29 novembro 2009

O Sentido das Eólicas



Já não leio livros. Mas continuo a gostar de livrarias. Ontem vi um livro, compilado por Desidério Murcho, sobre o Sentido da Vida. O livro tem 208 páginas. Poucas, para explicar o sentido da vida. Demasiadas, para mim. Há cem anos, no poema V do Guardador de Rebanhos, Caeiro arrumou a cousa em dois versos. “O único sentido íntimo das cousas é elas não terem sentido íntimo nenhum.” Das mais belas páginas de Dawkins em River out of Eden, bem longe do proselitismo ateu da Ilusão de Deus, são sobre o significado oculto das coisas. Este fim de semana li uma reportagem no Público sobre os lobos de Leomil. Se a vida dos lobos dependesse de um referendo aos habitantes de Leomil , mais de 80% viraria o polegar para baixo. O significado da vida dos lobos de Leomil passa agora pelas eólicas. Os de Leomil odeiam os lobos. São poucos os que alguma vez o avistaram, mas se os ouvirem falar, surpreender-se-ão com o súbito amor que este simples têm pelas vítimas dos lobos. Uma égua, duas ovelhas, uma pastorinha. Excitados contra os predadores nada demove a sua ferocidade. Eles defendem o extermínio dos lobos, dos biólogos, dos ecologistas e da gente dos parques nacionais. Os mais condescendentes aceitariam a vida dos lobos, desde que confinada a um campo de detenção. Mas comovem-se com as pás das eólicas varrendo o horizonte. Não sei se o livro dos filósofos que Murcho reuniu, atentou na vida dos lobos, na vida dos camponeses de Leomil, na vida dos jornalistas, na minha vida de ex-leitor. Mas, sem uma crença que me tivesse bafejado, escapa-me o sentido da vida do lobo, da ovelha, dos seres abatidos à conta do nosso insaciável apetite. Ainda entendo , vá lá, o sentido da vida dos negociantes das eólicas. E em tempos pareceu-me entender o vento assobiando nas cumeadas.

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25 novembro 2009

SE NUMA NOITE DE INVERNO UM VIAJANTE

23 novembro 2009

Rosa

22 novembro 2009

Epifania ao empacotar os livros


Manuel Alvarez Bravo

Passei a tarde a arrumar os teus livros, em caixas de cartão da Aki. O objectivo é mudá-los para estantes novas, numa casa diferente. Essa casa foi, de certo modo, preparada para acolher os teus livros, estes livros, e os meus livros. Durou tanto tempo o projecto da biblioteca, que os livros envelheceram. Entretanto envelheceu a própria ideia de livro. Detesto chorar sobre leite derramado, mas o ípsilon deste fim-de-semana dedicava três de cinquenta e seis páginas a livros e à critica literária. Cinco por cento. Durante este tempo, a FNAC reduziu o seu espaço livreiro e tornou-se uma empresa implacável de venda de equipamentos informáticos. Trabalho com pessoas que não lêem, quando dou livros percebo que sou visto como alguém sem imaginação.
Eu tinha posto a salvo alguns livros que não nomearei. Mas, exceptuando esta pequena contradição, senti-me subitamente pronto para me despedir destes livros, dos meus livros e de quase todos os livros. Em troca de uma parede branca, de um teclado, um ecrã, um acesso à rede. Até agora precisava dos livros, comprava , folheava, lia, guardava, emprestava, sublinhava. Esta tarde compreendi que também aqui, neste afecto que julgava constitucional, ocorrera em mim uma transformação. Já não preciso dos livros. Que se lixem os livros. E as estantes e os marceneiros. Que ardam, bem ou mal.

Estado de direito ponto

Eduardo: que o PGR, dois meses e duas eleições depois,tenha concluído "que não existem elementos probatórios que justifiquem a instauração de procedimento criminal contra o senhor primeiro-ministro ou contra qualquer outro dos indivíduos mencionados nas certidões" só quer dizer isso, não quer dizer mais nada. Para o Eduardo é ponto, estou satisfeito, estado de direito. Para mim não é ponto nenhum.

