30 julho 2006

Lido Em Babelia

Pero en el fondo todos sabemos que con el activismo no se combate la perplejidad, sólo se disimula. Nunca vamos tan rápidos como cuando no sabemos adónde vamos. Por eso una de las tareas de toda crítica política es criticar esa falsa movilidad, desenmascarar aquellas formas de seudoactividad cuya aceleración y firmeza se deben precisamente a que no se tiene ni idea de lo que pasa
DANIEL INNERARITY em Babelia, a propósito do livro de Joschka Fischer, O Retorno da História, Espasa, Madrid, 2006.

Ver também, a despropósito, o texto de Alberto Manguel sobre o ponto (Elogio del punto). E a crítica ao livro de ALbert Caraco, Post Mortem, Sigueme, Salamanca, 2006.

Ariel



Durante sete anos, Justo Piglia, um talentoso escritor argentino, escreveu crónicas no Clarín sobre uma personagem a que chamou Ariel. Justo era um homem culto, da classe média, pouco dado a emoções, controlado, que se notabilizara com um conjunto de reportagens equilibradas durante a guerra das Malvinas. Ariel era um rapaz dos bairros populares de Buenos Aires, sem actividade fixa, que parecia partilhar com o seu criador apenas o gosto pelas mulheres, o tango e os licores. As crónicas de Ariel tiveram algum sucesso. Uma das características de Ariel era o fascínio pelas mulheres tatuadas. Numa das primeiras crónicas, Ariel declarava que a visão fugidia de uma pequena tatuagem no braço de uma mulher lhe fazia tremer o entendimento. Quando as cintas começaram a descer, Ariel escreveu duas semanas seguidas sobre as tatuagens simétricas da região lombar, o êxtase feliz com que as contemplava, o que lhe revelavam sobre o carácter, a história de vida das mulheres que as ostentavam. E escreveu sobre pulseiras nos tornozelos, ligas, sapatos de saltos e pontas penetrantes, pega-monstros e outras gelatinas, massajadeiras, copas que não escondiam a dureza dos mamilos. A certa altura, Justo fartou-se de Ariel. Percebeu que ele não tinha vida, era um títere que utilizava para dar recados ou libertar algum demónio interior mais desagradável. O Clarín e os leitores do Clarín estavam tão fartos de Ariel como Justo. Os anos tinham passado e havia muita gente a escrever, de si próprios, textos mais desesperados, provocantes, melancólicos, ou sem propósito. Ariel não ganhara músculo, pele, tesão para sobreviver. O director de Clarín reviu em alta a colaboração de Justo Piglia no suplemento cultural e desobrigou-o de Ariel. Mas Justo afeiçoara-se à criatura. Não se divertia. Quando deixou de sonhar com as tatuagens secretas percebeu, como o Rémy das Invasions Barbares, que o fim estava próximo. O médico proibiu-o de ler e de escrever. Não era preciso. Sobreviveu alguns anos a pintar.





(Mila Jovovich, Ernesto Sábato)

29 julho 2006

Adições

Samir Kassir (2)



No Arrastão Daniel Oliveira posta da Síria no estilo simplista a que nos habituou. Diz que na Síria se sente Libanês. Mau sítio para se sentir assim. A menos que Daniel Oliveira recordasse que a Síria ocupou o Líbano e apoiou o crescimento de uma milícia fundamentalista armada no interior do país que está na génese da guerra actual. Há dois anos Samir Kassir e os seus amigos Libaneses escreveram, no Apelo de Beirute:

Nous ne voulons plus continuer d’accepter de vivre dans la honte :

La honte d’un Etat qui ne respecte pas l’accord qui a mis fin à la guerre.
La honte d’un Etat corrompu qui ne respecte pas les lois qu’il édicte.
La honte d’un Etat qui n’a de cesse que de dénigrer notre histoire nationale. La honte d’un Etat servile qui, pour justifier la tutelle qui nous est imposée, proclame que nous sommes incapables de nous gouverner. La honte d’un Etat dont le fondement principal est la peur, la peur dans laquelle il maintient les Libanais par rapport à eux-mêmes et par rapport aux autres

We no longer wish to live in shame: The shame of a State that does not respect the agreement which put an end to the war that tore it apart. The shame of a corrupt State that does not even respect the laws that it enacts. The shame of a State that does not stop denigrating our national history. The shame of a servile State that attempts to justify the tutelage imposed on us and proclaims that we are unable to govern ourselves. The shame of a State that is founded, not on legitimacy, but on the perpetuation of fear among the Lebanese- fear of each other and fear of those from outside.


Será Daniel deste Líbano?

Samir Kassir (1)

Rui Bebiano escreveu, a 10 de Julho, sobre Samir Kassir e o livro agora editado pela Cotovia e que tem o nome


Considerações sobre a desgraça árabe
Samir Kassir, Cotovia

Hoje, no Mil Folhas, (não disponível na net) Alexandra Lucas Coelho resume as principais teses de Samir Kassir. A sua recusa da teoria do choque civilizacional, a esperança num renascimento árabe como o que parecia operar-se após a retirada síria, a sua oposição às estratégias de afrontamento e às reduções que o Apelo de Beirute, assinado em 2004 e em que ele se envolveu, resume: redução da civilização à cultura, da cultura à religião, da religião à politica e da política à acção violenta.

