28 fevereiro 2006

Terça Feira

O nome da vítima




Quando se espera que JPP escreva sobre o crime praticado no Porto ele escreve sobre os jornalistas da causa anti homofóbica, o BE e a sua política fracturante. Deve ser a 14ª lei da blogosfera. E no entanto é preciso escrever sobre o crime praticado no Porto. Para dizer o nome de Gis, já que o nome de Gis é difícil de dizer. Chamava-se Gis. Não era uma transexual, Gis, Gis, uma prostituta, uma sem-abrigo, uma toxidependente, Gis, Gis, Gis, uma viciada de drogas duras, uma doente de SIDA, uma portadora de vírus da Hepatite C, Gis. Era uma pessoa. Uma pessoa que se chamava Gis. Gis é o nome da vítima. Gis.

27 fevereiro 2006

O senhorio do Pessoa

Leio no blog de Jorge Reis-Sá: (...) No dia anterior apresentámos a sua A Cidade e os Livros na Casa do Viegas, a Fernando Pessoa. Gostei, verdadeiramente gostei.

Mais ainda



Que me beijasses
me tocasses com os lábios
e a língua
e com a ponta dos mamilos
me tocasses
mais ainda
que te levantasses
do meu peito
e eu recolhesse a baba
que escorria
mais ainda
e sussurrasses
as palavras dessa língua
que aprendeste
mais ainda
me degolasses
as carótidas de ambos os lados
degolasses
com a adaga de um lado
e do outro a cimitarra
degolasses

Filme

Um escritor chamado Rodrigo Guedes de Carvalho escreveu o guião para um filme cujo nome não recordo mas que fala de cemitérios. O escritor foi entrevistado pelo Francisco José Viegas que foi muito elogioso. Percebemos que não vale a pena perder tempo com a coisa.

Romance

Um romancista chamado Jorge Reis-Sá escreveu um romance cujo título não recordo mas que fala de cemitérios. A recensão do Diario de Notícias de 6ª, assinada por A. José Teixeira, é muito elogiosa. Todos percebemos que não vale a pena perder tempo com o objecto.

Sem meias

Primeira vantagem de não usar meias: pode-se comprar botas sem passar pela humilhação de uma meia rota.

Gabrielle




Ele pretendia estar acima dos sentimentos vulgares. Ganhava dinheiro. Até um jornal dava lucros, nas suas mãos. Ele afinal amava-a. Ela fugiu e voltou. Ela respondia com a verdade às perguntas dele. Ela voltou porque não o amava.
IL EST PARTI ET N’EST JAMAIS REVENU.
Um conto de Conrad . Um filme de Patrice Chéreau. Uma dança. Uma ópera. Uma peça de teatro. Com Isabelle Hupert, Pascal Greggory, Thierry Hancisse e Cláudia Coli.

Cinco estrelas para todos. ( No Teatro do Seiva Trupe)

Evitas de ir: Mrs . Henderson

Na Londres da WW2 o Lorde Chamberlain permitiu um vaudeville com nus femininos. Desde que as mulheres se não mexessem. A interdição foi levada a sério e nada se mexe no filme de Stephen Frears.

Gisberta



Vieram e atiraram-me pedras. Depois talvez se tivessem excitado com o meu sangue porque se aproximaram e começaram a bater. Só doeu ao princípio. Há um momento em que a dor abre o alçapão onde nada se sente, nem se vê ou ouve. Aí eles podem bater. Contava cada golpe. Contar é das últimas coisas que se perde. Seis. Sete. Oito. E depois pensava que tinha perdido a conta exacta das pancadas, porque algumas eram simultâneas e talvez não as tivesse discriminado. Era a minha única preocupação. Não saber o número exacto das pancadas que me tiravam a vida. Há sempre na vida alguma coisa que faz sentido e isso fazia sentido naquele momento. Alguém me iria fazer perguntas e alguma coisa eu havia de saber responder. Ao menos o número exacto das abrasões, dos hematomas, das lacerações. Vinte e um, vinte e dois. Depois uma grande serenidade e uma luz intensa. Trinta e três. Trinta e quatro. Os rapazes eram o carro do lixo que passava. Algum dia teria de ser. Reconheceram-me e eu sabia ao que vinham. Quarenta e seis, sete, oito. Mais luz. É agora facílimo contar.

24 fevereiro 2006

Amanhã às 9

Não escrevo



Devia escrever sobre isso. Mas não poço.

Estrelas no Mal

Reis e Rainhas 4/5 (mas pode ser 5/5)
Munique 2/5 (talvez 3/5)
Walk the Line 3,5 a 4/5 (com 5/5 para Phoenix)
Match Point 1/5 (ou um bocadinho mais)
Orgulho e Preconceito 5/5
(mas ainda não vi, nem tenho paciência para isso)

Totalmente desaconselhado, Não digam que não avisei: Capote

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Fiz o melhor CV da vida para a entrevista. Pedi à Gita do Design para dar um toque na capa. Vesti escuro, escondi a tatuagem com base, o rabo de cavalo com elástico e o sotaque com voz lenta. O entrevistador olhou para mim com pouco interesse e disse: -Chega-me o seu NIF.

