30 novembro 2008

First we take Bombay

Esta é a cidade de S. A única cidade da Bética que está ao sol enquanto sofreis o gelo e a neve, a chuva e as intempéries do Inverno. A cidade dos pátios das laranjeiras, do Guadalquivir, de Cernuda e Lorca, como diria o meu meteorologista louco. É sábado â noite e em Triana, nos bares de tapas, prova-se a chacina e os vinhos tintos de Ribera del Duero ou de Rioja. As nossas mulheres têm a nuca erguida, olham nos olhos e fazem um pré engate que continuará nos bares de Triana, pela noite fora. Esta é a cidade dos fenícios e de Cartago, de Roma e dos godos, a cidade moura. Mas nao sabemos. Ignoramos até que, em pleno século XX, homens como nós enterraram vivos e algemados os seus inimigos. Os gritos das vítimas duraram dias, e falavam a mesma língua dos algozes. Ignoramos tudo. Porque, como disse Juan Gelman ontem em Salamanca, depois dos ditadores vêm os comisarios del olvido. E um dia morreremos, demasiado ignorantes â mao justiceira dos fanáticos, demasiado estúpidos.

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Desesperado

29 novembro 2008

The Lucky Ones

28 novembro 2008

Drawing

27 novembro 2008

The Skirt

26 novembro 2008

Depois de Pedro Rosa Mendes


Lajos Vajda

A repartição onde trabalho tem sessenta e três pessoas. São quase todas gentis, educadas, agradáveis, bem dispostas, cheias de confiança na vida e orgulhosas do seu CV. Nenhuma leu o artigo que o Pedro Rosa Mendes ontem escreveu sobre o estado insustentável de Timor-Leste. Como é possível o mundo continuar o mesmo depois do artigo de Pedro Rosa Mendes. Lembro-me do ano guterrista de 1999 e de atravessar a ponte com o peito pequenino das notícias de Timor, os guerrilheiros famélicos nas montanhas, os malvados ocupantes indonésios, os timoratos australianos e a heróica diplomacia portuguesa na ONU. Hoje, de entre as sessenta e três pessoas com quem trabalho, algumas das quais sujeitas a avaliação periódica de desempenho e em pleno cumprimento dos objectivos definidos,ninguém,nenhuma, leu o Pedro Rosa Mendes. E nenhuma sabe da intervenção de João Aibéo no processo Casa Pia. Nenhuma leu a entrevista do MEC na revista Ler. Penso nas coisas importantes das suas sessenta e três vidas, nestes dias que passaram. E não consigo imaginar como se pode existir, continuar sendo, sem ter lido Pedro Rosa Mendes, a entrevista do MEC e a forma como Aibéo chega ao fim do processo que nunca iria acabar e cujo nome impronunciável, se se diz é de lábios esticados.

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A rapariga, o beijo.


Eva Bosnyo


No princípio era um beijo. O primeiro beijo. No ginásio, na última fila do cinema, na escada do prédio. Foi preciso passar pelas graçolas dos rapazes, quase sempre boçais, a pele baça dos rapazes, a palidez, ou pior, o sebo à espera do acne, os cortes da gilete, os ridículos sms. Ele não merece. Nunca merece. Onde quer que uma rapariga beije um rapaz está uma criança a ser beijada por uma mulher. Uma criança blindada que quer experimentar, saber, coleccionar. Lábios em sangue contra lábios de cimento. A história começa mal.

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The Table

25 novembro 2008

Margarida e o Mestre


O tanque socrático volta a atacar ou Encontrada solução para o diferendo entre os professores e o Ministério da Educação ou É tudo mais simples no Norte.