Samir Kassir foi asssassinado há um ano em Beirute por um automóvel armadilhado. Os assassinos nunca foram descobertos. Alexandra Lucas Coelho teve a coragem de escrever que a família acusou do assassinato os sírios e os seus amigos libaneses, cujos serviços secretos há algum tempo ameaçavam Samir Kassir. Há países onde é perigoso nomear os assassinos.

28 julho 2006

Dizer Gisberta

Ler os artigos de opinião de Ana Sá Lopes e de Fernanda Câncio (não disponível on line) hoje no DN.

Trégua

Zangam-se, excitam-se e se for preciso insultam. Depois dizem que não participam em debates em que os opositores estão zangados, excitados e entrincheirados no insulto.
Eu nem sequer subi a uma àrvore. Fiquei sempre no mesmo sítio. Perguntei: querem a derrota de Israel? O que perdem com a derrota de Israel? Conhecem o inimigo de Israel? Como se chama? Como se derrota?
Não falava para o resistir.info, para o Comité da Paz entre os Povos. Falava para as pessoas que conheço, com quem costumo falar. Falar parece mais fácil do que escrever. Algumas pessoas escandalizaram-se, como beatas púdicas, quando escrevi banalidades que digo há tanto tempo sem sentir o tremor do pecado nem o vento do anátema.
Houve quem exibisse as vítimas das bombas como argumento. Mas porque não ilustram os posts com a imagem das milícias preparadas para a guerra. A vontade monolítica da morte. Suicida, assassina. E como disseram alguns, a compaixão electiva, a dureza que amolece com a geografia, surpreendem e perdem credibilidade.
Não são por Israel nem pelos radicais do Hezbolah. Admito. Deve ser o caso da maior parte das pessoas. É sensato e permite um sono melhorado. Mas qual é o seu plano para a paz? E também são a favor da estabilidade da Síria e do Irão? E acham que se um terrorista for eleito, o terrorismo ganha legitimidade, torna-se democrático? Mata menos? É mais selectivo? Só me vai atingir a mim ?
Entretanto preciso de tréguas. Vou descansar, comer uma ração de combate, tratar as fracturas. Como disse o Trobglodita: rezar, fora das trincheiras.

Uma mulher do Mal: Ilse Losa



Entre muitos outros livros Ilse Losa escreveu

O Mundo Em Que Vivi
Losa, Ilse Losa
Edições Afrontamento 2000.


O Mundo em que ela viveu é o nosso Mundo. Recomendado.

325 milhões de francos

Aquilo a que chamam o doping faz parte da preparação física dos atletas, dos clubes de bairro até à alta competição. O Tomás treina futebol duas vezes por dia. No treino da tarde o preparador físico dá dois comprimidos a cada rapaz. O Tomás é medroso e esconde-os no bolso, ou finge que vai tomá-los à casa de banho. Também bebem sumos energéticos.
O esforço pedido a Tomás não é grande. Mas o que se pede aos futebolistas é que corram noventa minutos sem parar, suportem contusões, distensões, abrasões, estiramentos. Sempre de cabeça fria.
Os investidores pressionam os dirigentes que pressionam os treinadores que pressionam os preparadores que pressionam os jogadores. Os adeptos e a imprensa especialista, uns inocentes, assistem.
Assim, os nossos heróis dopam-se.
Eu uma vez dopei-me para subir da Covilhã à Torre.
Testosterona e outros anabolizantes. Depois anfetaminas. E Epo na veia.Não cheguei ao Sanatório.Mas aumentou o meu respeito pelos desportistas de alta competição em geral e pelos ciclistas em especial.
Armstrong e Ulrich, os dois heróis do Tour, desapareceram no opróbio. O Tour ficou entregue a ciclistas médios, limpos e esforçados.
Já ninguém grita, de um bar à beira da estrada:
- Força, Coppi.
Bernard Busard, seduziu pacientemente Marie-Jeanne Lemercier. Mas os netos não tiram férias para acampar no Tourmalet ou no Aubisque. Conhecem melhor os colos de Val d’Isere, na semana de Carnaval.
Agora parece que o camisola amarela do Tour limpo também acusa testosterona. As almas do costume vão apelar ao fair play, à competição sem truques. Há nesta história muita testosterona, ou falta dela. O Tour, a Vuelta, o Giro morreram.




325 OOO francos,
Roger Vailland
A história de um operário ciclista e do seu amor determinado, do Tour de France no tempo de Roger Pingeon e antes da invasão da Hungria.