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21 novembro 2009

Os pescoços. Laura Gibson






Estava no palco sentado a um canto, atrás das colunas e dos amplificadores, com Laura Gibson , a cantora indie-folk de Coqueville, Portland, Oregon, de perfil postero-inferior e o público de frente. A pedido da organizadora, o público sentara-se no chão do bar. Como eram numerosas, as pessoas pareciam um manto orgânico, por vezes sonoro, brilhando como um lago de leve ondulação. Embora a dicção de Laura Gibson fosse perfeita, o modo como cantava, separando e juntando as sílabas inesperadamente, e o meu inglês sofrível, distraíam-me das canções e levavam-me para a sala. Havia várias coisas notáveis nesse conjunto de pessoas que tinham em comum quererem ouvir Laura Gibson nessa sexta-feira à noite, no espaço confidencial de um bar esquisito. Mas por agora interessa-me falar dos pescoços. Alguns dos ouvintes tinham longos pescoços. A palavra é feia, na nossa língua e em quase todas as que conheço. Colo, é melhor. Mas na nossa língua, como sinónimo de pescoço, colo significa um pescoço curto e grosso. Nada que entusiasme. Cou é breve de mais, como neck. Mas pescoço, como caroço, tremoço, tem sílabas a mais e uma grosseira sibilância final. Com a agravante de juntar o che que caracteriza a fala lusitana ao ou broeiro. Che che, ou ou, sse sse. E tudo junto e seguido ainda por cima no masculino. Pescoço, plural pescoços. É quase impossível falar disto sem tropeçar nesta dificuldade. Cerviz é pior. É uma palavra moral. Designa o que não se deve dobrar aos poderosos. O que se deve entregar apenas em certos momentos e a pessoas certas, os amantes entusiastas. Cachaço é um desastre.
Fiquemo-nos pois pelos pescoços que , a espaços, faziam ondular as cabeças da mole sentada que era a assistência do espectáculo de Laura Gibson ,essa noite de Novembro, no bar esquisito.
O pescoço é a auto estrada dos cabos entre a cabeça e o corpo. A saber: a laringe, o cabo do ar; as artérias carótidas e as veias jugulares, os vasos do sangue rutilante e do sangue escurecido pelo pensamento; a coluna da cerviz, com os fios finos da sensibilidade e os cordéis que mexem os membros; o tubo da comida mastigada, os gânglios do sistema nervoso autónomo e os linfáticos. Tudo devidamente acondicionado pelos músculos salientes que permitem que a cabeça se levante, rode, flicta, se incline para um e outro lado como um joy-stick oleado e ardiloso.
Vejo pois os pescoços que a luz e o entusiasmo dos ouvintes revela, no chão do bar, agora à direita segurando uma cabeça que trauteia um refrão que não vou recordar, depois em frente, engolindo em seco, finalmente ao fundo, abandonando-se num ombro de lã. Os pescoços, apesar do nome, brilham na sala.

19 novembro 2009

A melhor face


Lisette Model


Um amigo meu trabalhou um período numa assessoria do Ministério S. Um dia cabia-lhe representar o Estado na negociação com a Empresa M. Em causa estavam questões de grande interesse público, envolvendo verbas avultadas. Na reunião, o meu amigo, que na época tinha 30 anos, boa vontade e alguma inexperiência, encontrou pela frente um ex e futuro ministro.
Agora, na Face Oculta, ouço que os arguidos têm, para a sua defesa, os melhores advogados do país. É bom que seja assim: para os maiores crimes os melhores advogados. A minha dúvida é se do lado da República não estarão apenas pessoas de boa vontade, ainda por cima descredibilizadas por aqueles que deveriam defender o seu trabalho.*


* A atitude do Bastonário da Ordem dos Advogados é enigmática. É um paladino, em abstracto, da luta contra a corrupção. Mas de cada vez que um processo ameaça José Sócrates ele está na primeira linha da defesa.

