em casa.
Talvez no debate, e sobretudo no PNL, fizesse falta alguém das neurociências, familiarizado com a investigação sobre os mecanismos da leitura, que
fosse capaz de explicar as operações cognitivas envolvidas na descodificação e interpretação dos símbolos, na organização de inferências e no desencadeamento de reacções emocionais essenciais ao acto de ler. Do momento da infância em que começam a ser notáveis e como depois se desenvolvem, face a que estímulos. O facto de uma parte esmagadora desses processamentos de informação ser inconsciente explica a nossa ignorância e perplexidade. Explica igualmente que o debate tenha acabado como começara: empatado. Sem vencidos. Não era para outra coisa que a amiga de Ajax ali estava.

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a fauna do sudoeste_#1 escalo do arade



Fotografia: Kiasma

(mais fauna aqui)

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O amor à leitura, pssebe?

Hoje, na Câmara Clara, o Francisco José Viegas foi derrotado por duas tias a quase zero.

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Os cães do NYT a ladrar



Vou voltar à senhora Palin por vários motivos que não têm a ver com o exorcismo. A senhora Palin tem actuado como um revelador. Os comentadores de direita exultaram com o seu aparecimento e perderam a compostura. Olhem o que escreveu o habitualmente tão contido J.P. Coutinho, articulista do Expresso:
O “New York Times” e toda a imprensa “liberal” até podem ladrar diariamente contra o alegado “fanatismo” da senhora; a América popular rendeu-se a ela, promovendo o seu “estilo” em todo o canto.

Embora não se compreenda a profusão de aspas, aceita-se o entusiasmo. A direita vive com a hipóxia do politicamente correcto e os fatos apertados do bom comportamento. Tanta contenção cansa. O aparecimento periódico de simplórias que transportam em bruto os bons velhos valores- a família tradicional, a relação brutal com a natureza, a certeza de que deus está do nosso lado- entusiasma os nossos direitistas e põe-lhes os músculos em relevo, como aquelas T-shirts que os rapazes das obras vestiam sexta feira à noite.

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25 setembro 2008

O canalha


Sascha Neudeck

Quando Ortega, o biltre, era jovem, lutou contra a tirania de Somoza e esteve preso. Na cadeia escreveu um livro de poemas e um dos poemas chamava-se “Eu não vi Manágua quando as raparigas começaram a usar mini saias”. Não sei se Ortega , o calhandra, foi poeta. Mas sei que o maior dos canalhas é o poeta.

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Daniel Ortega, presidente da Nicarágua

Oh, tanta bomba assassinada



Grande luta nos meios de comunicação logo de manhã, ao acordar. Hoje ganharam os socialistas: Magalhães nas escolas e a inefável dona Lurdes, ou mesmo o inominável. Ontem ganharam os sociais-democratas: mais uma bomba assassinada. As gasolineiras serão sistemáticamente assaltadas no telejornal até à queda do ministro Pereira. Como o PSD não está ainda preparado para governar- imaginem o aborrecimento que seria Borges e o Aguiar Branco terem outra vez que deixar a intensa vida profissional e voltarem a fazer o esforço do serviço público- as gasolineiras caem lentamente, uma hoje, outra depois de amanhã. Na Lapa, a política é de pequenos passos, contentam-se com Magalhães, o secretário de estado das polícias, o ex-Ortega, o outro, esse.

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24 setembro 2008

Dificuldades em visualizar a mudança

“Os indivíduos são criaturas de hábitos e têm dificuldades em visualizar a mudança”, diz o Millennium BCP.



“o mercado move-se por expectativas e muitas decisões são tomadas em histeria, porque as expectativas estão baralhadas”, um gestor de fundos, que não quis ser identificado



A melhor solução para fintar a crise é “wait and see” e “ser do contra”, dizem os especialistas. “Estar disponível para a mudança”, respondem os psicólogos.


Ou seja, “visualizar oportunidades onde os outros vêem ameaças”, diz o Millennium.