Modernização administrativa

O Big Brother está-se nas tintas com o que tu pensas. Pensas num blog. Pensas num canto de um jornal. Pensas para meia dúzia de alucinados como tu. Os excluídos do banquete final. Temo-los debaixo de olho. Debaixo de telefone. O que importa é que controlamos a circulação do lixo televisivo. E a Lusa. O que importa é o NIF. Não precisamos de mais nada de ti. Basta nos o NIF. Para a modernização administrativa e para a simplificação executiva. O Big Brother é fiscal, o resto vem por acréscimo. E nem é necessário. Interessam-nos lá as consciências. Isso era a exacerbação ideológica do século XX a criar distopias inúteis. Conseguimos o mesmo com muito menos aparato e o respeito absoluto pelos direitos humanos. Dá cá o teu NIF.

Querem tudo

O (ex)director do Urbanismo da Câmara e o Presidente do Clube de futebol foram apanhado com três milhões de euros no carro. Os grupos de teatro e o CAE não recebem subsídios.
Não há dinheiro para tudo , caramba.

23 fevereiro 2006

Quase Cristiano

Hoje o menino Cristiano não-Ronaldo sabe que a terra é funda e no fundo escuro da terra está a água fria. Ontem só suspeitava. Fugiu às duas mulheres mais velhas da família. Que é do Cristiano? Ai que ouvi a tampa do poço a arrastar. Ele tem lá força para isso. Ai que o meu menino caiu. Salva-me o menino Artur. Não havia cordas. A avó atirou para o poço o tubo da máquina de rega e segurou a pulso o corpo do homem que descia. Encontrei-o. Ai que o menino está morto. Está vivo. Enquanto a mulher mais velha procurava ajuda a avó segurava o Artur que na água funda do poço segurava o menino Cristiano. As mãos da mulher enchiam-se de sangue mas ela sabia que tinha força porque gritava por nossa senhora e quando as forças lhe faltaram gritou pela madrinha que morreu há pouco minha madrinha pede tu à senhora que não deixe o menino morrer . Vieram os homens com as cordas e tiraram o Artur que trazia o menino Cristiano não-Ronaldo. Estava gelado. Mas isso era o menos. As mulheres sabem como se aquecem os que caíram aos poços mais escuros.

Quatro anos perdidos para Ingrid Betancourt



Faz hoje quatro anos que a guerrilha colombiana FARC raptou, e desde aí mantém em cativeiro, Ingrid Betancourt, senadora e candidata presidencial, e uma companheira sua, Clara Rojas. Há na Colômbia, segundo várias organizações internacionais, cerca de 3 000 sequestrados. Em França, e um pouco por todo o lado, passa hoje uma corrente de solidariedade para que estas vidas não sejam esquecidas. Falar de Ingrid Betancourt é também repudiar o rapto e o encarceramento privado como armas da luta política. Lembramos todos os que hoje, nos cárceres das organizações terroristas ou nos cárceres secretos da CIA, na selva colombiana ou em Guantanamo, estão privados de liberdade.

22 fevereiro 2006

Estava um pai entregando a filha



Estava um pai entregando a filha à auxiliar, quando subitamente empalideceu, soltou o cinto da cadeira, apalpou a roupa e exclamou aflito:
- Ai que me esqueci da miúda.
A auxiliar, muito habituada a trouxas de roupa vazias, consolou-o, no que foi acompanhada por algumas mães em lágrimas.

Il suffit de passer le pont






Il suffit de passer le pont,
C'est tout de suite l'aventure !
Laisse-moi tenir ton jupon,
J' t'emmèn' visiter la nature !
L'herbe est douce à Pâques fleuri's...
Jetons mes sabots, tes galoches,
Et, légers comme des cabris,
Courons après les sons de cloches !
Dinn din don ! les matines sonnent
En l'honneur de notre bonheur,
Ding ding dong ! faut l' dire à personne :
J'ai graissé la patte au sonneur.