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18 novembro 2009

O menino. A noite


Lisette Model

Não sei nada sobre este miúdo. Nasceu antes do tempo, respirou por tubos, uma mistura de gases que, para chegar ao sangue, tinha de ser soprada a altas pressões. Ficou ligado a uma botija que debita meio litro de oxigénio numa coleira que lhe dá uma autonomia de dois metros. Vive num lar de acolhimento, chamemos-lhe assim. A mulher que hoje dormiu ao seu lado trabalha nesse lar e esteve ausente uma semana, por gripe , claro. Quando voltou achou o menino mal. Tinha os lábios roxos e estava paradito. Disseram-lhe que já estivera pior. Ela rodou a torneira do gás e o menino melhorou. Depois chamou a ambulância e foi com ele para o hospital, onde há um médico que conhece a criança e a sua doença.
Ouço esta história duas vezes. Na passagem de turno e pela voz da mulher. É uma rapariga da terra. Ainda não tem idade para ter filhos e, nesta manhã, não teve tempo para se arranjar. O menino está ao seu colo e ora olha com atenção ora se esconde no côncavo do ombro, como fazem as crianças expostas a desconhecidos.
Quando lhe digo que o menino está feliz, ela responde: - Pela primeira vez na vida dormiu com uma pessoa que era só dela.

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15 novembro 2009

Destruam todas as conversas


Jeff Walls


Concordo. Todas as conversas privadas de Sócrates devem ser apagadas. Já me parece excessivo apagar todas as conversas públicas.

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10 novembro 2009

O comandante em pausa ali deitado



Não custa nada pá
A bem dizer nem é teu
O corpo em pausa ali deitado
Respiras assistido
E em resumo assistem no que podem
Apagar-te a consciência
A memória a dor
Trabalhar sobre
O corpo ali deitado
É a vitória de Descartes porque a alma
Vai para o lugar das almas das alminhas
E fica em standby até que a chamem
Para depois voltar
Sempre cedo de mais
Ao teu corpo jazente retalhado
Convenientemente preparado
Para a continuação desta história que
Não custa nada pá.

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06 novembro 2009

Inauguração 7/11 - SE NUMA NOITE DE INVERNO UM VIAJANTE




INAUGURAÇÃO SÁBADO 7/11

PROGRAMA

19H > JANTAR HOTEL BRAGANÇA

22:15 > ESTAÇÃO DE COIMBRA A > Concentração

22:22 > partida > CITAC & MANÉS

22:30 > chegada ESTAÇÃO DE COIMBRA B
Colectivo ERRORISTA > instalação sonora
MIGUEL JANUÁRIO > graffiti [live act]


23:00 – 04:00 > ESTAÇÃO DE COIMBRA B > OFICINAS - CP

23:00
JOSEF B + QIP > massa sonora > execução mecânica aleatória
JOÃO MARQUES FERNANDES/IRENE GONÇALVES> performance
JOÃO VAZ > textos sonoros
MALABARISTAS + CONCERTINAS
JOÃO VASCO PAIVA > vídeo

24:00
BOIALVO [Live act] + LISBON WINTER BLUES [VJ set]

0:30
QUARTETO PAULO PIMENTEL [Jazz]

1:30
MALABARISTAS + CONCERTINAS
JOSEF B + QIP

2:00
LAETITIA MORAIS [Visuais] + BOIALVO [Live act]

2:30 - 4:00
AFONSO MACEDO [DJ Set]

05 novembro 2009

7/11/2009, 22:15 Estação Coimbra A - 22:45 Estação Coimbra B - 23:00-4:00 Oficinas da CP




O viajante

O viajante é um projecto multidisciplinar, centrado no cruzamento de diversas leituras fotográficas de um romance de Italo Calvino, Se Numa Noite de Inverno Um Viajante. Nele, Calvino propõe construir um romance a partir de diferentes começos, fragmentos narrativos que conduzem o leitor a lugares distintos, construindo tipologias que organiza segundo categorias que funcionam numa lógica simbólica e interpretativa que vai da névoa, da atmosfera ao apocalipse.

A viagem é um tema eminentemente fotográfico e o fotógrafo tem sido, desde o início, um viajante, um observador e uma testemunha. Alguém que se desloca e ao deslocar-se altera o seu ponto de vista. As fotografias resultantes são fragmentos, vistas parciais, possibilidades de ponto de vista que nos dizem do lugar do fotógrafo e do que tinha em frente; não nos dizem nada. Mas são todas potenciais narrativos e por isso, quando se cruzam com o espectador, dizem tudo. Esta ambiguidade, que a natureza da fotografia lhe empresta, torna-a num instrumento privilegiado para pensar a nossa relação com o mundo, e construir a nossa própria narrativa. Tal como a pintura, a fotografia é una cosa mentale.

