31 agosto 2007

LEUGIM SADOM

Bom dia: as CocoRosie

30 agosto 2007

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Nan Goldin, « Joana de dos dans l’encadrement de la porte à Châteauneuf-de-Gadagne », Avignon, France, 2000

Voltou a escrita alucinada das mulheres, a sua pele de cetim, a alça desenhada no ombro, a humidade do espírito santo. O sol do Verão lambeu-lhes a pele e percebe-se que todas as mulheres foram amadas, embora algumas não tenham notado os seus vermes de areia.
Em Interlaken a salamandra e o tritão preparam a dureza do Outono, o regresso à escola, a lã e o couro que hão-de esconder o corpo.
É quase o fim de Agosto. Se sobrevivemos a este mês fatal, pensam alguns enquanto alastra a silenciosa desordem das células, seremos imortais.

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29 agosto 2007

O Avanco da Teoria



Todas as noites, para adormecer, tento reflectir sobre a causa dos fogos no Peloponeso. Depois interpoe-se a imagem de uma mulher maquilhada pela Givenchy e nessa altura penso que estou cheio de saude e consigo adormecer. Acordo com fome mas ja nao sao horas para ir comer. Sinto no estomago, como uma coisa real, um buraco de bordos activos. Sossega-me a ideia de que felizmente o buraco ee no estomago e nao no peito. Enquanto hesito entre o mini bar e o room service (sinto-me pecar sempre que chamo o room service) abre-se-me outro buraco no peito. Tento desesperadamente lembrar-me da mulher da Givenchy, da sombra dos seus olhos, do vermelho transbordante dos labios. Mas so consigo ver o social-democrata de meia idade que a anda a tentar comer este Agosto.

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27 agosto 2007

Se o vento ao mar azul o calmo espelho afaga *



Mare Nostrum, 20070813

(*) Mosco de Siracusa c.150 a.C.

// Foto de Filipa Bonirre

Agosto, Grecia

Ardeu o Monte Olimpo. Seremos vencidos.

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25 agosto 2007



Quando apareceu, no Diario de Lisboa e nas tertulias literarias, inovador, polemico, estruturalista, alguem escreveu: Enfin, Eduardo vint. O que era ambiguo, porque aludia ao fascinio de EPC pela cultura francesa e seus modismos mas ao mesmo tempo assinalava a sua presenca iniludivel. A partir dai foi sempre assim. Pude toda a vida concordar, discordar, aborrecer-me, irritar-me com ele. Ou recortar uma cronica. Ou, sem saber, homenagea-lo no pequeno restaurante da Fontela, onde todos as cadeiras tinham vindo por ele. Por isso uma parte de mim morreu hoje, neste Agosto fatal. Paro nos subterraneos de uma cidade que arde, numa estacao chamada Syntagma, abro de novo o sms que me traz esta noticia e durante meia hora, por Eduardo Prado Coelho, perco todos os comboios.
(Luis Januario)

24 agosto 2007

A luz natural tem coisas assim.



// Foto de Filipa Bonirre

23 agosto 2007

Agosto (parte2)


Rineke Dijkstra



Como são as coisas. Há quem diga que o sol brilharia para todos nós e há quem diga que a social-democracia, esse regime cinzento e quase perfeito, poderia ter-nos feito criaturas de filme introspectivo e bouleversante. Conversas sem outro fim que o dia de praia e ostras. Meia idade e não aceitação do tempo.

// sent by Rosaarosa por sms

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It's such a perfect night




El Pinet, 20070811

...I'm glad I spend it with you...
(Lou Reed)


// Foto de Filipa Bonirre

Um exemplo

A selecção nacional de futebol de praia é um exemplo. Nunca se queixa do estado do terreno.

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O significado de tudo

Bruno, uma vez aproximei-me de uma mulher vegan. Ela viu logo que a minha carne cheirava a animais mortos. Já a dela pareceu-me casher. Os genes que nos permitiram a humanidade condenaram-nos a atribuir um significado a tudo. O preconceito não tem fim.

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Pessoal do Porto

Com idade entre 80 e 95 anos, da zona do Largo da Maternidade.
Se alguém se recordar do termo "gerechia" s.f. (tb. geregia, jerejia) agradece-se o envio do significado, ou exemplos da sua utilização mais comum.

