Aviso
Atendendo aos acontecimentos das últimas (e próximas) horas o blog ficará a ser animado pelo André Bonirre com a colaboração do burrinho Jammes. Portem-se mal, ou segundo a vossa natureza.
Ana Paula Inácio, Enrique Vila-Matas, Ana Sá Lopes e os da Glória Fácil, Ruy Belo, Sarah, a Espuma dos nossos dias, o teu vestido de organza, Sigmar Polke, Montalbán e Pepe Carvalho, Fernando Assis Pacheco, J.M. Coetzee, Alexandra Lucas Coelho, a Sandra Dual e a Cláudia, Raquel Little Black Spot com a noite que incendiou a blogosfera, JPN do Respirar o Mesmo nosso Ar, Zazie em Almodôvar e depois sempre à Janela, Cristina e as outras sem esquecer o Escrivão Bartleby, o BdE do Zé Mário e o BdE2, Rilke pela mão do Paulo Quintela, Isadora na rádio Voz do R., Isabel puérpera e o Nuno dos Aba, Bruno Avatares Martins, Rui do Adufe, F. Nunes Vicente, P.C. e os do Mar Salgado, Primo Paulo do Mundo Imaginado, o homem das Terras do Nunca, o Alex da Sofia, Jamiroo, o blogger mais apaixonado da sua geração, de serviço nA- Tasca e tu Nuno, claro, Carla a dama d'Elsinore, Bilal sempre à mão, Muntadas, Richard meme Dawkins, Steven Pinker, Jared Diamond,o velho Charles, Luís Eternuridade meu amigo em viagem no Acédia, Olho do Girino não suspendas que agora é que isto anima, Rui Pires Cabral, C.A.M. de mãos decepadas em frente da nossa menina, Manuel de Freitas e os poetas sem qualidade, At., Charlotte Hilário de Almeida Quevedo (em Trench-c.), Castor, Gilda, Clarinha, Anonymous, Carlos de Oliveira, Margarida Clark Dulmo, Moi, Je, Margarete, Rosa, Rute Incertezas Mota, António da Vila, Thelma e tu Louise, malta do Quartzo, A. Franco Alexandre, Seta despedida na nossa direcção, Leituras, Nuno Torradas, Nuno Dempster, Rui Bebiano e os outros DesCalceteiros, os Outros de Nós, o gajo do Fórum Social Português e o do Forum Comunitário, a miúda brasileira Sara, K. e F., your life was a game e nós (música) jamais vos esqueceremos, Llorona, Lérias, que ainda estamos à tua espera para irmos juntos à casa dos mortos, Charles Beaudelaire mort ou vif, Éluard que nos deste uma cara para sermos amados, Prévert, Guillaume, Masson, sempre à espera das tuas Petas de Almocreve, Judith Harris, m. vagabunda azul-cobalto, JC e tribo dos Sonhos, Clan-o teu Destino glorioso, Espelhos velados, Helena Matos Hárpia, Musas como gostamos delas assim esqueléticas, Manuel Palombella Rossa, brisa boa é a tua, Ana da Vida dos teus dias, Santos milagreiros da Casa, Inês Moleskine, agitadores do Barnabé, Eliot (but who is that on the other side of you?), a senhora Emily Dickinson, Helder Moura Pereira, Edward Said, Constantino Cavafys traduzido pelo Sena ou pelo Magalhães tanto faz, Dylan Thomas (alguma certeza deve existir), Francisco Daedalus, a música do Francisco IF e o Silencio, vocês, todos os que nos ajudam a escrever, para quem escrevemos.
Se a situação é tão grave como diz JPP no Abrupto então, de facto, não devemos manifestar contra o governo da treta. É melhor englobar no protesto a oposição da treta. Mas como é que JPP pensa que se trava a irresistível ascensão de Portas e Santana? É com cartas ao Abrupto? Com flores à Manuela Ferreira Leite? Câmbio.