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Teoria e prática do jazz em concerto no Salão Brazil


lido aqui:

Salão Brazil: Howard S. Becker e Robert Faulkner com Carlos Barretto - 24 Setembro 16h30

"O Salão Brazil, na Baixa de Coimbra, acolhe, no dia 24 de Setembro, a partir das 16h30, um concerto de jazz onde o contrabaixista Carlos Barretto se juntará aos reputados sociólogos (e músicos) Howard S. Becker (piano) e Robert Faulkner (trompete). O concerto fará parte de uma sessão em torno do jazz e da lógicas de organização colectiva do trabalho artístico, uma temática que tem vindo a ser desenvolvida nos últimos anos por estes dois importantes sociólogos norte-americanos."

23 setembro 2008

12 governantes de 3ª geração, 16 concelhos, 3.000 magalhães










"este programa não é suportado por dinheiros públicos, mas pelos operadores de telecomunicações, através de um fundo que está previsto desde que foram autorizadas as licenças para os telemóveis de terceira geração", Maria de Lurdes Rodrigues


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22 setembro 2008

Problemáticos, extravagantes, duvidosos, mas activos


Ministros das Finanças do G7 analisam megafundo de activos problemáticos dos EUA

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20 setembro 2008

Bancos Centrais, unidos vencerão!



" ... Em plena euforia bolsista, as consequências da crise para grandes instituições financeiras, que já ultrapassam agora a dimensão dos chamados "activos tóxicos", foi esquecida. Mas é de esperar que algumas instituições financeiras venham a apresentar problemas graves, incluindo na Europa, e que o movimento de fusões e aquisições venha a ter novos desenvolvimentos. Isso mesmo defendeu ontem o comissário europeu Joaquín Almunia, ao admitir que nos próximos meses assistir-se-á um processo de concentração bancária."

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19 setembro 2008

A nossa compreensão, que andam a passar um mau bocado

18 setembro 2008

Éramos três e chorámos





Foi notícia em todos os telejornais. Uns pescadores apanharam um gigante dos mares, um espadarte com cerca de quatrocentos quilos. Estiveram sete horas a matá-lo, eles e um barco de pesca alugado para a matança desportiva . O peixe mergulhou a quinhentos metros, mas tinha mordido a isca e arrastava-a consigo. O motor do barco e a perícia dos matadores derrotou-o. Quando o trouxeram à tona de água choraram. - Éramos três e chorámos- disse um dos homens aos jornalistas. Eram quatro, com o Marlin azul.

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A 'SALVAÇÃO' DO CAPITALISMO

" ... Só não culpemos o capitalismo.

O capitalismo sempre foi uma extraordinária máquina inventiva.



Cresce, corrige-se e adapta-se.



O pior agora é querermos salvar o capitalismo do capitalismo."

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17 setembro 2008

O exemplo americano: NACIONALIZAÇÃO DA BANCA, já!






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Os artigos extravagantes


"For the Love of God", Damien Hirst, 2007, platina, diamantes, dentes humanos, Londres, White Cube Gallery


Ontem vi o candidato republicano, no rescaldo da crise das subprime, dizer que vai acabar com o casino de Wall Street. Foi o par extravagante de Palin quem disse isto. O casino. Mas não era isto conversa da esquerda alterglobalizante? A mais baixa das esquerdas. A minha alma pasma. Mas pasma mais com o silêncio da direita. Menos Estado, quando se trata de salvar o ambiente. Mais Estado, quando se trata de salvar a AIG. Ou de salvar os artigos extravagantes.

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16 setembro 2008

"Verter como o bugalho toda a memória, mote para montra."

Gente

Paulo Querido, a quem a Blogosfera tanto deve, juntou agora o Abrupto, a Causa Nossa e o Arrastão. Tudo junto numa Santa Aliança . Pacheco, Daniel e Vital, juntos e ao vivo, on line. O main stream, do Expresso ao blog e do blog ao Público. O centrão alargado. Uma visão de pesadelo que o Irmão Lúcia não devia ilustrar. Bloggers de todo o mundo, desuni-vos. Enquanto puderem escrever, escrevam sózinhos.

