30 abril 2010

Que dia foi amanhã





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29 abril 2010

Ex voto



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27 abril 2010

Os poetas do Mal: Roberta Iannamico (2)


nikolai-klimaszewski a partir de Man Ray

Tenho que bater com a porta
e sair a correr
atirar-me para a erva a chorar
esperar o consolo do meu cão
que me procura a cara
com o focinho quente
ou atirar-me para a cama a chorar
e molhar
a almofada
as lágrimas descem
pelo canto dos olhos
como os rios desviados
são salgadas
da mesma água do mar
quando está calmo e só
de tarde
gosto de chorar em frente dos homens
para que me abracem
ou me vejam
no meu momento
de máxima beleza
com essas pérolas
rolando pela cara
como se eu fosse de cristal ou de água
dos chuviscos
desculpem-me
como atrás
dos chuviscos
no espelho da casa de banho
às vezes
ponho gotas de água
lágrimas falsas
que deixo cair
da ponta dos meus dedos
às vezes dou-me beijos no espelho
e ficam marcados os lábios
como pássaros de vapor.


Roberta Iannamico, Bahía Blanca, Argentina,1972

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Novo elogio das mulheres do Ocidente


The Sartorialist


Há qualquer coisa de terrivelmente verdadeiro,
ingénuo e verdadeiro, nas declarações de Amadinejah ,
o persa,
professor primário e um símbolo do regime,
como na Ibéria de há 60 anos. Ele disse: a forma
como as mulheres
se vestem no Ocidente anuncia uma grande desgraça
.

Quem diria que o deus do persa intolerante
seria derrubado por umbigos, ombros, pernas
desnudadas.
E que nenhuma nudez seria castigada, porque
já não pesa, sobre o corpo das mulheres
do Ocidente,
a ameaça de nenhum deus. A nudez das ocidentais
é a fronteira que defenderemos com mais
vigor.
É, paradoxalmente, a marca da cultura
sobre a ditadura biológica, da libertação das mulheres
sobre a torpe
vigilância machista. Nenhuma mulher tem dono,
esplêndidas mulheres de estro escondido e ovulação
controlada.
Nenhuma mulher tem medo. Nenhuma fraqueja.
A fêmea sapiens do Ocidente pedala,
magnífica,
glória, orgulho e libertação da espécie.

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26 abril 2010

Os poetas do Mal: Roberta Iannamico


Bellini


Todas as mães
guardam a memória da primeira
a minha bisavó suicidou-se
tinha a minha avó
sete anos
-uma traição de amor-
engoliu o veneno e estilhaçou
o copo contra a parede
em frente da filha
dizem que primeiro se preparou
pintou-se
pôs as jóias
penteou os cabelos louros
em frente do espelho
sem deixar de se olhar
com esse gesto que a minha mãe
repete todos os dias
e que eu
estou começando
a repetir.


Roberta Iannamico (Bahía Blanca, Argentina,1972)

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24 abril 2010

A luz em relevo





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Os poetas do Mal: Martin Prieto


Jeff Wall


Laura

Compro velas para o meu santuário pessoal.
A rapariga que vende velas chama-se Laura Sandoval,
e diz que nunca comeu com velas;
não sei se me está a dar uma informação
de que posso prescindir nos próximos 50 anos,
ou se quer que a convide a cear à luz
das velas.


Alguma coisa nela me diz que a primeira hipótese é verdadeira,
algo em mim me diz que a segunda é mais verdadeira.

Acendo uma vela por Laura Sandoval
que activou o motor oxidado da dúvida.


(Em Novembro de 2000 Laura Sandoval era empregada do supermercado La Gallega, Rosário, Argentina)

Martin Prieto (Rosário ,1961)