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22 agosto 2007

This land is made for you and me



// Foto de Filipa Bonirre

A Revoluçao em Agosto


Thomas Demand


O PSD implode, o CDS esvazia-se e o PS já é o partido judicialista mesmo antes de Júdice ter percebido bem o que isso seja. Os juízes amotinam-se e a GNR confraterniza com os garbosos que descobriram o milho do Mal entre a Marisqueira do Rui e da praia do Amado. A obra da Obra entrou em crash informático. As virgens da propriedade privada estão aos gritos.
Os que mandam já não podem e os que obedecem não sabem a quem. O país vive uma situação objectivamente revolucionária. O problema é que não há maneira de reunir as condições subjectivas.

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20 agosto 2007

A deterioração dos negativos



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Comem o cérebro



(corte de Ascídia adulto. Repare-se na organização do organismo em torno de uma traqueia central, onde circula a àgua, e na existência de um testículo e de um ovário. Junto à boca, uma pequena vesícula pomposamente designada por gânglio nervoso.)

A ascídia, um pequeno protocordado dos corais, nada energicamente nos primeiros tempos da vida, à procura de comida. Quando encontra um habitat no coral, liga-se a e ele definitivamente. Então, não necessitando mais do cérebro para perceber o seu mundo, come-o.

(história contada por Steven Quartz e Terrence Sejnowsky em Liars, Lovers and Heroes, Harper Collins, p 100-101)

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Vital e o chefe da esquadra

Os que defendem que um director de um museu do Estado não tem direito de ter uma posição sobre a política de museus hão-de sempre pensar que um director de museu é como um chefe de esquadra.