Laisse-moi tenir ton jupon,
Courons, guilleret, guillerette,
Il suffit de passer le pont,
Et c'est le royaum' des fleurettes...
Entre tout's les bell's que voici,
Je devin' cell' que tu préfères...
C'est pas l' coquelicot, Dieu merci !
Ni l' coucou, mais la primevère.
J'en vois un' blotti' sous les feuilles,
Elle est en velours comm' tes jou's.
Fais le guet pendant qu' je la cueille :
" Je n'ai jamais aimé que vous ! "

Il suffit de trois petits bonds,
C'est tout de suit' la tarantelle,
Laisse-moi tenir ton jupon,
J'saurai ménager tes dentelles...
J'ai graissé la patte au berger
Pour lui fair' jouer une aubade.
Lors, ma mi', sans croire au danger,
Faisons mille et une gambades,
Ton pied frappe et frappe la mousse...
Si l' chardon s'y pique dedans,
Ne pleure pas, ma mi' qui souffre :
Je te l'enlève avec les dents !

On n'a plus rien à se cacher,
On peut s'aimer comm' bon nous semble,
Et tant mieux si c'est un péché :
Nous irons en enfer ensemble !

Il suffit de passer le pont,
Laisse-moi tenir ton jupon.
Il suffit de passer le pont,
Laisse-moi tenir ton jupon.

(Georges Brassens 1921-1981)

Robert Fisk



(clique aqui.)

Sem meias



Um dos corolários da 16ª lei da blogosfera é que, os que não lêem jornais nem vêem televisão, têm alguma dificuldade em redigir posts, digamos, populares. Isso mesmo posso eu confirmar. Também deixei de usar meias, mas como só foi hoje de manhã ainda não posso avaliar os efeitos da mudança.

Não é bem verme

Um gerador automático de comentários, nomeadamente de mensagens publicitárias. Obrigado, Carla. Era isso mesmo que eu queria dizer.

21 fevereiro 2006

Faz de conto

20 fevereiro 2006

wrj5tnd

Há dias em que os exercícios de auto estima parecem resultar. Mas sempre que tento colocar um comentário nas caixas que têm verificação de letras, sinto-me um verme.

O processo evolutivo

Hesito em escrever este post. Mas aguardo impaciente o primeiro post da Maria Luís.

Leis do FTA



Não tinha dado conta. Mas não podia estar mais de acordo com o Francisco. Juntaria apenas algumas leis para os outros dias: No cinema não dar mão nem ombro(o cúmulo da fatelice amorosa e do desrespeito pelo realizador); não proteger da chuva; prendas, só luvas de calf; não comer em restaurantes que não sejam de leitão e vinho branco gaseificado; caminhar, só ao estilo camponês; olhar, que seja entre os olhos, ou na têmpora direita; não a trazer na mota,
não procurar nos céus o nome dela
nem no rasto do granizo
às alvoradas
nem no lume das lareiras ver arder
outra coisa que os toros ressequidos.

19 fevereiro 2006

Tempo perdido

Um blog sério

No post anterior citámos Wittgenstein. Ao fim de quase três anos de posts diários,de 3 157 posts, conseguimos fazer a prolação de dois posts consecutivos nomeando Wittgenstein. Talvez assim A Natureza do Mal passe a ser considerado um blog sério. Licencioso, mas sério.

Exteriorizações

Segundo Wittgenstein substituímos comportamentos de dor, fome ou sede, bem como choros e gemidos por frases aparentemente declarativas como “tenho uma dor no peito”, “ tenho vómitos só de pensar nisso”. Estas frases não surgem num contexto informativo e só aparentemente são comunicações (Mitteilung). Wittgenstein chamou-lhes exteriorizações (Aüsserung).
Na velhice e na solidão perdem-se as exteriorizações. E é frequente ver os velhos e os solitários a chorar, a gemer e a vomitar.

Uma Mulher do Mal: Jean Seberg




Foi preciso vê-la ao lado de Belmondo (ah mas antes Belmondo que esse homem letal cujo nome, Romain, anunciava duplamente, Garou, a desgraça. Antes Belmondo que Fuentes, outro literato) para me lembrar de como era linda, com o cabelo curto, T-shirt às riscas horizontais em preto e branco, calças apertadas acima dos tornozelos magros, sabrinas, umas ancas que a distinguiam das anorécticas a vir. Talvez houvesse sempre um homem a correr para ela, à bout de souffle. Mas havia a tragédia. O FBI de Hoover, os Panteras Negras, a morte que não foi doce.


(ver Jóias de Família e aqui).

18 fevereiro 2006

Bombardeamento



Talvez Ingrid Betancourt tenha morrido. As forças aéreas da Colômbia bombardearam cirurgicamente a montanha de La Macarena, um santuário da guerrilha. Um grupo ecologista protestou. Não se tratam assim as serranias.

Il suffit de passer le pont...



Agora temos a ponte para ir ao lado de lá. Mas que vamos nós fazer ao lado de lá?

17 fevereiro 2006

Procriar com assistência médica (mail)

Pode um médico de formação e investigador de carreira apresentar um projecto de legislação sobre Procriação Medicamente Assistida contrapondo-o aos quatro projectos em discussão na Assembleia da República?
Tanto pode que é possível lê-lo e comentá-lo. E convém fazê-lo quanto antes porque a Lei deve ser aprovada em Março no Parlamento. Mário Sousa, especialista no tratamento da infertilidade, nomeadamente masculina, e Rosália Sá, estudante de doutoramento do ICBAS, têm esse projecto que pode ser lido em Ciência Hoje.