O poder está no Parlamento, ouço dizer. O poder está no partido mais votado (PMV). O poder está nos órgãos do PMV. O poder está na Comissão nacional do PMV ( entre Congressos). O Dr.Carlos Encarnação diz que deve haver Congresso antes do Natal para coonestar ( uma palavra do léxico das nomenklaturas) a decisão da Comissão Nacional.
Isto afinal é facílimo. Sofre-se um golo no aquecimento e empata-se perto do fim, depois de três substituições ofensivas. Ganhamos na segunda parte do prolongamento para não dar possibilidade à recuperação. Como perdemos alguma consistência defensiva eles empatam e temos que ir ao desempate por grandes penalidades. O nosso guarda redes demora a ouvir as indicações do Eusébio, mas finalmente atira-se para o lugar certo e, embalado, marca com os próprios pés o golo da vitória.
Na Finlândia conheci António no momento em que, contrariado, se transformava em Bostali Bros. António só escreve com lápis. Regressado ao Porto a sua escrita tornou-se cada vez mais pequena, quase indecifrável. Julguei que fosse um reflexo dos primeiros contactos com o SEF e outras repartições. Na verdade António tornara-se frequentador da Janela Indiscreta, e através desse convívio, num Walseriano. Amanhã nos jardins do Palácio, às 18 horas, com o apoio discreto das residentes e iconografia pacientemente reunida pela Zazie, António fala sobre o "sistema do lápis". Que metamorfose em menos de um mês, António.
Avatares tem um ano. O blog que lançou um olhar antropológico sobre as mulheres, o blog que tem o sorriso, a profundidade, a delicadeza, a convicção do Bruno. A descida à terra de um deus talentoso. Parabéns, muitos parabéns. E a todas as leitoras e leitores, comentadoras e comentadores, admiradoras e admiradores, entre os quais nos contamos, discretas e discretos mas entusiasmadas e entusiasmados.
Com dez anos de atraso, mas não tarde demais, a Gradiva traduz, na colecção Ciência Aberta, o livro de Matt Ridley, A Rainha de Copas. O sub título é O Sexo e a Evolução da Natureza Humana. Matt Ridley, ele próprio biólogo, tem feito um trabalho notável de divulgação dos temas mais actuais ligados ao funcionamento do genoma humano ( Genoma, nº 111 da colecção), ao debate central sobre o que é congénito ou adquirido na natureza humana, herdado ou produto da cultura (Nature via Nurture, 2002). A Rainha de Copas e The Origin of Virtue, os seus dois primeiros livros, são mais dedicados à explicação da teoria da selecção sexual. Culto, informado, inteligente. Leia, para saber porque temos de seguir o conselho que a Rainha de Copas deu a Alice: "Corre, corre muito, se queres ocupar sempre o mesmo lugar"
O campeonato da Europa de futebol é a guerra por outros meios. O Desmond Morris há muito que escreveu sobre isso e o Professor Marcelo, que agora também faz crónica num tablóide desportivo, invocou Aljubarrota e sabia o que estava a fazer. ( Mas a invocação é desastrosa: não temos archeiros ingleses, não temos táctica, o nosso Condestável está no fim de carreira e a melhor opção seria pô-lo no banco a rezar. Pior: desta vez eles querem ganhar). Dias destes deviam ser riscados do calendário. Eis-me apanhado pelo sangue e pela Escola, alistado num exército que não é o meu, a chorar quando cantamos o Hino antes da batalha. Não sei o que fazer. Não ligar parece-me covardia. Ver na TV é estar longe, os gritos não chegam ao relvado. Mas no Estádio o terror é insuportável e é ridículo passar mais de metade do tempo de olhos fechados. Abro a janela e tento ler os sinais. As aves voam para todos os lados. Os adeptos ainda dormem depois da noitada. Os jornais lá foram ouvir de novo o Alegre, o Durão e o Arnaut: o pior dos presságios. Há uma pequenina esperança que não digo. Mas já decidi. Vou ao Príncipe Real, àquele banco que tu, Cristina, reconhecerás. Deixo lá o bilhete durante cinco minutos (crossangústia).