27 julho 2006

Escritos

Rui Bebiano: Planeta Hezbolah.
Fernanda Câncio: Glória Fácil
Filipe Nunes Vicente: A Regra do Jogo
Miguel Vale de Almeida: Binários
Bruno Sena Martins: As lealdades

Belicista




Kurt Vonnegut disse uma vez que era escritor de fiicção científica porque as pessoas diziam ser essa a sua ocupação. Durante algum tempo fui um funcionário exemplar dos Correios. Começou na primeira Avaliação Colectiva do Desempenho, quando os Correios aplicaram a todos os funcionários o SIAADPAP. A Unidade Orgânica em missão convocou-me, explicou-me os componentes da Avaliação, os objectivos, os indicadores de medida, a ponderação. Quando me comunicaram os resultados da Avaliação disseram:
-Você é um funcionário exemplar dos Correios.
A Escala não contemplava essa classificação. O documento designado por Instruções de Preenchimento das Fichas de Avaliação do Desempenho dos Grupos Profissionais previa apenas a categoria de Bom, Muito Bom e Excelente. E ainda Com Necessidades de Desenvolvimento. Eles disseram que eu era Exemplar. Nos anos seguintes, aos fins de tarde, na esplanada do café Império, à noite, quando tinha dificuldade em adormecer, sempre que a Candidinha do quinto andar desviava os olhos (e as mamas), eu soletrava mentalmente as palavras f.u.n.c.i.o.n.á.r.i.o e.x.e.m.p.l.a.r.
Agora dizem que sou revisionista, belicista, traidor, sionista. (Sionista é a palavra usada por algumas pessoas para dizer judeu.)
- Foi um funcionário exemplar dos Correios e agora é um belicista- ouço dizer.
Talvez um dia não consiga adormecer a soletrar a palavra b.e.l.i.c.i.s.t.a. Talvez a Candidinha olhe para mim com interesse.

26 julho 2006

Claro



Nisto a minha posição é claríssima. Como a tua(uma tarde, em Jerusalém, senti o mesmo nos joelhos). E a tua.
Lamento se não é tão clara como a vossa.
E é verdade que não sei nada de matemática.
Rosas e o senhor Alves parecem-me um, e não dois. E não encontro mais parcelas. O problema deve ser meu,concordo.

Irás

Irás à embaixada de Israel. Eles encarregam-se das palavras de ordem. Paz! Palestina! Líbano! Ou será que vão mesmo gritar "Não ao derrube dos dirigentes e organizações políticas (àrabes e muçulmanos) democráticamente eleitos! Não à instalação de uma ordem política neo-colonial na região! Não à desestabilização da Síria e do Irão!"#?
Não te esqueças de dar um abraço ao Domingos Lopes, esse amante da paz e ao preclaro senhor Alves.
Evita o Rossio, não esteja ainda a arder alguma vela.


#texto do manifesto dos 64, que convocou a concentração.

Piedad Bonnett

Mi padre tuvo pronto miedo de haber nacido.
Pero pronto también
le recordaron los deberes de un hombre
y le enseñaron
a rezar, a ahorrar, a trabajar.
Así que pronto fue mi padre un hombre bueno.
("Un hombre de verdad", diría mi abuelo).

No obstante,
-como un perro que gime, embozalado
y amarrado a su estaca- el miedo persistía
en el lugar más hondo de mi padre.
De mi padre,
que de niño tuvo los ojos tristes y de viejo
unas manos tan graves y tan limpia
como el silencio de las madrugadas.
Y siempre, siempre, un aire de hombre solo.

De tal modo que cuando yo nací me dio mi padre
todo lo que su corazón desorientado
sabía dar. Y entre ello se contaba
el regalo amoroso de su miedo.
Como un hombre de bien mi padre trabajó cada mañana,
sorteó cada noche y cuando pudo
se compró a cuotas la pequeña muerte
que siempre deseó.
La fue pagando rigurosamente,
sin sobresalto alguno, año tras año,
como un hombre de bien, el bueno de mi padre.

Piedad Bonnett (Antioquia, Colombia, 1951)
publicado em Babelia, 22 de julho 2006

25 julho 2006

Revisionismo

Alguma certeza deve existir.
se não de amar, ao menos de não amar.

(Dylan Thomas ouvido por Antonioni, segundo Vila-Matas)




Ana
, fui ver.
É verdade, sou um revisionista.
Ah, mas não tanto, não completamente.



Nos quartos estreitos/ as mulheres tinham o corpo incendiado/ e os homens dormiam/ o sono pesado de um álcool pouco amável.
(Ainda têm, ainda dormem)

Ana Paula Inácio de quem dizem ter nascido no Porto em 1966 e viver actualmente nos Açores, publicou As vinhas de meu pai (Quasi) e Vago Pressentimento Azul Por Cima (Ilhas). Em quase todos os seus textos perpassa a dúvida sobre a utilidade das palavras: "o que poderás dizer que não se dissolva em pó?"
(Perpassa ainda)

Baudelaire olhava fundo nos olhos das mulheres e, como os filhos do celeste império, via neles as horas. Por ter aprendido mal ou por ser sempre verão nos teus olhos, passo o outono em grande confusão horária.
(O Outono, a Primavera e o Inverno.)