E eu ralado

Na Task Force um sábio insensato
Faz aprovar a extinção dos pássaros

Sampaio em Timor e um esforço hercúleo
Durão na Bósnia Sócrates na Caras

Mais um manifesto
Dos agentes da cultura

Nunca há bilhetes no Teatro Fechado
Os poetas trocam alexandrinos

É tão giro o filho do Belmiro

Falta força à razão da oposição
Ou o homem está a cortar onde é preciso

O filme do Spielberg é mesmo mau
E o match point e os cowbois também

Afinal os aviões do Portas eram bons
A guerra privatizada rende mais

Mimi Travessuras também vai na comitiva
Com bom senso, anti emético e hijab

E eu ralado eu
ralado

aguasfurtadas

aguasfurtadas, revista de literatura, música e artes visuais,
23 de Fevereiro, a partir das 22h00
uma sessão de apresentação do seu mais recente número: o 8. Esta sessão terá lugar na livraria "Sem Mais Nem Menos" (Rua Mártires da Liberdade, 130), no Porto
com Ana Luísa Amaral, Rui Lage,José Carlos Tinoco, António Pedro Ribeiro entre outros.
Para além de um pequeno concerto com o clarinetista João Pedro Santos que interpretará, entre outras, a peça de Rui Miguel Dias incluída no CD desta
"aguasfurtadas" nº 8.

Para qualquer esclarecimento adicional,jup@jup.pt ou para os telefones 223
742 131 / 220 310 650 / 916 070 182.

16 fevereiro 2006

Por dentro da festa


Foto: Hugo

Matem todas as aves.





Melhor do que o torneio de futebol inter-mediterrâneo, que as conversações juntando os nossos dirigentes políticos com os dirigentes religiosos islâmicos, que as missas ecuménicas. Juntemo-nos na OMS (sob a égide do CDC, claro). Criemos uma Task Force verdadeiramente representativa, com os nossos radicais bem representados. Transformemos a luta de civilizações num combate de extermínio contra uma espécie inferior.

Les Athées



Quando as três grandes religiões monoteistas ocupam todo o terreno e se enfrentam de formas tão primárias é altura de dar lugar aos ateus.
Uma visita rápida aos sites de língua francesa não foi lá muito entusiasmante.

atheisme.org (Sério demais)
Atheísme , L'homme majuscule (Mais levezinho)
o site do Círculo dos resistentes à opressão dos dejoelhistas. (Promissor)
atheisme.ca (Canadiano, bilingue)
Comité internacional de ateus
Libre Pensée(Grandes textos fundadores da sociedade laica.Militante e chato)

Recolhido no Le Monde des Religions, janvier-février 2006

15 fevereiro 2006

Correr, chorar

Corro de noite por ruas devolutas

contra
o vento

contra
uma ideia
de sofrimento

se alguma certeza deve haver que seja
a tua voz a anunciar

desde que as minhas moléculas
subam tão alto
possam boiar
perto das tuas

ancas
única certeza


Programa




Queres que te diga o que penso
do programa nuclear do Irão

estou-me nas tintas

com três condições

que estejas comigo
na manifestação
no abrigo
e na deflagração

TPC

Namorados Xis

O são Valentim é o santo padroeiro dos namorados Xis. Depois do jantar, condecorados com a prendinha Xis, vão procriar. Com jeitinho por causa dos embriões excedentários.

Xis

O jornalismo Xis é responsável. Os jornalistas Xis são especialistas nos afectos. Agora, disseram-lhes que era preciso serem um pouco mais profundos e eles subiram às profundidades dos neuromediadores. E é só serotonina, ocitocina, dopamina. Mas sobretudo serotonina, muita serotonina. Tudo muito levezinho, sem ofender ninguém, como convém ao jornalismo Xis, abençoado por deus nos céus, pelo Bagão Félix e pelo embaixador do Irão em Lisboa.

Toma lá, da treta

O são Valentim é um pai natal dos adolescentes rascas e dos adultos retardados. É o mínimo que te posso dizer. À noite fui pelas ruas e vi. Os restaurantes estavam cheios de mulheres com ar de feliz contemplada. Os homens? Não lhes olhei para a cara. Parei num sítio onde o passeio estava, digamos, juncado de pétalas de rosas musquínicas. E aí, com o nariz entupido, fixei melhor os olhos de uma. Embora parecesse interessada na orelha do senhor com quem partilhava a mesa, ia jurar que lhe baloiçavam nos olhos os namorados do passado. E então olhei, uma a uma, as mulheres da sala do restaurante assinalado por um passeio, digamos, juncado de pétalas musquínicas. Os olhos rolavam. Um deles à música dos amantes pretéritos, o outro, do amante futuro. Não vi a cara dos cavalheiros, já disse. Não sei ver cara de homens. Não tenho uma teoria da mente dos homens que se sentam nos restaurantes ao são Valentim. Não ultrapasso nunca, com eles, uma intencionalidade básica. Sei que existo, eles também, eu não estou sentado naquelas mesas, e é tudo.