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Terça


Richard Sandler


Tudo se repete. A água, a lâmina, a promessa dos cremes, as pessoas que descem a avenida, o cão de cabeça levantada, bom-dia senhor Gerardo, o artista ao volante, as crianças atentas nas cadeirinhas, bom-dia, bom dia. Bate-te nos neurónios em espelho a marcha coleante das professoras do 2º ciclo, os cabelos tão lisos da que foi florista, os miúdos a atravessar o pão da manhã, a menina Cloé, a rapariga da lavandaria, o dedo na fenda, o teu nome oficial assinalando a humilhação diária, a chave na fechadura, os mails da noite, a bata, bom-dia dona Laurinha, bom-dia, não vale a pena arrumar. É terça-feira e o céu claro de Novembro segura a mão do anão suicida.

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Allô Ponte do Lima



Há uns dias, quando aqui comentava o texto do Eduardo Pitta onde se relata o momento em que Nuno Lobo Antunes teve, em Manteigas, a visão rutilante de Nova Iorque, utilizei uma foto do Blog de Manteigas. E alguém, do frio de Manteigas, teve a gentileza de mandar um abraço.
Talvez haja também, em Ponte do Lima, quem seja capaz de contar a verdadeira história do Magalhães oferecido às crianças. Alguém que leia este obscuro blog e esclareça o que de facto sucedeu. Oh mas não a Dra. Margarida, o tanque socrático da DREN.

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Flattening a Hellhound


«A convicção do Governo é que o processo ficará muito mais simples e certamente exequível.»


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24 novembro 2008


Miguel, obrigado por teres simplificado a coisa.

Mieux vaut la police que les épices



Segunda de manhã


August Sander


Tudo se repete. A água, a lâmina, a promessa dos cremes da manhã, as pessoas que descem a avenida, o cão castrado do senhor Gerardo, bom-dia senhor Gerardo, o artista conduzido pela mulher ao volante, outra de dedo levantado, as pávidas crianças nas cadeirinhas certificadas, bom-dia senhor Simões, o dedo na fenda, o teu nome oficial assinalando a primeira humilhação, a chave na fechadura, os mails da noite, a bata, bom-dia dona Laurinha, bom-dia menina Fátima. Lá fora chove e o céu encoberto. Começa a semana e ninguém, compaixão nenhuma, segura o anão suicida.

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The Soil

23 novembro 2008

Um poeta do Mal: Luís Quintais

Leviatã

O universo terá começado
com um grito e tu vens agora
recolher o que desse grito
é vestígio: é tempo
de enunciar a movediça
explicação que ao desastre
nos conduz.
Nas nossas redes está o Leviatã
apodrecido.




In Mais Espesso Que A Água
Edições Cotovia,2008

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Ceramic Salami

Idade Média


Max Waldman - Retrato de Zero Mostel como Tevye

Ontem no Eixo do Mal a Clara Ferreira Alves disse a propósito do BPN: -Se ainda houver jornalistas de investigação em Portugal vamos ter Natal. Pensei nas Invasões Bárbaras de Denys Arcand, em Rémy na sua cama terminal, dizendo que antes de adormecer já não conseguia ver a mulher que, nos seus sonhos, entrava no mar. E pensei que vivia a minha experiência terminal com o jornalismo, agora só Joaquins, só Coimbras, só Oliveiras. Na verdade vivi fascinado com jornalistas como os putos com as artistas de cinema. Lia os jornais como eles liam a Hola das tias nas esplanadas. Sabia o nome das jornalistas, citava de cor frases inteiras das crónicas, recortava as reportagens, corava ao dizer os nomes delas. Os meus amigos espantavam-se. Mas para mim era tão criminoso confundir a Alexandra Lucas Coelho com a Alexandra Prado Coelho como o Sergio Pitol com o Sergi Pàmies. Agora que o meu mundo se toldou, peço desculpa mas não consigo sonhar com o Rui Tavares.

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Sinto Muito



Nos primeiros anos, depois do internato policlínico em hospitais de Lisboa, Nuno Lobo Antunes fez o tirocínio da província, experiência que o levou a Manteigas, onde tomou a decisão de partir para Nova Iorque.