Morreu Jacek Kuron, aos 70 anos. Foi uma das vozes de esquerda que se opôs ao Partido Comunista Polaco e tentou, antes e depois da queda do comunismo, criar alternativas à ditadura e à direita beata. Num país que viu, em menos de cinquenta anos, as elites chacinadas por duas vezes, a resistência de Kuron teve aspectos exemplares. Com ele é um pouco uma geração que desaparece.
Vocês perdem e ficam tristes. We beat everyone to death. Há assim uma grande emoção nas nossas vidas. Porrada boa é com a polícia. Mas isto porque os outros se acovardam. That's why policemen are paid for, isn't it?. They are ready for sure. Então ao menos não se espantem. Don´t worry. We too are the party, yes we are. Como as cerimónias de inauguração, a entrega dos troféus, os desfiles de vitória. A Super Bock, a Carlsberg, a Tuborg confiam nas vossas selecções. And on us, but keep it a secret.
(...)Com efeito, ó juízes- pois chamando-vos juízes atribuo-vos o nome correcto- sucedeu-me algo extraordinário. De facto a minha voz profética habitual, a do demónio, que durante toda a minha vida passada era muito frequente e até se opunha acerca de pequenas coisas, se eu ia agir de uma forma que não era justa. Agora, porém, sucedeu-me precisamente o que vedes, o que se poderia crer que é o maior dos males, e esta é a opinião geral. Porém o sinal do deus não se me opôs, nem ao sair de casa de manhã, nem quando subi ao tribunal, nem enquanto falava. Na verdade noutras ocasiões interrompeu-me muitas vezes os meus discursos. Agora, porém, no decorrer deste processo não se opôs às minhas palavras nem aos meus actos.
No meu caso é simples, muito simples mesmo. Espero que todos saibam quem se senta em seu nome no Parlamento europeu.
Eu ontem estava com os mais fortes, em teoria, e hoje com os mais fortes em teoria. Espero que não sejam os menos votados. À parte isso, Vive la France.
Susan Blackmore é uma pensadora muito estimulante. Em The Meme Machine (1999, Oxford, Oxford University Press) escreveu. "The enormous human brain has been created by memes.(...)The reason we talk so much is not to benefit our genes, but to spread our memes."
Desço a rua brasil a esta hora em que a sombra se esconde debaixo das casas, das árvores, dos objectos, só me resta a vista do rio à torreira do sol. Lá está também a ursa com o ar imponente mas protector, todos te vimos orgulhosa no claustro da vida selvagem. Lá está, mas agora morreu a relva que te deu forma, a tua pele é de um amarelo seco e pálido e escorrem manchas castanhas da terra que te corre por dentro do corpo. Não desesperem, ela vai ficar bem, abrangida por um programa quadro e declarada património não dispensável, está inserida num parque de verde a castanho, da água que corre no rio até ao asfalto onde correm as faixas. Ela vai ficar bem, verá o nosso passeio, o mobiliário urban, gente com diferentes níveis de isenção fiscal, o higiénico recordar da posição bípede dois dias por semana. Do lado simétrico da rua remexem-se as entranhas da terra numa área de perito igual. Uma fiada imobiliária há-de fechar a luz nesta rua brasil, justificar a factura do mobiliário urban e pagar transplantes de novo verde para a tua pele. Tu vais ficar bem, as entranhas simétricas que remexem e as manchas castanhas na tua pele são o sangue da terra mais o suor do trabalho que dão a evolução... grrr. Dá-me uma razão, peço-te, porque nos devemo calar a enfrentar o futuro desagradável que se avizinha, agora que já re-rrespiras. E tu atiras-me com seis.