14 fevereiro 2006

Essa treta

Estou nas ilhas. faz um post a dizer mal do sao valentim e do amor essa treta.
14.02.06 12:07


// SMSed by Luis

13 fevereiro 2006

Insónia


Foto: Zam

Partidas



Quando os bonecos se partiram colei-os. Quando foste tu a partir tirei a tua cola de mim. Saía de um lado, escorria para outro.

12 fevereiro 2006

A queda

fábula



De noite, inadvertidamente, ele bebeu-lhe os olhos. Agora ela vê tudo de outra maneira.

10 fevereiro 2006

Mais vale mortos que autoregulados



Eu não esperava mais de Freitas nem de Sócrates. Esperava menos. Não tinham de dizer nada. Já bastava.
Não esperava mais do não sei quantos Canas.
Nem da Ana Gomes, sempre generosa, que desta vez reflectiu longamente antes de falar.
Nem do Daniel Oliveira.
Nem do Saramago, que sempre foi pela regulação.
Eu até compreendo que o Zapatero, reunido com aquelas eminências islâmicas e russas deite toda a água na fogueira, para salvar o essencial: isolar os terroristas islâmicos, manter as pontes.
Agora de alguns jornalistas “de referência”. Tanta auto regulação fica-lhes mal.
Mas a ter que ser assim avisem, pelo menos. Digam: olhem eu agora vou falar de desporto (sem apito dourado). De motores (sem Auto Europa). De sexo (seguro). De culinária.
E nos blogues também, por favor. Digam:- Eu pratico a auto regulação. Eu todos os dias, antes e depois de escrever, vejo se estou a lançar achas na fogueira, fósforos no petróleo derramado, sal nas feridas . E quando tenho dúvidas aconselho-me com colegas responsáveis, dos que têm experiência nisto, que já se auto regulam há muito tempo.

Religião / Política / Autoregulação



Se isto é religião então devemos mobilizar-nos contra uma religião que condena à morte e mata por delito de opinião. Todas as religiões têm aspectos positivos e negativos. A tentativa de explicação do mistério da realidade, a incorporação de tradições orais, o mergulho na história do mundo e da humanidade, o misticismo como experiência interior de continuidade com as coisas. Mas também a desconfiança se a ciência ameaça o que se julga ter sido revelado, a divisão entre crentes e não crentes, os aparelhos religiosos e as suas hierarquias, as práticas religiosas a organizar e moldar o quotidiano. Simpatizo com alguns aspectos da religião islâmica. Mas acho que nenhum código religioso medieval serve para a regulação das sociedades modernas e não esperem de mim compreensão, ancorada no multiculturalismo e no respeito pelo outro, quando se encerram as mulheres, se põem polícias de costumes de chibata na rua, se ensina a ler pelo Corão. O combate pela modernidade que os muçulmanos progressistas travam, não é ajudado pelo bom senso dos ocidentais, pela tolerância face aos imãs analfabetos que lembram os padres ignorantes de que falava a rainha Dona Estefânia, pela cartilha relativista que vê a rua árabe como as praças dos auto-da-fé e diz que é questão de esperar trezentos anos.

Se isto é política, então vamos discutir a tomada do poder pelo Hamas na Palestina, a entrada do Irão no nuclear, a rua incendiada de França. Pintei a cara de vergonha quando as tropas da coligação anglo-americana entraram no Iraque. Mas se as bombas do terrorismo islâmico, que comanda a actual campanha de indignação, deflagrarem num doa aeroportos por onde tenho que passar, numa biblioteca , num teatro, num café dos vários países onde gosto de estar, não vou ter tempo sequer para me arrepender. Se o Irão aceder ao nuclear eu, que sou pelo desarmamento total, sentir-me-ei muito mais inseguro e desprotegido. Porque os Estados Unidos e o Reino Unido têm, apesar de tudo, democracia, instrumentos para controlar os governantes, e gente vigilante sobre os seus governos e exércitos, gente que há sessenta anos não vem para a rua senão para celebrar a paz.

