NO PARQUE, AO DOMINGO
(Retail Park, domingo em pobre, evitas dir, até os pregos custam o dobro da loja de ferragens mais perto de si).
André Bonirre
Aqueles que ainda acreditam nas estrelinhas dos críticos de cinema para as escolhas cinematográficas, os saudosistas de Annie Hall, os crédulos do Y, não se iludam. Alguém tem de ceder é uma nulidade. Devia ter desconfiado quando vi a sala cheia. Nancy Meyers não é melhor que os realizadores das novelas da Tvi. Jack Nicholson faz dele mesmo. Diane Keaton é ridícula. Frances Mc Dermond devia pedir desculpa aos Cohen. E os que consideram esta vacuidade de mau gosto como um filme a ver**, ou a não perder ***deviam reembolsar-nos pelo tempo perdido. Este post é um serviço público: não vão ver esta comédia pornografica.
Um guia pouco reverente para com a nobre profissão onde se pode aprender tudo sobre doenças raras como o Síndrome da bioluminescência peniana de Lear, a Sinestesia figurativa ( em que a vítima pode cheirar cores e ouvir sabores). Impressiona-me sobremaneira a Doença de Menard, ou Biblioartiflexismo em que" os doentes têm a triste ilusão de de ter escrito, palavra a palavra, linha a linha, a obra clássica de um autor conhecido."
1. Na revista THE LANCET de 14 deste mês, Chris Neyrer (e-mail: cbeyrer@jhsph.edu), um epidemiologista de Baltimore, USA, publica um artigo chamando a atenção para as implicações do Relatório Zimmermam ( Os riscos para a saúde e as consequências do tráfico de mulheres e adolescentes: dados de um estudo europeu. Londres, LSHTM, 2003, disponível desde 15 de Janeiro, aqui).
Isadora faz um post muito bonito sobre os prazeres, os mais simples prazeres. Diz que encontrar um brinco perdido é um prazer. Sem dúvida. Um prazer simples e genuíno. Umas vezes a nostalgia, outras o embaraço, estragam os mais simples prazeres.
As coisas passaram-se assim: meu avô
Sucessivamente anunciado pelos Livros Cotovia está finalmente à venda o livro que Said escreveu em 1978. A tradução é de Pedro Serra e inclui um prefácio de Maio de 2003, um dos últimos textos do autor. Aqueles que aqui, em Setembro, a propósito da morte do palestiniano, escreveram que "infelizmente as suas idéias não morreram", podem agora, com mais serenidade, mais libertos de outra forma de terrorismo que foi a chantagem ideológica que acompanhou a aventura militar norte-americana no Iraque, conhecê-las.
O Manuscrito encontrado em Saragoça por um oficial francês, de Jan Potocki, editado em português em 1971 pela editorial Estampa, numa colecção gótica chamada Livro B, parece ter sido reencontrado. A revista Os nossos Livros anuncia a edição completa, durante 2004, pela Cavalo de Ferro, que tem vindo a publicar preciosidades, provenientes sobretudo da América hispânica e do Leste europeu.

julho, rua do mar
A pele da terra, a memória do tempo, a ordem natural, as camuflagens. Capítulos de um livro muito lindo escrito pelo Rui Pena dos Reis e por Maria Helena Henriques, geólogos da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, sobre fotografias de João Cosme, fotógrafo da vida selvagem. Litologias, a editar brevemente, com o patrocínio da Coimbra 2003- Capital da Cultura.

Miss Kidman tão mal tratada por esse bruto dinamarquês. Raramente a vemos num plano de conjunto. A face é apanhada sempre no ângulo menos favorável (o que só a torna mais humana, mais frágil, mais comovedora). Não bastou o bruto de As Horas a tapar-lhe o nariz com uma prótese. Este põe-se de cócoras para, sem sucesso, lho arrebitar. Não conseguem: nós odiamos aquela gente miserável que desconfia, utiliza, explora, violenta e finalmente escraviza a Graça que sem esperarem lhes chegou. E uma das razões é porque a Graça é miss Kidman.
Trata-se de uma fábula, narrada em voz off (a voz de John Hurt como em Europa era a voz de Max von Sidow) num espaço cénico de palco teatral, dividida em capítulos com longos títulos irónicos. Apesar dos gangsters, da polícia, dos cartazes de “Procura-se”, da igreja como local de assembleia, da sequência de fotos final, Dogville não é uma fábula sobre a América. É, claramente, como diria Tom, uma belíssima ilustração de um ponto de vista sobre a condição humana. O ponto de vista de Lars von Trier. São todos repugnantes em Dogville: o médico na reforma que guarda o dinheiro no armário dos medicamentos, o cego que descreve as gradações da luz, o agricultor, o homem dos transportes de mercadorias, as crianças S&M, as mulheres tolas, perversas, feias, crédulas, com asma histérica e outra sintomatologia. Juntos vão conduzir Grace por um cortejo de humilhações até à escravatura. E é o engenheiro estúpido quem inventa o cabresto de tortura que a aprisiona, enquanto o médico lhe dirige palavras bondosas- não fosse ele o especialista nas más notícias. Mas o mais repugnante de todos os habitantes de Dogville é Tom, ora chamado de filósofo, ora de escritor.
Na sala grande do ginásio, a classe dos veteranos roda, como um carrossel de feira às horas mortas da tarde.