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23 abril 2010

O constitucionalotero





Hoje, brilhou no blog dos apoiantes de Sócrates, uma luz de esperança. Uma voz corajosa na FDL.
Ficamos a saber que um tal Otero, regente de Direito Constitucional, aproveitou a cátedra e uma prova de avaliação para , abusando da sua posição e em total desrespeito para com os alunos, fazer um pouco de humor. O humor bafiento dos “ liberais democratas” portugueses.
A abjecção já foi comentada.
Só queria acentuar um aspecto, para mim o mais repugnante da peça Oterica: O modo como o professor trata os animais vertebrados. O especismo é o ultimo reduto do racismo, disse alguém num livro de Coetzee, para incompreensão de muito boa gente progressista, que acha exagerados os que sofrem com o imenso sofrimento dos outros vertebrados e alerta para os seus direitos. Ei-la: em bruto, brilhando na sua boçalidade, a ideologia religiosa, hipócrita e falsamente anódina. O animal humano que se desconhece. Que renega as suas baixas origens. Que se julga feito à semelhança de um pai criador e por isso diferente dos outros “vertebrados”, não apenas dispensado de qualquer regra mas acima deles, dispondo deles, da sua vida e do seu corpo.
Animal Otero: Fique lá com a sua Constituição, os sacramentos e o matrimónio. Escrevo este post em memoria do Tobias. Que corria atrás da sombra das cegonhas nos campos do Mondego e que foi livre, feliz e inteligente, de uma forma que o senhor nunca perceberá, nem os macacos da Bragaparques que ensina a absolver.

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15 abril 2010

Tipo Conjura



O cardeal Saraiva Martins, o inefável ayatohla que tem a seu cargo a análise científica dos milagres e comete a proeza de falar português como se fosse um italiano de entre Viseu e Guarda, disse agora à Antena 1 que havia “uma conjura contra a Igreja”. Uma Conjura Contra a Igreja. Grande tema. Lembra Roth Brown, esse grande escritor.
Mas a realidade nunca é tão boa quanto promete.
Vai-se ouvir o cardeal e ele não diz mesmo que há uma Conjura. Diz que há assim como que uma espécie de, a modos que, uma conjura. Tipo conjura, estão a ver.
Seja como for. Se há Conjura, mesmo que seja a modos que uma conjura, façam favor de me inscrever. Contra os Valores marchar, marchar.

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14 abril 2010

A filha da Rainha-Mãe



Faz-me falta a Rainha Mãe. E mais do que a Rainha Mãe, a filha. A filha da Rainha Mãe transmitiu-me a noção de monarquia. Fê-lo discretamente, como um sussurro, um toque que não sabemos se existiu, se é uma sensação ou apenas uma recordação, uma meta sensorialidade. Nada que se compare à ideia republicana. Ou à ideia de Comuna. Ou à ideia da Cidade sem Estado. Esta ideia monárquica veio sem doutrinação, sem tentativa de conversão, sem proselitismo. Uma ideia simples como uma carteira no braço, o ladrar de um cão no pátio, o martelar do carpinteiro que repara uma escada e é ouvido pelo miúdo que dorme a sesta da tarde, na idade em que a sesta começa a ser supérflua e ele acorda com a sensação de que um pedaço da vida, dos campos, da bola nos terraços, lhe foi tirada. Uma ideia simples mas impossível de explicar, como as conversas das mulheres que visitam a mãe, de tarde, enquanto os homens trabalham. Uma ideia simples como a escolha dos legumes para a sopa, o tempo de cozedura do arroz, o ponto das natas batidas, o cheiro do gengibre e a consistência dos cogumelos a que chamam um nome que soa como as serosas dos pulmões. Uma coisa simples como falar na cama, cozer o pão, brunir a roupa das crianças. Tenho saudades da filha da Rainha Mãe. Que deixou envelhecer o filho, não se deita com o duque desde a inauguração da Jubilee Line e ignorou o clamor do povo intoxicado pelos tablóides e pelo socialista dos tablóides. Uma ideia de monarquia sem corte nem servos. Só superfície, só colar e folhos. E agora só uma ausência, como se nos estivéssemos a esquecer de nós mesmos e fosse tudo o clamor das turbas ou uma notícia esquecida nas revistas que não lemos.

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Como programar a repetição automática de eventos

(Observe que o seguinte conteúdo foi traduzido automaticamente para a sua língua.)


North Parade coreano Militar. Fechar [X]. A multidão na missa Arirang jogos na Coreia do Norte mostra sua devoção ao culto-como o "Querido Líder" Kim Jong-il...



Soldados do Exército do Povo Coreano marcha em perfeita formação após o Querido Líder, ansioso para impressionar o mundo.

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Sem chaves e às escuras

Era um desses dias em que tudo sai bem.
Tinha limpado a casa e escrito
dois ou três poemas que me agradavam.
Não pedia mais.

Então saí para o corredor para despejar o lixo
e atrás de mim, uma corrente de ar
fechou a porta.
Fiquei sem chaves e às escuras
ouvindo através das portas
as vozes dos meus vizinhos.
É transitório, disse para comigo;
mas também assim poderia ser a morte:
um corredor escuro,
uma porta fechada com a chave dentro
o lixo nas mãos.