Eduardo Pitta sobre Nuno Lobo Antunes

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22 novembro 2008

Dos bandos




Durante a "Grande Entrevista", Dias Loureiro afirmou ter pedido ao responsável do bando central especial atenção para com o BPN, garantindo ainda não ter participado nem ter tido conhecimento de irregularidades naquele banco, cujo fundador, José Oliveira e Costa, se encontra em prisão preventiva e indiciado dos crimes de burla qualificada, fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais.


(ler aqui)

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Sobre a morte de uma livraria: a crise geral do capitalismo e a crise particular das livrarias. Do papel dos bymblos

A morte de uma livraria é uma coisa má. Mas os bymblos matam qualquer coisa boa. No Irmão Lúcia.

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Bem me parecia

The Hare

Sócrates, dono da História

É importante ver Sócrates ao lado de Medvedev para compreender a natureza de Sócrates. Sócrates é um perigoso prepotente inculto. Ao lado de Medvedev declarou:- A Geórgia é uma página virada. (sic cf. Público de hoje). Compreende-se o interesse nacional da paragem técnica de Medvedev e até se compreende que o primeiro-ministro queira ser um bom anfitrião. Mas Sócrates vai sempre mais além. Ele é o dono da História, ou pelo menos está com os donos da História, é o representante dos donos da História em Portugal. Permite-se falar grosso e dizer, quando Medvedev está ao lado, as coisas fortes que Medvedev gosta de ouvir, para que os fracos saibam o seu lugar na História. Se Sócrates tivesse gás e petróleo seria um Putin. Se Sócrates tivesse um Abramovic em vez de um Oliveira e Costa seria um Putin. Se Sócrates tivesse um país de gente calada e de cerviz vergada como os seus apoiantes socialistas, que de socialistas só têm a lapela fracturante, seria um Salazar reciclado, com jogging e namoradinha.

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21 novembro 2008

Este nunca me enganou


Sempre soube que podia confiar nele. Que quando arranjasse namorada não era uma pita do show-bizz.

Crazy Fingers

18 novembro 2008

O Primeiro –Ministro vai parar ao Inferno



Ontem, em Ponte de Lima, Sócrates entregou duzentos Magalhães às meninas e aos meninos. Excepto a um, espero eu, e esse é o teu filho, leitor(a) hipócrita. Os meninos e as meninas agradeceram. Já podem jogar no Magalhães. Podem o tanas. Mal a comitiva virou costas tiraram os Magalhães às meninas e aos meninos. Que era só para a cerimónia. Que não chorassem que os haviam de receber, mas mais tarde. Aqueles ou outros Magalhães iguaizinhos. Aqueles tinham de ser empacotados – reprimenda em voz dura aos meninos que danificaram as embalagens – e levados a correr para uma cerimónia semelhante na cidade de F. Explicaram aos meninos e às meninas em lágrimas que aquela entrega era simbólica e depois, com a ajuda do último Magalhães a ser retirado das mãos do último menino, explicaram o significado de simbólico. Os meninos mandaram ovos podres ao primeiro-ministro, ao presidente do Conselho Directivo e ao vereador de Ponte de Lima. Tudo simbólico e pelo processo Jungiano de associação livre de símbolos que é o mesmo que assegura que ao primeiro-ministro que deu e tirou os Magalhães aos meninos e às meninas de Ponte do Lima estão reservadas as chamas do Infernos.

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17 novembro 2008

Museu

... Naquele Império, a Arte da Cartografia conseguiu tal perfeição que o mapa de uma só Província ocupava
toda uma Cidade e o mapa do Império toda uma Província. Com o tempo, esses Mapas Desmesurados não
satisfizeram e os Colégios dos Cartógrafos levantaram um Mapa do Império que tinha o tamanho do Império
e coincidia ponto a ponto com ele. Menos dadas ao Estudo da Cartografia, as Gerações Seguintes consideraram
que esse dilatado Mapa era Inútil e não sem Impiedade o entregaram às Inclemências do Sol e dos Invernos.
Nos desertos do Oeste perduram despeaçadas Ruínas do Mapa, habitadas por Animais e por Mendigos; não há
em todo o País outra relíquia das Disciplinas Geográficas.