O que se apresenta é uma rede organizada a partir de um conjunto de pontos de vista de diferentes observadores-leitores-fotógrafos construídos a partir das possibilidades narrativas propostas por Calvino e esta rede é tecida a partir de leituras deste núcleo inicial envolvendo diversas práticas artísticas da palavra à escrita, do som à performance, da pintura ao vídeo.

O viajante é uma experiência colectiva proposta aos sentidos do leitor-espectador. Não por acaso, o romance começa numa estação de caminho de ferro…

Francisco Feio

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04 novembro 2009

Novembro



Apagas a tristeza que assombra a noite
Transmites-me a esperança simples
da salvação dos bonsais
Também tu já és capaz de acreditar
que o amor não está em causa
durante o resumo da Liga Europa

A tua pele de lycra de elastano
E eu a adormecer-te em afrikaans

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03 novembro 2009

Marchar, marchar

Como factor identitário cada país cria um inimigo, para uso dos poderosos , no mesmo pacote da bandeira e da selecção nacional, fazendo-nos crer que temos mais a ver com o Vara, o Loureiro ou o Coelho que com os Benitez, o Benoit Garrel ou o John Samper.
Um bom inimigo dos portugueses é a gripe A e o (H1N1)v 2009. Este H1N1 é um vírus português, um vírus do Sócrates. Olhem para Valença do Minho. A crer nos telejornais é o caos, uma vila medieval no começo da peste. Mas se passarem a fronteira, e a jornalista da TVI, da escola do Gato fedorento fê-lo – o que vemos? Nada. No pasa nada. Não sabem da gripe, se adoecerem adoecem, ora essa, nem percebem bem o interesse da senhora, respondem porque são educados.
Aqui, a gripe ocupa os jornais e os noticiários. Mal aconselhada, a ministra continua a ser a Mãe da gripe, sem ver que a médio prazo se pode tornar na sua Viúva. O inevitável Prós e Contras de segunda –feira demonstrou que não se pode ser bom português e contra a gripe. Eu passo metade do meu tempo a ser interrogado sobre a gripe. E a escrever posts originais como este.
A gripe A é o flagelo de que o país precisava. Para um paísinho, um vírusinho. A vergonha dos Orthomyxoviridae. O H1N1 v 2009 é o inimigo descartável, a Abissínia, a Polónia, a Áustria de Portugal.
Existe, e está dentro de nós. Acabou com os beijinhos. Mas nós já não beijávamos de facto. Encostávamos meia cara displicente ou dizíamos “ beijinhos”- uma saudação que tem a marca dos tempos, falsamente íntima, sem contacto nem risco.
De vez em quando mata. Mas os nossos Institutos rapidamente demonstram que a culpa da morte está no morto. O nosso inimigo é benigno. As vítimas são colaterais, gente que ia a passar e, mesmo sem saber, estava tão secretamente doente que não merecia cá andar. Temos sido leais com o nosso vírus. O H1N1 só mata nas estatísticas, só mata no balanço final. Nenhuma morte individual que não seja desclassificada.
Ele deu-nos uma razão de existir e nós não o deixamos transformar-se em vilão.

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Coimbra Z

Coimbra Z





Se numa noite de inverno um viajante leva-nos por uma história que é uma viagem sem fim. Nenhum dos dez romances que a personagem do Leitor, com letra maiúscula, começa a ler, tem fim. Nunca consegue ir além das primeiras páginas. Ou porque o volume tem defeito, ou porque aquele é o único excerto da obra que se conhece… nunca chega ao fim.
A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y
Esses percalços são também uma forma de desmascarar as tramas que se acumulam por detrás de complexas maquinações editoriais. Desorganização de empresas livreiras, burlas de tradutores, redes de espionagem e contra-espionagem, malfeitores, falsários.
E, no entanto, o Leitor, com letra maiúscula, lá se vai movendo por entre as mais surpreendentes maquinações, com um entusiasmo que, diga-se, é cada vez maior.
Nunca consegue esclarecer totalmente a trama, mas não desiste. Quando o livro está quase a terminar, faz-se até uma apologia dos romances que concentram toda a sua energia no início, em sucessivos inícios, sem deixarem nada para depois.
O romance tradicional, com princípio, meio e fim, acabou.
T A V G
O gosto da leitura, esse, permanece, inabalável.
O gosto da pequena história, que não se sabe nem como vai acabar, nem sequer se vai acabar.
O ímpeto vital, aquele ímpeto que leva o Leitor, com letra maiúscula, a perseguir um bocadinho de romance, e mais outro, como quem persegue uma Leitora que se chama Ludmila.
Fragmentos, pedaços de vida.
A automotora parte, mas a viagem não continua, ou continua noutro lugar. Em sucessivos troços.
C D E F G H I J K L M N O P K R S T U V X W
O gosto da pequena viagem, que não se sabe nem como vai acabar, nem sequer se vai acabar.
O ímpeto vital, aquele ímpeto que leva o Viajante a perseguir um bocadinho de trajecto, e mais outro, como quem persegue um alfabeto que concentra toda a sua energia no início, em sucessivos inícios, sem deixar nada para depois, e ao qual faltam muitas letras.

