Os progressistas são geralmente gente estimável. Não fossem eles e estávamos para aqui de crucifixo obrigatório nas paredes da escola, mapa do Minho até Timor, a chorar a derrota do Sporting e tendo como única esperança os segredos de Fátima. Devemos-lhes quase tudo do que de bom me lembro: a penicilina, a mini saia, o heliocentrismo e a gravidade, o surrealismo, as férias, a teoria da evolução e a pílula. Mas os progressistas podem ser perigosos. Falo do que sei. Como devem ter percebido sou progressista. Foi um dos meus quem disse que era preciso obrigar os homens a ser livres. Outro escreveu a frase inquietante que pedia aos franceses mais um esforço para serem republicanos. Outro viu Popper como a Nossa Senhora os Pastorinhos. Outros criaram a antipsiquiatria e as comunas de Copenhaga e Amesterdão.
Uma das áreas onde os progressistas têm tido acção de relevo é a da escola pública. É repugnante imaginar que a uma desvantagem de nascimento tenha de corresponder um rosário de oportunidades perdidas. A Escola pública democrática deve assegurar a igualdade de oportunidades e impedir que estiolem os talentos. Nesse aspecto os progressistas foram magníficos. O pior é quando eles generalizam e são possuídos pela obsessão educativa. A obsessão educativa acredita que tudo é susceptível de ser ensinado. Classes de escrita criativa, Livros de Estilo, Gramáticas, Educação cívica, Linguagem nãoverbal, Cursos pré matrimoniais, Parentalidade, Terapia Familiar, Adaptação ao Meio Aquático. O blogger do
Alcatruz caricaturou a obsessão educativa com posts certeiros mostrando as terríveis consequências se deixássemos de ensinar os bebés a mamar, os fetos a respirar, os homens e as mulheres a procurarem as respectivas zonas erogéneas.
Os documentos que o Expresso divulgou sobre os conteúdos das aulas de sexualidade, a serem verdadeiros, são um exemplo hilariante da obsessão educativa progressista. Pintar as zonas erogéneas na sala de aula e encher os cadernos do ciclo com pipis erectos e coninhas é certamente divertido e não havia de fazer mal a ninguém. Mas como diria Bartleby, se fosse puto e estivesse nessa turma: eu preferia não o fazer. Sobretudo se tivesse algum sentimento especial por uma colega ou colega. Preferia não o fazer. E que ele ou ela não o fizessem. Sempre me masturbei em privado, sem nenhum sentimento de culpabilidade. Não acho que a senhora professora tenha nada a ver com isso nem me ajude no desempenho. Quando tínhamos onze anos, numa aula de Português, o dezasseis masturbou-se, inspirado pela professora, para nosso grande espanto e perturbação. Mas não me recordo nem do efeito pedagógico desse acto nem dos traumas motivados pela ausência de um amplo debate.
Aprendemos a sexualidade com os nossos pares. Com os rapazes mais velhos, ou mais experientes, nas tertúlias. Com as raparigas, nas escadas, nas barracas de praia, nas garagens, no escurinho do cinema. Dá um trabalhão mas é muito bom. Há cem mil anos que é assim, o que não é um grande argumento, aceito, mas é pelo menos um argumento. A psicologia veio dizer-nos que essa coisa de aprender com os pares não é só com o sexo. Também aprendemos o sotaque, o vocabulário, os papéis sociais. Enfim, quase tudo. Esta coisa de pôr adultos, com neurónios, erecções e interesse sexual em rápida extinção, a ensinar o sexo aos jovens da espécie e impedi-los de inventar o seu Kamasutra, é, em resumo, uma barbaridade progressista.
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Aviso:
Este texto foi escrito baseado em mentiras, meias verdades e numa operação de manipulação montada pelas organizações reaças manipuladas pela ICAR: veja o nariz do Pinóquio. 21h de 20/05/05
Sobre o tema ver os posts de FNV e PC no Mar Salgado, do Bruno em Avatares de Desejo e de JMF nas Terras do Nunca)