09 fevereiro 2006

Os interessese dos consumidores serão naturalmente acautelados

Uma cadeia de rádio organiza um debate sobre a OPA da Sonae à PT. Fim das golden shares, interesses dos consumidores. Convidam o director de um jornal de referência, um opinion maker reconhecido, um membro do governo. O jornal é propriedade da Sonae. O director do jornal tem umas acções da Sonae, coisa pouca. O comentador político é o advogado da Sonae. O membro do governo foi, ou está para ser, membro do CA da Sonae. Para lá desses pequenos constrangimentos o debate foi inteiramente livre.

Que deus me dê forças



À entrada da estação, de manhã, o homem pega-me no braço, fala-me de um passado em que teríamos sido amigos e depois diz-me:
- Só quero que deus me dê forças para trabalhar.
Eu só quero forças para o amor, penso. Forças para me rir do director do jornal, do patrão dele e do filho do patrão, do advogado do patrão e do ministro. Forças para estar ao lado dos que escrevem Como uma liberdade, forças para me defender se me atacarem, para escrever na areia e na pedra, para desfilar no carso, sem testemunhas além das aves da noite e os meus amigos, para ajudar as mulheres a despirem-se sempre que elas quiserem e precisarem , esta imagem é má, já sei, mas é que não me acostumo a outra roupa que não seja a que Eholim compassivo nos vestiu à saída do jardim.

Como uma liberdade

Um conjunto de cartoons satíricos sobre Maomé originalmente publicados num jornal dinamarquês e republicados pela generalidade da imprensa ocidental fizeram eclodir uma impressionante onda de violência em alguns países islâmicos. Um ódio que assemelha a algo de irracional, inflamado nas multidões de rua, transformando-se assim na representação de uma vaga de barbárie.

Numa democracia, as opiniões só existem na medida em que existe igualmente liberdade para as exprimir, divergir e criticar. Em cada momento histórico, há um determinado universo de valores que só é dominante porque os sujeitos sociais os partilham de uma forma comum e plural. Em regimes autoritários, esse consenso é forçado por via de uma estrutura repressiva que se impõe aos cidadãos. Na generalidade dos países islâmicos, uma religião é aliada desse aparelho coercivo.

Plasmando-se ao poder político, as simbologias criadas por uma leitura dessa religião geram as próprias condições de reprodução do autoritarismo. Actualmente, a incapacidade de articulação de um discurso moderado no interior do Islão transforma essa realidade num cenário particularmente crítico. Afirmá-lo é constatar algo que só um proselitismo feroz pode confundir com preconceito ou xenofobia, sobretudo quando isso é valorizar todos aqueles que no terreno não cedem ao cativeiro do fundamentalismo islâmico. Em condições sempre dramáticas, tantas vezes assumindo o exílio ou a morte contra fatwas assassinas.

Há, no Ocidente, quem queira conscientemente evitar abordar o essencial. Porque é absolutamente irrelevante se os cartoons são ou não ofensivos, se são ou não ‘despropositados’. Não há aí matéria de discussão. Todos os dias nos deparamos na imprensa com opiniões ofensivas e/ou despropositadas. Por isso é que são opiniões. Por isso é que são publicadas em páginas de jornais. Por isso é que lhes podemos contrapor argumentos sem medo. E é tudo isso que nos enriquece enquanto membros de uma comunidade democrática, com opiniões que são tantas vezes execráveis mas nunca atentatórias da integridade de quem delas discorda.

Em 1689, John Locke escrevia na sua Carta sobre a Tolerância que «a tolerância […] aplica-se ao exercício da liberdade, que não é licença para fazer tudo o que se deseja, mas o direito de obedecer à obrigação, essencial a cada homem, de realizar a sua natureza». Mais de três séculos depois, ainda se justifica uma violência cega como legítima reacção à ‘blasfémia’. Quem o faz, aceita regredir na capacidade de afirmar o princípio da diferença como o princípio inalienável da realização individual, seja ela minoritária ou não na sociedade em que se insere. Daí a separação formal entre Estado e igrejas nos países democráticos, permitindo uma volatilidade dos laços morais que será tanto maior quanto a sua relação com a diversidade das práticas, das vivências e dos costumes.

Após o 11 de Setembro de 2001, a generalidade das discussões sobre este tema estão viciadas entre o radicalismo bélico e o militantismo relativista. Este documento é por isso um contributo para explorar uma alternativa a essa dicotomia, subscrito por cidadãos e cidadãs com percursos distintos e filiações políticas muito diversas, à esquerda e à direita, com ou sem religião, que têm leituras por vezes opostas quanto ao terrorismo e à sua prevenção. Em comum têm porém a recusa na cedência de um conjunto de princípios que, no seu entender, poderão traduzir parte do património civilizacional ocidental. A começar pela liberdade de expressão, que pode e deve ser um valor universal.