Rita Marnoto

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01 novembro 2009

Francisco, foste adoptado


Alguns jornais são como a TV Rural ou a SIC Notícias.Têm uns avençados, uma espécie de raparigas de escort, a quem recorrem sempre que é preciso comentar um facto, ou um pseudo-facto ou um facto-a-ser.Era o Moita Flores antes do justo reconhecimento do povo escalabitano e o super psico-Sá, aquele rapaz marado pelas guerras antes de ser respeitável e o super-psico-Sá,o Rui Santos e o super-psico Sá, o super-psico Sá. Ontem, num balcão de Estarreja onde jazia um exemplar do JN, dei conta que o super psico-Sá entretinha uma entrevista que enchia a última página do jornal. Sem o benefício da voz encantatória, o super-psico Sá discorria sobre a gripe, os medos, as crianças e outros temas que, para quem está atento, eram os bitaites que as jornalistas pediam ao escort para o fim-de-semana. O super -psico Sá tem visão e preocupações de originalidade. Como o lugar de Mãe está ocupado, de quem é que o super-psico Sá se foi lembrar para aplacar os medos das criancinhas, que como se sabe são os medos de todos nós? De ti, Francisco George, director geral de Saúde, assim por extenso, a acabar a crónica e depois de adjectivos simples mas sinceros, merecidos e enlevados.Com o decaimento do Cavaco temos finalmente, pela mão do super-psico Sá, o Pai que esperávamos,e logo havias de nos calhar tu, Francisco.

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O que ainda não se sabe





O que ainda não se sabe é o que aconteceu entre as 17h de terça-feira, altura em que a irmã de Anabela Fernandes alertou a GNR de Lever para o desaparecimento desta e do filho, e a manhã de quarta-feira, quando a mulher foi salva por remadores que treinavam no Douro junto à Ponte de D. Luís. Ainda em estado de choque, Anabela terá dito às autoridades que o filho entrara com ela no rio, sem conseguir especificar as circunstâncias em que tal aconteceu. A criança foi retirada do Douro um dia depois, no Esteiro de Avintes, no local onde também estava o carro da mãe, e a seis quilómetros do local onde ela tinha sido socorrida. Abel Coentrão com T.F./B.C. e Lusa




Entraram no rio, Anabela e o filho, Anabela foi salva pelos remadores, junto à ponte. O que não se sabe é o que aconteceu. Ainda não se sabe. Quem deu pela falta? Quem alertou a GNR? Quem os procurou, de noite? Ainda não se sabe o que fizeram, na tarde e na noite de terça-feira, como dormiram, o que comeram, que disseram um ao outro, o que fazia André enquanto ela escrevia a carta que deixou à beira- rio. O que ainda não se sabe é quantas vezes Anabela olhou para o rio e o que viu nas águas. Ainda não se sabe como desceu as escadas. Como segurava a mão do menino. Como se entra nas águas, como se entra no rio, como a água entra nos pulmões, como a morte é rápida e silenciosa, como a corrente é forte e o corpo de Anabela se afasta do corpo do menino e dispara para a foz, até que os remadores que treinam junto à ponte a recolhem, um vestido branco arrastado pelas águas, uma mulher sozinha com uma mão aberta e, como diria a fonte do Hospital em Gaia, “bastante afectada psicologicamente”.

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