Fiquei para trás descurando as guardas. Demorei-me nos orégãos em flor, entre as pedras do muro. Voltava-me julgando ouvir o meu nome- e eras sempre tu quem me chamava. Ou o tumulto das águas, a escola quase deserta, os miúdos entregues ao sacristão. Por motivos fúteis me demorava. Por motivos fúteis me apanharam.
(Por motivos fúteis)

Outros que escrevam sobre o sofrimento do mundo. Eu simplesmente me comovo com o teu púbis empinado.

(Comovo-me sempre)

É tão novo e não sabe que traz às costas o gulag, o muro de berlim e a tinta correctora que apagou o trotsky da fotografia.
(O rapaz das juventudes comunistas. Ainda não sabe)

A Cristina não gostou que se pudesse pôr ao mesmo ní¬vel o torturador e a ví¬tima, o delator e o denunciado. E considera que esse relativismo, que faz desaparecer o mal, é revoltante.
- Eu sei sempre de que lado me devo colocar - disse ela.
Stevenson, que escreveu antes da grande eclosão do mal contemporâneo, considerava a crueldade como o pecado capital. A crueldade faz com que os mártires se confundam com os que acendem as fogueiras e os réprobos com os seus demónios. O cárcere da crueldade é infinito.
Um sábio disse que devemos combater a crueldade para não nos tornarmos cruéis. Mas como não usamos as armas dos cruéis seremos vencidos.

(Revi: devemos usar as armas dos cruéis. Para não ser vencidos)

24 julho 2006

Não se levantem do sofá (e continuem preocupados com a cara) que eu vou ali e já venho

Vai e Vive




1984.
Milhares de africanos oriundos de 26 países devastados pela fome encontram-se nos campos do Sudão. Numa iniciativa conjunta de Israel e dos Estados Unidos, é levada a cabo uma acção – a acção Moisés – para levar os milhares de Judeus etíopes para Israel. Uma mãe cristã obriga então o seu filho a declarar-se judeu para o salvar da fome e da morte. O rapaz chega à Terra Santa. Declarado órfão, é adoptado por uma família francesa sefardita que vive em Telavive. Vive no medo que o seu segredo, a sua dupla-mentira sejam descobertos: ele não é nem órfão, nem judeu, é apenas negro.



Vas, vis et deviens.
de Radu Mihaileanu
Hoje às 21:30 H no TAGV, Coimbra

Conselho de Segurança não

O dirigente do Bloco de Esquerda Fernando Rosas manifestou-se já contra a presença de uma força internacional no sul do Líbano, no quadro do Conselho de Segurança Nações Unidas.
Fernando Rosas devia ter explicado o que pensa da presença do Hezbolah, no sul do Líbano, contra as resoluções da ONU.

Um problema que atravessa as declarações da maior parte da esquerda que se apressa a tomar posição sem procurar os factos é nunca apresentar soluções. A maior parte dos comentadores reage ao que se passa neste momento no Médio Oriente como os cãezinhos de Skinner. É mais fácil dizer entidade sionista e imperialismo, guerra de agressão e terrorismo de estado do que procurar informação credível, soluções.
Ora relativamente à ocupação do sul do Líbano por uma milícia islâmica telecomandada, desligada dos interesses do país, tendo como programa a agressão a Israel, e que, no início da actual crise, matou e raptou soldados israelitas, pouco tenho lido. Se há uma solução para o Médio Oriente ela terá de passar pela coexistência de Israel com os Estados árabes e com um Estado palestiniano viável. A presença de uma força que assegure que os territórios desocupados por Israel não serão tomados por grupos fora da lei internacional, parece ser uma boa solução. Rosas acha que não. Talvez lhe tenham batido palmas. Mas perceberam o que aplaudem?

Artigo de Amos Oz sobre a guerra actual

Aqui.

22 julho 2006

A guerra de Israel

A guerra é uma besta à solta. Faz as pessoas sentirem, dizerem, escreverem o que preferiam ignorar, calar.
Não chegará nunca o dia em que poderemos ser amáveis.
A maior parte dos europeus nascidos depois da segunda guerra mundial nunca teve guerra nos seus países. Quando o conflito dos Balcãs eclodiu, percebemos que éramos como os outros. Campos de prisioneiros, ódio racial, demonização do adversário. Independentemente das causas do conflito e dos alinhamentos que produziu, populações que alguns anos antes se consideravam jugoslavas, separaram-se de acordo com pertenças nacionais ou religiosas . Nunca perceberemos todas as dimensões dos conflitos. Sabemos pouca História e por vezes a História prejudica. Falham-nos absolutamente as razões geoestratégicas, militares, económicas a curto e médio prazo.
A nossa opinião não conta verdadeiramente. Mas são difíceis de perceber as motivações de quem decide, realmente.
Como decide a senhora Condoleezza Rice?



Luc Tuymans The Secretary of State 2005
oil on canvas, 18 x 24-1/4 inches

E Blair?
E no segundo plano, o que faz Zapatero pôr ao pescoço um lenço palestiniano ?
E no centésimo plano, o que leva o senhor Alves, do PCP, a achar que “Portugal está a ser vítima dos ataques de Israel pelo facto de ter transformado portugueses em refugiados”?