Suárez Miranda, Viajes de varones prudentes, IV, cap. XLV, Lérida, 1658

(Do rigor em Ciência, Jorge Luis Borges)

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Manhã em F.



Na cidade de F., no parque central de F., domingo de manhã e um Inverno luminoso. Homens de olhar perdido vigiam crianças e algumas mulheres os cães. A Princesa Imperial do Brasil está de costas para a cena e nem as crianças gritam nem os cães ladram. Na esplanada do café Miranda, Restaurante e Confeitaria, os homens têm em comum o cabelo negro ondulado e os casacos de capuz. As mulheres são mais novas, algumas parecem filhas dos homens de negro. Mas mesmo as crianças de F. falam aos repelões, com o sotaque rude da região. Em frente das casas de azulejo, ao lado do Parque, está um edifício estranho, com uma torre sem janelas , um silo decrépito. Pergunto ao rapaz que serve os cafés na esplanada se sabe que edifício é aquele. Ele trabalha ali. De frente para a torre. Mas não tem nenhuma ideia do fim a que se destina o edifício. É uma fundição. Agora para que serve a fundição, isso ele não sabe. Era fácil saber. Bastava andar cem metros. Contornar o BCP Millenium e ler as palavras gravadas nos vidros do rés-do-chão. Já entrar é mais difícil porque a fundição está fechada. Aos domingos, aberta na cidade de F. só a loja dos chineses e alguns cafés, como o Miranda, que é restaurante e pastelaria. Tudo o resto está fechado. Como a livraria Quasi, de fino estilo funerário. O Mário Cesariny , na fundição, e o Cruzeiro Seixas , na Conselheiro Santos Viegas estão lixados. Que porra é que foram fazer à cidade de F. Ao menos Sua Majestade Fidelíssima pode olhar, sob os plátanos, os homens e as mulheres, baixos e duros como os que a serviram e a quem ela procurou dar alguma ilustração. Os cães vêm mijar as saias da Princesa das Beiras e é toda a animação da cidade de F., ao meio dia de domingo.

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15 novembro 2008

Cavaco Nada (três)

Parece que uns miúdos atiraram ovos a um secretário de Estado que visitava a Escola deles. Ou segundo a Teoria geral dos agitadores, recuperada pelos socialistas no poder, de uns agitadores que nem eram daquela Escola e vieram propositadamente atirar ovos. Atirar ovos é um direito democrático, como patear, escrever e assinar este texto, não apertar a mão do Paulo Portas nas feiras, recusar o Magalhães. Atirar ovos a um secretário de Estado é um acto de legítima defesa, quando esse secretário de Estado nos trucida se não estivermos de acordo com o seu projecto de modernização social. Atirar ovos é uma porcaria e um desperdício, eu prefiro escrever estes posts. Mas é um acontecimento menor, este de uns agitadores que atiram ovos a uns secretários de Estado de quem ninguém recordará os nomes. Nada, comparado com o assalto de um conselheiro de Estado a um Banco, ou o encerramento de um Parlamento. Cavaco veio logo pedir respeito. Para si e para o Governo. Afinal o homem fala. De quê? De ovos podres e de respeito.

Parabéns (3)




A Osvaldo Silvestre, um dos que escreveu sobre Joana Varela, pela lucidez, pelo saber e pela coragem

Parabéns(2)


Ao José Mário que conseguiu utilizar a expressão mosquitos por cordas (tumulto,sarilho, confusão) a propósito do afastamento de Joana Varela da Colóquio-Letras, às mãos do percursor, credo, de Maria de Lurdes Rodrigues.

Parabéns (1)


André Bonirre

Aos meus três blogs favoritos tocados pela graça do silêncio.