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19 agosto 2007

Passeio a Vieira


Rineke Dijkstra

Na minha rua do bairro operário só há um movimento demográfico. A morte. Geralmente aos pares. Assinalada pelos avisos fúnebres do poste do topo este. Gente que morre discretamente, de quem não se nota a falta. As mulheres morrem de repente. Os homens morrem duas vezes. A primeira com algum barulho, ambulância de INEM à porta, algumas lágrimas. Depois ressuscitam para exercícios esforçados nas varandas, ou nos pátios das traseiras, ao fim dos dias sem vento, sob o olhar sem ilusões dos cães. A segunda morte é silenciosa, apenas esta cruz no poste que a agência funerária consagrou à notícia pública.
Alem da morte não há mais nada na minha rua do Bairro operário. Não há raparigas de lua irritável, nem em idade de procriação. Só a menina Cândida, do 36. Este sábado, às oito da manhã, esperei por ela na paragem dos transportes públicos, onde pára o pullman de luxo do Eldeclube. Ela não veio. Ainda tive esperança que tivesse dormido com uma colega e entrasse na Rotunda das palmeiras às oito e dez, ou na Arregaça às oito e quinze, na Fernão de Magalhães às oito e vinte, ou no Pinhal de Marrocos às oito e trinta. Não veio. O pulmann de luxo encheu, o guia disse que se chamava Alcides Barbosa e que estaria connosco todo o dia. Tinha um aparelho electrónico agarrado ao ouvido, a baloiçar à frente da boca, e começou por recolher o dinheiro, 18.95 €, um preço incrível. Depois fez um resumo do programa. Íamos tomar o pequeno-almoço às instalações do Eldeclube, onde encontraríamos gente de todo o país, ou pelo menos do centro do país. Gente como nós, alegre, com vontade de se divertir. O guia repetia muitas vezes as palavras divertir, divertimento, animação, juventude. Dizia que tínhamos sido todos premiados, que iríamos passar um dia inesquecível. - Vamos a ver, disse a mulher que estava ao meu lado, que infelizmente não era a menina Cândida. O pullman de luxo não pôde vir por contratempos, mas este era bom, o senhor Alcino disse que era bom, pôs o motorista a dizer que era bom, era uma máquina, e aproveitou para apresentar o motorista que nos acompanharia todo o dia inesquecível, o senhor Amadeu Barbosa. Alguns dos ocupantes já o conheciam e bateram palmas. O senhor Alcides gostou de ouvir palmas. - Palmas, gritou ele. Como eu vou gostar de ouvir palmas durante este dia inesquecível. Quando chegámos às instalações do Eldeclube, não bem às instalações do Eldeclube que ainda não estavam concluídas, mas às instalações provisórias, já lá estavam muitos homens e mulheres, a maior parte animados, excepto um grupo de gente com ar desconfiado. O senhor Alcino foi pô-los à frente de toda a gente, porque, disse ele, se via bem que estavam em jejum. Os casais que estavam ao meu lado disseram-me: - Em jejum não vem para aqui ninguém, que as pessoas não são tolas. Eu sou tolo, pensei, enquanto lhes perguntava porquê. Eles disseram:- Então é a primeira vez que vem? A sardinhada é boa, mas até lá, matam-nos à fome. Uma mulher que ouviu a conversa disse que pedia desculpa por se mitrar mas que não era bem assim, que se comprassem alguma coisa eles melhoravam o buffet. Outra mulher disse que as excursões da paróquia eram mais caras, e que aqui, ao menos não a obrigavam a ajoelhar. Um homem disse que boas excursões eram as das eleições, que acabavam em Lisboa com comida farta e bebida à discrição. O pequeno almoço era bom. Uma bebida tipo café e um papo seco. Se houvesse crianças fazia falta leite, ouvi dizer. - Crianças, mas vocês vêem aqui alguma criança?, riu-se uma mulher que falava muito alto e fazia rir toda a gente que tinha ao lado.
Nessa altura o senhor Alcides disse que nos queria apresentar um responsável nacional do Eldeclub, e mais qualquer coisa da filosofia, que não apanhei. - Vão começar as vendas, disseram alguns muito excitados. - A nós não nos impingem nada, disseram outros. - Então não te batas aos brindes, ralhou alguém.
O responsável nacional disse que as vendas iam decorrer em ambiente ameno, mas que antes íamos ter direito aos sensacionais brindes. Acho que fui dos únicos que ficaram sentados. Eu e alguns, que manifestamente não se conseguiam levantar. No meio da algazarra havia gente com cadeiras de praia, colchões de água, chapéus de sol a dizer Eldeclub o seu clube, almofadas pneumáticas e exemplares grátis da revista Luxo.
A seguir aos brindes foi a demonstração de vendas. Venderam de tudo e a todos. Ventoinhas e cobertores térmicos, varinhas mágicas, faqueiros, lingerie, baldes e picadores de gelo, casacos de couro, Priti Pollis, pulseiras e chás medicinais, Epileides, leques a pilhas, cheques que davam direito a consultas no Astrólogo Simas, a massagem na Giselle/escorts, a fins de semana na Charneca da Caparica.
Eu não comprei nada. O senhor Alcides deu conta e chamou-me ao palco. - O homem que não compra nada, disse ele. Porque é que não compra nada senhor... Como é o seu nome?
- Eu não compro nada porque sou sozinho.
Riram-se todos quando eu disse aquilo. O senhor Alcides insistiu. Que havia coisas excelentes para dar à namorada, aos pais, aos amigos, coisas excelentes para os solitários. Eu não lhe disse mais nada, nem o nome.
Depois houve almoço de bufete. Mas era difícil chegar aos tabuleiros. Pareceu-me que havia quem repetisse. Os homens queixavam-se de que o vinho era pouco.
- Esperem pela sardinhada, diziam os mais experientes.
Levaram-nos a todos para a praia de Vieira. Demorou, porque muita gente comprara a prestações e tinha que deixar dados completos e assinar papéis em triplicado que o responsável nacional e a secretária tinham preparado.
Na praia da Vieira pudemos ver as águas cristalinas, as areias douradas e experimentar os brindes. Era o que dizia o programa.
No fim houve sardinhada com vinho da região. Um cantor muito conhecido pôs toda a gente a cantar. As pessoas eram muito disciplinadas e foram para os pullman logo que chegou a ordem. O senhor Alcides não veio no regresso. Os mais velhos dormiram. Eu pensava na menina Cândida. Vai haver outro passeio a 3 de Setembro. É à Galiza. Dois dias. 79,95 €, um preço de sonho. Pedi ao motorista, que é do Eldeclube, para deixarem o folheto na menina Cândida. No 36.

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O primeiro vândalo



Entre as obras mais admiráveis da inteligência humana está a Wikipedia. Mas no seu êxito estão as suas fraquezas. O acesso livre permite que as entradas sejam alteradas. Esta semana a imprensa internacional (El País de 17 de Agosto, p. ex.) noticiou que, com origem no Vaticano e na CIA, foram modificadas as biografias de Gerry Adams e do presidente do Irão.
Ainda segundo El País, um estudante da Califórnia criou uma ferramenta que permite averiguar a partir de onde se realizam alterações nas páginas da Enciclopédia livre. Chama-se WikiScanner (wikiscanner.virgil.gr).
A alteração de conteúdos na Enciclopédia é justamente considerada um vandalismo.
O Zero de Conduta descreve o comportamento de alguns vândalos portugueses, bem como da atitude da imprensa e da TV.