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Virá a crise e nós a festejar



Jeff Wall




Estamos a jantar na tasca da rua dos Azeiteiros que é a nossa tasca favorita. Sobreviveu a várias mortes, algumas excessivamente dolorosas para as evocar agora, e estragar este texto que começou leve e se tolda logo no início. Tememos pelo seu destino depois de ter entrado no guia do routard. Hoje à noite, ao nosso lado, um casal em que ela é claramente de Berwick-upon-Tweed e ele de outra aldeia de Northumberland. Não se sabe o que une este par mas o que os separa é uma cabra velha, morta e cozinhada em vinho, à qual ela se dedica com tal empenho que não parece reagir aos afagos maquinais do rapaz, de cada vez que ele se lembra que estão de férias e num país romântico. Vou deixar estes dois comer em paz. Estamos a jantar em silêncio depois de ver as notícias. Parece que um dos maiores bancos americanos faliu. Vimos os funcionários a sair, puxando por caixotes de cartão como por cães teimosos. E Bush, com o ar de clown trágico que ultimamente exibe, a garantir que se trata de reajustamentos, e que a médio prazo a abundância voltará. Já ninguém o ouve, já ninguém se lembra da confiança ingénua de quando partiu para a guerra. Os que o apoiaram, os que aqui escreveram por ele, já se esqueceram. Começou o Armagedão, a crise dos prime e dos spread. Ninguém se preocupa a explicar o que isto é. Um parolo diz que a crise não chegará à Europa, e muito menos à nossa patriazinha, como o outro garantia da gripe ou da guerra de Tróia. Vimos os comentadores. O de esquerda pareceu-nos, como a pivot, escandalosamente bronzeado, em termos de onda verde e de prevenção do melanoma e do envelhecimento cutâneo. O de direita usa Farandol, que parece ser um emblema capilar da direita televisiva, e não só, atingindo Meneses e Passos Coelho e não poupando o ficcionista Rodrigo Guedes de Carvalho . A crise tinha assim atingido o coração do Império e ninguém para explicar às multitudes o seu significado nem maneira de a tornar revolucionária. Foram as saudades do marxismo e a necessidade de festejar a contraciclo que nos fizeram ir à tasca onde tínhamos tido refeições tão felizes, e nos levaram a aceitar que tudo mudara e tínhamos de partilhar aquele espaço com turistas de Setembro, jovens demais para terem filhos escolarizados ou suficientemente velhos para, como nós, passear quando os outros já reentram. Jovens como o casal de Northumberland, explicando a chanfana ao nosso vizinho da mesa da direita, o Martin Amis, ou olhando melhor, o Kingsley, ou o pai do Kingsley. E então reunimo-nos todos em torno destes pratos simples que fazem a glória do guia dos routards, e um de nós, a mais dotada, ensina a açorda aos inocentes. Assim passámos a primeira noite do Armagedão, quando ainda ninguém escrevia sobre a coisa, e houve tempo para nos rirmos sobre o livro em que o Fernandinho escolheu, para o Instituto Camões e para os incautos que o compraram, os cem melhores livros do século XX, misturando o Desassossego com Adolfo Simões Muller e concedendo um lugar de honra a um livro de Molder. Que venha a crise e nos encontre aqui, leccionando the food of poor people, agora a dez euros sem recibo.

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15 setembro 2008

Aniversário do Manifesto Comunista




Karl Marx tinha razão. A classe operária é que não esteve à altura.

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11 setembro 2008

In a foreign country

In a foreign country you must love
a student of history.
You lie with her in the grass
at the foot of these hills
and between groans and screams
she tells you what happened in the past.
"Love is a serious matter."
I never saw animals laughing.

(Yehuda Amichai)

Angola e nós


C. Schreuders



Desde Coelho que sabemos que Angola é um paraíso para os negócios. Agora Vital assegura que é, em termos africanos, mundiais quiçá, um exemplo de democracia. O entusiasmo dos partidos do arco governamental com a antiga colónia é notório, pelo menos desde a boda da filha do presidente, mas é entre os socialistas reais que se exprime com maior notoriedade. Entretanto, o pequeno pormenor da recusa de vistos a jornalistas portugueses caiu no esquecimento, mesmo entre os atingidos. Angola parece a China antes do embelezamento olímpico. Ninguém se mete com Angola, ensinou Coelho a dos Santos. E o pessoal dos comentários políticos percebeu os sinais. De agora em diante o efeito Luís Castro generalizar-se-á.