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14 novembro 2008

Dias finais em Harrogate



No Inverno de 1919 os dias ficaram mais pequenos e ele sentiu que eram os seus dias finais. Não se passava quase nada na casa de Harrogate. Olhava os campos gelados em volta e lembrava-se das irmãs Bronte, e da ironia do destino, que lhe tinha dado como cenário dos últimos dias a visão de terras estéreis, duras, onde os arados desistiram de entrar, a monotonia cinzenta onde tinham crescido as órfãs infelizes que ele tanto admirara. Uma noite sonhou que era um rato de cabeça negra. Pendurado numa junta da canalização, tentava roer um cano. Havia uma urgência naquela actividade, uma ameaça, que podia vir do interior dos canos ou de fora, a aproximação de um predador dos ratos de cabeça escura. Depois deu conta de que não estava a dormir, apenas semicerrara os olhos. E percebendo que eram as últimas imagens esforçou-se por tentar ver luz através de roupas claras, a face e a pele das mulheres que amara, os campos em flor das planícies de Zuid-Limburg. Mas não deixou de ver o rato, o humilde roedor, e o esforço sem sentido do focinho preto, roendo, num desespero silencioso, um cano de metal, até à escuridão total.

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No Porto uma Dama Aflita



A Associação DAMA AFLITA (Júlio Dolbeth // Lígia Guedes // Rui Vitorino Santos) inaugura a galeria Dama Aflita e o escritório, dia 15 de Novembro, Sábado, pelas 17:00 horas, na rua da Picaria, n.º 84, Porto.

12 novembro 2008

Sempre o homem do homem


August Sander

Disse o psiquiatra ao jornalista : o acto sexual perfeito é o que faz encontrar a mulher que há no homem com o homem que há na mulher. Ouvi na rádio. Voltei a passar, para tentar perceber se era a mulher do psiquiatra a falar com o homem do jornalista. Passei quatro vezes. Acho que foi uma conversa de homens.

A mulher que se apaixonou pelo homem-elefante




Hoje é possível encontrar algumas almas que genuinamente empatizaram com Homens -Elefantes. Sobretudo depois de 1980. Sobretudo se não conhecem nenhum homem-elefante. Mas não conheço ninguém que se preocupe com a mulher que se apaixonou por um homem-elefante.

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Um rapaz do Mal: o guarda redes do Marialva

Também conheço o do Sertanense, e o que será em breve o guarda redes do Casaense. Mas o rapaz de catorze anos que defende as redes do Marialva resume as qualidades dos guarda-redes dos iniciados.É alto, sorridente e silencioso. Quando é preciso sabe falar.
–Larga- diz ele. Ou:- É minha. São as duas frases que diz, com voz de comando, a que a laringe de um rapaz magro de catorze anos permite. Reina na área. Sai aos cruzamentos. Os brutos do ataque carregam-no, à margem das leis, mas ele não se queixa, não reclama falta nem cartão. Sabe que essa é a sina do guarda-redes. Ser carregado em falta, não poder agarrar as bolas atrasadas com os pés pelos colegas de equipe, defender uma baliza cujos cantos superiores são inalcançáveis, enregelar entre os postes, festejar golos que não marcou. Não é muito dado à metafísica dos pénaltis. Aos catorze anos a angústia está do lado dos avançados, que falham metade das grande-penalidades. Tem as mãos enormes. No período de crescimento rápido da puberdade, as mãos dos guarda – redes crescem para caber nas luvas gigantes. A avó nunca viu nenhum jogo do Marialva. Tem quinze netos. Diz que este é o que tem maior coração. Ele ouve e sorri, sem perceber o destino que lhe estão a traçar.

10 novembro 2008

O anão de Soares



Dizem que num périplo eleitoral, Soares, distraído, pegou num anão para o beijar, sem reparar que se tratava de um cidadão eleitor de 1,24 m. Um erro semelhante cometeu Harry, o homem muito mau de Em Bruges. Desconheço o desfecho do encontro de Soares. Em Bruges, Harry não ouviu o esclarecimento de Ray e encostou o cano da arma ao céu-da-boca.