Longe do teatro da guerra, não tendo vivido nunca o drama de uma guerra verdadeira, muitos de nós forma opinião através das imagens que as cadeias de informação lhe trazem. E como é raro ser mostrado um hospital israelita, como os israelitas não permitem a captura de imagens quando rebenta um autocarro escolar, deflagra um suicida num centro comercial, um colonato é atingido por um morteiro, as imagens não favorecem a adesão emocional à causa de Israel. (Do mesmo modo os britânicos esconderam o que se passou no seu subsolo há um ano, e entre nós o aniversário desse massacre passou quase despercebido).

A causa de Israel é existir. Nas fronteiras actuais. Nas fronteiras da independência. Ou em outras que resultem de conversações sérias, com interlocutores que respeitem o direito de Israel à existência.
Por motivos que me escapam, “o insuspeito Vital Moreira”, quase todos os meus familiares e amigos, com destaque para a minha Mãe, acham que Israel é um país beligerante, expansionista, que sonha com as fronteiras bíblicas e não perde uma oportunidade em agredir as populações vizinhas.
Eu tenho dúvidas. Como Israel é uma democracia, conheço quem tenha esse programa político em Israel. Muitos desses nem combatem, porque as suas crenças religiosas recusam o serviço militar. Mas em Israel existem várias formações políticas com posições muito diferentes relativamente à guerra e à negociação. E, ao contrário da Síria e da Jordânia, ao contrário do Líbano, os israelitas de esquerda, os pacifistas, não costumam ser assassinados.
Um dia destes, percebi que um amigo julgava que Israel tinha sido erigido no território de um Estado palestiniano preexistente. Outro pensava que na Guerra dos seis dias Israel vencera por ter havido uma intervenção americana.
Vão dizer que os meus amigos são ignorantes. É mentira. Às vezes penso que sabem imenso. Por exemplo: sabem sempre como se devia conduzir a luta anti terrorista, como derrotar a Hezbolah e os outros Partidos de deus, como impedir o Irão de ser uma potência nuclear utilizando essa energia para fins militares. Mas se sabem porque é que não dizem?
Não há lugar seguro neste mundo. Nem uma estação de comboios em Madrid. Se for para morrer hei-de estar ao pé dos meus amigos. Mas não hei-de ter a cara de um idiota útil.

21 julho 2006

Lida Insana

Ele por Ela



Meses a fio( ou foram anos ?) esperei por ela às sextas-feiras (ou era aos sábados ?). Hoje faltou. Mandou por ela um rapaz em flor de acne. Eu estava preparado para tudo.

Jantar de despedidas



O jantar de hoje foi fantástico. Eram dezassete mulheres e eu. E durante todo o tempo, oh, até nas sobremesas, sentimo-nos sempre dezoito mulheres.

20 julho 2006

Lembrem-se



A minha geração sofreu três gravíssimas contrariedades: primeiro aprendeu o mundo pelos compêndios do salazarismo. Depois pela vulgata marxista. A seguir veio o ruído insuportável do entertainment.

19 julho 2006

Virgem da Agonia, 2001


Foto: Zam

A classe operária foi para banhos

Estamos sempre, sempre, ao lado da classe operária. O drama é que ela foi para banhos, no Algarve.

Eu, na exposição


Mark Tansey


Senti-me assim. Tinha tudo a ver comigo, parecia. Mas não sabia exactamente dizer porquê.

18 julho 2006

SEX & ART

"Finally, a scientific survey has proven what everyone has long suspected (which is what scientific surveys ought to do): creative artists, it appears, really do have more exotic love lives than the rest of the population. The new study, published this week in Proceedings of the Royal Society, suggests that artists, from poets to painters to puppeteers, have, on average, twice as many sexual partners as non-artist. "

Os que fogem da Arte amam as Mulheres

Luc Tuysman em Serralves:Nada ou um excesso de História




Quase não se vê. Na verdade esteve quase a desaparecer. Desapareceu dos confins orientais do Império Austro Húngaro, da “Palissada”, onde marcava o quotidiano nos finais do século XIX e no espaço entre as duas guerras.






É uma natureza morta. Enorme. Um jarro de leite e uns frutos em cima de uma toalha branca. Exposta no ground zero das Torres Gémeas assume um significado. Mostrada assim é uma natureza morta. Quase nada.





É o retrato de um intelectual negro, fotográfico, como o poderíamos ver numa revista de actualidades da época, nos anos sessenta.
Chamava-se Lumumba, Patrick. Foi a esperança de um país diferente para o Congo Belga, depois da independência, antes de Mobutu. Assassinado. Nessa altura um francês escreveu um livro a que chamou
L’ Afrique noir est mal partie.
Pequeno, numa parede branca, é um homem com óculos, alguma amargura no olhar e no trejeito da boca , uma coisa insignificante.