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O meu sonho afogou-se nas rotundas


O banho, Botero


A última etapa da Volta a Portugal foi um contra-relógio e acabou em Viseu. O traçado tinha 38 kms e 40 rotundas. Choveu. O melhor corredor português perdeu a camisola amarela. Disse que o seu sonho se tinha afogado na chuva. Em relação às rotundas foi compreensivo.

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Os partidos de esquerda e a Arte Antiga

A substituição da directora do Museu Nacional de Arte Antiga não mereceu nenhum comentário dos partidos de esquerda . Algumas hipóteses são admissíveis, desde logo a de os partidos de esquerda só se interessarem por arte contemporânea. Com um pequeno esforço lógico podemos ainda pensar:
a) os partidos de esquerda consideram normal a substituição da directora do MNAA.
b) os partidos de esquerda consideram normal , como VPV escreveu#, que quem exprime concepções diferentes dos legítimos superiores deve ser posto na rua (mesmo quando os legítimos superiores não têm concepção nenhuma).
c) os partidos de esquerda foram surpreendidos pela reacção dos partidos de direita e, acharam que deviam manter um prudente distanciamento.
d) os partidos de esquerda concordaram com a tomada de posição dos partidos de direita e acharam que as suas declarações sobre a matéria seriam redundantes.

(#Para não falar de Vital, que evoluiu rapidamente da postura do tiro no pé para a política do tiro na nuca)

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Agosto


Se o outro é o mais cruel, Agosto é o mês da pasmaceira, do obituário, dos suplementos de férias. A psicologia evolucionista diz que vivemos mal, nesta sociedade pós-industrial, com os nossos genes pleistocénicos. Se não é verdade, é verdade em Agosto. Em Agosto o primeiro-ministro vai para Malta, agora já sem a obrigação da namorada. A ministra da Cultura não é vista desde a jantarada do Berardo. Para o povo não cair na tentação anarquista de pensar que isto sem governo se governa na mesma, deixam ficar o malfeitor da saúde. Tudo sem surpresas. Portas, o fragateiro, de tão inexistente até se arrisca a ficar simpático; prossegue, silenciosa, a transferência das elites do PSD para o PS, esse movimento subterrâneo de águas que mantém o dinheiro perto do poder. Depois de sair do PSD, José Miguel Júdice esforça-se por refundar o PS. Sob o ponto de vista teórico, o entusiasmo de Júdice por um PS pós-socialista e as questões ideológicas que vem levantando ficarão provavelmente conhecidos como a Questão Ribeirinha. As revistas de coração foram ao Algarve e só conseguiram encontrar Jerónimo nas sardinhadas de Monte Gordo e Vara (Vara!), com Pires de Lima na Quinta do Lago. Os jornais de referencia parece não terem leitores nem jornalistas. O Público de 16 de Agosto dava destaque a uma redacção da senhora professora Maria da Graça Mexia com o título Afinal parece que Nossa Senhora tinha defeitos. A Opus Dei destrói o maior banco português. Só se espanta quem não conhece a natureza do Mal, nem leu Shakespeare. Em Agosto elas (links) deixam de escrever. É então que todos os crimes são possíveis. Os coliformes fecais bordam as praias, os banhistas já se habituaram àquela espuma. As praias populares tornaram-se uma fossa séptica. Em Cadiz, 150 000 pessoas comeram, mijaram e defecaram no mar. Algures, também em Espanha, uma família inteira morreu dos seus vapores. Triste é o destino das famílias em Agosto. Até as sobrinhas da Laurinda Alves, que ela “abraça e adora e enche de beijos queridos a toda a hora”, se viram, embora momentaneamente, privadas das bonecas Polly.

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15 agosto 2007

Provas do Amor



Ele tem provas dadas nas Provas do Amor. Ela diz-lhe: - Tenta. Tenta mais, tenta melhor. Assim ele corre as serranias, traz os pequenos animais, os rubis e as horas. Ela: -Tenta mais, tenta melhor. E o Sísifo do Amor recolhe os univalves na maré-baixa e os dobrões dos barcos afundados. Como a liturgia sempre fortalece a Fé, o amor destes está destinado a crescer. Desde que continuem a foder os seres vulgares que trazem à ilharga.