Fabián Casas
Boedo, Argentina, 1965
de El Salmón, 1998

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13 abril 2010

Uma cor que não é característica


William Kentridge

Um dia, em 199… recebi uma carta que, agora, finalmente, me atrevo a transcrever:

Bom dia.

O meu nome é Ruben S. e sou aluno da Escola Serpa Pinto, em Vila…. Estou a escrever sem o conhecimento da pessoa a quem me vou referir, mas, atendendo ao assunto em questão, espero que esta minha falta me seja relevada. Refiro-me ao seu paciente, o professor N.B.
No ano passado, foi meu professor de Biologia e Geologia e, este ano, além de continuar a leccionar a mesma disciplina é meu Director de Turma.
No presente ano lectivo, por volta do mês de Novembro, notei que nos dias que precediam as crises que caracterizam a doença, o professor N. ficava com uma cor que não é característica da mesma.
Espero que esta informação seja, de algum modo, útil.

Obrigado pela atenção.

Ruben S.

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Nove em cada dez psicólogos, e mesmo


Marina Abramovic


Há algum tempo que não via o noticiário da manhã e me privava da comédia humana. Hoje de manhã, um cardeal , numa conferencia de imprensa, naquele estilo lentificado da Cúria romana , garantia que muitos psicólogos,
pausa,
e mesmo,
pausa, como se estivesse a fazer um esforço de memória,
psiquiatras,
sorriso triunfante,
garantem que não há ligação entre pedofilia e celibato.
Os mesmos,
sorriso e gesto parecido com o que o RAP celebrizou ao imitar a rábula antiabortiva de Marcelo no referendo,
encontram relação entre a pedofilia e,
o rosto distende-se totalmente afirmativo, o tom de voz é vitorioso como se tivesse derrotado uma legião de opositores e já estivesse a falar do reino dos céus,
a homossexualidade.

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12 abril 2010

Todos iguais



Catálogo de MACRO FUTURE
Into Me, Out of Me
Roma, 2007



O Zagalo viveu com o Labão sete anos sem história. Pelo menos para mim que só os via na Páscoa. Agora o Zagalo apaixonou-se pelo Horácio e deixou o Labão. O Labão está inconsolável. Sete anos de sacrifícios, devoção, algum amor talvez. É assim que ele se queixa à Pipa, boa confidente, desde que seja ao telefone.
- Deixa lá, Labão- consola-o a Pipa, bom consolo, desde que seja ao telefone. Esse Zagalo é um filho-da-puta. Os homens são todos iguais.

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09 abril 2010

Os militares desfilaram com fardas novas, especialmente talhadas para o efeito por Valentim Iudachkin, conhecido costureiro russo de alta moda



As novas fardas não são do agrado de todos, caso do escritor nacionalista Alexandre Prokhanov, que considerou que os novos fardamentos são "um tanto ou quanto efemininados, não têm a ver com o espírito combativo dos russos".


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07 abril 2010

Blazer



William Kentridge, «Felix in Exile», 1994

Em Solar, o último livro que Lodge escreveu sob o pseudónimo de Ian McEwan, o professor Beard volta a Inglaterra vindo de Berlim e, ao ver os mesmos jornais e revistas de há uma semana, os mesmos títulos, o mesmo Blair e o mesmo Milligan, percebe que já começou o afunilamento mental familiar do regresso a casa.
É neste estreitamento do campo de visão que vivo. Como se agora fosse sempre Inverno - sempre nuvens e neblina, sempre o empreiteiro do Fundão e os rapazes das Jotas, a adjudicação à Siemens ou à Sópedras- e os pintores que restauram as paredes do que chamo a minha casa tivessem substituído , maldosamente, o blazer e o brinjel por cinzento tumular ou pela cor das furnas quando o Rui Bebiano espreita .

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06 abril 2010

Transmissões ao vivo dos desfiles de 7 cidades da Rússia e da CEI, bem como a localização única a bordo dos aviões, que voam durante o desfile na Pr *




(*) прямые трансляции парадов из 7 городов России и СНГ, а также уникальные съемки с борта самолетов, которые пролетят во время парада над Красной площадью.

(Observe que o seguinte conteúdo foi traduzido automaticamente para a sua língua.)