Os apelos de governos europeus para a ‘responsabilidade’ no uso dessa liberdade de expressão são a metáfora de um complexo de culpa em relação a algum passado histórico do Ocidente que não pode ser esquecido. Mas que também não pode servir de intermediário a todas as leituras sobre o tempo presente. Qualquer vírgula colocada na liberdade de imprensa será um silêncio a mais. Pedir desculpa pela emissão de uma opinião livre publicada num jornal europeu será pedir desculpa pela Magna Carta, por Erasmo, por Voltaire, por Giordano Bruno, por Galileu, pelo laicismo, pela Revolução Francesa, por Darwin, pelo socialismo, pelo Iluminismo, pela Reforma, pelo feminismo. Porque tudo isso nos une na herança de um processo histórico que aparece agora criminalizado pela susceptibilidade de um dogma impositivo, incapaz de olhar o outro. Do mesmo modo que tudo isso nos separa daqueles que, sem concessões, reclamam uma superioridade civilizacional para a sua civilização. Qualquer que ela seja.


Texto tendo como primeiros subscritores Rui Bebiano e Tiago Barbosa Ribeiro, que A Natureza do Mal subscreve, disponível aqui

08 fevereiro 2006

MaoMNE

A edição iraniana do Jillands-Posten (no Alcatruz).

Que mil OPAs floresçam

O director do Público escreve hoje um editorial maoísta sobre a longa marcha da Sonae.com rumo à PT, ou como diz o Francisco, um editorial sobre os investimentos do patrão. O editorial tem cinco pontos. O bom senso, a auto regulação e o Livro de Estilo aconselhavam a que tivesse ficado pelo ponto um (declaração de interesses) e pelo grito final.

Ao FTA

Volto a perguntar, porque sei que te preocupas:
Como é que eu sei, lendo os vossos jornais, que, ao escrever o que escrevem e ao não escrever o que não escrevem, ao editar o que editam e ao não editar o que não editam, a vossa autoregulação não é já ditada pelo "bom senso" do France Soir e pela "distinção Freitasiana" entre liberdade e licenciosidade?

(Sobre este tema ler CCS no Espectro)
-adição às 23:55H.

Bom senso e geoestratégias

A Blasfémia

O blog favorito de A Natureza do Mal é A Blasfémia (link ao lado).
Aguentem rapazes. Isto já esteve pior.

Preocupações

Há uns dias que concordo com o Francisco, palavra a palavra, cartoon a cartoon. Como não leio jornais nem vejo televisão, ele já escreveu aquilo que eu tinha pensado escrever. Esta limitação à minha liberdade de opinião começa a preocupar-me. Francisco, por favor, escreva qualquer coisa com que eu não possa concordar.

Relembrar



Freitas no seu pior. Depois da declaração inocente do MNE, que teve imaginação para ir buscar a Virgem Maria para a fogueira, foram perguntar a Sócrates se era aquela a posição do governo. Sócrates confirmou que, não tendo ideologia, está à mercê de Freitas para casos destes, que juntem os negócios estrangeiros à questão religiosa. A foto acima (DN) ilustra um governante em pose anti-licenciosa. A partir deste momento orgulhamo-nos de ser um blog licencioso.

07 fevereiro 2006

Da blasfémia


O direito a (e o dever de) questionar e denunciar sociedades retrógradas, nunca se confunde com blasfémia e humilhação de crenças, sejam elas quais forem

Da Literatura


O problema é que as sociedades retrógradas chamam blasfémia ao direito a questionar e quando as suas crenças são questionadas sentem-se humilhadas.

Bom senso

06 fevereiro 2006

Crime e castigo

Em Agosto uma mulher atirou-se do quinto andar. O menino viu. Foi ela que não quis viver mais, disse-lhe a mãe. O menino começou com dores nas mãos e nos pés. Não podia escrever e só conseguia estar descalço. Deixou de ir à escola. Há algum morto a queimar as minhas mãos, dizia o menino. Não conseguia dormir. Perdeu quatro quilos no primeiro mês. Só conseguia alívio mergulhando as mãos e os pés em água fria. Vai reprovar, dizia a professora. Não foi crime, assegurava-lhe a mãe. Que gasto de água, exclamava o pai.

Cont@-me histórias, outra vez


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05 fevereiro 2006

A compreensão da indignação segundo o rabi Raditz

Eu já estive para ir para a minha rua, que é a rua Guerra Junqueiro, queimar uma bandeira qualquer, só para mostrar a minha indignação pelas opiniões do Daniel Oliveira no Eixo do Mal. Mas a minha rua é a Guerra Junqueiro, esse provocador que escreveu A Velhice do Padre Eterno, abrindo terreno para mais cem anos de domínio da Igreja sobre a pátria lusa. Os vizinhos têm-me em boa conta e não ia dar cabo desta reputação. Por isso, deixei apenas de ver o programa. Um exercício, até hoje silencioso, de liberdade. Agora o que não percebo é porque é que alguns argumentos têm que ser brandidos, à maneira de cartilha. Um deles é o de que, no Ocidente, só os judeus podem criticar o judaísmo. Mas o que é que os judeus têm a ver com a representação do Profeta, a indignação da rua árabe ou a compreensão do Daniel Oliveira?
Compreende-se, a comparação é estúpida. Mas não é só a comparação que é estúpida.
O resto da citação deve ser procurado nos textos que lembram as respostas do rabi Raditz aos discípulos. Quem acaricia matzos com qualquer outra intenção que não seja comê-los, comete, segundo a Tora, um grande pecado.