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Madame Zara



Madame Zara
percorre as colecções da próxima
estação
demora-se nos botins nos foulards
no vestido de seda
"inteiramente bordado a lantejoulas"

Madame Zara
veste Chloé
e Ungaro
lê o Harper's Bazaar
e a Vogue
mas é em momentos assim
que se ilumina a face de
esteta democrata

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14 agosto 2007

Ramal de Braga



Aos dias úteis
um amante económico que me
tomasse
em Tadim
o corpo lânguido da
manhã

um amante de ida-e-volta
o corpo suado do
regresso me
deixasse

// sent by Luís

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Comunicação

Faz favor de não brincar com o sub título do blog. O blog é uma coisa séria. Não tem nada a ver com a realidade.

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12 agosto 2007

Torga IV

O documentário "Miguel Torga - o meu Portugal" que acaba de passar na 2 é uma colecção de bilhetes postais do Alto Douro/Trás-os-Montes e Coimbra very typical entremeada com testemunhos, sentenças, premonições e até um cheirinho de uma aula prática de análise de texto de intelectuais/académicos. Narrado por um Sinde Filipe tipicamente Teatro Nacional D. Maria II de há 20 anos, é representado pelo actor José Pinto que tem grandes semelhanças físicas com o poeta. José Pinto que não abre a boca vai bem, Sinde Filipe que não se cala, vai mal.

Como de costume, os intelectuais são todos, mas todinhos filmados à frente de obesas estantes, algumas com as colecções bem alinhadas e por cores (mas isto, sou eu com a inveja de quem não consegue arrumar o escritório). Como o Eduardo Lourenço não podia trazer a estante de Vence para cá, pespegaram-no no andar de cima da livraria Lello no Porto...à frente das estantes.

Para além disto (e entro aqui numa questão que há muito me inquieta), todos eles precisam de conselheiros de imagem totalmente intolerantes, se necessário, nazis: chega de comprar roupa na Maconde ou nas lojas dos chineses; tem que se escolher um bom cabeleireiro, embora eu saiba o quanto isso é difícil e caro neste país; e não se podem mostrar os desarranjos florais lá de casa - eu também não sei dispor flores numa jarra, mas escondo-as quando entram visitas.
E isto inquieta-me porque não percebo como é que gente que se dedica às questões estéticas não se olha ao espelho. Mas este tema fica para outro dia...

O pouco sumo do documentário esteve entregue a Eduardo Lourenço (para variar) e, em grau mais débil, a António Barreto (que tem uma bonita poltrona de veludo cor de chocolate com ar de ser bem confortável - não, não me parece que seja Ikea).

Já se viu que não sou fã, mas Torga merecia melhor.

// sent by Rosaarosa

Torga III

Em repetição, verifico que o nome da jornalista é Paula Costa. Tem futuro.

E ouço ainda elogios rotundos ao escritor como "um Viriato das letras portuguesas!" ‹ Manuel Quantos São? Quantos São? Alegre, ou "consciência moral da portugalidade!"(ó inclemência!) ‹ António Arnaut.

Mas o mais curioso testemunho foi passado apenas à hora do almoço e não o vi repetido: dizia o jornalista em voz off mostrando imagens das ruas de Coimbra que Torga tinha uma peculiar relação restritiva com o dinheiro (o eufemismo era ainda menos suave do que o que uso, mas não recordo com exactidão). Mostra o quiosque da Portagem, mesmo em frente do consultório de Torga e o senhor que sempre lá vimos a vender jornais diz: "O Torga? Em toda a minha vida não me lembro que ele tenha comprado um jornal. Mas todos os dias aqui vinha interessado em saber o que diziam as primeiras páginas!"

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Torga II

Graça Morais: "Para mim Miguel Torga é uma necessidade..."
Uff!, pausa para respirar.

Se isto continua assim, não sei em que nível de linguagem e de insinuações
estaremos lá para o fim do dia.