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09 novembro 2008

In Bruges



Inesperadamente, pela mão de um quase estreante, um filme delicioso. In Bruges, escrito e filmado por Martin Mc Donagh. Uma história de bandidos sobre a culpa, a honra e o juízo final. O cenário é Bruges, à luz fria de um Inverno benigno. A torre sineira da praça do Mercado e as ruas adjacentes são o cenário para uma meditação sobre uma questão difícil de formular: pode um rapaz que matou uma criança, mesmo que por erro, esperar outra coisa que o Inferno, do qual Bruges é apenas a antecâmara. O rapaz é Ray, um Colin Farrel bruto e atormentado, fascinado por anões suicidas e vietnamitas, cinéfilo, que uma noite viu, entre as filmagens de uma produção europeia, a mulher mais bonita do mundo, aliás Clémence Poésy, aliás uma dealer que acabara de vender um calmante para cavalos ao anão do filme e geria, com um rapaz de Bruges, uma armadilha para turistas incautos e em urgência sexual. Os diálogos peripatéticos de Ray são travados com o excelente Brendan Gleeson, Ken, num irlandês cerrado de Dublin. Gleeson lê ficção nos velhos Penguin de capa laranja e na sequência final dá um recado de forma inesquecível, da torre sineira para a praça envolta em neblina, quando a trama da vida se enreda e as figuras humanas se transformam lentamente nos fantasmas que Bosch pintou para espanto dos visitantes do Museu Groeninge. Um delicioso personagem secundário composto por Tehkla Reuten, a estalajadeira, transporta no rosto e no ventre toda a esperança de que precisamos para esperar pela morte, em Bruges.

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O folhetim de Silvina, a Arquivista do PC


John Heartfield

Leia, nas caixinhas de São Assim os Cobardolas, o pós-epílogo seguido do desenvolvimento, das correcções que Silvina,a Arquivista do PC teve a caridade de verter sobre este blog e os seus comentadores. Um importante esclarecimento sobre o modo de funcionamento do PC e as peculiaridades de expressão dos seus porta-vozes na blogosfera.

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Cavaco Nada (dois)

No pino do Estio, Cavaco veio aos touros das tias e aproveitou para tirar os políticos do sossego fazendo uma comunicação ao país sobre alegadas inconstitucionalidades do Estatuto Autónomo dos Açores.
Agora, o PSD Madeira, com a implícita cobertura do seu máximo responsável e membro do Conselho de Estado, suspendeu o mandato de um deputado e impediu a sua entrada no Parlamento.

Cavaco Nada (um)



Dias Loureiro foi responsável pelo BPN durante o período em que se registou "um conjunto vasto de operações clandestinas que não estavam registadas em nenhuma entidade do grupo" envolvendo "centenas de milhões de euros". É membro do Conselho de Estado, por nomeação directa de Cavaco. A última aparição pública de Manuel Dias Loureiro foi há três meses, na apresentação da hagiografia do Menino de Ouro do PS.

«O ex-ministro e ex-secretário-geral do PSD, Dias Loureiro, discursou durante a sessão de apresentação e revelou que a afectividade do actual primeiro-ministro foi a característica que mais o «emocionou» na leitura do livro «Sócrates - o menino de ouro do PS». «O lado dos afectos foi dos que mais me emocionou, o seu amor pela sua terra. Estão em Vilar de Maçado os valores que o amarram à vida. Há duas coisas que não podemos escolher: os nossos pais e a terra onde nascemos. Temos a obrigação de respeitar essa herança, amá-la e transmiti-la», afirmou. Entre elogios de «enorme generosidade», «sensatez», «prudência», «coragem» e «capacidade de liderança», Dias Loureiro classificou Sócrates como um «homem trabalhador» e um «homem de detalhes»: «Só quem está atento aos detalhes pode fazer grandes coisas. Essa é uma característica dos grandes homens».

São estes detalhes que, na opinião de Saldanha Sanches, hão-de sempre deixar impunes os Manéis. Entretanto há quem pense (googlar SIRESP) que a nacionalização do Banco de Daniel Sanches, Catroga, Machete, Cadilhe, Oliveira e Costa também tem como objectivo branquear a operação SIRESP (cerca de 500 milhões de euros entregues por Sanches e Bagão Félix à SLN, já no período de gestão do governo de Lopes- aqueles dias frenéticos em que o serviço público se torna urgente- que ,com algumas peripécias António Costa acabaria por ratificar e o MP investigar e...arquivar)

08 novembro 2008

À tarde as mulheres...