Quatro pequenos quadros. Alguma inquietação. Que vem da sombra no pátio, da ausência de gente, do aspecto familiar dos grandes edifícios.
O homem é Reinhard Heydrich, a quem Hitler chamava o coração de aço. O organizador e presidente da conferência de Wannsee, que a 20 de Janeiro de 1942 reuniu 15 responsáveis máximos do III Reich e decidiu os aspectos administrativos, técnicos e económicos da “solução final para a questão judia”, a exterminação dos onze milhões de judeus que os nazis tinham recenseado na Europa.
No quadro é um homem como os outros, magro, banal.






São dois homens que caminham na bruma. Com alguma decisão. Parece que sabem para onde vão. Mas só vemos montes e pedras. À direita há uma sombra oblíqua. Ou será um grande edifício? E uma pá de grande cabo. Talvez as pedras sejam lápides. A luz do luar bate de frente nos homens que caminham. Um deles tem uniforme e vai ligeiramente à frente. Não lhes vemos as caras.

Azáfama em dia de auditores internacionais


(Jurgen Klauke)

17 julho 2006

Na praia de Alicante



Na quinta feira, na praia de Alicante, ao meio-dia, uma pequena tomava banho quando um peixe lhe mordeu a mão esquerda, rompendo-lhe os tendões, uma artéria e um nervo. Os médicos "temem que perca mobilidade e necessite de mais operações". O alcaide assegurou que "foi tudo uma coincidência desgraçada". Um perito em pesca submarina, que toda a vida viu peixes daqueles, garantiu que nunca os vira atacar pessoas. O banhista que ajudou ao resgate da menina disse: "Via-se que o peixe tinha fome".


(Relato de El País, gravura retirada de Cocanha)

Mais sapatos



Miranda July a experimentar sapatos antes de partir para Cannes.
Como o personagem do seu filme, Miranda tem um problema de pés. Os tornozelos são muito baixos, e é difícil, assim, encontrar calçado que sirva. Nas sapatarias, agora, os empregados não leram Vinicius, e nunca, ah mas nunca, tocam nos pés das clientes.

Sapatos



Bonirre, eu não percebo bem onde levam os sapatos pedrinho.
Mas estes já foram experimentados. Não são bem sapatos. São chinelos. Estão cheios de sebo para segurar os cartazes. E virados para a parede. É dificil caminhar assim. E não é só pelo calçado.

A queda de Jerusalém



Na semana passada, aproveitando a crise aberta pela captura com pedido de resgate, por parte do Hamas, de um soldado israelita, o Hezbolah lançou um ataque sem precedentes a aldeias e cidades de Israel. A resposta de Israel é conhecida, bem como a reacção dos líderes europeus. Chirac e o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol falaram de resposta desproporcionada.
David Gross (Ver: Amor) pergunta, num artigo de El País, o que faria qualquer país se fosse objecto de um ataque assim por parte de um vizinho.
Esse vizinho é o Líbano. Parcialmente ocupado pela Síria, com um governo que tem dois ministros do Hezbolah e que entregou o controle da região sul, contra as decisões das Nações Unidas, às milícias fundamentalistas, armadas, treinadas, inspiradas e financiadas pelo Irão e pela Síria.
A maior parte das pessoas parece não perceber que se vive uma situação completamente nova no Médio Oriente, agora que é clara a derrota americana no Iraque e o declínio do plano dos neo-conservadores para a região. Israel não defronta já os palestinianos. O Irão e a Síria, directamente e através do Hezbolah, assumiram o protagonismo, desafiam as resoluções internacionais e ameaçam a existência do estado de Israel.
A esquerda reedita as suas declarações piedosas sobre a necessidade de paz, ou o desastre humanitário em curso. Os apoiantes da intervenção americana no Iraque estão envergonhados, ou a tratar dos negócios que ainda restam. A opinião pública europeia muda de canal para não assistir aos noticiários. Num clima de fim dos tempos, os G8, com Barroso e a sua senhora, vão comer à mão do novo czar.
É altura de perceber que não é só do céu de Gaza que cai uma chuva de morte. Os mísseis iranianos, disparados por fanáticos de deus, estão a assobiar às nossas portas.

PS: Eu não tenho acompanhado bem a esquerda e enganei-me no tipo de comentário que lhe atribuí. O blogger da Causas Nossas escreveu, de facto, isto. O do Arrastão, mais sarcástico, lamentou-se de não poder ir a um festival no Líbano( estará a confundir Bayreuth com Beirute?) por "Israel andar a brincar na zona".

Um poema: Raymond Carver





Photograph of My Father in His Twenty-Second Year


October. Here in this dank, unfamiliar kitchen
I study my father's embarrassed young man's face.
Sheepish grin, he holds in one hand a string
of spiny yellow perch, in the other
a bottle of Carlsbad beer.

In jeans and denim shirt, he leans
against the front fender of a 1934 Ford.
He would like to pose bluff and hearty for his posterity,
wear his old hat cocked over his ear.
All his life my father wanted to be bold.

But the eyes give him away, and the hands
that limply offer the string of dead perch
and the bottle of beer. Father, I love you,
yet how I can say thank you, I who can't hold my liquor either,
and don't even know the places to fish?