Incendiei o Pavilhão Dinamarquês

Esta noite tive um pesadelo. Após algum convívio com fotógrafos do mainstream, André Bonirre aderia ao partido do bom-senso e passava a atacar-me no interior do blog. Eu era co-responsável pelos carros incendiados, pela vitória do Hamas, pelo regresso dos taliban, por manifs. de skins dinamarqueses. Bento XVI retirou a esperançosa encíclica, por minha culpa. Sócrates encostou a Cavaco. Cavaco guinou à direita.Por minha culpa. Quando, atónito, tentava explicar-me a Bonirre, ele atirou-me o insulto final:
- Gordo!
Pensei que se referia ao resultado do excesso calórico em que me afundo. Gordo de liberdade, queria ele dizer.

04 fevereiro 2006

Medo. Tenho medo



Tenho medo de dizer o que penso sobre isto. Medo da fatwa. Medo de que o governo, de que eu tanto discordo, mas respeita as minhas opiniões, tenha que pedir desculpa a um chefe religioso sunita. Medo por André Bonirre, que partilha comigo este espaço. Medo que me apontem como "incendiário da rua árabe", causa remota do terrorismo. Tenho medo de estar a favorecer, nas próximas e improváveis eleições árabes, a chegada ao poder de um fundamentalista.

03 fevereiro 2006

O pecado original e a abolição do casamento


Título: Shhhhhhiu
Foto: Gica

No Registo Civil

Tremam os conservadores. Pacheco é pela abolição do casamento.

O pecado original e o Antigo Testamento



Para falar claro. Já tinham cometido muitos crimes e haveriam de ser celebrizados como criminosos. Mas o primeiro holocausto perpetrado por aqueles homens altos que vinham de África obcecados com o 90-60-90 e a leitura das mentes foi o extermínio dos seus irmãos Neandertais. Foram precisos 24.000 anos para tornarem o crime expiável.


(Revisor 2 vê as datas por favor)

A falta dos jornais

Agora que não leio jornais acontece-me sentir a falta do senhor Júlio, o meu jornaleiro. Se ele ao menos vendesse cobertores.

A caminho de ser Matos

A dra. Filomena engana-se muitas vezes e chama-me Matos. Penso que é por uma questão de impregnação. Alguns clientes também, mas não atribuo demasiada importância ao facto.

La recherche

O meu médico prescreveu-me um medicamento. Todas as manhãs pego no blister que assinala cuidadosamente os dias da semana e hesito entre a pílula do dia seguinte e a pílula do dia anterior. Meia hora depois o medicamento começa a actuar e vou para o balcão de atendimento.

02 fevereiro 2006

Ainda no exílio

01 fevereiro 2006

O fardo do Cro Magnon




O que é que fizemos aos Neandertais? Durante 300.000 anos, mais do que a nossa espécie já viveu, habitou a Europa, da Iberia aos Urais e ao Próximo Oriente, uma raça de homens e mulheres pequenos, musculados, de tórax em barril, pernas arqueadas e grandes narizes, uma mistura de Rambo e Cyrano. Há 28.000 anos, apenas mil gerações atrás, desapareceram. Extinguimo-los com o sarampo, a varicela, a papeira? À paulada como fizemos aos hotentotes ou aos nativos da Tasmânia? Com os copos e as pontas das espadas como aos índios sul americanos? Expulsámo-los para onde o frio era insuportável?
Exterminámo-los e ficámos sozinhos.

(ver Dunbar, O Mistério Final, pp 41-46 de A História do Homem, Quetzal)

Amigos

Zé Mário, vou-te mandar um livrito. Pró jornal.

Elisa, que me queres?

A mania é o outro nome do amor. Tenho a mania do excesso. A mania da história. A mania do perigo. A mania de compreender. A mania de juntar.

Os meus escolhidos são

Avatares de um desejo

Lida Insana
Solvstag
Aba de Heisenberg , tendência Isabel
a manh'ser

No exílio

Da Literatura



Agora que não leio, posso viver.

Elogio dos jornalistas

Agora que não leio jornais, posso escrever sobre a realidade.

Março cruel



Em janeiro uma mulher perdeu as botas e o ano pareceu-lhe promissor. Os pés traíam a perfeição que era. Em março, sem que tivesse pedido, recebeu-as de volta.