// sent by Rosaarosa

Torga I

Goste-se ou não de Torga (eu não gosto - não gosto de regionalismos e ainda menos de personalidades empedernidas) poderia agora, aquando dos seus 100 anos, a assim designada comunicação social apresentá-lo como uma referência (pelos menos para aqueles que por ele se deixam aferir), um caso singular (que o não é) na literatura portuguesa, uma personalidade ímpar (esperemos que sim), etc...
Mas vai de apresentar uma reporteira na Rtp 1, em directo da casa museu de Torga à praça Fernando Pessoa da lusa apenas, a entrevistar Clara Rocha, filha do escritor. E diz a moça, candidata a jornalista e provavelmente na sua primeira reportagem a julgar pelo olhar esbugalhado que apresentava: "Acha que a cultura, a culturalidade ficou a dever muito a Miguel Torga?"
Não estou segura da exactidão das palavras a seguir à pérola da CULTURALIDADE de tal forma fiquei atordoada com o achado, mas a ideia era a que indico. CULTURALIDADE, ó menina de quem felizmente não fixei o nome?!... Esta mania de disfarçar a falta de vocabulário com a proliferação de subtantivos abstractos inventados à podoa quer dizer o quê, para além da suprema ignorãncia? Estamos a querer aceder a um grau de refinamento da língua sem termos aprendido a construir uma frase com predicado, sujeito e complemento directo? (Sim, eu sei que as designações já não são estas e que
até a palavra gramática é dita em surdina, mas eu não adiro, nisso sou muito antiga).
Pergunto-me de que é que o governo de Sócrates está à espera para emitir um decreto-lei a impedir que não possa o cidadão português inventar palavras enquanto não der provas de saber fazer uma redacção sobre a vaca.
Sim, porque isto já só lá vai com decreto-lei. E força policial musculada. Enfim, uma polícia que tenha lido os nove livros que consta (e não consta-se) serem agora obrigatórios no curso que os habilita à bastonada e que distinga cultura de culturismo. Ou, neste caso, de agricultura.

// sent by Rosaarosa

10 agosto 2007

É preciso escrever

Pode-se ser pela liberdade e escrever em jornais anexados pelo mando. Mas é preciso escrever sobre a liberdade. É preciso escrever.

// sent by Luís

09 agosto 2007

À espera de mostrar o pipi

Estou na consulta de gine. Na tv shop anunciam uma parafina pra pincelar as partes do corpo a emagrecer, mais uma faixa hosmótica, vulgo película aderente, mais uma fita métrica, tudo pela melódica quantia de 60 euros.
Se não gostarmos de nada no nosso corpo, pode-se adelgaçar até fazer desaparecer tudo. O pior é dar baixa nas finanças.

//sent by Rosaarosa

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08 agosto 2007

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07 agosto 2007

02 agosto 2007

Bom dia: Lhasa, uma mulher do Mal, Pa' llegar a tu lado

Purga no Museu


A directora do MNAA foi despedida. Depois de ter posto o Museu nas primeiras páginas, de o ter aberto a novos públicos, de ter organizado grandes exposições internacionais, de ter obtido financiamentos que o IPM desviou, Dalila Rodrigues foi chamada, no primeiro dia da silly season, ao aparatchik do bloco central e à ministra do Joe Berardo, para ser despedida. Acusada de "divergir publicamente do governo" Dalila é humilhada, como outros o foram antes, por estes mesmos protagonistas, perante o usual silêncio dos intelectuais, o silêncio de que falou Steiner.
Não sei qual é a política de Bairrão Oleiro e Pires de Lima para os Museus. Se é fechá-los aos fins-de-semana e esvaziá-los de recursos, então, claramente, Dalila destoava.
Sem Dalila ficamos mais tristes. Mas onde quer que esteja, Dalila Rodrigues estará sempre onde os cínicos que a substituiram nunca chegarão.

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01 agosto 2007

Obituário singelo e patético


Jeff Wall


Há conforto na velhice e alívio na morte. Dizem os jovens.
A juventude é ociosa. Disse o poeta antes de ir para a Abissínea. Eu digo que é ociosa e cruel.
No Mês Em Que Morreram Os Directores de Cinema este blog transformou-se num obituário.
O Obituário é, na imprensa de referência, do Independent ao El País, uma das secções mais interessantes dos jornais. Tem excesso de gravidade, concordo. Pensamos sempre que não demos, em vida, o valor que aquele morto merecia. Alguns jornais têm rubricas a que chamam perfil, onde resumem o CV de personagens de destaque. Mas não é a mesma coisa. Achamos sempre que se trata de uma moda, de um broche dos jornalistas. Não acreditamos completamente. Só a morte dá sentido a uma biografia.
A juventude não gosta dos velhos nem da morte. Os velhos cheiram à morte, sobretudo se são pobres. A morte é o verdadeiro interdito no Ocidente. As crianças, como se sabe, são mal educadas longe da morte. Os mortos, um dia estão vivos e no outro estão no céu, ou no silêncio das famílias. É de mau gosto falar nos mortos. Atrás dos mortos só de roda-morta
A morte não é obrigatoriamente uma coisa má. A velhice é uma coisa má. A morte é a coisa boa que acontece no fim da coisa má que é a velhice.Morrer é preciso. Envelhecer não é preciso.
Eu aqui não faço outra coisa senão singelas e patéticas homenagens a alguns mortos. Hoje outro. Ontem um.

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