Raymond Carver (Clats Kaine, Oregón, 1939-Port Angeles, Washington, 1988)
Publicado em Babelia

Um Filme: Me and You and Everyone We Know



Primeira longa metragem de Miranda July, condutora terna de táxis para pessoas de idade, artista multimedia, actriz, uma rapariga com tornozelos baixos. Cenas inesquecíveis. A agonia de um peixe nas ruas de Los Angeles. A relação amorosa entrevista como o percurso ao longo de uma rua. A separação assinalada espectacularmente aos filhos como um incêndio do corpo. A comunicação amorosa através dos chats. A sabedoria de um rapaz de catorze anos quando tem de escolher.


14 julho 2006

Imortal


Só até compreender

Dois sapatos pedrinho para comunhão solene

Obituário



Morreu.
É facílimo matar uma gaja assim. A questão é saber o que lhe sobrevive.

13 julho 2006

A costela partida no baile da 1a-comunhão


Jurgen Klauke
Transformer
1970-1976

Quiosque



- O sentido da minha vida
É recuperar o movimento dos baloiços.
-É a noite de quinta-feira,
Semana sim, semana não.
- É tocar debaixo da ponte de Williamsburg
À procura de um som colossal.
- É procurar a fenda que há
Em cada casa que habitamos.
(- É tocar nas mamas da menina
Do quinto andar, a Candidinha.)
- O objectivo da minha vida,
Já que não pergunta,
É a Cabala.

12 julho 2006

Um homem do Mal: Gordon Matta-Clark



Gordon Matta-Clark,
filming "Office Baroque" E.C.F.
Eric Convents en Roger Steylaerts, 1977 photo
© Florent Bex en MuHKA

Sewing kit


Compro cerveja Grolisch pelo copo de arte. Flocos Fitless pela viagem a Ibiza. O jornal pelo suplemento. Leio blogs pelos pop-ups. Vou ao cinema pelo filme-anúncio. Ao Intershopping pelas senhas de gasolina. Compro os Cds da ECM pelas fotos das capas. O Vinho é pela colecção de saca rolhas. Se vou para um hotel de cinco estrelas é pelo sewing kit, os botões, as agulhas, os fios de três cores encadernados. Quando me casei com a Teresinha foi pelos dois filhos dela. Amorosos.

(refeito, após António, 18:ooH)

11 julho 2006

Contributo para leituras


Heimspiel
(aus der Werkgruppe Sonntagsneurosen)
1990/1992
8teilige schwarzblau getonte Fotoarbeit
je 260 x 186 cm
Installation: 260 x 1488 cm
Privatsammlung
© Jürgen Klauke
© VG BILD-KUNST Bonn, 2001

10 julho 2006

As palavras que Materazzi disse



O Guardian (Londres) disse que foi um insulto político, civilizacional. A SOS Racisme disse que foi um sujo insulto racista. Chirac diz que foi, "seguramente, qualquer coisa extremamente grave". Um jornal francês disse que foi um insulto à mãe.A cadeia Globo (Brasil) recorreu a vários especialistas de leitura labial e foi peremptória: "chamou prostituta à irmã de Zidane". Muitos jornais asseguram que o italiano chamou "terrorista islâmico" ao francês. Materrazi declarou à chegada ao aeroporto de Roma: " É mentira, sou ignorante, não sei sequer o que quer dizer terrorista, ou islâmico."
Nós não sabemos fazer leitura labial em italiano. Mas acreditamos em Materazzi.

Amalia Bautista



TRES DESEOS (poesía reunida)
Amalia Bautista
Prólogo de Jorge Valdés Díaz-Vélez
Renacimiento. Sevilla, 2006
208 páginas. 10 euros

ver aqui.

Acabou o Mundial viva Bento XVI


Depois do futebol não há como a Igreja Católica para nos espantar. Eu esperava que Bento XVI, um teólogo, se preocupasse por exemplo com a questão que a obra de Geza Vermes, o catedrático de Oxford, levantou: “Jesus não esperava falhar como falhou”. (ver Mil Folhas deste sábado). Ou desenvolvesse o tema da ausência de deus em Auschwitz. Nunca deixarei de me surpreender com a obsessão homofóbica do Vaticano. Se a homossexualidade existe de maneira tão evidente entre todas as criaturas de deus, ainda havemos de ver os nossos bispos em cruzada contra os bonobos e as leoas, o polvo e a mosca do vinagre, a pôr no Índex o National Geographic e a Odisseia, a Dra. Tatiana e o Frederic Lewino. Mas não deixa de ser caricato ver um clube de homens que se excluiu da doçura, da emoção, do arrebatamento, do êxtase, da surpresa, da criatividade, da transpiração, da dádiva e da prenda do sexo, dar conselhos aos casais sobre o amor. Se o casamento é uma coisa boa, tão boa que é o cimento da nossa sociedade e a ele aspiram publicamente tantos gays, porque há-de a Igreja, cuja missão não se devia arredar da procura da maior quantidade possível de felicidade, encarniçar-se em proibi-lo a uma minoria?