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10 setembro 2008

A esquerda (do Nebraska) e Palin



Os europeus não vão votar nas eleições americanas, grande injustiça. Mas aos que as comentam pede-se alguma contenção. Julguem Palin por aquilo que ela é. Se acham que o destino de um jovem urso é ser cadáver embalsamado a decorar gabinete, se gostam de crustáceos como centro de mesas, se acham que foi deus quem mandou fazer a guerra do Iraque e oleodutos no Alasca, se acham que devemos andar armados, rezar antes de um jogo de basquete e casar à pressa na adolescência para lavar as manchas do sexo penetrativo, assumam que gostam de Palin. Não tem mal gostar de Palin. Atrás de Palin há um urso esquartejado, um sofá e um vidro e por detrás do vidro há um ser humano e é Palin. Conheci Palin. Era a miúda que estava sempre na Comissão Central do Baile dos Finalistas, mesmo antes de sermos finalistas, que ia ao Curso de Verão dos jovens do Partido em Breve no Poder, que, quando fizemos greve às aulas, furou o piquete num carro da Guarda Nacional.
Há quem goste de mulheres assim. Com as mamas à frente e o cabelo apanhado atrás. Não é preciso encontrar não-razões para gostar de Palin. Os comentadores que não têm coragem de gostar de Palin por aquilo que ela é, no entanto, sentiram imenso alívio porque um blogger de Forth Pierre, South Dakota, um desesperado como eu, de esquerda, claro, disse que ela não-sei-quê, coisa infame. E também houve um jornalista de Rushville, Nebraska, de esquerda, claro. Estavam assim à vontade para gostar de Palin. Perante dislates desses, da esquerda, sopraram para o lado dos ventos republicanos. Não importa que digam que Obama é secretamente muçulmano, jurou sobre o Corão e, quando canta o hino não põe bem a mão no coração. Não importa que digam que ele é o Anticristo, ou que digam que não é o Anticristo porque é preto e lendo a Bíblia, não consta que o Anticristo seja preto. Isso foi a direita que escreveu e disse e pôs a correr. A direita pode dizer o que quiser. Os comentadores sérios desculpam tudo, porque a direita é mais ou menos irresponsável. Agora a esquerda. Quer dizer o blogger de South Dakota. Imperdoável. O que a esquerda disse é imperdoável. Podemos gostar da Palin à vontade. Uma vítima, a Palin. Os comentadores sérios fecham os olhos ao urso e ao crustáceo e preparam-se para explicar o fenómeno Palin, uma mulher americana, a encarnação do novo paradigma, dos tempos que estão a mudar, ah, agora a mudar para o lado certo.

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07 setembro 2008

O lugar do silêncio



O silêncio está a acabar. Durante dois meses ela calou-se. O silêncio queria dizer: há hoje um grande ruído no mundo. Não há nada verdadeiramente importante para dizer. No Circo, o silêncio dela tornou-se insuportável. Usaram o silêncio dela como um aperitivo para o ruído a vir. Criaram uma expectativa impossível de satisfazer. Agora vão levá-la a quebrar o silêncio. Ela perceberá que o seu silêncio, o seu cansaço, não são daquele lugar.

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Erro grosseiro



Um destacado membro de um dos partidos da alternância, preso preventivamente, desencadeou um processo contra o Estado que foi condenado a indemnizá-lo. Uma onda unanimista percorreu os comentadores, unindo Marinho ao advogado Júdice, passando por Vital. Os anónimos das setas pediram a cabeça do juiz que, há anos, tinha decidido a prisão preventiva. Daniel Oliveira (no Expresso) acha mesmo que devia ser o juiz a pagar a indemnização. Ninguém se preocupou a explicar quais os fundamentos da prisão e porque é que esses fundamentos estavam grosseiramente errados. Ninguém explicou, nem ninguém perguntou. Deve ser a isto que chamam o pensamento único.