A distribuição de bandeiras foi um êxito no bairro operário. Talvez tenham sido as crianças a estendê-las. As que as vão embrulhar calaram-se. As bandeiras secarão antes das begóneas e das sardinheiras.

Quando lerem os editoriais do sôr zé manel furnandes podem estar a ler os bilhetes da ministra Ferreira Leite. Quando lerem a folha do sôr zé manel furnandes podem já não estar a ler o Público mas apenas a folha do sôr furnandes, um jornal censurado.
Dezenas de milhar de desdobráveis, o suplemento apologético da folha do sôr zé manel furnandes distribuído à entrada, mapas e roteiros e folhas explicativas. Chamadas de atenção de todos os meios de comunicação. Artigos elogiosos escritos de véspera. Os membros do governo e os autarcas em peso no beberete. O povo culto do Porto, confiante, bem disposto. Os avós e os filhos e os netos. E uma tremenda fraude.
Olhou-o e não se lhe abriu no peito o alçapão, não lhe tremeu a voz, não teve de esconder os olhos. Viu o rosto dele como será em breve, quando definitivamente envelhecer. E não se enterneceu. Desta vez estava segura, era o fim do amor à primeira vista
António acordou triste. Nunca tinha acontecido mas algum dia poderia acontecer e lamentavelmente esse dia foi o dia de hoje, numa casa da cidade do Porto. António foi ao quarto onde Bostali Bros, sem família, com emprego precário a título definitivo, perseguido pelo Estado e pela apreciação das suas feromonas, com parte significativa dos objectos históricos dos museus do seu país colocados em lugar seguro, já fazia os exercícios matinais. Encontrou-o cheio de confiança e energia. António sorriu. O sorriso de António é incrivelmente terapêutico para os amigos, mesmo recentes. Mas não serve para grande coisa ao próprio, numa manhã como esta que ele nunca imaginara poder acontecer. Pediu a Bostali Bros uma razão para enfrentar o dia desagradável que se avizinha. Bros deu-lhe seis.
O nome dele é António. Quando chegou à cidade de T. era madrugada e vinha cansado. Apesar do seu coração ser fraco, António só se cansa em situações extremas, como as desse dia de aviação civil em carrocel por escalas absurdas. No Hotel Tammivalkama a reserva estava em nome de Bostali Bros. Ele protestou. O nome dele é António. Na língua do seu país, o nome que lhe tinham dado podia ser alvo de piadas a que se não queria expôr. Além do mais, o verdadeiro Bostali podia aparecer e não lhe apetecer partilhar o quarto. Disseram-lhe que a reserva tinha sido confirmada e que a tardia hora de chegada correspondia exactamente à hora em que ele se apresentava. Achou que não valia a pena desfazer o equivoco. O criado do hotel que lhe levou as malas guardou a gratificação e disse-lhe: Thank you Mr. Bros. Toda a noite sonhou com a rota que vem da Arabia para Istambul e do Mar Negro sobe pelo Dniepre até ao Golfo da Finlândia. Na reunião de trabalho da primeira manhã entregaram-lhe documentos com o nome de Bostali Bros. Fez uma intervenção sobre os problemas dos refugiados do Sudão e quando lhe pediram para repetir o nome, disse: Bros, Bostali Bros. E a voz não lhe tremeu. Jantei com ele todos os dias. Mostrou-me o sorgo, a luzerna e o trevo. Falou-me das camas especiais que criara para optimizar a produção de leite de vaca quando geriu uma empresa do ramo. Graças a ele sobrevivi áquele momento que, segundo Rosa Montero existe em todas as viagens, em que a viagem fica insuportável. Levou-me a Terra Feminarum, no hinterland russo, homenagear a matriarca de Polijola cujo nome era Louhi, uma bruxa poderosa, e nela homenagear todas as mulheres. Fiquei amigo de Bostali Bros e espero encontrá-lo em breve e muitas vezes no futuro.