À tarde as mulheres no carreiro do rio, correndo, pedalando, passeando os filhos pela mão, correndo atrás do balão da sua respiração perfumada, onde está escrito: sou linda quando corro assim, mesmo se os joelhos desalinham, correndo com os homens das suas vidas, ou apenas com a canção que anuncia nos ouvidos o dia perfeito que há-de vir, as mulheres, o períneo das mulheres, par perfeito do selim, as coxas poderosas das mulheres erguendo-se no selim e depois as longas pernas até ao pé estendido no estribo, as mulheres empurrando os carrinhos onde as crianças levantam o tronco e confundem a face da mulher com o cenário do mundo, o suor das mulheres, os pés magoados das mulheres quando se sentam na margem do rio e soltam os cabelos e as blusas se colam aos ombros, os pé das mulheres batendo na terra vermelha, as rodas das bicicletas cavando sulcos no carreiro do rio, os filhos das mulheres adormecendo docemente enquanto caem as folhas do Outono no carreiro do rio e os dourados cães dos cegos fazem prodígios para correr do lado esquerdo das mulheres, das bicicletas das mulheres, dos carrinhos dos filhos das mulheres

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São assim os cobardolas

São assim os cobardolas: batidos nos argumentos expostos na caixa de comentários, fugindo dos factos e de verdades elementares que o bom senso e um decilitro de inteligência deviam aceitar, enverando por sistema pela graçola para fugir à discussão dos argumentos e informações concretas, vingam-se depois na página principal do blogue onde só eles naturalmente tem acesso para despejar mais umas graçolas mal enjorcadas.

My God, que gente e espiritos tão mesquinhos, rancoroso e rasteiros. Ufa ! Acabou !!!!!
Silvina Rodrigues da Silva | 11.08.08 - 12:27 am | #

07 novembro 2008

Silvina Rodrigues da Silva, a Arquivista do PC

Tenho conhecido algumas mulheres interessantes mas nunca imaginei que na semana do 4 de Novembro, enquanto os eleitores americanos faziam história, me aparecesse alguém como Silvina Rodrigues da Silva, a Arquivista do PC. Foi num speed date num bar de Almada. Quando ela se apresentou eu tive por segundos a esperança de estar a conhecer a estudiosa de Carlos de Oliveira. Mas não, percebi depois. Era a Silvina Rodrigues da Silva, filha do Rodrigues da Silva que se notabilizou no XVII Congresso por ter desmascarado o grupelho provocatório do João Amaral. Vestia aquelas roupas que dizem não há corpo nenhum por baixo, botifarras e,como se tratava de um speed date, tinha posto o lenço palestiniano. Trazia na cara a sombra de uma rotura sentimental recente . Vim a saber que deixou o companheiro há uns meses. E no pulso a marca de uma pulseira artesanal que tirou, que nojo, quando os imperialistas libertaram a Irmã Lúcia da Colômbia. Tinha algum encanto e muita informação, que não recolhera dos Arquivos do PC. Ali, percebi a custo, o seu papel era apenas o de facultar documentos aos blind researchers autorizados a aceder à documentação classificada, três pastas com nomes, datas e lugares apagados pela Secção da Reserva Conspirativa que assessora a Comissão Executiva do Comité Central para as Questões da História. De Silvina soube pouco. Acho que a desiludi mais depressa do que é habitual ou estava verdadeiramente interessada num rapaz que reúne artigos para o site comunista Resistir .com . Que tinha uma filha ginasta russa, gostava do Alain Clerck e do Julien Sauchon, se andava a entediar com as tarefas a que o PC agora, que não havia praticamente nada a fazer nos Arquivos, lhe destinara: escrever nos comentários dos blogues da esquerda caviar . Silvina escolheu o pseudónimo de José Casanova, que é uma referência que ela admira, amigo dos Rodrigues da Silva.