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05 abril 2010

Wen Jiabao e Kim Jong-Il participaram das atividades comemorando o 60 º aniversário do Norte da China Coreia relações diplomáticas cum cerimônia de *





(*) 2009年10月5日,庆祝中朝建交60周年活动暨中朝友好年闭幕式在朝鲜五一体育场隆重举行。中共中央政治局常委、国务院总理温家宝与朝鲜劳动党总书记、国防委员会委员长金正日,朝鲜内阁总理金英日等共同出席。

(Observe que o seguinte conteúdo foi traduzido automaticamente para a sua língua.)

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04 abril 2010

Procissão no Chiado


William Kentridge


Não consigo escrever sobre a realidade. Não consigo escrever sobre a pedofilia e a Igreja Católica, por exemplo. São dois aspectos da realidade que me ultrapassam, sobre os quais nunca adquiri conhecimento que permitisse reflexão ou opinião profunda. Vivo sem eles, são raras as vezes em que me apercebo que existem e não os percebo. Na semana passada estava em Lisboa, era domingo e uma procissão descia da igreja de S. Roque. Que estranheza. Na mais cosmopolita área da cidade, uma procissão. Mesmo eu, que ainda trago nos ouvidos o murmúrio dos autos-de-fé e li as descrições do grande terramoto que havia de celebrizar o Rui Tavares, olhei para aquela gente que descia do Largo da Misericórdia como para uma feira medieval. À frente, com opas amareladas, os irmãos vivos. A seguir, um padre e alguns acólitos segurando o ícone torturado. Depois o povo. A encerrar o cortejo, imponentes, saídos dos livros do Estado Novo, o Juiz, o vice Juiz e o Secretário. Nos passeios, os turistas fotografavam, vorazes. A primeira cidade africana, como diz John Berger. E saltitantes, roliços, com voz de contralto, alguns padres em traje de solenidade, tentavam chegar-se à cabeça da procissão. Os irmãos vivos, apesar dos ornatos e vestimentas, tinham o péssimo aspecto que a velhice em geral e a pobreza em especial dá aos infelizes: o mau estado oral da população, as raízes brancas anunciando o cabelo empastado, como se um meme de quase-rastas tivesse percorrido aquelas cabeças crentes, ou a asa de corvo do farandol nos homens mais cuidados, a cor baça da nefrose, o bronzeado talassémico. Surpreendida pelo quadro, a alta adolescente que estava comigo baixou os olhos e vi na sua reserva o pudor para com aquela gente e a reprovação pelo meu espanto. Ao contrário do que é hábito eu percebi-a, ah, ao menos esta vez eu percebi-a. Porque havia naquela marcha essa ambiguidade entre um acto público- uma comunidade que se deixa ver naquilo que a une- e o que o rosto das pessoas transmitia, sobretudo o das burguesas decadentes do segundo grupo, amontoadas antes da vara de prata do Senhor Juiz e as medalhas dos Corpos Gerentes. Estas mulheres pareciam zangadas com a sua exposição. Havia, claro, algumas faces tranquilas, de mulheres de trabalho a dias. Mas a maioria eram reformadas ou pensionistas, óculos de contrafacção e semblante carregado, cantando estrofes que celebravam o sofrimento e a glória do Senhor sem disso retirarem nenhum consolo. Pareciam querer arremessar a sua fé aos pecadores surpreendidos do Chiado.
Assim iam, no domingo de Ramos, os irmãos ainda vivos de S. Roque.
Acho que a Igreja Romana, de Ratzinger e do cardeal Saraiva, tem um problema para resolver. Mas, como o José Manuel Fernandes brilhantemente demonstrou, não me parece que esse problema seja o dos jovens abusados.

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03 abril 2010

Etcétera ou o afã de ordenar o mundo




[*]


En sus remotas páginas está escrito que los animales se dividen en (a) pertenecientes al Emperador, (b) embalsamados, (c) amaestrados, (d) lechones, (e) sirenas, (f) fabulosos, (g) perros sueltos, (h) incluidos en esta clasificación, (i) que se agitan como locos, (j) innumerables, (k) dibujados con un pincel finísimo de pelo de camello, (l) etcétera, (m) que acaban de romper el jarrón, (n) que de lejos parecen moscas


El Idioma Analítico de John Wilkins, JLBorges

[*] Cypraea cribraria Linnaeus, 1758. Indo-West Pacific to Smoky Cape, NSW



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01 abril 2010

As nuvens, pequenos charcos









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