(Ver, sobre este tema, a discussão travada na In Verbis e como a comunicação social a ignora completamente)

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Cesare Pavese (1908-1950)


Justo Navarro aproveita a edição em castelhano de Entre mujeres solas para uma evocação vibrante deste pessimista, no centenário do seu nascimento (9 de Setembro de 1908). No Babelia de ontem.

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06 setembro 2008

Rachida Dati



O pai do filho de Rachida é o homem com quem ela quis dormir no dia em que ficou grávida. Rachida quis continuar a gravidez. A gravidez de Rachida não é uma questão de Estado. Pela mão da direita francesa as pessoas vão-se acostumando a estas coisas simples.

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Ya, vamos lá pôr uma vela na Gisberta


Zhang Xiaogang


No suplemento P2 do Público de quinta –feira, 4 de Setembro, a jornalista Ana Cristina Pereira entrevista D., um rapaz de Almada preso na sequência do espancamento, das repetidas sevícias e do assassinato de Gisberta, no Porto. D. foi retirado pela Segurança Social a uma família desorganizada e sem meios, onde as coisas corriam mal. A evocação pela mãe da cena em que a polícia, cumprindo mandato judicial, vem buscar três rapazes e uma rapariga, é orwelliana. Os rapazes foram entregues às Oficinas de S.João no Porto, onde prosseguiram o seu trajecto de deserdados, aprendendo com os pares a deambulação, a ocupação dos tempos e dos espaços dos subterrâneos da cidade do Porto, o exercício da violência. Um dia descobriram Gisberta, doente, sozinha do mundo. Reconhecerem-na como um igual e escolheram-na como vítima. Quando não têm programa melhor vão lá, ao último círculo do inferno, bater-lhe, torturá-la. Nem eles sabem porquê. Porque sim. Uns por verem os outros. Tudo isto demorou anos. Tudo isto existe nas Oficinas de S. João, no Porto, ou numas Oficinas perto de si.

Haverá quem veja no trabalho de Ana Cristina Pereira uma acusação ao Estado e às Instituições de Solidariedade Social, incapazes de reabilitar e integrar numa vida mais normal os que vivem em grande risco. E não deixa de ser preocupante pensar que não existe acompanhamento, monitorização, que os relatórios que sem dúvida psicólogos, professores e técnicos de Serviço Social fizeram, foram ignorados ou arquivados por falta de meios. Haverá quem pense que, na sua casa de Almada, D. , incapaz de ler as emoções dos outros, encontraria parceiros para crueldades semelhantes. Haverá quem mande isolar melhor as paredes da casa para não ouvir os gritos de Gisberta. Ya, íamos bater na Gisberta. Íamos todos bater na Gisberta e agora acendemos velas no último círculo do inferno.

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04 setembro 2008

Não sabemos para onde


Fotografia: gentileza de Maria Cristina

"Não há mistério nenhum na vida quando tudo caminha para a morte.", Jay Wustrin

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Aviso

Os posts anteriores têm, obviamente, as ilustrações trocadas. O título do post sobre a influência da arginina na monogamia dos machos humanos, que se destinava apenas a pedir às minhas amigas dos estudos literários- e dos estudos de género,vejo agora- que considerassem sem precipitação os estudos suecos e a pilinha de David, devia ter a ilustração do general de Zhang Xiaogang e a reflexão escatológica, o belo rosto de David. Aos ilustradores, as minhas desculpas.

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A descamação das mãos


Zhang Xiaogang



As chuvas, as aulas, os agasalhos e a descamação das mãos. Para alguns, muito jovens ou cheios de entusiasmo, é o princípio do mundo. Outros pensam: é uma nova estação e, na viagem, cada coisa caminha para a sua morte.

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Faithfull David



O Karolinska Institutet emitiu o seguinte press release a propósito do artigo de Hasse Walum publicado no PNAS:

There are of course many reasons why a person might have relationship problems, but this is the first time that a specific gene, variant has been associated with how men bond to their partners", says Hasse Walum, postgraduate student at the Department of Medical Epidemiology and Biostatistics.

He stresses, however, that the effect of this genetic variation is relatively modest, and it cannot be used to predict with any real accuracy how someone will behave in a future relationship.