06 novembro 2008

Comprometidas



As mulheres comprometidas são mais lentas, mais pesadas. Riem menos. Sorriem, de olhos baixos, sobretudo para dentro do seu compromisso. Têm argola de comprometida, diferentes das alianças que depois hão-de esconder, entre outros anéis, num dedo curto. As mulheres comprometidas não têm pernas, e embora se decotem, é como se tivessem deixado as mamas no compromisso. As mulheres comprometidas estão quase grávidas do casalinho. Fazem imensos sacrifícios para estar perto do compromisso. Têm a cor baça da anemia, da urémia, mas nunca a esquecida cor da clorose. Ao contrário das lânguidas heroínas românticas, que emagreceram para caber no colo dos cavaleiros a vir, as mulheres comprometidas vão ter de tomar muito diurético para caber no vestidinho de noiva.

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05 novembro 2008

O mundo está melhor



Outro dia raro, inteiro e limpo.

03 novembro 2008

Un roman commence par un coup de dés



«Le bolchevik m’avait paru par excellence l’homme de mon temps, et je pensais que c’était sur lui que je devais me modeler, si je voulais vraiment vivre mon temps, et lui que je devrais parvenir à peindre, dans toute sa réalité, si je voulais être un écrivain qui dure, c’est-à-dire qui a peint, dans son essence, le monde de son temps. Mais déjà le bolchevik est un personnage historique, comme les disciples de Socrate, les Romains de la république, les chevaliers errants, les conventionnels ou les chefs d’entreprise qui édifiaient des empires sur leurs machines. Un autre type d’homme est en train de se forger, qui ne devine pas lui-même ses traits, et qui ne ressemblera à rien de ce qui a encore existé. Il faut planter là tout ce qui n’est déjà plus vivant que dans la mémoire.»

Écrits intimes, Retour de Moscou, 1956 – pp 486-87


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Hoje, os livros ardem mal

Ao fim da tarde,a partir das 18 horas, no Café-Teatro do TAGV, em Coimbra, tem lugar mais uma sessão de Os Livros Ardem Mal. As escolhas e os comentários de Osvaldo Silvestre, Rui Bebiano, Luis Quintais e Apolinário. Aproveitem enquanto dura.

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Biografia de um Inspector da Pide



A História da Pide, a Biografia de um inspector da Pide e o trabalho mais recente de Irene Flunser Pimentel são importantes para a história do país que fomos durante quase todo o século XX. Um país pequeno e pobre , periférico e isolado, de gente inculta e medrosa, denunciantes e funcionários públicos, respeitosos para com as fardas e as sotainas. Para as gerações que nasceram e cresceram depois de 1974 esse país é tão longínquo como o Portugal das invasões francesas ou das lutas entre liberais e absolutistas. Paradoxalmente, algumas instituições do salazarismo persistem entre nós. Uma delas é o Partido Comunista, que foi um baluarte de resistência e influenciou muita gente boa e generosa . O PCP é hoje uma relíquia estimável se for mantida à distância, como curiosidade sociológica. Se o deixam à solta ele faz o que sabe: destrói arquivos, apaga fotografias, escreve resumos de manuais, insulta. No caso do último livro de Irene F. Pimentel o comportamento do director do jornal Avante foi paradigmático. Incapaz do esforço mental de ler as 396 pgs do livro e de contrapor ao trabalho sério da investigadora as suas fontes, José Casanova escreveu umas catilinárias num artigo de opinião, cuja única finalidade consiste em apontar aos fiéis o inimigo e dissuadi-los de ler, conhecer, discutir, interrogar.
Os leitores do Avante têm a obrigação de exigir ao seu director um repto a que, 34 anos depois da democracia, ele não se pode eximir. Se não foi assim, como é que foi? Se os documentos existentes são estes, quais são os que o Partido- pior que o Departamento de Estado- detém e não revela.

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