Circular Informativa

Assunto: verão, TPC's

Para este Verão, a Mestra recomenda o trabalho do fotógrafo Luís Campos [Lisboa, 1955-], nomeadamente, A Última Visão dos Heróis (1995, Galeria Diferença, Lisboa), e One Killer and Thirty Five Good People (1998, Galeria Luís Serpa, Lisboa).

09 julho 2006

Eu hoje sou...




... da Itália.

(e um bocadinho da Argélia.)

08 julho 2006

Jogo horribilis

O penúltimo jogo do Mundial teve uma imagem arrepiante. O PR, que de manhã tinha declarado na rádio, estar "muito sensibilizado"...estar "mesmo um pouco emociado", envergava um fato azul-azul com gravata azul e olhava o vazio com um ar de quem tem repulsa ao vazio. Ao lado esquerdo tinha Sócrates, de blazer castanho e camisa branca aberta, uma coisa sem jeito, nem informal nem outra coisa. Ao olhá-los não podíamos deixar de pensar que tinham partilhado coisas demais: o Falcon, o almoço a bordo, uma garrafa de Monte Velho, uma conversa insuportavelmente entediante sobre a confiança nacional, o abraço entusiástico do Madail, aquela derrota.

Leituras

Lido no Mulherio.
Fica tudo dito, quando é tudo dito. Os rapazes excitam-se nos comentários, ou agridem, sentindo uma ameaça, sem perceber que estão a assistir ao fim da literatura.

Para as praças, Portugal

Marcelo, Jorge Coelho, José Luís Arnaut, Júdice e outros que o jornal não nomeia pediram aos portugueses para saírem " às ruas, às varandas, ao aeroporto, às praças, com bandeiras ou sem elas."
Se eles pediram nós vamos. Eu, por mim, hesitei um pouco, mas não resisto a um apelo do Coelho.

07 julho 2006

Uma decisão à altura



O caso da investigação em torno dos restos de D. Afonso Henriques, bem como as reacções subsequentes, devem merecer alguma atenção. O IPPAR fora consultado e dera as necessárias autorizações. Da mesma forma acontecera coma Igreja. À última hora a Ministra da Cultura percebeu o que estava a suceder. Isto, em si, é bom. É motivo de confiança no sistema sabermos que os ministros, de vez em quando, sabem o que está a suceder. Ela achou que era necessária uma autorização política. Não chegava a autorização técnica do Instituto do Património, baseada no estudo da intervenção e no currículo dos investigadores. Era matéria de mitos, assunto de Nação. Nessas questões, como se sabe, são os políticos quem tem formação adequada. Então porque não decidiu? Não tinha que analisar dossiers, informar-se junto de Comissões, consultar peritos. Isso já estava feito. Tinha que decidir. Na hora. De forma a que o conjunto de esforços que reunira cientistas e equipamentos de várias proveniências não se perdesse.
A Ministra decidiu como é costume estes ministros decidirem: mandou parar a obra e abriu um inquérito.

Cláudio Torres

Cláudio Torres declarou que “os reis são mitos que ajudam a fundamentar o amor à pátria e o nacionalismo” e, por isso, "deve haver uma autorização política para a investigação em torno do túmulo de Afonso Henriques".
Deve ser precisa autorização política para tudo, já se sabe. Nisto de mitos, Cláudio Torres é uma autoridade e está à vontade para aconselhar qualquer político.

Reacção do monarca

O nosso primeiro monarca, viu as reportagens, a Investigadora, e declarou-se pronto a ser exumado, com carácter de urgência.
- Se a ministra da Cultura está com ideias acerca da minha pessoa , que as perca- disse ainda. E aproveitou para desabafar e declarar- se a favor de um Estado mínimo, que ajude os necessitados, entre os quais agora se inclui.

Investigar o quê



A ministra da Cultura acha a investigação sobre Afonso Henriques supérflua.
Ela sempre soube como era a cara dele

TPC - Construção


Foto: Alda Reis

Pacheco debaixo dos vulcões

Pacheco Pereira, que há dois anos zurziu no olimpianismo ( a língua de madeira dos fóruns do tempo da velha ordem multilateral), explica agora que fomos tomados pelo guatemaltequismo ( a impossibilidade de expor uma ideia original com as palavras interditas do calão político disponível).
Nesta crónica do Público, Pacheco revela o aspecto menos conhecido de um narrador entre John le Carré e Graham Greene, um Lowry sóbrio com bilhete de volta.

E não se pode exumá-lo




Quando nos preparávamos para saber alguma coisa sobre o nosso primeiro Afonso apareceu o presidente do IPPAR, um Elísio qualquer coisa, a dizer que faltava um papel. Qual papel? A autorização do primeiro-ministro, do cardeal-patriarca, das Finanças, do D. Duarte Nuno, do dr. Jaime Gama e do Madaíl. A antropóloga forense, que já tinha feito uma endoscopia ao nosso primeiro Afonso, fica a saber que se quiser exumá-lo tem de obter autorização do próprio.