Hasse Walum and his colleagues made use of data from 'The Twin and Offspring Study in Sweden', which includes over 550 twins and their partners or spouses. The gene under study codes for one of the receptors for vasopressin, a hormone found in the brains of most mammals. The team found that men who carry one or two copies of a variant of this gene – allele 334 – often behave differently in relationships than men who lack this gene variant.

The incidence of allele 334 was statistically linked to how strong a bond a man felt he had with his partner. Men who had two copies of allele 334 were also twice as likely to have had a marital or relational crisis in the past year than those who lacked the gene variant. There was also a correlation between the men’s gene variant and what their respective partners thought about their relationship.

"Women married to men who carry one or two copies of allele 334 were, on average, less satisfied with their relationship than women married to men who didn’t carry this allele," says Mr Hasse Walum.

The same gene has been previously studied in voles, where it has been linked to monogamous behaviour in males.

"The fact that the corresponding gene has proved important for similar behaviour in voles makes our findings even more interesting, and suggests that the thoroughly studied brain mechanisms that we know give rise to strong bonds between individual voles can also be relevant to humans," he Hasse Walum continuesconcludes.

The team hopes that greater knowledge of the effect of vasopressin on human relations will one day give science a better understanding of the causes of diseases characterised by problems with social interaction, such as autism.

Publication: 'Genetic variation in the vasopressin receptor 1a gene (AVPR1A) associates with pair-bonding behavior in humans', Hasse Walum, Lars Westberg, Susanne Henningsson, Jenae M. Neiderhiser, David Reiss, Wilmar Igl, Jody M. Ganiban, Erica L. Spotts, Nancy L. Pedersen, Elias Eriksson and Paul Lichtenstein, PNAS Early Edition, 2-5 September 2008.

O ruído foi enorme. Pouca gente leu o abstract

Genetic variation in the vasopressin receptor 1a gene (AVPR1A) associates with pair-bonding behavior in humans

Pair-bonding has been suggested to be a critical factor in the evolutionary development of the social brain. The brain neuropeptide arginine vasopressin (AVP) exerts an important influence on pair-bonding behavior in voles. There is a strong association between a polymorphic repeat sequence in the 5′ flanking region of the gene (avpr1a) encoding one of the AVP receptor subtypes (V1aR), and proneness for monogamous behavior in males of this species. It is not yet known whether similar mechanisms are important also for human pair-bonding. Here, we report an association between one of the human AVPR1A repeat polymorphisms (RS3) and traits reflecting pair-bonding behavior in men, including partner bonding, perceived marital problems, and marital status, and show that the RS3 genotype of the males also affects marital quality as perceived by their spouses. These results suggest an association between a single gene and pair-bonding behavior in humans, and indicate that the well characterized influence of AVP on pair-bonding in voles may be of relevance also for humans.




e quase ninguém o artigo do PNAS. Leram os títulos dos jornais e viram a pilinha do David. A minha amiga R., dos estudos literários, recusa-se a acreditar que o facto “ da vasopressina actuar de modo diferente no arganaz-do-campo ou no arganaz-do-prado"(...) tenha relação com "a propensão mais ou menos comum para a infidelidade entre homens que chegaram à lua e escreveram o Hamlet.”
A indignação percebe-se, embora me faltem os dados sobre o comportamento sexual dos homens que chegaram à lua e escreveram o Hamlet, certamente fiéis como a Sarah Palin e cheios de valores familiares e free-will. Mas, oh almas etéreas envergonhadas das vossas baixas origens: o que é que fazem lá no cérebro do sapiens os receptores da arginina ? Será tudo só testa luzidia, só mentira, só mental?

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03 setembro 2008

Oração


Zhang Xiaogang



Se alguma vez as gruas
nos céus ou os vermes
da terra me enlouquecerem
que o meu mal seja
a mania e veja todas
as cores percorra todos
os trilhos feliz
pelos caminhos
que se bifurcam
e me vista com blusas
rosa e calças vermelhas
e uns sapatos 47
três números acima do meu pé
para poder caminhar
nos pés até aos passos verdadeiros.

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